segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

Meus Personagens - Luís Souza

Fala aí leitores, tudo bem? Estou iniciando uma série de artigos sobre os meus personagens, e o primeiro deles é claro só podia ser LUÍS SOUZA.

Bom, a muito tempo eu já havia falado no Facebook que a minha inspiração para a criação desse personagem foi ter lido algumas obras do grande James Patterson. Alex Cross é a criação mais conhecida desse autor, além de outros que em breve estarei falando sobre eles.

Eu sempre quis ter um personagem que participasse de todos os meus contos polícias. Fiz melhor. Acabei por criar um universo só para ele. Norma(em homenagem a minha tia Norma Oliveira) Luís Souza ganhou séries de contos só dele junto com sua assistente Márcia Bernardo (irei escrever um artigo falando sobre ela)

Sim, também acho o nome Luís Souza bastante comum e é para ser comum mesmo. O Luís veio do nome do meu pai, José Luiz. De início eu colocaria com Z, mais desisti da ideia. Souza é um sobrenome fácil de se encontrar no Brasil, por isso optei por Luís Souza o melhor detetive de Norma.

Souza é negro, tem aproximadamente um metro e oitenta e cinco de altura, 45 anos, divorciado e tem um filho adolescente com Suzana Hikman, uma jornalista radialista. Sua vestimenta, calça social preta, camisa polo cinza e sapatos da mesma cor da calça. Souza sempre anda com o distintivo pendurado no peito por um cordão no pescoço. Como hobby ele pratica boxe na academia do Tornado treinador e amigo.

Luís Souza e Norton Nascimento. Sim, na minha imaginação e descrição Souza é o Norton Nascimento. Se um dia os contos com o Souza se tornarem filmes ou séries, eu gostaria que quem o interpretasse fosse Norton Nascimento, mas infelizmente esse ator já é falecido.

Adoro esse personagem. Amo escrever contos com ele. Souza é um filho. Todo personagem é como se fosse um filho, precisamos cuidar, tratá-la com carinho. Continuarei criando aventuras para ele. Luís Souza, uma obra prima de Júlio Finegan.

O próximo artigo estarei falando sobre MÁRCIA BERNARDO assistente de Luís Souza. Aguardem!!!

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

Empatados





     - Você pode falar quantas vezes quiser, Gerson, mas fato é, de uns tempos pra cá o nosso casamento vem sendo um fiasco. – falou Beth tranquilamente ao celular dentro da viatura. – isso, você pode gritar o quanto quiser e puder, depois você mesmo vem com o rabinho entre as pernas pedindo perdão.
     Álvaro bateu na janela do motorista. A delegada desceu o vidro ainda com o telefone no ouvido.
     - Com ou sem maionese? – perguntou o investigador.
     - Com muita maionese.
     Assim que Álvaro se afastou Beth seguiu discutindo com seu marido, um professor universitário de cinquenta anos. Elisabete e Gerson estão casados a quase trinta anos e desde quando ela descobriu que o mesmo a traiu com uma colega de trabalho a relação entre os dois se tornou insustentável. Eles já até tentaram colocar um pano em cima disso, mas volta e meia o assunto vem a tona. Ela encerrou a ligação quando seu parceiro de trabalho abriu a porta do carona segurando os lanches.
     - Caramba, o lugar estava cheio. Toma. – passou o cachorro quente. – com bastante maionese.
     - Adoro tudo isso. – deu uma mordida. – e quanto ao nosso homem, está lá dentro? – perguntou de boca cheia.
     - Sim. Parece negociar alguma coisa grande. Qual o próximo passo?
     - Vamos esperar ele sair e ir atrás. – abriu a lata de Fanta laranja. – assim que soubermos o local certo voltaremos para a delegacia e armaremos a prisão.

*

    Uma hora depois o suspeito saiu da lanchonete acompanhado de outro homem. O sujeito vestia uma calça jeans, camisa branca e um blazer preto. Na mão direita uma maleta, dessas com segredo. O outro tinha aparência mais simples. Eles se despediram com um formal aperto de mão e se separaram. O de blazer entrou num Corolla prata pegando a avenida principal. Beth e Álvaro partiram dois carros atrás.
     - Até que ele dirige bem, não acha? – perguntou Beth.
     - Muito bem. Bandidão experiente, jamais dará bandeira.
     - Pois é, a carreira de criminoso dele está próximo de acabar.
     O Corolla prata fez a curva e parou. A viatura descaracterizada da polícia passou direto ainda em tempo de ver o suspeito saindo do carro e entrando num prédio comercial. A delegada Beth Mendes vem seguindo os passos desse sujeito a mais ou menos três meses.
     - É, acho que já sabemos onde ele se esconde. – comentou Beth.
     - Ótimo. – terminou de anotar o endereço. – vamos para a delegacia?
     - Sim!

*

     As 21h Beth entrou em casa. Gerson já se encontrava a mesa comendo um macarrão instantânea e bebendo suco de uva artificial. Ao ver aquilo a delegada faz uma careta evitando uma discussão.
     - Servida? – ergueu o corpo.
     - Não, obrigado, vou descongelar a carne. – tirou os sapatos e jogou a bolsa no sofá.
     - Carne? Onde? – franziu o cenho.
     - Na minha cabeça. – abriu o refrigerador.
     - Poxa, Elisabete, e eu comendo essa porcaria?
     - Você chegou que horas, professor?
     - As 18h, por que?
     - Pois é, se tivesse olhado no refrigerador você já teria feito e já estaria comendo um bifezinho acebolado. Fazer o que quando não se conhece a própria casa? – colocou o congelado dentro da pia e foi para o quarto.
     Sozinha, na copa, Beth degustou seu jantar com os pensamentos divididos. Claro que o seu casamento ocupou a maior parte. O amor deu lugar a raiva. O carinho cedeu espaço para as trocas de acusações e tudo que havia de cumplicidade agora foi ocupado pela rivalidade, farpas e agressões verbais. Uma traição, uma maldita traição causou tudo isso.
     O outro pensamento é o caso em que ela está trabalhando. Difícil. Requereu de Álvaro e dela doses cavalares de paciência. Graças a incrível parceria entre os dois o caso está próximo de uma resolução. O terceiro pensamento é justamente o seu parceiro. Álvaro Linhares, homem com H maiúsculo. Bonito, inteligente, cheira bem, no momento se encontra solteiro e possui o que Beth adora num homem, pêlos, muitos pêlos, por todo o corpo avantajado. Álvaro tem feito a delegada molhar certas partes de seu corpo.
     Ela colocou a louça do jantar na pia. Pegou o celular e conferir suas redes sociais durante algum tempo. Gerson se encontrava em seu escritório preparando aulas para a faculdade. Mais uma vez eles irão dormir separados. Desde quando houve o problema o casal vem apenas dividindo o mesmo teto, se tornaram quase que desafetos morando na mesma casa. Perto de completar cinquenta anos, a delegada jamais imaginou passar pelo que vem vivendo.

