sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

Força Bruta | Conto policial com Luis Souza

 


Força bruta







1





Os olhos atentos do comandante observam cada passo da operação responsável pelo transporte do mais novo armamento. A operação conta com cerca de cem homens armados por terra e dois helicópteros dando suporte. O caminhão adentra ao terreno militar parando lentamente no pátio. O baú é aberto e de dentro dele descem mais dez homens com fuzis:

- Tudo pronto senhor! – o comandante apenas diz que sim com a cabeça.

Se normalmente a expressão do chefe maior já é dura, imagine em momentos tensos como esses. Chega a ser aterrorizante.

O armamento aguarda a chegada da empilhadeira ruidosa. Na verdade todos querem ver de perto aquilo que revolucionará a indústria bélica do país. Esse feito inédito só vem a confirmar que as mudanças começaram a surgir e que o Brasil despertou o interesse em se preparar melhor como outros países. O orçamento diga se de passagem superou as condições do governo, porém, todos concordaram que investir em segurança é algo imprescindível.

Pronto, o canhão já se encontra na empilhadeira que a transportará para dentro do galpão que fica ao lado do imenso pátio. Ninguém pisca ou respira. O helicóptero faz seu giro apontando sua potente metralhadora para tudo que se move. Os militares ao redor do quartel-general estrategicamente posicionados montam guarda observando cada movimento suspeito. A operação contou também com o fechamento de ruas a um perímetro de 16 quilômetros do comando. Tudo foi feito para que nada, nenhum imprevisto acontecesse.



***



O binóculo encobre os olhos que faíscam de um ódio que ele não sabe de onde vem. No terraço de um antigo prédio ele se apoia na mureta de proteção, ansioso pela chamada no rádio. Provavelmente o seu contato dará maiores informações. Mesmo sendo binóculos de alta capacidade, o seu zoom não consegue lhe dar maior nitidez e isso o irrita. Ele se afasta da mureta e volta para sua mesa onde há uma submetralhadora de fabricação Russa. Xinga bastante. Segurando o rádio com toda força que há nele, o sujeito se acomoda na cadeira e se serve da bebida forte. Finalmente o rádio chama e com um tom nada amistoso ele atende:

- Pensei que tivesse morrido cara.

- Relaxa, o negócio é o seguinte, o canhão ficará no galpão principal do comando vigiado por mais de quarenta olhos e mais câmeras.

- Continue.

- Sim, foi ordenado que enquanto o canhão não estiver dentro da base, que os helicópteros não cessem de fazer suas rondas.

- Sem problemas. – ele toma mais um gole da bebida. – vamos derrubar os helicópteros. – o sujeito do outro lado da linha fica mudo. – o que houve, o gato comeu sua língua?

- Cara, você tem noção do que pretende fazer? Você está arrumando sarna pra se coçar.

- Eu quero esse canhão e vou conseguir.

- Tudo bem, vamos prosseguir com o plano.

Silêncio no rádio e ele volta a se aproximar da mureta. Ele tenta mesmo sabendo que seu aparelho não conseguirá lhe dar a visão necessária do comando. O plano deve ser concluído.



2



Os braços para trás e a mesma expressão fechada de sempre, essa é a postura do comandante Carvalho do exército enquanto ouve as instruções do técnico. É bem verdade que o tal técnico não passa muita confiança, porém o chefe maior das forças armadas escuta atentamente as complexas informações sobre canhão:

- Esse canhão foi fabricado por cerca de 16 grandes especialistas na área de segurança e guerra. Como podem ver, não se trata de um canhão comum e sim algo que vai além da nossa imaginação. – o técnico faz uma pausa e olha para o comandante que mais parece um cubo de gelo, um iceberg pra falar a verdade. – estou falando de algo que só vemos nos filmes de ficção científica. – finalmente em duas horas Carvalho resolve falar:

- O senhor pode ir direto ao ponto? – sua voz é baixa e afiada como um punhal.

- Sim senhor. – engole seco. – estou falando de um canhão a laser. – um clima de surpresa e por que não dizer de deboche toma conta do ambiente deixando o magro e desengonçado técnico ruborizado:

- Um canhão a laser. O senhor fala sério doutor? – pergunta Carvalho se aproximando do canhão.

- Sim senhor, lendo atentamente o manual veremos que o seu poder de destruição é cem por cento eficaz num combate.

Carvalho coça o queixo quadrado e volta a colocar as mãos para trás. Circundando o canhão ele olha para o técnico que ajeita seus grandes óculos fundo de garrafa.

- Se isso cair em mãos erradas. – conjetura Carvalho. – seria catastrófico não acha?

- Eu diria o inferno na terra. – completa o técnico.



3



Os olhos tentam, mas o corpo não deixa. Mais uma vez o policial se vira na cama e sente um volume aveludado a seu lado. O dia já é claro, mas o quarto ainda traz o aroma e a escuridão da noite passada. Souza tateia e sem querer acaricia a região glútea de uma jovem mulher que simplesmente dorme em posição fetal:

- Que negócio é esse? – ainda perdido o policial afasta os lençóis e percebe que está nu. – meu Deus! – Souza se levanta e faz a volta na cama. – ei mocinha.

Ela não acorda. Ainda atordoado Souza tenta colocar os pensamentos em ordem. A única coisa que lhe vem à memória é de tê-la conhecido num bar e dado carona para ela. Souza olha ao redor e percebe que está em seu quarto, em seu apartamento. Olha mais uma vez para a mulher que ainda ostenta uma leve maquiagem. Como é bonita. A curiosidade masculina é maior, Souza a descobre e vislumbra seu corpo magro nu. Fazendo um passeio pelo corpo da mulher, Souza vê uma embalagem de preservativo na beirada da cama. Ufa!

Hora de acordá-la.

- Bom dia! – fala ao pé do ouvido da garota.

- Oi. – boceja.

- Quer tomar café? – oferece Souza.

- Gostaria. – ela se espreguiça.

- Vou pegar sua xícara.

- Então, gostou da noite? – ela pergunta se levantando e exibindo seu corpo do jeito como veio ao mundo. Souza tenta não ficar animado, mas, é mais forte que ele.

- Sim, claro. – mente.

- Que bom, podemos combinar um próximo encontro, onde você trabalha? – Souza engole seco.

- Vem tomar café.



***



Ainda encaixando as peças do quebra cabeça da noite passada, Souza termina de colocar em ordem os resultados das ultimas operações. Sem bater na porta, sua assistente Márcia adentra a sua sala e sem querer o ajuda a terminar de encaixar a ultima peça que faltava:

- Como foi passar a noite com a Laura? – Souza quase deixa cair os papeis.

- O que disse?

- Perguntei como foi passar a noite com a Laura! – o policial franze a testa.

- Quer em riqueza de detalhes? – Souza é irônico e Márcia encolhe os ombros.

- Me poupe. – ela joga mais um papel na mesa desorganizado do detetive. – seguinte, Deus ouviu nossas preces e o governo está enviando essa tarde novos armamentos. – Souza comemora socando o ar. Ele pega o papel e seus olhos brilham ao lerem os nomes das armas.

- Muito bem. – Souza se levanta. – deixe Frota responsável por recebê-las.

- Vai sair hoje à tarde? – Souza sente um tom sarcástico na pergunta de sua assistente.

- Vou sim, por quê?

- Nada não.

- Ótimo, então ao trabalho.



4



Mais um soco e o nariz do sujeito amarrado à cadeira explode. Ao seu redor homens com expressões fechadas e armados até os dentes:

- Por favor, pelo amor de Deus, eu juro que não farei mais. – chora. O homem que o esmurrou solta a fumaça do cigarro em seu rosto.

- Somos um grupo de guerreiros e não de estupradores, você entendeu? – o rapaz diz que sim com a cabeça. Um outro sujeito ergue seu braço e pergunta.

- Casa nova, coloque-o de quatro que eu cuido dele. – passa a língua nos lábios.

Casa nova é o líder dos chamados guerreiros. E um grupo formado por homens da mais alta periculosidade. Casa nova foi capitão do exercito e lutou na guerra. Durante os embates ele sofreu algumas lesões na cabeça e hoje carrega com ele sérios distúrbios que o fazem ser violento. Ainda torturando seu companheiro de crime, Casa nova concorda em deixar que ele seja violentado pelo restante do grupo.

- Depois da diversão corte a garganta dele.

- Pode deixar chefe.

Casa nova se afasta e seu radio o chama.

- E o meu canhão? – pergunta rispidamente.

- Fique calmo, como eu falei o esquema de segurança é algo que nunca vi, olhos e câmeras vinte quatro horas, o que pretende fazer?

- Eu tenho comigo o seguinte lema; em situações extremas, requer atitudes extremas, por isso vou pegar meu canhão nem que seja na marra.



***



O estilo de Casa nova é bem típico de um veterano de guerra, butes, calça camuflada e jaqueta com um colete. Apesar dos seus quase 60 anos, o vigor físico do líder dos guerreiros é invejável. Até ao caminhar ele passa uma certa imponência. Dizem que durante um combate sua munição o deixou em apuros o obrigando a eliminar seus adversários na mão pura. Alguns de seus homens assistiram a um show de carnificina. Casa nova em alguns momentos lembrava um cão pitbull furioso destroçando suas presas. Entre mordidas e poderosos golpes, ele liquidou dez soldados inimigos. Sua liderança sempre foi questionada. Em certas ocasiões o tenente evitava mandá-lo para missões. Porém, em muitos casos era preciso contar com sua bravura e violência.



5



A confusão mental o deixa cansado, ele admite. Souza remexe os arquivos dos casos mais bizarros que já resolveu. Na realidade ele queria estar revirando o arquivo em que lhe daria exatamente o momento em que ele conheceu a tal garota Laura. Como eles foram parar no apartamento dele e na cama. Ainda perdido em seus devaneios Souza não vê quando o aspirante a detetive Frota adentra a sua sala com seu típico bom humor:

- Grande chefe, me chamou?

- Chamei sim Frota, sente ai. – fecha a gaveta do arquivo. – tem uma missão pra você.

- A Márcia já me adiantou. O senhor confia mesmo em mim?

- Claro que confio. – Souza senta e entrelaça os dedos. – e então, o que tem achado de trabalhar no maior departamento de policia do estado?

- Muito bom, melhor que esperava. – cruza as pernas.

- Já deu pra juntar uma graninha. – se recosta na cadeira.

- Sim. – mostra um sorriso largo.

