Pobre
animal. Mesmo gemendo, berrando e sentindo cada pedaço seu sendo
arrancado ele ainda resiste e tenta as duras penas se livrar da morte
iminente. De nada adianta, seus gemidos e urros, nada, aquele demônio
sugador não pararia. Sua fome é voraz. Ele continua a se alimentar
do sangue quente da pobre vaca e também a mastigar sua carne
estressada. Aos poucos os movimentos frenéticos das patas vão
cessando e o animal se acalma com a chegada da morte.
Ainda
há muito sangue ali e também bastante carne. O líquido denso
escorre pelo pasto úmido devido ao orvalho da madrugada. O vampiro
crava seus dentes pontiagudos em busca de mais sangue quente.
Enquanto suga a criatura
noturna solta alguns balbucios e até curtos gemidos. Faz algum tempo
que ele não janta com tanta fartura. Seus cabelos cumpridos e loiros
estão empapados com o sangue e vísceras da vaca e seus olhos
amarelos fixam a noite fria sem lua. Ele faz a volta e morde o lombo
com violência tirando um pedaço generoso e mastigando em seguida.
Escondido,
ajoelhado e observando cada movimento do vampiro, o dono na fazenda
tem o coração inflamado pelo ódio. A seu lado o arco e flecha
feito por ele aguarda o momento em que entrará em ação. Um ano, a
exatos um ano essa criatura diabólica vem lhe dando prejuízo e hoje
ele pretende dar fim a essa história. O
fazendeiro também veio prevenido, na cintura o coldre guarda uma
pistola caso precise. Chega de conversa, hora de acabar de vez com o
noturno.
O
vampiro realmente já está de barriga cheia, satisfeito, mas seus
olhos ainda contemplam o banquete a sua frente. Ele se levanta e de
repente uma forte queimação no peito o deixa sem ação. Uma
flecha, uma maldita flecha cravada em seu peito. A dor é algo
sobrenatural. Suas mãos trêmulas tentam puxá-la, mas não dá, dói
demais. Gemendo o demônio se afasta do corpo da vaca. Ele olha ao
redor e tenta farejar. Outra dor lancinante. Mais uma flecha o acerta
e dessa vez no braço. Seu berro sai alto. Das costas do vampiro
surgem asas negras, elas começam a bater, mas até isso está
difícil. O vampiro não consegue bater em retirada, sua respiração
está forçada e mais uma vez ele tenta sentir algum cheiro no ar. Os
olhos amarelos consegue ver o fazendeiro entre as árvores e sua
fúria é acendida.
Mesmo
sentindo dor e fraco, o bicho consegue voar e o fazendeiro mais uma
vez atira. Errar numa situação como essa é algo mortal. A flecha
passa raspando. O homem
sente o coração vir a boca ao ver o rosto sombrio do vampiro. Ao se
preparar para lançar outra flecha as unhas do ser arrancam carne de
seu ombro.
-
Argh!
O
bicho faz a volta e tenta morde o braço do caçador, mas recebe um
tiro de pistola na barriga. O tiro atravessa o corpo da criatura que
perde o controle do voo. O fazendeiro atira mais uma vez.
-
Morre, desgraçado.
O
tiro acerta o braço do
vampiro. Ele rola no pasto gritando horrores. Implacável, o homem
arma seu arco e flecha rapidamente. Vendo que o demônio tenta se
levantar para fugir, a flecha crava no peito do noturno que fica de
joelho com o sangue escorrendo da boca.
-
Você vai pagar por tudo que tem feito, filho do capeta.
Mais
uma flechada. Devido a distância o objeto pontiagudo o atravessa
perfurando o pulmão. De repente a pele pálida vai dando ao tom
acinzentado lugar pelo corpo do vampiro. O rosto que já era sombrio,
agora está murcho, envelhecido, cadavérico. Aos poucos o que era um
ser vai se transformando num esqueleto obrigando o fazendeiro ateu
fazer o sinal da cruz.
-
Cruz credo, que fedor.