*

    Pão, café com leite e ovos mexidos, esse será o desjejum da delegada que as sete da manhã já se encontra maquiada, cabelos soltos e muito bem perfumada. Seu parceiro quando chegou e viu aquela morena clara sentada naquela padaria toda produzida,
 não conseguiu conter os elogios.
    - Nossa, bom dia minha chefe, você está ótima.
    - Ah, para, são seus olhos.
    - Demais. – Álvaro seguiu olhando para ela.
    - Alguma novidade?
    - Sim. Batom vermelho, cílios, base e...
    - Detetive Álvaro Linhares, eu estou perguntando sobre o caso. – sorriu.
    - Ah, sim, o caso, aguardando sua posição, se a senhora quiser podemos ir até lá e enjaular de vez o cara.
    - Ótimo. – deu o último gole no café. – vamos para a delegacia organizar a operação. Você pode pagar a conta?
    - Mas é claro senhorita.

    Depois do almoço Álvaro entrou em sua sala e passou algumas horas preparando relatórios e avaliando outros casos. Diante do monitor do computador ele nem viu o tempo passar. Exausto ele tirou os óculos de leitura e coçou os olhos quase que deitado na cadeira. De repente ele sentiu duas mãos em seus ombros os massageando. O perfume ele conhece bem, Beth. Em silêncio ela seguiu apertando delicadamente os músculos grandes e rígidos do investigador até que o mesmo quebrou o silêncio.
      - Olha que eu fico mal acostumado hein!
      - E isso é problema pra você? – ainda massageando.
      - Lógico que não. – fechou os olhos.
      Álvaro de início conseguiu reprimir seus sentimentos, mas logo notou que sua líder estava aberta caso ele quisesse avançar. Ele aguardou que as mãos dela alcançasse o pescoço para segura-las. Beth Mendes não esboçou reação. Álvaro beijou a direita e depois a esquerda. Beth continuou parada atrás dele. Álvaro deixou as mãos e passou a beijar o pulso e foi subindo. A delegada fechou os olhos quando a mão do policial tocou em sua cintura na parte de trás. Álvaro sentiu o corpo de sua chefe tremer quando ele alcançou as nádegas.
     - E se entrar alguém e nos ver nessas condições? – perguntou Álvaro.
     - Simplesmente verão o investigador segurando a bunda da delegada, mas isso não vai acontecer.
     - Por que? – Álvaro ficou boquiaberto.
     - Eu fechei a porta.
     Beth deu a volta e se sentou no colo do parceiro que ainda oferecia uma certa resistência. Ela segurou o rosto dele, acariciou-o e depois o beijou. Beth e Álvaro trabalham juntos a três anos e a três anos eles guardam dentro deles o desejo um pelo outro e agora chegou o momento de fazer com que o tesão os consuma.
     Eles trocam beijos suculentos, molhados enquanto suas respirações se fundem. Um ano e meio sem sentir um homem a envolvendo, a desejando, a querendo até os ossos. Eles sabem do risco que correm ali, mas isso pode muito bem ficar para depois. Ela, Elisabete Mendes manda naquele lugar. Como Álvaro é carinhoso, sabe como deixar uma fêmea pegando fogo, boa parte da pegação foi ele quem dominou. Vinte minutos, foi o tempo em que líder e liderado passaram trocando saliva naquela sala bem refrigerada do detetive.
     Nada aconteceu. Beth e Álvaro não foram até o final, algo os freou. Sem cerimônias a delegada saiu de cima do investigador. Ajeitou os cabelos. Fechou a camisa e olhou para ele que não escondeu sua timidez.
     - Não precisa ficar assim. – segurou o rosto dele e o beijou.
     - É que, não sei, é estranho, sabe, eu sempre lhe vi como minha líder, sempre tentei afastar a mulher maravilhosa que você é, e sempre procurei ver o lado profissional.
     - E o que achou do lado Beth Mendes mulher maravilhosa? – sorriu.
     - Bom, é, beija bem, faz massagem como poucas e é tremendamente sexy.
     - Viu, não foi tão ruim assim, foi? – andou até a porta.
     - Claro que não. – girou a cadeira.
     - Tenho ótimas notícias pra você. Depois que pegarmos o nosso suspeito iremos terminar o que começamos aqui.

*

      Beth Mendes reuniu toda equipe em sua sala. Todo o planejamento foi feito, nada pode sair errado, afinal foram meses atrás desse bandido. Durante a reunião onde todos puderam dar suas sugestões, Álvaro e Beth se olhavam, pareciam trocar carícias em seus olhares. O detetive achou em vários momentos estar vivendo um sonho. Até poucas horas Beth era aquela mulher inalcançável, uma paixão adolescente onde o aluno se apaixona pela professora e agora eles estão ali, um querendo o outro.
     - Então todos entenderam não é? – questionou Beth. – peguem suas viaturas e vamos lá prender aquele cara. Álvaro você vem comigo.
     - Sim, senhora.
     Dentro da viatura a caminho do ponto da missão Linhares passou boa parte do tempo em silêncio. Beth ao volante parou o carro no semáforo que estava fechado e falou.
      - Pode perguntar, eu sei que está louco para saber. Gerson, não é?
      - Sim, e o seu marido? – passou a mão na barba por fazer.
      - Deixa que dele cuido eu. Tá bom? – sorriu.
      - Se você está dizendo.
     A partir dessa declaração os agentes focaram na operação. Eles chegaram no endereço ao mesmo tempo que os outros. Quatro viaturas no total. O prédio comercial não é lá grandes coisas, mas dá para o gasto. Beth desceu seguida de seu parceiro. Álvaro identificou duas câmeras de segurança logo na entrada. A dupla passou pela portaria com seus distintivos a vista. Assim que começaram a subir as escadas a portaria foi ocupada por três polícias armados e uniformizados deixando a todos que estavam ali no momento apreensivos.
     - O que está havendo? – cochichou uma senhora baixinha.
     Quinto andar. Beth está bem, mas em compensação o seu parceiro parece estar a beira de um ataque cardíaco.
      - Quer um respirador? – brincou a delegada.
      - Por favor. – puxou sua arma do coldre.
      Porta número 502. Na placa indica escritório de advocacia. Mendes olhou para Linhares antes de tocar duas vezes. Eles aguardaram. Beth bateu um pouco mais forte dessa vez e ouviu-se o ruído da fechadura girando. Na porta surgiu o mesmo sujeito do blazer preto. De perto ele é ainda mais elegante.
      - Em que posso ser útil? – sua voz é mansa, suave.
      - Doutor Paulo Roberto Zago? – perguntou Álvaro.
      - Sim?
      - O senhor está preso, queira nos acompanhar por favor.
      - Qual a acusação? – manteve a mesma expressão serena desde abertura da porta.
      - Sabemos que negocia drogas usando esse escritório. – respondeu Linhares.
      - Posso pelo menos pegar minhas coisas ou ligar para o meu advogado?
      - Suas coisas sim, mas ligar para o advogado só quando chegarmos na delegacia. – falou Beth.
      Paulo Roberto deu as costas para os agentes e andou até sua mesa. Beth e Álvaro lado a lado observavam o acusado recolher seus pertences de cima da mesa. De repente, de trás da mesa um sujeito se ergueu apontando seu trinta e oito. Álvaro empurrou sua líder contra o sofá a livrando de ser alvejada. Dois disparos certeiros no peito do atirador que caiu para trás. Paulo Roberto, se urinando levantou os braços.
     - Os próximos serão em você seu desgraçado. – vociferou Linhares.