- E quando sai o casório?

- Se tudo der certo mês que vem.

Frota ainda é muito jovem. Sempre morou em comunidade e sonhava em ser um policial. Vibrava com os heróis policiais do cinema, principalmente os negros. Quando finalmente pôde ingressar nas forças auxiliares ele planejou em trabalhar ao lado do herói da vida real, Luis Souza. Por ser negro e favelado, Rodrigo Frota ouviu os mais diversos comentários de que ele não conseguiria, que desistiria assim que visse a realidade policial. No entanto, o negrinho magro e alto vem transformando em realidade tudo que sonhou. Deixando para trás as palavras contrarias.

Souza o admira e confia no seu trabalho. Por isso o deixará responsável da operação carregamento de armas para o departamento.

- Faço votos que vocês sejam muito felizes.- Souza estende a mão.

- Muito obrigado detetive. – aperta a mão do chefe. – sei que está um pouco em cima da hora, mas, ficaria muito feliz se o senhor aceitasse em ser um dos meus padrinhos. – Souza quase cai para trás.

- Sério?

- Sério, gostaria muito.

Souza tenta se manter firme, porém o aspirante percebe que seu líder ficou emocionado.

- Legal, ta ai, gostei, quem será o meu par?

- Uma tia minha a qual tenho grande consideração.

- Firmou então.



6



Mais uma garrafa de uísque barato é esvaziada. Trocando as pernas Casa nova tenta chegar ao radio. Ele é observado por seus asseclas que também bebem. A visão está meio turva, mesmo assim ele consegue encontrar o botão.

- Fala comigo. – a voz sai pastosa.

- Falar o que? – pergunta a voz do outro lado.

- Quero o meu canhão. – rosna.

- Você o terá, tenha um pouco de paciência.

- Paciência é uma palavra que não faz parte do meu vocabulário, vou entrar ai e pegar meu canhão.

- Tudo bem, reúna o pessoal, traçe o plano, quando tudo estiver pronto eu darei o sinal.

- Muito bem, cambio desligo.

Ainda trocando as pernas ele olha para o bando.

- Vamos precisar de novas armas e poderosas.

Seus asseclas se entreolham tentando entender o que está acontecendo. Se sóbrio Casa nova é capaz de começar uma guerra, imagine embriagado.

- Onde vamos encontrar essas armas? – pergunta um deles.

- A policia, ela sim vai nos fornecer essas armas.

- A mesma tática de sempre, pela porta da frente? – pergunta um sujeito segurando um fuzil.

- Isso mesmo, na guerra fiz muito isso e dava certo.



***



Durante a madrugada alguns homens foram capturados e levados cativos. Uma ordem expressa foi enviada ao capitão Casa nova.

- Alguns de nossos homens foram levados pelo inimigo. – diz o tenente. – você é o único capaz de entrar lá e libertá-los Casa nova.

- É só me falar que caminho devo seguir e prometo trazer os companheiros de volta.

O local mais parecia um chiqueiro e onde os soldados estavam aprisionados era ainda pior. Um deles, momentos antes da invasão de Casa nova, havia sido torturado até quase a morte por açoites. Quando em fim pararam as sessões de espancamento, só se ouviu os disparos das armas e as explosões simultâneas das granadas. Casa nova invadiu o refugio do inimigo pela porta da frente. Praticamente a arrombou. A plenos pulmões o capitão empurrava seus homens para a batalha que na verdade Casa nova a transformou num genocídio.

***



- Vamos invadir o departamento de policia e pegar as armas. – abre mais uma garrafa de uísque e toma um gole generoso. – quem ficar na nossa frente será esmagado.



7



Uma verdadeira operação foi organizada sob a liderança do jovem policial Frota. Ao redor do departamento, vários policiais montam guarda observando a chegada dos novos armamentos. O caminhão se aproxima lentamente da rua que dá a cesso ao departamento. Os fuzis são apontados para a via. Frota treme na base. Se algo sair errado sua carreira como policial estará em jogo, porém, se tudo for um sucesso ela deslanchará e quem sabe o maior detetive da cidade ganhará um parceiro. Por um breve instante ele visualiza sua vida ao lado de Souza resolvendo os mais complicados casos.

O carregamento chega e a tensão aumenta. O caminhão estaciona e de dentro do baú um grupo de militares desce numa agilidade fora do comum. Frota faz uma pequena prece. Por fim as armas vão sendo levadas para dentro do DP em caixas de madeira. Tudo é muito rápido, seguro e em silencio. Um sujeito de terno e gravata se aproxima de Frota e o elogia.

- Parabéns filho, sou o representante do secretário de segurança, entregue isso ou Souza. – passa-lhe um papel.

- Sim senhor. – Frota se controla para não tremer diante da autoridade.

A operação foi um sucesso. Frota é o ultimo a entrar no DP depois de meia hora fiscalizando o desfecho da operação. O jovem policial da uma corridinha ao mictório e ali ele comemora, soca o ar e faz declarações de amor a sua futura esposa.

- Vânia te amo, te amo. – falar com as paredes não basta, ela precisa ouvir. Rapidamente ele pega o celular, o número da noiva já está na discagem rápida. – oi, amor, a operação foi um sucesso, nosso futuro está garantido, temos que comemorar, sim, sim, hoje a noite, tenho que desligar, te amo.



***



Souza e Márcia conversam sobre o envolvimento dele com Laura. Na verdade a assistente deixa passar uma ponta de ciúmes divertindo o detetive.

- Márcia, você por um acaso está com ciúmes? – Márcia engole seco e freia o carro de repente.

- Como disse?

- Nossa que pé pesado, eu só fiz uma pergunta.

- Olha bem para minha cara, eu, ter ciúmes de você, se enxerga Luis Souza. – acelera a viatura.

- Então por que a respiração acelerada e a fala atropelada? – Souza usa de sarcasmo.

- Eu só estou dizendo que essa tal de Laura não presta e você sabe disso e mesmo assim dormiu com ela. – Márcia faz uma curva fechada desnecessária.

- Bom, nisso você tem razão, até hoje ela não me ligou. – olha para o celular.

De repente o silencio. Márcia olha fixamente para a estrada.

- Será que correu tudo bem na entrega das armas? – pergunta Souza.

- Certamente que sim, noticia ruim espalha logo.



***

Duas vans, uma caminhonete Rural e outros carros. O exercito de Casa nova chega ao departamento mandando vê na artilharia. A ponto 50 instalada na Rural dispara despedaçando quem fica na frente. O corre corre dos civis dá inicio ao caos. O líder dos guerreiros fuma seu cigarro dentro de um dos automóveis tranquilamente enquanto o inferno acontece do lado de fora.

Os policiais são acionados, a troca de tiros é pesada e desigual. O bando de Casa nova veio mesmo para ganhar a briga. As baixas já começam ser contadas e é preciso reforços. O armamento de guerra vai furando, ferindo, destroçando e punindo quem se mete a besta. Casa nova olha pelo retrovisor e vê um grupo de policiais vindo para cercá-lo.

- Chega de bombinhas, agora quero fogos de artifícios.

As granadas são lançadas. Algumas caem próximas demais das lojas e as explosões estilhaçam os vidros ferindo quem tenta se proteger. Os corpos dos policiais se desintegram como se fossem de papel. As baixas só aumentam. Novas ordens do capitão.

- Atenção guerreiros, vamos invadir o canil. – usa de sarcasmo.



***



Dentro do DP o pânico é generalizado. Frota coloca seu colete e pendura uma metralhadora no pescoço. Outros seguem o mesmo exemplo.

- Frota. – fala um PM.- eles tem uma ponto 50 apontada para cá.

- E daí, aqui é o meu lar, tenho que protegê-lo, vamos.

Nesse meio tempo o grupo de Casa nova adentra o recinto atirando para matar. Enquanto atiram eles dão brados de vitória.

- Guerreiros! – vociferam.

Um helicóptero dá apoio aéreo. O atirador pede para que o piloto faça a volta no departamento a fim de pegá-los de surpresa nos fundos. Casa nova é macaco velho de guerra, conhece tudo e mais um pouco. Claro que ele pensou no fogo que viria por cima. Pelo radio ele aciona seu reforço aéreo.

- Mosquito da dengue no ar.

Uma aeronave totalmente equipada vem em auxilio aos invasores. Sua missão é derrubar o inimigo e apoiar os combatentes na terra. O helicóptero da policia permanece nos fundos do DP aguardando ordens para atirar. A aeronave de Casa nova avança com um único objetivo; destruir. Os disparos acertam as hélices desestabilizando-a. O atirador perde o equilíbrio e é atingido na cabeça. O piloto faz um esforço tremendo para manter a aeronave estabilizada, um esforço inútil já que seu oponente continua a investir vorazmente. Em poucos minutos o helicóptero da PM se torna uma bola de fogo e cai no pátio matando quem estava lá. A risada de Casa nova mostra que sua vitória diante da frágil policia é questão de tempo.



***



Lá dentro Frota e outros militares são feitos reféns. Ajoelhados e com as mãos para trás os policiais imploram por suas vidas e apanham por causa disso.

- Seus mariquinhas. – chuta.

O departamento de policia do estado foi tomado, invadido. Pelo menos agora ele pertence à Casa nova. O mesmo entra e cospe no piso coberto por cápsulas.

- Nossa, eu nunca vi tanta merda junta. – saca sua arma e a coloca na cabeça de um PM. – vamos logo com isso, eu quero as armas. – Frota ergue a cabeça.

- Não há armas aqui.

Casa nova rir e atira matando o policial.

- Quer dizer que não há armas aqui. – Frota engole seco e sente que o bandido não está brincando. – diga onde estão as armas. – aponta para outro policial. Frota não responde e outro PM é morto. – Casa nova se dirige a outro militar que está deitado de bruços e aponta sua pistola.

- Cara, isso é loucura, você invadiu o nosso departamento, todo o estado vai procurá-lo até no inferno. – diz Frota.

- É mesmo? Estou me borrando de medo, veja. – debocha. – eu quero as armas ou mato a todos.



8



O sentimento que passa em cada um dos militares é de impotência diante do quadro. A tristeza também ajuda a deixar os homens da lei vulneráveis. Souza e Márcia não acreditam no que seus olhos vêem. O departamento outrora seguro, agora se vê violado servindo de tumulo para seus mortos e no meio desses mortos está Frota. Com uma perfuração na cabeça, o jovem aspirante a detetive jaz no meio de uma poça de sangue.

