sábado, 12 de agosto de 2023

Observando THALMA Marques

 


Observando Thalma Marques

 

 

 

Eu não me lembro muito bem como cheguei aqui, só sei dizer que, quando abri os olhos ela já estava lá. Dona Thalma para alguns e para outros da família apenas Thalma. O único que a chama carinhosamente de Thalminha é um sujeito boa pinta que pelo menos duas vezes na semana aparece por aqui.

 

Thalma Marques é o que podemos chamar mulher típica brasileira da melhor qualidade. Quarenta e cinco anos, presumo eu. Boa forma. Fã de Yôga e de corridas matinas diárias. Pelo que eu entendi ouvindo certas conversas, Thalma é profissional na área das ciências exatas. Contadora talvez. Boa mãe e boa esposa, acredito eu. Ela e João pouco se falam, diferente de quando o tal sujeito que a visita duas vezes na semana aparece por aqui. Com ele Thalma fala. Fala até demais. Sorrir, solta gargalhadas e quando dou por mim, lá estão eles agarrados aos beijos no sofá.

 

Certo ocasião, João e ela quase que chegam às vias de fato. Ele encontrou algo do outro rapaz no quarto e o céu desabou na cabeça de ambos. Thalma gritava feito uma desesperada o pedindo que a perdoasse, tudo isso na frente das crianças que choravam o tempo todo. Essa noite foi de assustar qualquer um. Eu só sei que tudo ficou bem. Os filhos foram dormir e eles se amaram naquele mesmo sofá.

 

Volto a dizer: eu não sei como vim parar aqui, então resolvi explorar um pouco mais. Numa tarde quente de verão, após caminhar, Thalma voltou para casa com suas roupas de ginástica molhadas de suor. Ela estava sozinha em casa, por isso não se importou em tirá-las ali mesmo no meio da sala. Foi a coisa mais linda e sedutora que já vi. Thalma nua é ainda mais sensacional do que vestida. Penso eu que todas devem ser assim. Ela foi para o banheiro. Fiz um esforço e caminhei sem fazer barulho até a porta. Lá estava ela, toda molhada, até os cabelos estavam encharcados pela água do chuveiro. Graças aos céus o vidro do box não embaçou tanto e eu pude vislumbrar daquela obra de arte.

 

Antes dela fechar o registro, eu corri para o meu lugar habitual e a aguardei sair. Ela entrou no quarto envolvida numa toalha pequena, cobrindo somente a parte de baixo. Thalma abriu o armário e pegou o aparelho de barbear de João. Ergueu o braço esquerdo e o passou na axila. Fez o mesmo com o outro braço. Depois ela usou esse mesmo aparelho para tirar os pelos da parte de baixo. Que curioso! Enquanto ela fazia tal tarefa o celular tocou.

 

— Eu já falei para não me ligar, o João tá no meu pé. Calma, eu já estou me arrumando. Vai dando entrada aí, eu chego em vinte minutos.

 

Thalma terminou sua higiene. Perfumou-se. Se vestiu e saiu. Tudo ficou em silêncio por um logo tempo até a chegada das crianças da escola. Em seguida João chegou também fazendo a mesma pergunta.

 

— Cadê a mãe de vocês?

 

— Não sabemos, papai.

 

Que coisa chata! João pegou uma garrafa no armário da cozinha de um líquido dourado e a tomou direto no gargalo deixando-a pela metade. Ele andava pela casa trocando as pernas e falando coisas do tipo: hoje ela não me escapa. Os meninos foram para o quarto jogar e João permaneceu na cozinha aguardando a chegada da esposa.

 

A porta da cozinha se abriu. Era ela. Ao vê-la, João tomou posse de uma faca e partiu para cima da mulher desferindo golpes violentíssimos contra ela. Na tentativa de se proteger das estocadas, Thalma colocava os braços na frente, mas de nada adiantou. Seus membros foram fatiados sem piedade. Por dentro eu gritava pedindo por socorro assim como seus filhos. Mesmo caída e com a respiração fraca, João não cessava com as punhaladas tanto no peito como no pescoço. Seu rosto se transformou em uma máscara escarlate devido aos jatos de sangue que escapavam das feridas no pescoço. Enquanto a furava, ele a xingava dos piores nomes e ela coitada, só emitia grunhidos como de um suíno. João só parou quando sua mão molhada pelo sangue escorregou o levando a se cortar.

 

— Desgraçada.

 

Ele saiu de casa do jeito que estava. Sujo de sangue. Os filhos correram com medo para o quarto e lá se trancaram. Thalma exalava seus últimos suspiros caída no chão. Fiz uma força absurda e andei até seu corpo. Olhei em seus olhos já sem luz, sem vida e tentei fecha-los. Não consegui. Senti a temperatura do sangue escorrendo no chão, senti o cheiro. Thalma parou de respirar. Morreu de olhos abertos direcionados a mim. Eu ainda lamentava a sua partida quando ouvi o ruído da porta do quarto das crianças se abrindo. Não havia tempo de sair dali correndo. Deitei-me junto ao corpo de Thalminha, em meio ao seu sangue. Chorando bastante, o filho mais velho caminhou em nossa direção e contemplou a mãe morta.

 

— Mamãe, levanta.

 

O outro juntou-se ao irmão também em prantos.

 

— Veja, Joãozinho, ela pegou aquele boneco que aquela mulher estranha te deu na escola. FIM.