*

    Foi um dia produtivo. A prisão de Paulo Roberto marcou a parceria entre Álvaro e Beth, eles terão histórias para contar. Em sua sala, sozinha, ela discute feio com o marido.
     - Quase fui morta hoje e o que recebo do meu marido?
     - Faz parte da sua profissão, Elisabete, fazer o que?
     - Você é mesmo um insensível, Gerson, pelo menos comigo você é desse jeito, não sei com as outras.
     - Sempre que pode você joga isso na minha cara, não perde a oportunidade.
     - Sim, por enquanto você está ganhando essa partida.
     - Do que está falando?
     - Amanhã quando eu voltar para casa estaremos empatados.
     - Como assim, você não vem pra casa hoje? – ligação encerrada.

     Chinelos Havaianas branco. Cueca box estampa e sem camisa. Na TV um filme pausado na Netflix. Álvaro voltou da cozinha de seu apartamento tomando sua cerveja e quando iria se jogar no sofá a campainha soou forte.
      - Opá, a pizza. – cantarolou.
     Ao abrir a porta seu coração parou de bombear sangue para os outros órgãos. Beth, como ele nunca viu.
     - Oi! – ela sorriu.
     - Ah, oi.
     - É assim que você recebe os convidados inesperados?
     - Não, é que eu estou aguardando uma pizza e...
     - Não vai me convidar para entrar?
     - Ah, onde está minha educação, entre por favor, me acompanhe na pizza e no filme, vou colocar uma roupa mais adequada.
     - Não precisa, iremos terminar o que começamos lá na delegacia, quero empatar o jogo. FIM.

   

sábado, 8 de fevereiro de 2020

Cortinas


Doutor Paulo Marinho conduz seu veículo pela autoestrada com sua atenção parcialmente na estrada por que a outra parte está fixa nas coxas recém-depiladas de sua jovem esposa sentada no banco do carona ouvindo música nos fones de ouvido. Ana Marinho não sabe, mas seu esposo está a ponto de parar o carro no acostamento e antecipar a noite de núpcias. Por mais que eles já tenham transado antes a virilidade do médico depois do casamento aumentou consideravelmente. Paulo está radiante pois tem a seu lado a ruiva mais gostosa desse mundo e o que é melhor, ela está usando uma aliança a qual diante do reverendo ele mesmo a colocou no dedo anelar da mão esquerda dela.
Ele volta a olhar para o par de pernas da esposa e ela segue cantarolando num inglês fajuto a música que ouve nos fones. Paulo repousa sua mão enorme na perna de Ana que até então continua cantando o sucesso internacional. Paulo é ousado por isso ele vai subindo até parar com a mão na virilha da ruiva. Por fim Ana retira os fones e olha para ele.
- Melhor se concentrar na estrada senão nunca mais fará sexo.
- Como assim, serei multado por acariciar as pernas de minha mulher numa autoestrada?
- Claro que não. Estou falando com relação a você perder o foco e causar um acidente, só isso.
- Você está certa, mas confesso que fica difícil me concentrar vendo você com esse shortinho e essa blusinha.
- Esses homens, todos iguais, não conseguem ver nada de interessante numa mulher além de peito, bunda e vagina.
O médico volta com sua total atenção para a estrada e Ana mergulha mais uma vez no som empolgante da canção executada na rádio. O casal Marinho se conheceu durante uma festa a qual Ana fazia um bico como fotógrafa. O salão estava lotado, mal dava para se locomover. Paulo entre um chopp e outro visualizou aquela linda menina de rosto salpicado batendo as melhores fotos da aniversariante. O médico estava recém-saído de um namoro onde ambas as partes juraram se odiar para sempre. Sinceramente ele havia se desgastado demais e seu coração pediu um tempo para se recuperar da tempestade. Mas ao ver Ana esbanjando sua beleza atrás daquela máquina fotográfica e procurando o melhor ângulo para registrar as imagens, seu coração o alertou dizendo que já era hora de se refazer.
Tudo começou naturalmente. Uma troca de olhares, um sorriso simpático que depois passou a ser mais convidativo e pronto. Quando o evento terminou, Ana e Paulo estavam saindo juntos trocando os números e marcando o primeiro encontro. Desde então eles não se separaram mais. A ruivinha ajudou na cicatrização do coração do jovem médico que não consegue se ver longe da fotógrafa.
Eles passam por uma placa que indica que estão próximo do lugar onde passarão dez dias curtindo o ar puro do campo e longas noites de vinho e sexo. Ana cruza as pernas e Paulo volta deixar a estrada em segundo plano.
- Depois você me chama de tarado.
- O que? – retira os fones.
- Se eu bater a culpa e sua, toda sua.
- Posso saber por que?
- Você me provoca cruzando as pernas.
Ana não dá muita atenção. O carro sai da estrada e entra numa rua onde uma placa dar as boas vindas aos visitantes. Em seguida eles alcançam outra rua bastante estreita cheia de cascalhos e buracos. Como sempre Paulo reclama da péssima conservação da rua e torce para que nada de mal com seu veículo. Mais adiante eles contemplam uma casa cercada por madeiras no meio da floresta. O endereço bate.
- Chegamos, amor.
- Nossa, que casa ajeitadinha. – diz Ana tirando o cinto. – Já amei de cara.
- Que bom que gostou.
Paulo para o carro perto do portão principal também feito de madeira. A casa está inteira, mais parece que não vê uma tinta a anos. A cor que um dia fora branca agora dá lugar a um amarelo com marcas de infiltrações. O telhado precisa de uma reforma e até quem sabe trocar por telhas mais novas. Paulo encontra dificuldades para abrir o portão já que a anos a fechadura é a mesma e vem sofrendo com os efeitos do tempo. Ana olha em torno e tudo o que vê são árvores, em sua maioria mangueiras e eucalipto. Um lugar simplesmente revigorante.
- Consegui. – anuncia o médico.
- Que bom, vamos.


*


Por dentro até que não deixa a desejar. Poucos móveis, uma sala ampla, um pouco empoeirada, mas pudera, essa casa não recebe visita a anos. O cheiro de mofo incomodou as narinas de Ana, mas nada que a faça desanimar. Ela vai até a cozinha. Também nada de muito especial. O azulejo azul enfeita até a metade da parede e tanto a pia como a torneira precisam de uma limpeza urgente. Paulo sobe as escadas a fim de verificar o quarto, a parte da casa que mais lhe interessa no momento.
O doutor abre a janela e a vista que tem é algo sensacional. Pássaros em seus ninhos, o verde vivo e a brisa tranquila que invade aquela acomodação.
- Amor, vem ver. – Paulo grita olhando a cama gigante.
Ana sobe de dois em dois degraus.
- Oi?
- Eu já te imagino nua, deitada nessa cama enorme.
Ana não aguentou e teve que ceder as investidas do marido. Eles se abraçam, se beijam e Paulo começa a levantar a blusa da esposa que não oferece resistência. Ele a puxa para mais perto dele até quase sufocá-la.
- Socorro, casei com um tarado. – ela brinca. – lembrando que ainda temos que desfazer as malas mocinho.
- Depois a gente desfaz as malas, agora por favor me ajude a tirar esse peso.
Paulo e Ana se entregam ao prazer ali mesmo com a janela aberta. Um pardal pousa no beiral quando Ana sobe no marido sentindo ele dentro dela. As respirações se fundem quando ambos chegam ao ápice. Ana desfaz o penteado do médico que nessas horas não se importa. Dez minutos depois eles estão no chuveiro se beijando com a água fria escorrendo pelos seus corpos em erupção. Paulo não sossega um segundo. Mais uma vez ele permite que sua esposa delire com o prazer que ele lhe proporciona. Cansados, mas felizes. O banho termina. Hora de pegar no pesado.