Luis Souza ainda não sabe por onde começar a investigar e o que é pior, seu celular não para de tocar. O secretario quer respostas, o governador também. Mais uma noticia irá abalá-lo ainda mais.

- Luis, o policial Rodrigo Frota caiu junto com os outros. – informa um outro investigador.

Parece que o chão abriu e Souza caiu no abismo. Todos os sonhos, todos os planos do jovem foram interrompidos.

- Temos que avisar a família. – fala Souza. – merda! – soca o teto da viatura.

E as más noticias continuam.

- Souza, foi um rouba, eles roubaram as armas que recebemos á poucos dias, limparam tudo, eles eram profissionais. – diz o investigador.



***



Bem distante dali Casa nova comemora o sucesso de seu roubo enchendo a cara. O radio chama.

- Meus parabéns capitão, agora sim você mostrou que é o cara.

- Essa cidade me pertence. – toma um gole do uísque.- então, do que mais preciso para ter o meu canhão?

- Meu amigo, agora com esse armamento basta você bater na porta e os otários irão lhe entregar. – os dois riem.

- Beleza, vou reunir o pessoal. Cambio desligo.



***



Funerais nunca foram o forte de Souza, ainda mais de um amigo tão próximo como era Frota. No velório a noiva do policial morto era amparada por familiares e amigos. A mulher era a própria tristeza e desespero. E não era por menos, os dois iriam unir as escovas de dentes daqui a um mês. Agora diante do caixão sendo depositado num jazigo, Souza reflete o quando deve dar valor a sua vida e também a de seus colegas de farda. A tristeza dá lugar ao ódio. O sentimento de vingança inflama seu coração e ele precisa explodir. Sua assistente, Márcia visivelmente emocionada tenta confortá-lo segurando em seu braço. Bem vestido com seu terno preto e gravata vermelha, o detetive faz sua ultima homenagem ao parceiro junto os outros militares. Por dentro ele jura se vingar, mesmo que ele tenha que começar uma terceira guerra, ele precisa por as mãos nesses bandidos.



***



Na volta Souza é quem dirige a viatura. No carona Márcia mexe no notebook.

- Alguma novidade? – pergunta Souza com os olhos fixos na estrada.

- Ainda não. – faz uma pausa. – tudo que sabemos até agora é que o bando é chamado de guerreiros.

- Guerreiros e assassinos. – resmunga Luis Souza fazendo uma curva perfeita.

- Eles foram ousados, usaram até um helicóptero, entraram pela porta da frente do DP.

- Saquei. – diminui a velocidade e olha para Márcia. – a nossa missão a partir de agora é recuperar as nossas armas e prender esses guerreiros de merda, entendeu?

- Sim. – Márcia engole seco. – porém vamos esbarrar em outro problema.

- Por favor. – arqueia as sobrancelhas.

- Com certeza os guerreiros tem um plano, para roubar as armas do jeito que eles roubaram, certamente eles pretendem algo ainda maior.

Souza sempre confiou na intuição feminina e não vai ser agora que ele vai deixar de dar ouvidos a ela.

- Tem razão. – acelera. – vem chumbo grosso por ai.



9



O canhão de raio laser é vigiado vinte quatro horas por câmeras e mais de quarenta olhos e fica no galpão do comando do exercito sob a liderança do comandante Carvalho. Vez por outra ele visita o local com sua postura ereta e imponente. O armamento possui um design futurístico intimidador. Ao lado de Carvalho está o técnico responsável pelo uso correto da arma mortal.

- Como eu falei comandante o investimento nessa belezoca aqui foi bem colocado e se tudo de certo o Brasil será o único com material bélico dessa natureza com um poder de destruição infernal. – ajeita os óculos.

- Basta apenas apertar aquele botão?

- Isso, como o senhor mesmo percebeu não há gatilho e sim um botão muito sensível ao toque.

Carvalho de repente sente sua responsabilidade aumentar monstruosamente. Ele faz a volta completa sem tirar os olhos do canhão. Para e olha friamente para o técnico.

- Organize o pessoal, vamos testar essa arma.



***



A ordem foi dada. Em menos de uma hora todo o comando ou pelos menos aos mais interessados estão reunidos no salão especial. O canhão de raio laser está cuidadosamente posicionado só a espera de um voluntário. Como sempre, Carvalho com suas mãos para trás espera ansioso o inicio dos testes. Daniel, o técnico responsável pela arma anota algo em sua prancheta. Ao lado do comandante estão os oficiais devidamente uniformizados. Pela porta lateral alguns homens surgem com seus trajes de combate e se apresentam ao chefe maior.

- Como se sente soldado? – pergunta Carvalho.

- Muito bem comandante, me sinto honrado em estar fazendo parte desse acontecimento.

- Muito bem, apresente-se ao técnico Daniel, ele lhes dará maiores informações.

Com um sinal de “Ok” Daniel anuncia que os testes terão seu inicio. A expressão dura de Carvalho é de causar medo em qualquer um. O técnico se posiciona na frente do canhão e em voz alto discursa.

- Tenho grande alegria em fazer parte desse acontecimento. Daqui a alguns minutos iremos assistir o que o futuro militar terá de melhor em seu material bélico. Esse canhão de raio laser é o inicio de uma nova era nas forças armadas Brasileira.

Estranhamente não houve aplausos e nem brados. Talvez a presença imponente de Carvalho tenha intimidado o restante do contingente. Os olhos de Daniel percorrem todo o lugar e sem mais delongas ele chama o primeiro soldado.

- Soldado Paulo, o canhão é todo seu.

O primeiro teste é feito com um suíno. Os grunhidos irritam um pouco o comandante que torce a cara para Daniel. O soldado mira, respira fundo, olha mais uma vez para o animal amarrado. Prende a respiração e dispara. A linha vermelha que sai do canhão atinge em cheio a cabeça do suíno a fazendo em pedaços. Todos estão boquiabertos com o fato.

- Como podem ver senhores. – diz Daniel. – o raio é capaz de fazer em pedaços qualquer coisa feita de carne e osso. – olha para Carvalho. – agora iremos testá-lo com a rocha.

A enorme pedra e colocada no fundo do salão e outro soldado é chamado. Daniel se afasta. O militar se concentra, conhece sua responsabilidade. Ele não pode falhar, não na frente de Carvalho que o devora com seu olhar frio. Ele assim como o primeiro prende a respiração e aperta o botão. O raio fura a pedra numa velocidade incrível. Sua temperatura chega a cem graus positivos. Daniel sua frio.

- Mais um façanha de nosso armamento senhores, como podem ver, ele é capaz de transpassar uma rocha desse diâmetro com facilidade. Agora a cereja no bolo, a placa de aço, próximo candidato.

O militar escolhido se posiciona e com habilidade de poucos ele segura o canhão e aguarda o posicionamento do alvo. A placa de aço é colocada e foi preciso o auxilio de uma máquina para conduzí-la. Daniel transpira acreditando que outros também estão apreensivos. Carvalho aguarda a conclusão do teste final na mesma posição ereta de sempre. O técnico dá o sinal e o gatilho é pressionado. A linha vermelha do laser atinge a pequena parede de aço causando centelhas flamejantes. Durante alguns segundos o laser permaneceu no mesmo lugar. O cessar fogo foi dado. O calor que emana da placa pode ser sentido e o mais surpreendente, o laser conseguiu furá-la. Os aplausos e brados causam uma certa irritação no comandante, porem ele mais uma vez deixa passar.

- Comandante Carvalho, o canhão passou em todos os testes, ele é cem por cento eficaz.

- Ótimo, parabéns, desmonte tudo e certifique –se de que ele estará em segurança.

- Sim, senhor.



10



Márcia sai de sua sala e atravessa apressadamente as mesas com seus monitores para chegar à sala de seu chefe que fala ao celular em voz baixa. Desconfiada a assistente espera em pé o termino do bate papo.

- Depois nos falamos, preciso trabalhar. – faz sinal de espera para Márcia que mostra impaciência.

- Se demorar eu espero.

- Diga Márcia.

- Casa nova, esse é o líder dos guerreiros.

- Temos sua identificação?

- Ainda não, mas sabemos que ele é um veterano de guerra, usa da violência para conseguir o que quer. – completa Márcia.

- Esse cara deve está querendo começar uma guerra civil metropolitana, só pode ser isso.

- Devo organizar uma operação de busca?

- Não, Casa nova não é um bandido qualquer, já perdemos gente demais e ele já provou que é capaz de tudo. – faz uma pausa. – ele quer guerra, então ele terá uma.

Márcia não consegue conter a curiosidade.

- Era Laura no celular?

- O que disse? – Souza fica meio sem jeito de responder.

- Nem precisa me responder, já sei que era ela.

- Você acertou, era ela sim. – coça o queixo.

- Estão ficando ou namorando firme?

- Isso ainda não sei, marcamos um jantar hoje. – Souza se recosta e coloca as mãos atrás da cabeça. – por que o interesse?

- Nada, só quis saber.



***



Todos comem, bebem e discutem o plano um tanto quanto suicida de Casa nova.

- Casa nova, eu acho que deveríamos esperar mais um pouco, invadir o quartel general do exercito não será molezinha igual ao departamento de policia.

- Se liga cara, quando estivermos com o canhão laser nas mãos, seremos invencíveis. – fala de boca cheia.

- Então faremos como de costume, pela porta da frente? – pergunta outro comparsa.

- Exatamente. – joga o osso do frango em cima da mesa.



***



Pela décima vez Souza confere à hora escorado no balcão de um bar fino no centro da cidade. Dessa vez ele decidiu pegar leve na bebida. Ele precisa estar bem para esclarecer o que houve naquela noite. Quando já ia conferir a hora outra vez, uma voz suave e um pouco infantil o saudou.

- Boa noite detetive.

- B, boa noite Laura, como tem passado?

- Muito atarefada. – o beija na face.

- Como descobriu que eu era um policial?

- Ora, quem não conhece o famoso detetive Luis Souza. Não foi difícil descobrir.

O policial ainda se encontra meio confuso, afinal, como ele conseguiu levar essa jovem linda e sensual para a cama?

- Bebe algo, um suco? – Oferece Souza ainda entorpecido diante da beleza jovial de Laura.

Entre vozes que murmuram, ruídos de copos e pratos batendo, eles conversam sobre diversas coisas, inclusive sobre aquela noite de loucuras.

- Pra ser sincero, eu estou envergonhado.

