O que é o poder? Dependendo de quem o tenha nas mãos, o poder
pode ser algo altamente destrutivo não só para quem o detém, como para quem se
encontra ao redor e dependa direta ou indiretamente dele. Sabrina Fialho é uma
dessas pessoas as quais foram agraciadas com o poder e agora ninguém ousa tirá-lo
dela. Ela se satisfaz ao ver gente fazendo das tropas coração só por um momento
a seu lado. Isso a faz ter explosões de egos que minam seu ser.
Mas alguém pode perguntar: de onde veio essa “rainha”, quem a
corou? E o seu reino, por um acaso encontra-se situado entre essas paredes apodrecidas?
Sim! É exatamente isso. Sabrina governa nesse mundo onde às drogas, e o sexo
livre estão sempre em pauta. Toni, seu principal súdito é o responsável por
proporcionar todo o conforto e prazeres possíveis a ela e Sabrina confia muito
nele.
— E às garotas? — perguntou enrolando um cigarro de maconha.
— Às colocamos no quarto e muito em breve elas estarão
prontas.
Ela terminou de enrolar e o apertou. Toni sacou com agilidade
o isqueiro do bolso da calça e o acendeu.
— E o garoto, qual é o nome dele mesmo? — sorveu uma boa
quantidade de fumaça.
— Sérgio! Esse já está pronto. Houve uma resistência no
início, mas agora ele está mais do que familiarizado.
— Ótimo! Quero que uma dessas garotas seja o prato dele. E
quero que seja um show para todos.
— Como queira. — abaixou a cabeça.
Ao redor do “trono”, do lado direito, há uma dupla de meninas
se agarrando, trocando beijos e carícias. Do lado esquerdo, aos pés de Toni, há
um jovem caído com suas narinas sujas de cocaína. Seus olhos estão bem abertos,
brilhantes e ele está praticamente imóvel. Seu estado inspira cuidados. Sabrina
Fialho segue sentada assistindo a tudo como se nada estivesse acontecendo. Tudo
normal entre aquelas paredes.
*
A não prática de exercícios físicos em conjunto com uma
alimentação inadequada e fora de hora estão aos poucos matando Gilberto e agora
mais do que nunca ele consegue sentir isso na pele. Caminhar por uma estrada
onde boa parte do percurso é feito de cascalhos soltos e mato cortante por
todos os lados faz com que o detetive dê razão a tudo que sua ex mulher falava durante
o tempo em que ficaram casados. “Beto, você precisa sair desse sedentarismo,
ele vai acabar te matando”. Elisabete estava coberta de razão.
Bem a sua frente, Carolina Rodrigues, diferente de seu
parceiro, abre caminho por dentro do mato sem reclamar ou parar para buscar
fôlego. Isso tem deixado Gil bem irritado.
— Aqui está bom! — falou Pedrosa se apoiando nos joelhos. —
não vamos nos aproximar muito. Aqui será nosso ponto de observação.
Rodrigues, devidamente uniformizada zombou do estado do
companheiro e depois decidiu embarcar de vez na operação.
— Esse tal de Toni Silva deve ser o contato direto, um tipo
de aliciador. Deve rolar outras coisas além de drogas e bebidas lá dentro. Não
acha?
— É bem provável. Algo me diz que, Sérgio Ornelas e Michele
não estão lá dentro porque querem.
Rodrigues apertou os olhos.
— Estamos lidando mesmo com um caso de sequestro então? — ela
voltou a olhar em direção a casa. — e o que estamos esperando?
— Eles nos darão uma brecha e é aí que entraremos com tudo.
Eles não sabem que estamos aqui.
*
Michele estava agitada. Mais agitada do que o normal. A todo
instante ela tentava saber o que se passava do outro lado olhando pelo buraco
da fechadura e isso irrita demais aos outros encarcerados. Principalmente às
recém chegadas.
— Eu preciso sair daqui. — falou olhando mais uma vez pela
fechadura.
— Você pode até tentar sair do quarto, mas não passará da
sala. — disse Sérgio.