*


Ana varre a sala enquanto Paulo ajeita as coisas no quarto. Usando seus inseparáveis fones de ouvido enterrados nas orelhas, a fotógrafa vai limpando a sujeira e cantando sucessos de sua playlist quando dá de frente com uma cortina. Ela para o que está fazendo e passa a observar melhor a estampa. São figuras desformes, algo que não dá para distinguir. Ana olha mais de perto quase lhe provocando um torcicolo tentando decifrar os desenhos e mesmo assim não consegue.
Paulo desce segurando uma máquina fotográfica, o xodó de Ana. Sem a esposa perceber ele faz alguns registros.
- Uau, que pose é esse, hein. – mais fotos.
- O que está fazendo com isso? – diz irritada. – já falei que não quero que mexa nas minhas coisas, ainda mais com meu material de trabalho.
- Não resisti vendo você varrer usando esse shortinho, acho que estou ficando animado de novo.
- Sossega, doutor Paulo Marinho. – pega a câmera dele. – veja, eu não tinha notado essa cortina, e você?
Paulo coloca as mãos na cintura e passa a analisar o adereço doméstico. Sim, é de causar estranheza em qualquer um. Os desenhos lembram crânios e em outro momento rostos diabólicos que parecem sorrir para quem os olha.
- Cruz credo. – diz o médico.
O casal segue ajeitando a casa. Paulo precisou sair para providenciar a comida. Ana ficou e aproveitou os momentos sozinha para abrir o notebook e conferir as fotos batidas de seu último trabalho antes do casamento. Sentada e concentrada na tela do aparelho ela não percebe que a cortina se move mesmo com a janela atrás fechada. A ruiva conserta o rabo de cavalo com uma certa habilidade e depois volta a clicar nas imagens do ensaio produzido por ela em seu estúdio. A cortina volta a se mover e dessa vez chamando atenção de Ana que vira a cabeça em sua direção. Um arrepio a surpreende de tal forma que ela não pode evitar o grito.
- Meu Deus!
Ana olha para a porta aberta e acredita que tenha sido uma corrente de ar. Ainda respirando forte ela volta para o computador e termina de editar as imagens. Paulo chega com a comida.
- Amor, temos pizza, comida japonesa, vinho e de sobremesa sorvete.
- Uau, vamos comer, estou faminta.


*


A lua resolveu presentear a noite com seu brilho e o vento frio complementou. A casa que foi cedida ao casal está em pleno silêncio que as vezes é quebrado pelos gemidos de Ana durante mais uma sessão de sexo. A porta do quarto está encostada, porém ela é aberta somente o suficiente para contemplar a fotógrafa praticando equitação no marido. Ana ao abrir os olhos emite um berro e se agarra ao esposo.
- Nossa, calma, está tão bom assim? – diz Paulo.
- Tinha alguém na porta do quarto nos olhando.
- O que?
- Ai, meu Deus. – Ana entra em pânico.
Paulo se levanta. Vai até sua mochila e pega sua pistola. Ana continua encolhida e envolvida nos lençóis na cama.
- Vou descer e dar uma olhada.
- Tenha cuidado, amor.


O médico vai descendo devagar, degrau por degrau. Mesmo com a arma em punho ele tem medo. A escuridão não é total, a luz da lua ultrapassa os vidros das janelas deixando a casa menos assustadora. Ele alcança a cozinha. Tateando ele encontra o interruptor. Nada. Vai até a sala. Passa pela cortina e olha para as figuras da estampa e elas já não possuem mais aquele sorriso infernal. As expressões agora são de completo ódio e sede de morte. Paulo nunca foi muito crente, mas agora ele é obrigado a fazer o sinal da cruz mesmo mal e porcamente. Ele anda apressado até o banheiro da parte de baixo da casa e não há nada lá também. Antes de voltar para o quarto e tentar retomar a atividade com a esposa ele ainda confere se as portas e janelas estão trancadas. A sala volta a ficar vazia e a cortina se move lentamente.


*


Paulo fez questão de acordar primeiro que sua esposa e lhe preparar o melhor café da manhã de sua história. Na mesa há frutas, pão, leite, torradas, café puro e ovos mexidos. Tudo pronto, agora é só esperar que a donzela desperte. Enquanto isso o médico resolve sondar os arredores da casa que um dia pertenceu sua vó materna. Na parte de trás não há quase nada, somente algumas árvores de médio porte, mato e muito mosquito. Realmente eles se encontram no meio do nada. Paulo volta para dentro de casa e assim que entra na sala ele tem a impressão de ver alguém subindo as escadas.
- Ana, já acordou?
Não há resposta. Ele olha em direção da cortina que se move. Dois passos para trás e o coração do moreno claro de cavanhaque bem desenhado quase sai pela boca.
- Mas que porcaria é essa?
As figuras diabólicas voltaram a sorrir. Cada uma com seu sorriso que parece debochar da cara de espanto do doutor. Paulo leu certa vez que o medo faz com que a mente crie monstros, talvez seja isso que esteja acontecendo com ele agora. O jovem clínico geral corre até o quarto onde sua esposa dorme como um bebê.
- Bom dia flor do dia.
- Oi! – se espreguiça. – o que temos para o desjejum?


*
- Eu sou capaz de jurar que vi uma pessoa nos olhando na cama ontem. – pega mais uma torrada.
- Sério? – adoça o café.
- Sério. Estava escuro, mas...
Paulo abaixa a cabeça e de repente ele se distancia mexendo o café, ele mal ouve o que sua mulher falou depois disso.
- Paulo? O que houve? Você ficou parado olhando para a xícara.
- Minha avó morou aqui por muitos anos, acho que já lhe contei isso. Depois que meu avô morreu ela ficou depressiva e decidiu passar algum tempo sozinha.
- Meu Deus, uma senhora sozinha vivendo nesse lugar isolado de tudo?
- Pois é. E quando minha avó finalmente voltou para civilização, ela tinha nos olhos um certo medo, pior que isso, ela estava em pânico, quase não falava, dormia mal a noite, até que certo dia ela dormiu e nunca mais acordou.
- Caramba, mas o que aconteceu?
- Minha mãe acha que minha vó sofreu experiências sobrenaturais aqui, nessa casa.
Ana se arrepia.
- Mas eu acho que tudo não passou dos efeitos colaterais dos remédios.
- Ontem eu vi aquela cortina da sala se mexer sem vento, sem corrente de ar. Muito esquisito.
Paulo engole seco.
- Eu, eu também vi, hoje, agora de manhã.
- Ai meu Deus, vamos embora agora dessa casa.
- Calma, Ana, isso tudo deve ser fruto da nossa imaginação, estamos impressionados com a história da minha vó, só isso.
- Será?
- Claro. Agora termine o café.