- Por quê?

- Eu não me lembro de muita coisa sobre aquele dia, você bem que poderia refrescar minha memória. – Souza se fosse branco estaria vermelho igual a um tomate.

- Bom, quando eu cheguei, você já estava e pra falar a verdade já havia tomado umas e outras.



***



Havia sido um plantão movimentado. Para relaxar, Luis Souza resolveu dá um pulo no bar tomar uns drinks e ver gente. Como sempre o local estava apinhado, pessoas circulando de um lado para outro falando alto e rindo das piadas sem graça de um comediante que fazia stand up comedy. Souza não estava para graça. Todo o seu mau humor tinha nome, Suzana, sua ex mulher. Ela havia ligado para cobrar o depósito da pensão. Isso o irritou os levando uma discussão pelo celular. Suzana fez uma serie de acusações dizendo que ele não se importava com o filho. Souza ainda a ama e faria de tudo para tê-la de volta. A vida do detetive estaria melhor se ele tivesse uma família, alguém para compartilhar os bons e os maus momentos.

Souza pediu uma dessas bebidas modernas coloridas. Pra falar a verdade ele bem que preferiria os drinks à moda antiga. Foi quando a mulher alta e magra adentrou ao recinto chamando atenção com sua beleza incomum. Cabelos cortados na altura dos ombros, postura de modelo de passarela, uma pele branca bem cuidada e um rosto angelical. Laura se aproxima do balcão e faz seu pedido.

- Uma bebida por favor. – sua voz é marcante, quase infantil.

- Vai querer qual senhorita? – pergunta o balconista com posse de pegador.

Laura pega o copo de Souza e mostra para o funcionário.

- Quero um desse?

Ainda desconsertado devido à atitude inesperada da mulher, o policial tenta não demonstrar interesse logo de cara. Vendo que o negro que é puro charme não caiu no seu jogo de sedução, a mulher resolveu partir para o ataque.

- Sou louca por homens Afro-descendentes.

- Você quer dizer homens negros não é?

- Pode ser, eu só queria ser politicamente correta.

- Mudando de assunto, o que uma gata como você faz sozinha uma hora dessas por aqui? – chega à bebida de Laura e ela se torna ainda mais sensual.

- Estou à procura de aventuras. – toma num curto gole.

- Achou o parceiro ideal para essas aventuras. – Souza fala sem rodeios.

Minutos depois eles estão envolvidos em beijos calorosos no apartamento de Souza.



***



- Então foi assim. – Souza faz uma curta pausa.- mais que coisa.

- Pois é. – Laura fuzila o detetive com os olhos.

- Então, por quê me chamou aqui? – ele pergunta

- Fiquei com saudades, queria te ver de novo.

Mais uma que deixou Souza sem jeito.

- Nossa, você é bem direta. – pega no copo mais não bebe.

- Não tenho paciência para esperar por iniciativas masculinas, prefiro eu mesmo fazer isso.

Souza sempre preferiu mulheres mais experientes, sinceramente ele nunca mostrou interesse por garotas. Laura, por trás de uma pele esticada, sedosa e com tudo no lugar, tem chamado muito a atenção do policial de 45 anos.

- Sei que não é nada delicado e educado perguntar a idade de uma mulher, mas...

- 25!

- C,Como? – Souza quase engasga.

- Tenho vinte e cinco anos e sou vendedora.

Laura acaba de ganhar de goleada.

- Uau!

- Vamos sair daqui?

- Você quem manda. – é possível ver gotículas de suor na testa do homem.



11



Invadir um quartel general do exercito não será nada fácil. Pensando nisso, Casa nova enviou um espia para dar uma sondada na região. Não pode haver falhas. Nada pode sair errado. Para não levantar suspeitas o veterano mandou um garoto. Distraído com a construção colossal, o menino se esquece de enviar via radio informações para o bando. A cada 50 metros há um soldado montando guarda. Nas cinco torres imponentes com seus vidros blindados também há soldados com seus fuzis e olhos fixos na movimentação dos civis.

A chamada do radio faz o garoto voltar para realidade. Com as mãos tremulas o rapaz tenta apertar o botão de escuta.

- Me desculpa senhor.

- Vou descontar no seu salário seu pirralho.

- Não, por favor, o meu sonho é ser sargento do exército, por isso que me distrai.

- Cale a boca, agora me diga, como está a área? – a voz de Casa nova é dura.

- Senhor, tem certeza de que vai invadir, há soldados por todo lado.

- Quem você pensa que é pra me dizer o que devo fazer seu moleque. – vocifera. – eu pedi para você sondar o lugar, só isso, agora tire fotos e me envie.

- Tudo bem.



***



Como era de se esperar o garoto recebeu seu salário, a morte. Seu corpo foi jogado num rio a mando de Casa nova. Nada pode sair errado. Imagine se o mestre da violência iria deixar que um garoto desce com a língua nos dentes por ai. Bastante calmo, Casa nova analisa e rabisca o mapa. De óculos de leitura, o homem não lembra em nada o tirano que é. Para esse tipo de plano ele prefere ficar sozinho. Mesmo na guerra ele fazia questão de traçar estratégias no silêncio.

Na guerra ele montava suas emboscadas às vezes ao som de morteiros e rajadas de metralhadora. Quase todas davam certo. Capitão Casa nova era do tipo de líder que destestava perder seus soldados. A cada baixa ele lamentava e para cada homem morto ele eliminava cinco adversários. Casa nova passava uma certa autoridade e os oficiais confiavam em seu trabalho. Mesmo sendo violento e às vezes, pra não dizer sempre, fazendo uso dos crimes de guerra, o capitão conseguiu manter boa parte de seus liderados vivos.

Casa nova termina de traçar seu audacioso plano de tomar na mão grande o canhão laser. Retirando os óculos de leitura ele pega o copo com o resto do licor e toma sem fazer cara feia. Ele ergue o mapa e permanece assim por alguns segundos. Agora resta apenas colocar o plano em pratica.



12



Tudo muito incrível, tudo muito louco. Souza parece um adolescente virgem que acabou de ter sua primeira experiência sexual na vida. O sobe e desce do tórax mostra o quanto foram intensas as loucuras. Laura acaricia seu abdome deslizando suas unhas e vez por outra o beija.

- Foi por isso que eu desmaiei da ultima vez. – diz Souza.

- Sou tão boa de cama assim? – se gaba Laura.

- Boa não, você é fantástica, com quem aprendeu fazer malabarismo?

Ambos caem na gargalhada.

Na realidade Souza ainda tem duvidas se quer ou não ficar com Laura. Por ser alguns anos mais nova que ele, o detetive tem alguns receios ou talvez medo de se envolver com uma mulher tão jovem. O problema é que ele ainda ama sua ex, Suzana, e faria de tudo para tê-la novamente se fosse possível. Ao se levantar e admirar o corpo nu perfeito de Laura, Souza se pega refletindo – será ela fruto de minha imaginação? Ela também se levanta e se junta ao seu deus negro de 45 anos. O abraço é quente. Souza explora cada curva do corpo escultural da ninfa desejosa por sexo.

- Devemos começar o segundo tempo? – ela pergunta.

- Mais que saúde, vamos pro chuveiro.



***



O automóvel até que é bonito, porém não vê água á meses. Casa nova fuma seu charuto fedorento incomodando seu motorista que nada pode fazer e nem falar. Para quem está preste a começar uma guerra, até que o capitão está bem tranqüilo. Logo atrás seus comparsas seguem o trajeto do líder. A ordem é: não importa o quanto e quem você precisa matar, sua missão é pegar o canhão.

Com base nas ordens macabras de Casa nova, os homens vieram dispostos a fazer do quartel general um mar de sangue. Via radio o líder passa as ultimas coordenadas.

- Atenção, estamos próximos do alvo. Em suas posições, quero a ponto 50 largando chumbo em qualquer homem de farda verde oliva. O apoio aéreo nem é preciso falar, vocês são nossos anjos da guarda. E a tropa terrestre vem comigo. Todos entenderam – uma pausa. - ótimo.

Os responsáveis pela ponto 50 ficarão posicionados em um prédio visinho. O helicóptero fará o serviço mais brutal e mais covarde, o lançamento explosivos. Por baixo Casa nova orquestrará a invasão. Esse é o plano. Mortal.



***



A construção monstruosa do quartel general do exercito surge no horizonte enchendo os olhos do líder dos guerreiros. Na sua época de combatente o comando não era tão imponente assim, era apenas um prédio de três andares e murros altos com guaritas frágeis nas quatro pontas. Hoje o lugar mais parece uma fortaleza, um castelo medieval. A mão de Casa nova alisa o coldre e ele sente o frio da arma que reluz aos raios solares. A guerra vai começar. Pela primeira vez ele sente seu coração palpitar, a boca secar e o sangue congelar, é um assassino frio, movido a adrenalina. O horror da guerra é o seu lar.

Pelo radio ele da o comando ao helicóptero que invade o espaço aéreo militar lançando seus explosivos. A primeira explosão arrebenta uma das guaritas fazendo o vigia em pedaços juntos com as paredes. Um alarme é acionado e logo todo o quartel está em estado de alerta máximo.

Mais um rasante da aeronave e outra bomba é lançada explodindo outra guarnição. Fogo e fumaça dão novos tons de cores ao ar. Na rua a população é pega de surpresa pelos ataques e já há pessoas feridas nas calçadas que circundam o comando. Dor e desespero é agora a canção que dá tema ao terrorismo de Casa nova e companhia.



***



Sabendo que seu quartel está sendo alvo de ataque desconhecido, Comandante Carvalho não pensa duas vezes antes de acionar suas tropas de combate.

- Acabem com esses malucos.

Como um exame de abelhas a tropa de Carvalho munida de fuzis e outras armas se colocam na linha de fogo para defender o batalhão. Pelo alto é possível ver os homens de farda se preparando para entrar na guerra.

- Casa nova eles estão saindo.

O sorriso é largo. Ele olha para o seu motorista que entende a ordem.

- Hora do show!

Dois dos homens de Casa nova responsáveis pela ponto 50 recebem permissão para atirar. Aquele ponto estratégico sem duvida é o melhor, dali é possível ver todo o pátio. Como formigas os soldados montam uma formação sob instruções do sargento. Aos berros o militar orienta seus liderados quando a primeira rajada derruba boa parte dos valentes de verde.

