sábado, 11 de maio de 2019

ROSA DE AÇO - Heloísa Mattos

ROSA de AÇO
HELOÍSA MATTOS

Heloísa demorou um pouco para se produzir e não é por menos, será mais que um encontro. O atraso ultrapassou meia hora além do combinado. O restaurante fino com pessoas falando moderadamente ostentando suas melhores roupas e carros do ano está relativamente cheio pelo fato de ser o meio da semana. A policial desce de seu carro com uma certa dificuldade devido ao salto de quinze centímetros. Assim que pisa na calçada do estabelecimento ela se recompõe e anda como se estivesse numa passarela.
       Heloísa Mattos normalmente arranca olhares e desperta nos homens os desejos mais eróticos escondidos, mas essa noite ela abusou. Seus cabelos vermelhos ajudam a realçar ainda mais sua beleza selvagem. O vestido preto com detalhes em dourado a deixam uma figura quase intocável. Linda, absurdamente linda e gostosa.
      A sua espera e já na segunda taça de vinho está Clóvis Filho. Ao vê-la ele se levanta para recebê-la.
       - Você está divina. – a voz de Clóvis é grave, praticamente um locutor de rádio.
       - Obrigado, me desculpa o atraso.
       Clóvis puxa a cadeira não deixando de notar no suculento par de pernas de Heloísa. Ela se acomoda ainda transparecendo nervosismo.
       - Me acompanha? – pega a taça.
       - Um pouco.
       Clóvis Filho acena para o garçom e logo é atendido. Depois disso o assunto não foi outro, Heloísa quis saber um pouco mais da vida de seu pretendente. Uma a uma Clóvis foi respondendo. Sua postura, seu tom de voz, poucos movimentos com as mãos, tudo deixa a policial ainda mais encantada, Clóvis lembra muito um âncora de telejornal.
       - Então o seu negócio é aluguel e venda de imóveis?
       - Um dos. – sorrir.
       - Hum, há outros?
      - Sou um homem de negócios, eu tenho faro, vou aonde o dinheiro está.
      - Gostei.
       Eles fizeram os seus pedidos, ambos deram preferência aos frutos do mar, Heloísa adorou. O clima entre os dois melhora a cada segundo. Clóvis tem certeza que a levará para cama essa noite. Mattos por sua vez mantém os olhos nele, um homem bonito, carregado de mistérios e endinheirado. Depois do jantar a sobremesa para adocicar as bocas sedentas uma pela outra.
        - Gostou do lugar? – ele pergunta.
        - Eu passo por aqui as vezes, jamais imaginei estar jantando e...
        - E... – Clóvis estica o braço por cima da mesa e segura em suas mãos.
        - Claro, jantando a seu lado.
        Clóvis precisou se controlar para não jogar no chão tudo o que estava sobre a mesa e lançar Heloísa sobre ela e fazê-la enlouquecer de prazer. Essa era sua vontade, porém o empresário se contentou em somente sorrir insinuante para ela.
         - Que tal sairmos daqui? – sugeriu Heloísa.
        - Achei que nunca fosse pedir.

*

O quarto daquele motel de luxo fez Heloísa lembrar dos clássicos do cinema da década de sessenta. As cores fortes e móveis em madeira bruta bem esculpida é de fazer qualquer um se sentir nostálgico. Ainda reconhecendo o lugar a policial aguarda que Clóvis volte do banheiro. A cama é algo sem igual, realmente uma peça cinematográfica. O empresário reaparece na porta do banheiro olhando para ela como um leão sedento por sua presa. Quem dará o ponta pé inicial? Quem será o primeiro a dá o primeiro passo? Clóvis caminha a passos curtos mantendo o contato visual. Heloísa Mattos se deixa levar pelo lorde sedutor e aguarda que ele faça de seu corpo o seu parque de diversões.
        As mãos enormes de Clóvis a tocam nos quadris. Ela prende a respiração. Ele vai aproximando o rosto da orelha direita da policial que sente os pelos da nuca ficarem em alerta. Dominada, Heloísa amolece quando a voz firme de Clóvis a deixa desesperada.
        - Heloísa Mattos!
        A agente franze a testa e abre bem os olhos.
        - O que disse?
        - O que ouviu. Agora já chega desse joguinho, certo?
        - Está enganado, eu me chamo Raquel e...
        - Chega! – vocifera e encosta o cano da arma em sua região íntima. – pensa que eu não sei que você vem me investigando a meses e preparou isso tudo para me prender. Agora o jogo virou, Mattos, infelizmente pra você tudo termina aqui.
          - Você pode até me matar aqui, mas duvido que irá conseguir se livrar de vinte policiais lá fora.
          Clóvis se afasta apontando a pistola pegando o celular do bolso. Eles se encaram como tópicos rivais. O empresário coloca o aparelho no ouvido, aguarda ainda olhando para Heloísa.
         - Entrem!
        Transparecendo calma, Mattos observa a porta de entrada servindo de passagem para três sujeitos enormes mal encarados, um deles com um taco de beisebol.
        - Qual vai ser chefe? – indaga o que segura o taco.
        - Barbarizem. Acabem com essa vaca.
        - Que desperdício chefia, ruiva, bonita e gostosa, acho que vou querer gozar antes.
       Clóvis coloca a arma na cintura.
        - Façam o que quiserem, mas limpem tudo antes de saírem. – ganha a saída.
        A porta bate. Heloísa Mattos está sozinha sob os olhares tenebrosos dos capangas e um deles passa a língua nos lábios.
        - A festa vai começar. FIM