— Como tem tanta certeza? — retrucou.
— Eu já tentei fugir e fui apanhado ainda na sala pelo Toni. Paguei
caro por isso. — abaixou a cabeça.
A porta do quarto foi aberta. Toni e mais dois rapazes
entraram com seus olhares fixos em Michele.
— A nossa rainha nos pediu um show e ela escolheu você,
peitudinha.
Michele se encolheu no canto sendo protegida pelas duas recém
chegadas.
— E você, meu rapaz. — se dirigiu a Sérgio Ornelas. — irá
desvirgina-la. Fique feliz, você é o escolhido.
Meneando a cabeça o garoto se manteve calado. Toni e seus
comparsas avançaram para mais próximo dele. Sérgio tremia dos pés a cabeça.
— Quer mesmo ter o fim que outros tiveram? — segurou em seu
queixo. — está sentindo esse cheiro? São eles.
Sérgio chorou.
— Ótimo! Isso é um bom sinal. Agora vamos, todos vocês.
*
Sabrina trocava beijos suculentos com um de seus servos mais
antigos visivelmente alucinados quando Toni se apresentou. Sem muito jeito para
chamá-la o cabeludo resolveu esperar e apreciar aquela cena quente. A rainha
abriu os olhos.
— Estão todos prontos? — deu o último selinho no rapaz que
dizia coisas sem sentido.
— Sim, senhora.
Ela limpou os cantos da boca retirando a saliva. Se acomodou na
poltrona. Ajeitou os cabelos e piscou para Toni autorizando o início do
espetáculo. Como um verdadeiro arauto o cabeludo anunciou o início do show.
— E com vocês, Sérgio Ornelas e Michele. Façam um círculo bem
aqui.
Aos prantos a dupla de jovens foi conduzida ao centro do
círculo sob os olhares sombrios de todos ao redor. Sabrina aplaudia e sorria em
silêncio, uma imagem bem assustadora. Bruna e Letícia, às recém chegadas, não
estavam acreditando no que estavam prestes a vislumbrar.
— Isso não pode acontecer. — falou Bruna a morena ao pé do
ouvido da amiga.
— Por favor, amiga, não faça nada.
— Vou aproveitar que estão todos concentrados e cair fora,
voltarei com ajuda.
Letícia a apertou no braço.
— Tá maluca, vai fugir por onde?
Bruna girou sutilmente o pescoço em direção a cozinha de onde
vinha uma luz.
— Confie em mim, voltarei com ajuda. Agora solte meu braço.
Sérgio e Michele se abraçaram chorando juntos. Desde quando
chegaram aquele lugar eles desenvolveram uma certa amizade e um prometeu
proteger o outro. Lógico que tal aproximação foi notória até mesmo aos olhos do
principal súdito de Sabrina que a deixou por dentro do que estava acontecendo.
A rainha adorou a ideia de um show de sexo com amigos entre aquelas paredes.
— Não precisam ter pressa. — colocou Toni. — temos o dia
todo.
Bruna havia dito bem. Todos estavam atentos ao que se
desenrolava no centro da sala e sua saída do ambiente não foi percebida. Assim
que alcançou o corredor que dá acesso a cozinha ela acelerou os passos. Como
havia imaginado, existia sim uma porta e ela se encontrava entre aberta. Ao
tocá-la a mesma rangeu fazendo o coração da morena bombear ainda mais sangue. Já
do lado de fora, sentindo a brisa fresca acariciar seu rosto, Bruna, ao olhar
para seu lado direito onde há uma casinha supostamente onde são guardadas às
ferramentas e material para limpeza, seu coração bateu ainda mais forte ao ver
um sujeito sentado na raiz de uma mangueira dormindo. Imediatamente ela deu a
volta seguindo para a frente da casa. Bastante ofegante e vislumbrando o lugar que
dará no caminho por onde chegou com Letícia e Toni, o mesmo a surpreendeu lhe apontando
uma pistola.
— Saindo assim sem avisar?