- De onde veio iss... – tarde demais, o sargento foi atingido e teve seu corpo dilacerado pelo potente poder de fogo do armamento.

O número de mortos só aumenta. O fogo aéreo ajuda a engordar a lista das baixas. Mais uma bomba é jogada e logo uma bola de fogo se forma incendiando os corpos dos soldados que desesperados rolam no chão a fim de apagar as densas chamas. Os gritos dos homens soam como música aos ouvidos de Casa nova.

- Vim buscar o meu canhão.- vocifera.



***



Ainda namorando na cozinha de seu apartamento, Souza se desliga do mundo real. Tudo o universo agora tem nome; Laura. O que uma mulher é capaz de fazer com a mente de um homem. Até sua vingança ele se esqueceu. Sem camisa e com sua calça social preta, o detetive troca calorosos beijos e caricias. Seu celular toca em cima da cama mais ele não escuta. No visor o nome Márcia pisca. Sempre que o assunto é urgente ela liga para o telefone particular de seu chefe. Souza não gosta de rádios, só o usa quando está em sua sala sentado resolvendo outras questões burocráticas.

Mais uma vez o aparelho toca e quem escuta é Laura.

- Seu celular está tocando.

- Serio? Eu não ouvi.

Ainda chamando, Souza dá uma corridinha até o quarto e vê o nome de sua assistente piscando no identificador de chamadas lá vem bomba!

- Eles estão de volta. – informa Márcia.

- Eles?

- Os guerreiros, Souza, por um acaso você está em Marte? Toda a imprensa já está cobrindo, eles estão atacando o quartel general do exército. Ligue a TV.

Dito e feito. A televisor abre a imagem e a voz do reporte informa a todos o acontecido:

- Um verdadeiro clima de guerra acontece, estamos a alguns metros do local e é possível ouvir os disparos e as explosões. Os rumores dizem que se trata do mesmo grupo que invadiu o departamento de policia do estado, os chamados guerreiros, liderado pelo veterano de guerra casa nova. Especula-se que Casa nova deseja roubar o canhão laser que se encontra no interior do comando.

- Dessa vez eu pego eles. – resmunga o detetive.

Sensualmente Laura o abraça por trás.

- Mais uma missão para o brilhante Luis Souza? – Souza não consegue rir.

- A situação agora é mais complicada, o exército não vai deixar isso barato mesmo.

- Então por que não voltamos para cama e ficamos agarradinhos, deixe que eles se resolvam. – Souza se vira para ela e fica cara cara.

- Esse tal de Casa nova matou um amigo com um futuro promissor, nem que eu tenha que me tornar um soldado eu vou vingar a morte de Frota.

- Meu avô sempre dizia que vingança é cavar duas covas, tenha cuidado e por favor volte pra mim.

- Pode deixar. – a beija longamente.



13



Como nos velhos tempos de combatente Casa nova orienta seus homens com a força de um titã. A invasão está quase completa restando apenas pegar o canhão. A metralhadora não se cansa de fazer vitimas perfurando corpos com se eles fossem caixotes de papelão molhado. Tiros, gritos, desespero e explosões, esse é o quadro geral ao redor do quartel general. Toda a impressa girou os canhões para aquela localidade, com suas câmeras e microfones. Repórteres fazem a cobertura dos fatos com suas articulações nervosas informando ao publico a verdade do ocorrido.

A rural adentra ao pátio tendo a ponto cinqüenta dando máxima cobertura. Os soldados até tentam fazer alguma coisa, porém se tornam vitimas diretas da máquina de matar. Casa nova desce do veiculo e mata um militar desprotegido. Apenas com um gesto ensaiado ele coordena seus asseclas que rapidamente se espalham como baratas. O ex capitão aponta sua pistola e acerta outro militar que tentava fugir.

- Odeio covardes! – resmunga.



***



Com as mãos para trás e andando de um lado para outro Carvalho tenta bolar novos planos e rápido, o número de baixas aumenta a cada segundo. Um oficial entra ofegante em sua sala.

- Comandante, comandante, eles entraram.

- Meu Deus, o que vocês estão fazendo, onde está a nossa resistência?

- Senhor, perdoe-me, eles vieram preparados, nos não estávamos esperando isso.

- Droga, o que o presidente vai pensar disso tudo, que somos o que o povo pensa de nós, um bando de despreparados? Protejam o canhão a qualquer custo.

- Sim senhor!



***



Márcia mesmo contrariada e visivelmente aborrecida, passa as informações para Souza que brinca com a tampa da caneta entre os dedos:

- Bom, Casa nova é um ex militar do exercito, lutou na guerra e é bastante perigoso, possui medalhas e foi responsável pela vitória de nosso país nos combates. Grande estrategista e líder, reza a lenda que sozinho eliminou dez adversários com as mãos limpas.

- Uau, o cara é bom.

- Muito bom. – fecha a pasta e a joga na mesa.

- Algum problema? – indaga Souza.

- Não, deveria ter?

- Não sei, sinto uma hostilidade no ar ou é impressão minha?

- Souza, você sumiu, me deixou sozinha aqui no departamento, você ainda quer que eu fique rindo para você?

- Achei que você conseguiria lidar com as coisas em minha ausência.

- Aposto como você estava com a Laura. – faz uma careta de nojo. Souza rir.

- Ah, então o problema não foi a minha ausência e sim a Laura, sim, eu estava com ela sim.

- Vão ficar juntos?

- Estamos juntos. – se levanta. – ela tem o que eu preciso.

- Podemos voltar ao assunto? – o semblante de Márcia já é mais carregado, triste.

- Sim.

- Casa nova invadiu o comando do exercito porque essa semana o governo federal comprou um canhão que dispara raio laser.

- Casa nova é mesmo audacioso, entrar no quartel general pela porta da frente igual ele fez aqui no DP e pegar o canhão, realmente ou ele é louco ou mágico.

- Prefiro acreditar que ele seja um bandido acima da media.

- Muito bem, vamos atrás dele.

Márcia encolhe os ombros.

- Souza você não pode estar falando sério, isso é assunto para o exército resolver, não a policia.

- Já se esqueceu? Casa nova entrou aqui e roubou nossas armas e ainda matou nossos colegas, Frota está morto e enterrado por culpa desse miserável Rambo latino, vou pagá-lo, vou comprar essa briga sim.



***



Dois disparos, duas mortes. Casa nova atravessa o salão principal e já é possível ver o canhão cuidadosamente colocado em seu suporte.

- Mais que maravilha. – ele olha ao redor e tudo está vazio e silencioso. – me dêem cobertura vou pegar o canhão.

Um grupo de soldados desce as escadas que dão acesso ao salão com seus fuzis atirando, mas são eliminados pelos homens do capitão. Casa nova se aproxima do canhão e não imaginava o quanto seria complexo toda a sua estrutura.

- Como vou segurar essa merda? – sem muita paciência ele resolve arrancá-lo do suporte na força. – já chega dessa brincadeira, você agora me pertence.

O canhão não é muito pesado, apenas não possui muito jeito para segurá-lo. Mesmo com dificuldade ele resolve fazer um teste.

- Vamos ver como isso funciona. – olha e identifica o botão vermelho. – hum, isso deve ser o gatilho dessa belezinha.

Um clique e a arma solta um ruído como se estivesse carregando. Casa nova volta apertar o botão e o canhão dispara acertando a parede a fazendo em escombros.

- É disso que eu estou falando, vamos embora. – pega o radio. – atenção, estou como pacote.



***



De volta ao pátio e com o canhão nos braços, Casa nova é a imagem da violência. Reluzente, a poderosa arma mete medo até no mais corajoso entre os bandidos. Por orientação de seus superiores os soldados cessaram fogo dando livre acesso para Casa nova passar com seu canhão. Os rasantes do helicóptero espalham as folhagens e poeira. O ex militar se enfia dentro da rural que dá sua partida. Tudo está terminado.



15



Carvalho hesita, mas atende ao telefone que toca sem parar a um minuto. Pela insistência ele já sabe de quem se trata.

- Senhor presidente.

- Carvalho o que faz sentado, você sabe quanto custou ao cofres a compra desse canhão?

- Imagino senhor

- Imagina coisa alguma, isso que aconteceu hoje pode arruína com a minha reeleição.

- Achei que o senhor estivesse preocupado com a questão da segurança nacional senhor. – engole seco Carvalho.

- Você está brincando com coisa séria Carvalho, saiba de uma coisa, eu posso lhe exonerar de seu cargo com um telefonema apenas.

- Devo-lhe assegurar que estamos tomando as medidas necessárias para recuperarmos o canhão senhor.

- Acho bom, volto a fazer contato em algumas horas. – desliga sem dar chance do militar se despedir com seu refinado protocolo.

Carvalho se afasta da mesa e novamente coloca as mãos para trás e volta a olhar para o pátio onde os corpos dos soldados mortos estão sendo recolhidos. Pela primeira vez desde que assumiu o comando do exercito, essa é a pior das crises, todas as outras ele as resolveu com inteligência e até mesmo com uma certa dose de esperteza. Esta porém lhe tirará o sono, deixará seu rosto com mais rugas e ele terá que mexer nos pauzinhos se quiser resolver logo essa questão. Quem sabe montar uma equipe de busca ou solicitar apoio, mas, qual apoio? Nessas horas que salvará o exército?

Visivelmente abatido Carvalho volta a sentar-se em sua cadeira. Literalmente ele não sabe o que fazer. Quais decisões tomar? Um oficial toca na porta e ele demora um pouco para autorizar sua entrada, talvez tentando retardar a chegada de mais um problema. Impossível, os problemas existem, e eles precisam ser resolvidos e não varridos para debaixo do tapete. Com um longo suspiro ele gesticula permitindo a entrada do oficial:

- Senhor, eu trouxe a lista oficial das baixas. – estende o papel.

Vagarosamente Carvalho estende o braço para pegar o papel. O oficial percebe o abatimento do comandante, mas evita fazer algum comentário. É por isso que Carvalho gosta dos profissionais. O comandante lê a lista demoradamente e engolindo seco. Seus olhos fundos e profundos de repente se tornaram vazios e sem vida. O oficial parece aguardar que uma lágrima desça e que seu líder exploda num pranto gutural. Quanta pressão. Será que Carvalho nessa idade irá suportar tamanho caos? Quando o oficial achou que o comandante fosse entregar os pontos, Carvalho se levanta deixando o papel sobre a mesa dando novas ordens.

- Reúna todo o comando.