*


Ana passou boa parte do dia registrando imagens da natureza e percebe o quanto precisava dar um tempo em sua vida na cidade grande. O contato com as plantas, os pássaros e as árvores têm feito muito bem para ela que no dia a dia vive as voltas com o trabalho. Enquanto seu esposo dorme na sala, ela resolveu mergulhar fundo batendo fotos e oxigenando o cérebro ao mesmo tempo.
A fotógrafa anda até a parte de trás da casa na intensão de buscar a melhor imagem de um passarinho que insiste em cantar. O pássaro presenteia a mulher de Paulo pousado num galho baixo. Ana melhora o foco e clica. Pronto, agora sim ela pode voltar para dentro da casa e iniciar sua edição das fotos da lua de mel. Ela olha para cima e na janela do quarto uma figura de olhar triste segue parada olhando para Ana que ao visualizar quase sofre uma queda.
- Cristo. Quem é você?
Ana corre até a parte da frente. A porta está do mesmo jeito que deixou. Ana entra na casa e Paulo continua roncando no sofá com o livro que estava lendo caído em seu rosto.
- Paulo, acorda, Paulo, tem alguém no nosso quarto.
Ainda sonolento o médico acorda. Olha para a esposa apavorada.
- Tem certeza? – boceja.
- Eu não estou louca.
Paulo dispara escada acima. Antes de entrar no quarto ele faz outra vez o sinal da cruz. Abre a porta e nada, o quarto está vazio. Ele corre até a janela e tudo o que vê são árvores e mato. Aliviado, mas ainda com medo Marinho vai até sua mochila e pega sua arma. De repente um grito. Em segundos o médico está na sala assistindo o bailar das cortinas. Ana está abaixada no canto com os olhos fechados e as mãos nos ouvidos.
- As cortinas, as cortinas, estão se mexendo, tem alguém atrás das cortinas.
- Calma, amor, vou resolver isso.
O medo faz com que Paulo fique paralisado. Realmente parece que há alguém por trás daquelas cortinas. As figuras estampadas agora parecem gargalhar diante do estado do casal. Paulo aponta sua pistola, mas não atira. Dá mais um passo na intensão de abri-las, porém ele permite que o medo se transforme em pavor. Ana continua chorando pedindo para ir embora. Ele volta a olhar para elas e já não mais movimento.
- Parou, amor, veja.
- Paulo, promete que vamos embora? – o abraça.
- Sim querida, amanhã partiremos.
- Amanhã, por que não agora mesmo?
- Não sei, mais algo me diz que precisamos descobrir o que há nessas cortinas.
- Como assim, você agora é um exorcista, pastor...
- Querida, não podemos simplesmente ir embora e deixar essa coisa aqui e se ela nos seguir até em casa?
Ana se levanta com ajuda do marido. Olha para as cortinas que continuam paradas. As figuras na estampa já não oferecem mais pânico. A fotógrafa olha para a escada e tudo parece mais leve, mais arejado.
- Está sentindo essa paz?
- Sim, parece que algo ou alguém iluminou a casa inteira. – Paulo coloca a arma na cintura. – de qualquer forma permanecerei armado, se houver algo. – bate na Glock.


*


A parte da tarde foi mais tranquila. A lua de mel do casal Marinho seguiu naturalmente. Ana se acalmou e aceitou fazer amor. Eles se entregam ao prazer como nunca haviam se entregado antes. Paulo se entorpeceu com os movimentos e gemidos de sua ruiva. Foi intenso, forte e prolongado fazendo com que os corpos ficassem lustrosos de tanto suor. Da porta do quarto algo ou alguém os observa com seu olhar triste e uma expressão que varia do ódio a estranheza. O casal termina com suas loucuras diurnas e ambos se encontram esgotados.
- Nossa, que demais, não é? – Paulo se abana com as mãos.
- Sem palavras.
- Então, viu alguma aparição diabólica? – brinca.
- Até esqueci que estávamos em lua de mel numa casa assombrada.
O papo pós sexo foi descontraído com direito a fortes gargalhadas de Ana. A criatura que os observava já não está mais lá. Para o jantar foi escolhido um menu digno dos mais requintados restaurantes do mundo. Depois do banho compartilhado o médico precisou se ausentar deixando a fotógrafa envolvida com os preparativos.
Naquele lugar a noite nunca é bem-vinda. Da floresta é possível ouvir sons indecifráveis e o vento passa do fresco ao frio sepulcral. Ana se afasta da porta preferindo deixá-la fechada. Por precaução, Paulo deixou sua arma em casa. Para espantar as péssimas sensações Ana abre o notebook e reinicia seu trabalho de edição. Entre um clique e outro, seus olhos se voltam para as cortinas e elas estão paradas. Ana pensa nas possíveis situações vividas pela avó de Paulo ali sozinha dentro dessa casa. Teria as cortinas agravado o quadro depressivo da senhora Marinho? A final, o que aconteceu de fato dentro dessas quatro paredes?
O jantar foi dos deuses. Frutos do mar, coisa que Ana adora, não mais que chocolate. O vinho também brindou a noite com seu charme e sabor envolvente. Para a sobremesa sorvete de passas ao rum.
- Eu estive pensando no que aconteceu com sua vó, aqui, nessa casa.
- Sim?
- Essa casa, esse lugar, é muita carga para uma pessoa só, ainda mais para uma idosa.
- Você acha esse lugar carregado? Como assim? – Paulo prova do sorvete.
- Sei lá, as vezes acho que não estamos só em dois aqui, há algo de errado com aquelas cortinas. Não sabemos quem morou aqui antes dos seus avós.
- Sou meio cético quanto a essas coisas de ocultismo, mas que é muito estranho isso é, aquelas cortinas realmente se moveram sozinhas, não foi algo da nossa cabeça. Algo fez mal a minha vó e isso não passará em branco.


*


Paulo desperta no meio da noite. Ele sempre teve um sono leve. Ana ronca a seu lado e recebe um beijo de leve no ombro nú. Ela é linda, corpo perfeito, sadio e uma pele macia e perfumada. Paulo precisa urgente esvaziar a bexiga antes que um acidente aconteça. Ele deixa o banheiro um pouco mais leve porém precisa saber se tudo está em ordem na parte de baixo daquela casa. Antes de descer ele pega sua arma e sai do quarto. Mais uma vez ele é surpreendido pelo medo. Degrau por degrau, sem fazer barulho, o médico vai descendo. Escuro. A lua não deu as caras hoje, é preciso fazer com que os olhos se adéquam ao breu. Isso levou alguns segundos até Paulo conseguir identificar uma figura parada no meio da sala olhando para ele com aqueles olhos tristes. Se ele ainda estivesse com vontade de urinar, o acidente aconteceria nesse momento. Ele aponta a pistola. Não consegue controlar a tremedeira.
- Quem é você, como entrou aqui?
O ser de mais ou menos um metro e sessenta, roupas surradas, pele acinzentada, cabelos pretos ralos, rosto murcho e olhos caídos segue olhando para ele.
- Eu lhe fiz uma pergunta, como entrou aqui?
A criatura vinda das sombras aponta para as cortinas e as figuras estampadas se movem freneticamente causando no médico um mal estar repentino. Paulo se segura no corrimão pois sua visão começa a falhar.
- Meu Deus!
Aos poucos Paulo vai perdendo o controle de seu corpo. Sua parte motora é totalmente comprometida. A arma cai de sua mão. A figura continua olhando para ele que desaba na escada entre espasmos e convulsões. Os desenhos infernais nas cortinas vibram a cada movimento involuntária do pobre médico que vai se despedindo da vida da pior forma possível. Todo o corpo de Paulo parece que estar sendo sugado de dentro para fora até sobrar a pele e os ossos. Uma lágrima escorre de seus olhos e depois o brilho é ofuscado pela chegada da morte.


*


Ana acorda depois de ter a impressão de ter ouvido um barulho. Ela olha para o lado direito da cama e seu marido não se encontra. Na certa foi mijar, pensa ela. Ela não confere o horário, mas imagina passar das três da madrugada. De repente ela começa a ter sensações perturbadoras até quase sufocá-la. Ana é obrigada a se levantar e abrir a janela. A noite é abafada, os cabelos vermelhos cortados na altura dos ombros estão grudados no pescoço e na testa. Não há uma corrente de ar fresco para aliviar aquela sensação térmica incomoda.
A fotógrafa corre até o banheiro, abre com ligeireza a torneira e molha o rosto e a nuca. Aonde Paulo se meteu, ela pensa se olhando no espelho. Como toda mulher, Ana se admira, percebe o quanto emagreceu, não que fosse gorda, mas desde quando passou a morar junto com Paulo ela ganhou alguns quilinhos a mais. A água fria fez com que ela se arrepiasse e os mamilos marcassem a blusa fina de dormir.
Ana desce as escadas. Ela chama por Paulo algumas vezes e até então nenhuma resposta. O medo está a seu lado. O silêncio sepulcral naquela sala ajuda a tornar as coisas ainda mais difíceis.
- Paulo, você está ai?
Ela pisa em algo e escorrega batendo o joelho com força no chão. Xinga uma infinidade de palavrões e depois resolve ver o que a levou a cair.
- Meu Deus. – pega a pistola. – Paulo, você deixou sua arma aqui e eu quase quebrei a perna.
Ana se levanta. A dor no joelho ainda incomoda. Ela gira o pescoço em direção as cortinas que nesse momento estão se movendo mais que o normal. Pânico e ao mesmo tempo raiva. Mancando ela caminha segurando a pistola. Alguém precisa colocar um ponto final nessa história. As figuras com suas expressões fria parecem zombar da fotógrafa.
- Vão para o inferno.
Ana aponta a arma e com a outra mão ela abre as cortinas. O estômago de Ana faz um nó. O corpo seco de seu esposo pendurado na janela. Ela volta a cair, desse vez são suas nádegas que sofrem o impacto.
- Paulo! – grita.
A seu lado a criatura com os olhos úmidos. Ao ver aquilo, Ana se apavora e atira. O ser permanece intacto.
- O que fez com meu marido? – berra.
A garganta de Ana começa a doer e seu corpo formiga por inteiro. Ela tenta se colocar de pé e não consegue. Sua cabeça lateja e sua parte motora perde o controle. Ana baba e vê tudo rodando. Ela vai pro chão outra vez. Se rasteja.
- Só, só, socorro, alguém, nos ajude, por favor. – fala com voz pastosa.
O corpo de Ana começa a secar. Sua angústia alimenta as criaturas nas cortinas. A mulher arfa, seu tórax sobe e desce descontroladamente. Ana segue morrendo olhando para a criatura que abre um sorriso perturbador. O pouco que ainda lhe resta de vida, Ana questiona, o que há de errado nessa casa? A ruiva busca o último fôlego de vida. Pensa em seu marido, em seu casamento, em como eles seriam felizes e grita.
- Não quero morrer.
Paulo sai correndo do quarto ao ouvir o grito da esposa e desce as escadas sem notar os degraus.
- Amor, o que houve?
Ana olha para um lado e olha para outro. A casa está em perfeita luz. Ela olha para Paulo parado olhando para ela com os olhos esbugalhados.
- Ana, você está me assustando, o que houve?
- Nada, nada, eu só cantei alto, só isso. – se apoia na vassoura.
- Mas você gritou que não queria morrer.
- Foi a música. – aponta para os fones em seus ouvidos.
- Que bom, achei que você tivesse visto algum fantasma. Estou lá em cima, qualquer coisa não me grite.


A lua de mel foi como o esperado. Ana e Paulo saíram dali cheios de planos para a nova vida a dois. Foram dez noites seguidas de puro sexo e juras de amor. Enquanto seu marido termina de trancar o portão principal, Ana se acomoda no banco do carona e volta a pensar em seu devaneio sombrio. Só de lembrar ela se arrepia. Finalmente o médico consegue trancar o portão. Ele entra no carro, olha para as pernas da mulher que agora estão cobertas pela calça jeans.
- Feliz? – ele pergunta.
- Muito! – se beijam.
Paulo sai com o carro desaparecendo na floresta. Dentro da casa o silêncio lembra um cemitério e as cortinas se movem. FIM.















domingo, 2 de fevereiro de 2020

A Sombra do Vingador - Um pedido de ajuda


A SOMBRA DO VINGADOR
Um pedido de ajuda

Por mais que Sérgio saiba que seus amigos irão dizer que essa história de noivado é coisa do passado, o estudante de direito deixará o constrangimento de lado e pedirá Taís para ser sua noiva e porá um anel em seu anelar direito. Nada do que os outros irão falar ou achar importa. Para um jovem conservador como ele o que importa é o que ambos estão sentindo e o que ele sente por Taís é amor de verdade.
     - Claro que aceito. – Taís se pendurou no pescoço de Sérgio e o beijou. – quando faremos isso?
     - Ah, sei lá. Assim que eu comprar as alianças. Faremos um jantar para os amigos.
     - Amei a ideia. – o beijou mais uma vez.
     - Então. Que tal um cinema hoje? Você escolhe o filme. – apertou o nariz dela.
     - Aí, doeu. – pausa. – legal, me pega as 19h, tudo bem?
     - Saquei.
*

O filme até que foi bom, mas o aspirante em advocacia preferiu passar as duas horas com a mão embaixo da saía da namorada. Quando deu por si o filme já havia acabado e Taís precisou se recompor. Na saída eles comeram um lanche numa dessas lanchonetes famosas e terminaram de acertar os detalhes do jantar de noivado.
      - Quem sabe depois a gente não termina o que começamos no cinema? – propôs Taís.
      - Adoraria.
      Perto das 23:45 eles saíram do shopping. Abraçados, grudadinhos como sempre andam. Entre um beijo e outro, uma pegada aqui e outra ali eles vão caminhando até dobrarem uma esquina mal iluminada. Taís ainda falava sobre seu trabalho como vendedora quando um assaltante os surpreendeu.
     - Perdeu, perdeu, os celulares, rápido, rápido.
     - Calma, nós vamos te dar. – retrucou Sérgio.
     - Calma o caramba seu quatro olhos ridículo. – apontou a pistola.
      Taís manteve a calma o tempo inteiro enquanto seu futuro noivo pegava os aparelhos e os passava para o meliante.
      - Fica frio, cara, só nos deixe ir embora, por favor. – clamou Sérgio com os braços erguidos.
      - Cagão. – atirou a queima roupa no peito da vítima.
      Taís Mendonça viu tudo acontecer em câmera lenta. O bandido puxando o gatilho. A bala saindo e furando a camisa do time do coração do namorado. O corpo de Sérgio Silva caindo. O bandido fugindo sorrindo. Tudo isso ela testemunhou.
      - Socorro. Alguém me ajuda. – gritou ajoelhada diante do cadáver do noivo.