16



O canhão é colocado de qualquer jeito sobre a mesa. Como ele fosse uma entidade sagrada Casa nova o reverencia por diversas vezes e maneiras. Sozinho em seu quarto que mais parece um deposito de ferramentas, o ex combatente já planeja algo. Sua mente destruidora trabalha a mil por hora maquinando maldade e desgraça. Quanta crueldade esse belezoca isso pode produzir? Quantos homens fardados isso pode dilacerar? Claro que ele pretende testar o canhão e de maneira oficial. O radio chama.

- Namorando sua obra prima? – pergunta a voz do outro lado da linha.

- Muito, isso é formidável.

- Tenha cuidado, como eu te falei, você mexeu em casa de marimbondo, qualquer hora você será ferroado.

- Eu não tenho medo, agora eu tenho o meu brinquedinho para me defender. – Casa nova usa a orla da camisa para tirar um punhado de poeira do canhão.

- Você não sabe o que causou aqui, o governo federal, forças auxiliares, todos querem sua caveira, acho melhor você sumir do mapa, por que vão lhe encontrar.

- Casa nova nunca foge, Casa nova cai atirando.

- Tudo bem. Vou deixá-lo curtindo sua maquina mortal.

Casa nova mais uma vez reverencia a maquina de produzir morte. Como louco ele rir sozinho. Vai até a janela e chama dois de seus comparsas.

- Muito bem, nada de deixarmos a poeira abaixar, vamos testar essa arma imediatamente.

- Chefe, o que pretende fazer? – pergunta um aliado segurando uma escopeta doze.

- Você precisa de grana?

- Claro chefia. – responde o outro.

- Vamos pegar então.



***



Pelo radio Souza se informa mais sobre o ocorrido juntamente com Márcia. Pra falar a verdade ele está mais impressionado com a ousadia de Casa nova do que com o fato em si.

- Ele vai agir, ai então será a nossa hora. – Márcia descruza as pernas em sinal de discordância.

- Ainda acho que nós deveríamos deixar isso com o exército.

- Se esse cara cismar de usar aquele canhão nas ruas, nos já temos que estar preparados.

- E se o exército exigir que você se afaste do caso?

- Já ouviu falar em investigação por conta própria? – Márcia volta a cruzar as pernas.

- Só me faltava essa, dar uma de Batman por ai.

- Quase isso.

Hesitante, Márcia por fim pergunta.

- E a Laura, voltou a te ligar?

- Ainda não, mais vai. – dá a partida na viatura.

- Você quer mesmo ficar com ela? – a voz de Márcia é mais desanimada, sem força.

- Acho que sim. – Souza volta a olhar para a estrada. – apesar da diferença de idade, Laura tem uma maturidade fantástica.

As palavras de Luis Souza machucam o coração de sua assistente que resiste ao bombardeio sem perder a classe. Enquanto escuta seu chefe elogiando sua rival, ela se mantém firme, imparcial.

- Então já deu tempo de esquecer Suzana?

- Márcia. – faz a curva. – Suzana é a mulher da minha vida, me deu um filho o qual me orgulho muito, porém o amor dela por mim acabou, podemos dizer assim.

- Por falar em Jéferson, como ele está?

- Crescendo, já é praticamente um homem, bonitão como o pai. – brinca.

- Você é muito convencido isso sim.



17



A rural para abruptamente e sem cerimônias um grupo de homens desce exibindo suas armas em frente ao banco. O entra e sai de clientes indica que a agencia está hiperlotada. Casa nova termina de fumar seu charuto e o apaga no painel.

- Vamos pedir licença pessoal. – desce da rural carregando sem jeito o canhão.

Alguns populares percebem a movimentação suspeita e alguns reconhecem o armamento e sacando seus celulares informam a policial. Casa nova não se incomoda. Para ele o que mais importa é o caos. Ele mira na porta de entrada da agencia, solta uma risada e dispara. O disparo faz com que o corpo do ex capitão num solavanco caia para trás. Alguns de seus homens ameaçam rir de seu chefe.

- Se eu ouvir uma risada sequer , elimino com essa beleza aqui. – dá dois tapinhas no canhão.

Não só a porta da agencia, mas, todos os vidros se transformaram em pequenos cacos que ainda caem na calçada. Lá dentro pessoas também foram atingidas. O grupo de Casa nova atravessa a rua interrompendo o transito e assustando os curiosos. Apenas um guarda tenta impedir a invasão e como era de se esperar, foi morto com um tiro na cabeça. O pânico toma conta do banco. Funcionários e clientes são obrigados a se deitarem e a colocarem as mãos atrás da cabeça. O ex militar passeia entre os caixas e dando ordens.

- O cofre, rápido, quem me leva ao cofre? – um sujeito bem vestido é escolhido. – esse deve ser um dos gerentes, levante-se, me leve até o cofre rápido.



***



O assunto ainda era a vida amorosa de Souza quando o radio chama.

- Detetive Souza falando.

- Detetive, o grupo de Casa nova nesse exato momento invade o banco da cidade e estão fazendo pessoas de reféns.

- Banco da cidade? Estou aqui perto, chame reforços. – ele olha para Márcia. – é a nossa chance, vamos.



***



A porta que pesa mais de duas toneladas de repente se transforma em um monte de ferro retorcido. O gerente quase se urina de medo. Casa nova ordena que seus homens coloquem tudo nas sacolas.

- Você já não é mais útil aqui meu caro gerente. – um outro bandido assente e atira contra a cabeça do homem que desmorona.

Do lado de fora a confusão tomou conta dos quarteirões e o comercio abaixou suas portas temendo o pior. O corre corre de populares e a curiosidade de outros ajuda ainda mais a engrossar o pânico na região.

Souza chega e tenta afastar os curiosos com o auxilio de Márcia. Luis Souza respira aliviado quando escuta as sirenes se aproximando. Viaturas e mais viaturas chegam prestando socorro aos companheiros.

- O caso é delicado, Casa nova está lá dentro possivelmente com o canhão, temos que ter o máximo de cuidado.

Outro disparo do canhão chama atenção dos agentes. Os corpos voam como papel na ventania. A poderosa potencia do armamento assusta a todos sem exceção.

- Souza, temos que tirar essas pessoas daqui e rápido. – sugere Márcia.

Um som não muito familiar é ouvido por todos ali. Souza olha ao redor e nada vê.

- O que será isso? Mais uma surpresa desse bandido? – conjetura Souza.

O ruído aumenta a cada segundo. Atônitos, todos procuram se abrigar nas marquises e lojas. Luis Souza pro precaução saca sua Taurus 44 e se abriga entre as viaturas. Um tanque imponente surge dobrando a esquina apontando seu canhão na direção da agencia. Em outro veiculo está Carvalho com sua farda de combate. Souza sente seu coração acelerar e percebe que uma guerra está para começar.

- Isso vai se tornar um campo de guerra. – resmunga para si mesmo.

Ainda com o carro em movimento, Carvalho desce do veiculo e com os mesmos olhos frios observa a movimentação dos policias.

- Quem está no comando aqui?

- Eu! – responde Souza.

- Quem é o senhor? – Carvalho mal olha para Souza.

- Luis Souza. – Carvalho finalmente olha para ele.

- Detetive Souza? – Souza assente com um gesto de cabeça. – já ouvi falar do senhor, como tem passado. – o detetive sente seu corpo congelar ao apertar a mão do militar. – a partir de agora o exercito está no comando meu caro detetive, está liberado. – Souza olha para Márcia que dá de ombros.eu te avisei.

- Não acha que isso é um caso de policia comandante Carvalho. – Luis Souza aponta para a agencia parcialmente destruída.

- Não! – se afasta fazendo sinal para os veículos camuflados. – Casa nova está com o canhão e ele pertence às forças armadas do país. – mais uma vez Souza olha para sua assistente. Bem feito!

- Casa nova invadiu o meu departamento e roubou minhas armas, isso é caso de policia comandante.

Sem muita paciência Carvalho olha para Souza que não se intimida.

- Por um acaso o senhor tem ciência do poder de fogo do canhão detetive? Ele é capaz de fazer de você poeira, por tanto retire seu pessoal daqui agora mesmo.

- Não farei isso comandante. – Carvalho bufa e faísca.

- Não me atrapalhe policial. – dá as costas e segue fazendo sinal para seus homens.



***



O trabalho dentro da agencia continua. Os homens de casa nova aterrorizam os funcionários e clientes do banco chutando e batendo com suas armas. As sacolas estão cheia de cédulas arrumadas no canto. Casa nova circula segurando o canhão e observando a saída. Um comparsa se aproxima.

- Casa, tudo pronto, podemos ir?

- Ótimo, vou abrir caminho com o meu brinquedinho aqui.

O canhão é apontado para a rua e disparado. O raio passa a uma velocidade monstruosa e acerta uma viatura policial a fazendo em pedaços. Policias são feridos. O exército se posiciona sob ordens de Carvalho.

- Atenção, estamos sob fogo inimigo, vamos contra atacar.

Em meio ao fogo e fumaça, Souza e Márcia tentam impedir o contra ataque.

- Senhor, isso aqui vai se transformar num inferno, Casa nova não joga para perder.

- Eu já falei para o senhor ir embora detetive. – vocifera.

Outro raio é disparado acertando uma loja em cheio. A cena é pesada. Os corpos estão por toda parte. Irritado Souza solta um grito gutural.

- Satisfeito agora, Carvalho!

Carvalho se levanta com pedaços de escombros ainda caindo.

- Vamos dar passagem a eles. – olha para Souza. – vou pedir mais uma vez policial, não se meta em minha operação.



18



O grupo de Casa nova toma as ruas deixando um rastro de destruição para trás. O helicóptero pousa e resgata quase todo o grupo. As sacolas são jogadas de qualquer jeito. O restante do bando segue por terra com o resto da grana.

O socorro as vitimas é complicado e triste. Os bombeiros correm de um lado para outro tentando manter viva as vidas ali deitadas com ferimentos graves. Souza e Márcia conversam num canto.

- Carvalho é mesmo uma pedra de gelo. – diz Márcia.

- Eu diria que ele seja um ice bergue inteiro. – coloca a as mãos na cintura e olha ao redor.

- Seria inútil ir atrás deles, só causaria mais mortes inocentes, foi boa sua decisão. – a assistente tenta acalentar o coração do chefe.

- O comandante quer começar uma guerra civil.

O radio chama.

- Souza na escuta. – diz rispidamente.

- Senhor, os bandidos estão atacando, uma delegacia foi atacada.

Luis Souza não é muito de xingar, mas dessa vez ele explodiu.

- Márcia, pra mim já chega, vou pegar Casa nova e vai ser agora.

A viatura derrapa os pneus no asfalto levantando uma nuvem de fumaça. Márcia teme pelo pior e chama reforços. Carvalho com suas mãos para trás só observa.

Dirigindo perigosamente Souza apenas vê seu celular vibrando e no visor o nome Laura – péssima hora para um convite de motel minha querida. Mesmo irritado ele atende.

- Oi!

- Fiquei preocupada e resolvi ligar, você está bem?

- Não, não estou bem e no momento estou no encalço de um lunático.

- Do Casa nova? – Laura quase engasga.

- Sim, como sabe?

- A foto dele não sai da TV e da internet.

- Ele é perigoso, já matou e não hesitará em matar outra vez. – vendo que o transito está complicado, ele resolve pegar um atalho.

- Tenha cuidado. – Laura até mesmo em situações complexas não deixa de ser sedutora.

- Pode deixar.

Aos arredores da delegacia atacada o movimento é grande. Souza resolve seguir em frente caçar o bandido que vem tirando o sono das autoridades nos últimos dias. A cidade está em polvorosa, ninguém sabe ao certo o que esta acontecendo. Uma onda de ataques violentos sem precedentes assusta e bastante a todos.

Um shopping cente também foi atacado, além de outra delegacia. Souza é informado de que o bando fez do lugar ruínas matando vários agentes. Casa nova está em vantagem, tem nas mãos uma poderosa arma que o faz está à frente. Souza estaciona a viatura na calçada mesmo e desce. A passos firmes e largos ele adentra a delegacia. Os corpos foram colocados em sacos pretos. Uma mistura de fúria e tristeza corre por seu corpo.

- Sinto muito! – diz Luis Souza para ele mesmo ao ver o trabalho dos bombeiros.



***



Carvalho está reunido com seus oficiais ainda em frente a agencia bancaria. O mapa é aberto e com uma caneta ele circula os possíveis pontos onde Casa nova pode estar escondido.

- Ele está na vantagem, não vai pensar duas vezes antes de usar o canhão. – um oficial pede a palavra.

- Temos que atirar para matar então? – Carvalho sem olhar para seu subordinado responde.

- Isso mesmo. – circula mais um ponto. – e não se esqueçam, estamos lidando com um veterano de guerra, Casa nova é melhor que todos vocês reunidos.

O comandante dispensa o seu pessoal e caminha em direção a Márcia que está dentro de uma das viaturas.

- Seu chefe é mesmo uma mula, ele acha que irá prender Casa nova usando aquela pistola?

- Ele pelo menos está tentando salvar a cidade desse louco. – continua a digitar em seu notebook.

- Arrogante como ele, você está aprendendo direitinho hein! – se afasta.

- Idiota, velho ridículo. – resmunga.



***



A rural passa em alta velocidade atirando contra uma viatura da policia com a ponto 50 matando dois agentes. Dentro do veiculo os bandidos comemoram bebendo cerveja. Um deles olha pelo retrovisor e alerta o grupo.

- Se liga, tem uma patrulhinha em nossa cola, veja.

O motorista meio bêbado consegue olhar pelo espelho interno e vê o carro dirigido por Souza em alta velocidade.

- O que estão esperando. Atirem nele.

Sentindo o risco, Souza reduz a velocidade e entra em outra rua.

- É mesmo um merda, fugiu. – ri o sujeito em pé na carroceria.

Sem se importar com quebra molas e ondulações, Luis Souza acelera cortando outros carros com perfeição. Sua mente não para de girar. Ele corta para a esquerda, por ali ele ficará frente a frente com os meliantes.



***



Um posto policial é avistado e com certeza será mais um alvo para o bando de Casa nova. O homem na carroceria se prepara para atirar com a ponto 50 quando tem sua cabeça atingida. Seu corpo cai sem vida por cima do armamento.

Souza se protege usando sua viatura como escudo. Dentro da rural os bandidos ainda não se deram conta que um dos comparsas foi eliminado. Souza atira acertando a lataria da rural.

- Essa não, é ele outra vez. – diz o motorista.

- Ele matou o Chico. – pega sua metralhadora. – deixa ele comigo, acelere.

A viatura de Souza é alvejada por rajadas e mais rajadas. Luis rola sentindo que ali já não é mais seguro ficar. As pessoas correm e se abrigam onde pode. Souza atira, nada acerta. Mais rajadas. Outra vez Souza atira e mais um pouco ele acerta a lateral da picape. Praguejando Souza sai de onde está e mais uma vez atira. O parabrisa da rural se transforma em pequenos cacos. Corajosamente ele se coloca na frente do carro inimigo e descarrega sua Taurus 44 matando os dois.

Empunhando sua arma Souza corre na direção da picape. Um dos bandidos ainda se mexe.

- Fique parado! – vocifera o policial.

- Perdi, perdi. – grita o bandido.

- O seu chefe, para onde ele foi? – Souza o soca no rosto. – fale!

- Vá para o inferno. – toma outro soco.

- Vou te matar se não colaborar, fale, onde está Casa nova?

- Ele vai te fazer implorar, seu tira de bosta.

Souza o soca o nocauteando.



19



- Maldição! – vocifera Casa nova socando a parede. – eles deram mole, tinham que eliminar esse detetive, qual o nome dele mesmo?

Gaguejando o assecla responde.

- Souza!

- Luis Souza? Já ouvi falar dele.

- Nós invadimos o departamento onde ele trabalha.

- Droga! – soca a palma da mão. – temos que resgatar nosso companheiro e matar esse Souza.



***



- Qual o seu nome? – o homem não responde. Souza enterra as mãos nos bolsos da calça. – facilite as coisas para você.

- Vá para o inferno.- Souza anda na direção do sujeito algemado a mesa da sala de interrogatório.

- Vocês entraram aqui e roubaram minhas armas e ainda mataram meu amigo, achou mesmo que isso iria ficar barato? Quero o esconderijo de Casa nova e quero agora.



***



Um carro oficial do exército estaciona na frente do departamento com perfeição tamanha. Antes mesmo do motorista abrir a porta, Carvalho já havia descido com sua postura ereta e imponente. Com a expressão fechada e olhar congelante, o comandante do exército adentra ao recinto sem ou menos cumprimentar os guardas da entrada.

Na recepção ele pergunta friamente para o funcionário sobre Souza.

- O detetive Souza no momento está ocupado.

- O assunto que eu tenho a tratar e de caráter urgente policial.

- Vou pedir que o senhor aguarde em nossa sala...

- Chega dessas formalidades, quero Souza aqui e agora.



***



Carvalho descruza as pernas mais uma vez quando seu pedido é negado por Souza.

- Veja bem comandante, esse bandido será levado a justiça comum, o exército está fora disso. – Carvalho tenta manter a compostura.

- Tem razão, tem razão detetive. – volta a cruzar as pernas. – não se esqueça que Casa nova ainda está com o canhão, então eu acho que o exército sim precisa fazer algo.

- Precisamos unir forças isso sim, Casa nova pelo jeito virar buscar seu homem. – Carvalho franze a testa.

- Como tem tanta certeza disso?

- Ora comandante, ele entrou aqui e entrou em seu comando pela porta da frente, o senhor acha que ele deixará um soldado dele para trás? O cara é esperto.

- Então você propõe uma ação conjunta?

- Sim senhor.

- Ótimo, vamos elaborar um plano então. – diz Carvalho se levantando. – posso ao menos falar com o bandido capturado? – Souza estranha o pedido do militar.

- Ele já foi levado para a prisão, mas posso permitir que o senhor faça uma visita.

- Obrigado, sei que ele tem informações valiosas, quem sabe com jeito ele as coloca pra fora.

- Tudo bem, vou pedir que um policial o acompanhe até as celas.



20



- Como se sente sendo hoje o bandido mais procurado do país? – pergunta a voz do outro lado do radio.

- Minha mãe vivia me dizendo que um dia eu estaria na TV, ela pelo visto estava certa. – responde com ironia Casa nova.

- Tenha cuidado, a policia está empenhada.

- Você se esqueceu que eu tenho um trunfo? O canhão irá me ajudar a exterminar todo esse lixo. – diz olhando para o armamento a sua frente.

- Muito bem, no que eu puder ajudar.

- Qualquer coisa eu lhe solicito. – Casa nova se levanta do sofá caindo aos pedaços e se abraça ao canhão. – essa cidade é minha companheiro.



***



Márcia e Souza conversam sobre a questão de um possível resgate por parte de Casa nova em sua sala. O detetive montou um verdadeiro esquema de guerrilha aprovado por Carvalho.

- Você acredita mesmo que ele possa vir buscar esse cretino?

- Ele virá, com certeza, ele pensa que nós não estamos o esperando e é ai que o pegamos.

- Carvalho aceitou isso numa boa? – Márcia se ajeita na cadeira.

- Acho que não, mas teve que engolir. – Márcia sente uma soberba no tom de voz do chefe.

- Esse é o meu chefinho.

Um policial toca duas vezes na porta. Souza autoriza sua entrada.

- Luis, aconteceu algo e o senhor precisa ver.



***



O corpo do bandido pende. Ao redor do pescoço sua camisa. Os olhos esbugalhados e a língua para fora. Souza xinga varias vezes. Márcia tenta não vomitar ao ver a cena.

- Qual o plano agora Souza? – pergunta o policial.

- Vamos manter o plano. Esse cara tinha informações que nos levaria até Casa nova. Redobrem a atenção.



***



Um carro para na porta do departamento. Dois homens descem, um deles bastante assustado. O policial se oferece para lhes prestar ajuda.

- O que houve?

- Fomos assaltados, essa cidade está insuportável, queremos fazer um boletim de ocorrência.

- Me acompanhe senhores.

Dentro do DP o movimento é grande. O falatório abafa o som dos toques de telefone e dos cliques dos teclados. Há um fila enorme de pessoas esperando para serem atendidas estressando os funcionários e agentes. Os dois homens acompanham o policial até o balcão de atendimento quando um deles saca uma pistola e dispara contra a cabeça do PM. Em seguida alguns homens que estavam na fila também sacam suas armas e atiram matando outros policiais. Um dos homens pega o radio comunicador que está em seu bolso e informa.

- Casa nova, sucesso, dominamos o ninho dos ratos.