*

Tyson, isso é tudo que Taís sabe sobre o assassino de Sérgio. Quase três meses depois da tragédia, a vendedora ainda não engoliu o fato do homem que tirou a vida de Sérgio covardemente ainda se encontrar livre pelas ruas e provavelmente fazendo novas vítimas. Taís tem apenas 19 anos, mas atualmente parece que 30 anos lhe foram adiantados. Sergio foi sepultado e com ele foram os sonhos, os planos, a alegria, tudo foi depositado junto com o corpo de seu noivo naquela tarde. Hoje, o que sobrou de Taís vive por aí, em busca por justiça. Três meses de demora, três meses sem resposta, três meses de angústia, raiva e tristeza.
     Tyson. Assaltante miserável, drogado, sem nada no coração. Ele entrou num bar e se acomodou numa das mesas. Fez o pedido. Dois suculentos pedaços de pizza de calabresa e refrigerante. Taís o observa parada na calçada, por que eu não entro lá e acabo com ele? Dentro da mochila em suas costas uma faca de cozinha. Tyson terminou o lanche. Taís anotou o endereço do bar mentalmente e se foi antes de Tyson sair.

*

A vendedora de roupas chegou em sua casa se segurando para não explodir em lágrimas, eu poderia colocar um ponto final nessa história. Eu poderia entrar lá e enfiar a faca na garganta dele e pronto. Vingança concluída com sucesso. Não sua estúpida. Você estragaria sua vida. Todos iriam ver. Seria terrível. Taís se jogou no sofá e chorou, chorou muito até soluçar. Aquela noite foi complicado para dormir. Taís foi perseguida nos pesadelos por Tyson e por fim ele a matou, do mesmo jeito que fez com Sérgio. Suada Taís acordou sobressaltada quase caindo da cama. Chorou um pouco e depois não conseguiu dormir mais.
      Para trabalhar tem sido um sufoco, Taís não se concentra e devido a isso ela vem sofrendo advertências do gerente. Ela só pensa em vingança, em Tyson e em seu sangue escorrendo do corte em seu pescoço. Assaltante desgraçado. Quando terminou o expediente ela resolveu dar uma volta  nos arredores onde Tyson anda. Na mochila a faca. Claro que os olhares para ela são inevitáveis. Morena alta, cabelos lisos, bonita naturalmente, não são todos os dias que se tem uma beldade circulando por aquelas bandas. Taís anda olhando para os cantos, grupos de homens conversando na calçada, bares e barraquinhas. Nada do monstro, mas ela sente que ele está por ali.
      Ela parou diante de um prédio horroroso, com suas cores frias desbotadas e rebocos da fachada caindo. Da portaria caindo aos pedaços saiu uma senhora gorda atarracada com bolsas de compras retornáveis.
      - Boa tarde, senhora, aqui mora um tal de Tyson?
      - Um rapaz magrinho faltando um dente da frente?
      Taís sentiu que seu estômago fez um nó.
      - Esse mesmo. – respondeu com voz trêmula.
      - Mora sim. Quer dizer, ele se esconde, esse menino não presta, moça, cuidado com ele hein.
      - Pode deixar. Muito obrigado.
      Taís anotou o endereço e voltou para casa um pouco mais aliviada. Seria isso muita sorte? Ou o destino jogou a seu favor a colocando em frente ao prédio onde o assassino de seu noivo mora? A resposta ela não sabe, mas de uma coisa ela está certa, os dias de Tyson estão contados. Antes de tomar seu banho e preparar algo para comer ela parou e analisou algo. Taís não pode sujar as mãos com o sangue daquele cara, alguém precisa fazer isso por ela. Quem?
*

Um boteco dos chamados pé sujo, com homens suados, fedendo a cigarro e a bebida. Música de gosto duvidoso. Sentado curtindo uma leve dor de cabeça e aguardando seu pedido está Bruno Junior. Enquanto espera ele confere na TV no alto da pilastra as últimas informações sobre um caso de roubo de carga de cigarros. Calça jeans e botas pretas com os solados já bastante gastos. Camisa de botão preta aberta até o abdômen e uma correntinha fina dourada em volta do pescoço pegajoso de suor. Fixado no cinto da calça o distintivo prata da polícia e no coldre por dentro da camisa sua pistola. Bruno Junior o pavor dos fora da lei e também dos que cumprem a lei.
      O pedido chegou. Café expresso, uma lata de Coca-cola e bolinho de feijoada. Rapidamente ele abriu a lata e misturou o refrigerante ao café quente e tomou. Se arrepiou e bateu na mesa algumas vezes. Voltou a olhar para a TV e depois começou a saborear o bolinho.
     - Com licença?
     Bruno se virou. Uma voz doce e ao mesmo tempo demonstrando um certo receio.
     - Toda!
     - É o policial Bruno Junior? – disse Taís olhando espantada para ele.
     - Oi, sou eu, em que posso ser útil?
     - É... – olhou em volta e viu muitos olhares para eles. – podemos conversar, tem algum outro lugar?
     Bruno jogou o último pedacinho do bolinho de feijoada na boca. Pegou o guardanapo e limpou as mãos e boca.
      - Tem sim. – ergueu o dedo. – a conta por favor.

*

Fora do bar, ainda intimidada pelo jeito tipo machão do policial, Taís praticamente se encolhia.
     - Pode me adiantar o assunto? – perguntou Junior pegando a chave do Fiat uno azul escuro ano 1998.
      - Bom, me chamo Taís Mendonça. – estendeu a mão.
      - Encantado. – abriu a porta.
      - Bem. Podemos entrar? Acho melhor. – forçou um sorriso.
      O Fiat dobrou numa rua secundária para sair da principal onde há muito trânsito. Se tem uma coisa que Bruno Junior odeia é ficar parado dentro do carro.
     - Diz aí, o que faz uma morena linda procurar e entrar no carro de um sujeito como eu?
     - Justiça. Vingança. Raiva. Fúria. Só isso. – falou olhando para fora.
     - Eita, vamos com calma. O que houve? – reduziu para passar num quebra molas.
     - Eu tinha um namorado, quase noivo. Foi morto na minha frente. Foi um assalto. Sergio já havia entregado tudo, não esboçou reação e mesmo assim o maldito atirou a queima roupa. – limpou as lágrimas.
      - Você foi até a polícia, quando foi isso? – pisou no acelerador.
      - Há quase três meses. Fomos sim, mas, nada foi feito. O cara continua solto.
      - E o que você espera que eu faça?
      - Conheço sua fama. Você é um policial raíz, coloca ordem na casa, preciso que pegue o tal sujeito e... – trancou os dentes.
      - E? – olhou para ela e depois para frente. – o mate pra você, é isso?
      Taís abaixou a cabeça.
      - Veja bem, Taís. Pode parecer fácil, mas as coisas não são assim...
      - Eu lhe pago.
      Bruno olhou de cara feia para ela. Jogou o carro para a calçada e pisou no freio.
      - Eu não faço justiça por dinheiro, não sou um mercenário. Faço porque quero minha cidade livre desses vermes. O certo era você pressionar para que as investigações andem, mas eu conheço o sistema. Eu caço os bandidos porque pra mim eles não passam disso, animais.
      - Então, vai aceitar pegar o cara?
      - Sabe onde ele estar?
      - Sim!

*
Três carreiras do mais puro pó. Tyson aspirou tudo numa velocidade impressionante. A pistola repousa na cintura. Lá fora a noite começa a cair. Será mais um dia de ação criminosa. Disposto a tudo, sem nada a perder. Ele deixou seu apartamento que mais parece um chiqueiro para cometer outros assaltos certo de sua impunidade. Camisa larga, bermuda de Tactel e boné de aba curva. 
     Tyson Martins. Nome escolhido por seu pai. Morador de comunidade. Típico menino passador de fome sem estrutura familiar alguma. Sua mãe é jovem ainda e mora com um sujeito sem futuro que a trai e a espanca as vezes. Tyson é o mais velho de seis filhos. Sem expectativa, sem disposição para o trabalho, sem dinheiro. Tyson partiu para a vida do crime e hoje carrega algumas mortes no currículo. Vítima da sociedade? Sem oportunidade? Será?
      Um garoto passa distraído com seus fones de ouvido enormes por uma rua de baixo movimento. Tyson vem de encontro e o aborda.
      - Me passa o celular.
      - Calma. Toma. – enfia a mão no bolso.
      - Me dá os fones também seu otário.
      - Valeu, valeu.
      - Agora corre, corre.
     O primeiro de uma sequência e a noite só está começando. Um casal de namorados se beija, trocam carícias e juras de amor para sempre até que são surpreendidos pelo assaltante furioso sob o efeito da cocaína.
     - Bora! Vamos passando os celulares sem gracinha. – mostrou a pistola na cintura.
     Devido ao nervosismo do rapaz na hora de passar os pertences o aparelho caiu trincando a tela. A raiva foi instantânea de Tyson que as agressões a vítima foram imediatas.
     - Seu lerdo. Viu o que fez. – chutou mais uma vez as pernas do rapaz. – vou te matar agora. – apontou a pistola.
     A moça se jogou na frente do namorado praticamente. Tal cena causou uma certa risada de deboche do assaltante que felizmente desistiu de cometer mais um assassinato. Tyson se foi deixando para trás duas vítimas com os seus emocionais profundamente abalados.

*
Para ser um policial hoje em dia não basta portar uma arma, vestir uma farda ou simplesmente andar por aí carregando um distintivo. É preciso muito mais do que isso. Na opinião de Bruno Junior, ser um policial você precisa ter sangue de barata, ser feito de ferro ao invés de carne, não ter pena de ninguém, ainda mais sendo esse alguém um bandido. Para Junior todo bandido deveria ser punido com a morte. Hoje em dia é assim, ou você bate ou apanha e ele não entrou para a instituição para ser caçado, nas ruas dessa cidade você deve preferir ser o lobo. Esse pensamento o acompanha desde quando foi promovido a detetive.
      Bruno Junior tem um trabalho a ser feito. Encontrar Tyson e tirá-lo de circulação. Ele ainda está decidindo se o levará preso ou o executará uma vez que ele conhece o sistema. Um sistema falho que permite que o vagabundo seja liberado caso ele seja menor ou se o meliante for réu primário. Bruno não costuma perdoar esse tipo de gente.
       A seu lado Taís apenas olha para frente observando a paisagem passar em alta velocidade. Vez por outra de soslaio a vendedora olha para aquele homem moreno escuro, pele queimada pelo sol, cabelos lisos, precisando ser aparados na verdade, traços marcantes, atraente na medida certa. Bruno Junior cheira a desodorante barato, mas isso não chega a incomodar.
     - É aqui? – perguntou ele.
     - Ah, sim, é aqui sim.
     - Que lugar feio. Mora realmente alguém aqui?
     - Sim.
     - Tá legal. – encostou o carro. – vou dar um sondada. Você fique aqui.
     Junior caminhou até a portaria do prédio. Olhou para o interior, lá dentro um verdadeiro deserto. Tudo parece estar abandonado há anos. Mal tocou no portão e ele rangeu se abrindo. O policial entrou, mas antes sacou a pistola. Subiu as escadas. Um sujeito mal vestido com aparência de drogado se encontrava dormindo quando foi acordado com tapas na cabeça.
      - Acorda seu merda.
      - Oi, oi, o que foi? Eu não fiz nada.
      - Você conhece um tal de Tyson? – a arma é apontada.
      - Conheço, te levo lá. – engoliu seco.

*

      Taís preferiu não mexer no celular. Aquele lugar não é o mais seguro para exibir bens materiais. Mais uma vez ela pensou em Sérgio e outra vez ela chorou. Na verdade ela se faz de forte quando de fato Taís ainda não superou a perda do noivo. Claro que ela teve outros namorados, mas Sérgio foi o que conseguiu deixá-la apaixonada.
      Ela ainda pensava em Sérgio quando Tyson apareceu com as mãos algemadas para trás conduzido por Bruno até o Fiat uno. Não dava para ouvir, mas com certeza o ladrão protestava muito.
      - Fica quieto e vamos entrando.
      - Calma aí, eu nem sei se você é polícial mesmo.
      - E faz diferença? – fechou a cara.
      - Espera aí, cara, eu não vou entrar.
      O agente enterrou o cano da pistola no olho direito de Tyson.
      - Entre, se não quiser que eu te mate aqui e agora.
      Ao ver o assassino de seu noivo tempos depois Taís foi acometida por uma mistura de sentimentos. A vontade foi de pegar uma arma e descarrega-la nele. Taís apenas chorou copiosamente precisando ser amparada por Bruno.
      - Tá legal, fique fria. Vou te deixar em casa e depois vou ver o que faço com esse bosta.
      Taís limpou as lágrimas. Se virou para Tyson e olhou nos olhos dele. Uma nuvem negra encobriu seu rosto bonito.
      - Espero que sofra antes de morrer. – cuspiu.

*
     - Não, não, não.
     A cabeça de Tyson explodiu e seu corpo caiu para trás. Para se certificar de que estava realmente morto Bruno Junior atirou no peito também. Resolvido. O corpo foi deixado naquele matagal distante da cidade onde só os insetos foram testemunha do ocorrido. O detetive pegou a arma do cadáver e a desmontou e foi jogando suas partes pela janela num rio que passa na beira da estrada. Serviço sujo feito. Menos um vagabundo na pista. O carro volta para a cidade tendo como cenário um por do sol vislumbrante. FIM.