Nesse mesmo instante alguns mendigos que circulavam por ali desde a manhã renderam cinco policiais que faziam a guarda de uma rua que dá acesso ao departamento. Eles atiram para matar. Em outro quarteirão mais dois policiais são mortos por supostos pedestres. Alguns metros do DP dois caras que esperavam ser atendidos pelo vendedor de pipoca matam a sangue frio três tiras. O plano funcionou, resta apenas entrar no departamento e executar seu líder.



***



Pelo radio Souza é informado que Casa nova atacou. Ele confere se sua Taurus está municiada e desce em disparada. Márcia também desce dando cobertura ao chefe. Há bandidos por todo o departamento por isso o cuidado é redobrado. Ainda descendo as escadas Luis e sua assistente atiram matando um meliante distraído.

- Vamos enfrente! – ordena Souza.

No segundo andar dois homens vasculham o setor de ocorrências. Souza espera uma distração para atirar. Márcia sente uma onda de adrenalina circular por todo o seu rechonchudo corpo. Os bandidos como previsto por Souza se distraem olhando as instalações do lugar. Márcia é a primeira a atirar matando o mais velhos dos meliantes. Souza acerta o peito do homem que cai ainda com vida. Sem pensar muito o detetive se aproxima e atira contra a cabeça não dando chance ao vagabundo.

- Bom trabalho Márcia.

- Estou começando a gostar disso!

Um estrondo é sentido e ouvido. Um raio vermelho ultrapassa as janelas acertando quem está na frente. Souza se joga junto com Márcia rolando pelo carpete. Outro laser estilhaça as janelas restantes.

- Mais que inferno. – reclama Márcia.

- Achei que estava gostando da aventura. – Márcia faz uma careta para o chefe.

Do lado de fora Casa nova atira matando vários agentes. Ele se diverte e ostenta seu poder de fogo.

- Souza, renda-se ao meu exército. – aponta e atira.

O exército é solicitado e já se encaminha para o local. A cidade está um caos e as autoridades não sabem o que fazer. Souza resolve mais uma vez agir antes que seja tarde demais.

- Márcia, se ficarmos aqui seremos mortos.

- Carvalho já deve está chegando.

- Nada disso, o DP foi invadido, dessa vez Casa nova veio para destruir tudo e vai conseguir se não agirmos logo. – diz abaixado.

- O que você sugere então?

- Manter a resistência. – mais uma rajada de laser passa rasgando as paredes. – precisamos de armas mais pesadas.



21



Por segurança todas as ruas foram fechadas. Não pela policia, mas sim pelo exército de Casa nova. Os militares assim como Souza e Márcia, tentam a todo custo manter a resistência. Um verdadeiro cenário de guerra em plena massa de concreto da cidade. De um lado PMs acuados com suas precárias armas, do outro um poderoso canhão de raio laser avassalador.

O confronto se intensifica quando as tropas militares chegam e mergulha de cabeça no combate. Casa nova dispara o canhão destruindo tudo que está a sua frente. O bandido gira o armamento e dispara mais uma vez. Soldados são dilacerados juntamente com seus carros de combate. Pânico, esse é o quadro, pânico.



***



Nesse meio tempo Souza e Márcia conseguem chegar à sala de armas. O suor que escorre da careca atrapalha um pouco. A assistente monta guarda na porta enquanto Luis as pega.

- Metralhadoras!

- Sonho realizado. – brinca Márcia segurando a arma.

- Muito bem. – respira fundo. – vamos pelos fundos, sairemos pelo refeitório.

- Ótimo.

O terninho cinza, unhas bem feitas e a leve maquiagem não combinam com a metralhadora. Mesmo assim a linda assistente de detetive se orgulha em está prestando serviço para manter a tranqüilidade da população. Nem o peso da arma é capaz de fazê-la desanimar. Com o semblante fechado Luis Souza vai à frente. Antes de chegarem ao refeitório eles eliminam mais dois bandidos. Ao ver de perto a determinação de seu chefe a atração por ele só aumenta e sua confiança também. A seu lado ela se sente segura, protegida.

Eles chegam ao refeitório. A porta lateral os levara para fora daquele inferno.

- Agora sim temos uma chance. – diz Souza com animação.

Finalmente luz do dia. Márcia e Souza estão livres para o combate homem a homem. No pátio Márcia mata mais dois inimigos.

- Mais que droga!

- O que foi, foi atingida? – Souza pergunta preocupado.

- Não, só quebrei minha unha ao puxar o gatilho. – Souza consegue rir dessa situação.

- Vamos enfrente.



***



Ainda no comando da situação, Casa nova observa a movimentação ao redor do departamento.

- Certifique se já capturaram Souza. – seu comparsa saca o radio.

- Já tem o pacote com vocês?

Uma voz não muito familiar responde.

- Como vai seu soldadinho de meia tigela, essa é a sua força?

Furioso Casa nova pega o radio das mãos do homem com truculência.

- Luis Souza? É você?

- Ao vivo!

- Quando eu puser as mãos em você...

- Chega dessa conversa Casa nova, seu homem se matou na prisão, essa guerra já perdeu o sentido, renda-se enquanto pode.

- A questão já não era mais o meu homem e sim você. Quero sua carcaça seu negro nojento.

- Sabia que eu posso lhe processar por racismo capitão?

- Seu desgraçado. – vocifera Casa nova.

- Fique onde está, vou pegar o canhão e tudo isso termina.

- Vem pegar então. – desliga o radio e novas ordens são dadas. – ele apagou nossos homens e está vindo pegar o canhão, ele é meu e ninguém tasca.



***



Depois de fazer uma varredura pelo pátio do departamento e se certificar que não há mais perigo, Souza se volta para Márcia:

- Você volta daqui! – a mulher franze cenho

- Como?

- A partir de agora será Casa nova e eu, não quero colocar sua vida em risco.

- Souza, sou uma policial assim como você, claro que vou.

- Márcia, por favor, se algo sair errado, pelo menos será uma morte a menos.

- Ninguém vai morrer. – a voz de Márcia é mais dura que aço. – nem pense em me deixar.

Um momento de silencio. As palavras de Márcia pairam no ar. Eles se encaram por um breve momento. Naquele instante Souza pode perceber o quanto ela é linda por dento e por fora, como ela é interessante. O rosto de Márcia de repente brilhou e ele pode ver o quanto ela o ama.

- Tudo bem Márcia, não saia de trás de mim.



***



Uma viatura parada, eis a oportunidade. Se arrastando como cobra os dois chegam até o veiculo. Souza dá a partida e explode o pequeno e frágil portão com o parachoque da viatura. Derrapando os pneus no asfalto sob uma chuva de balas, o carro policial dispara estrada a fora. Casa nova se prepara para um novo disparo.

- Agora te mando para o inferno seu grioulo. – aperta o botão e o laser púrpura numa velocidade incrível invade o ar cortando tudo e a todos com o seu poder. Souza faz uma curva fechada e o raio passa rente a porta do carona.

- Nossa, essa foi por pouco. – diz Márcia.

Outro raio e mais destruição. A viatura rodopia na pista levantando uma densa fumaça. Vendo que não irá conseguir acertar Souza daquele lugar onde está, Casa nova decide ele mesmo pegar um dos carros e seguir seu adversário.

- Você quer brincar de policia e bandido, então eu topo.

A perseguição é perigosa, mortal. Sem nada a perder Casa nova faz disparos acertando tudo, menos a viatura de Souza e Márcia. Uma loja de sapatos é atingida. Furioso Luis Souza decide entrar na festa.

- Vamos contra atacar, Márcia, atire e tente acertar os pneus.

- Sim senhor!

Sem hesitar, a assistente de detetive coloca metade de seu corpo para fora do carro, puxa o gatilho e descarrega pra cima do Sentra de Casa nova. A lataria fica comprometida com buracos até no parabrisa. Outra rajada e o capitão perde a direção.

- Mais que droga, quem está com ele? – faiscando Casa nova consegue parar o Sentra e mirar o canhão. – já estou cansado dessa brincadeira. Fogo!

O raio acerta em cheio a traseira da viatura a fazendo voar. Souza aperta o volante e Márcia grita.

- Souza, vamos pular!

Idéia aceita. Os dois policias pulam antes do carro explodir. Márcia cai e bate com a cabeça no meio fio. Souza por sua vez consegue ter uma aterrissagem não tão trágica, apenas o ombro bateu com força.

- Márcia, pelo amor de Deus não faz isso comigo. – a voz de Luis é embargada. Um fio de sangue escorre e Souza entra em desespero. – não morra, por favor, Márcia. – vocifera.

Márcia não se mexe. Ainda tentando o inevitável Souza não percebe a aproximação de Casa nova que o chuta no rosto.

- Gostosinha ela era não acha seu negro fedido. – outro chute no rosto de Souza.

Zonzo, Souza não consegue impedir os golpes e eles o acerta com força e violência. Casa nova o segura pelo colarinho e desfere dois socos em seu estomago, Souza sente um nó sendo feito dentro dele. Ainda caindo no asfalto ele recebe outro chute no rosto. O sangue escorre do canto da boca e a visão começa a falhar. Ele olha para o corpo de Márcia no meio fio e se recorda de suas palavras nem pense em me deixar! Casa nova desfere mais um soco.

- Eu venci diversas batalhas usando a força bruta. – mais um soco. – não seria agora que eu iria perder, ainda mais para um negro nojento feito você. – mais um chute e um soco. Souza cai sentindo a vida fugindo dele. Márcia ainda caída na calçada. Populares olhando com se fosse show. Casa nova triunfou mais uma vez. Nem pense em me deixar! Essas palavras serviram como vitamina e sem pensar muito ele espera que Casa nova relaxe e lhe aplica um golpe que faz o ex capitão arfar segurando o pescoço. Souza gira o corpo e com a perna rodando no ar acerta o rosto do velho militar que cai. O detetive rola pra cima do corpo do oponente e inicia um estrangulamento.

- Você matou meu amigo e minha assistente, vai pagar por isso seu miserável.

O rosto coberto de rugas de Casa nova toma um tom avermelhado e roxo indicando que sua partida para o outro lado vida está próxima. Luis continua a apertar o pescoço quando uma arma fria toca em sua nuca.

- Solte-o – Souza mesmo com dificuldade gira a cabeça e contempla o rosto feito de gelo de Carvalho apontando uma pistola para ele.

- Comandante?

- Sim sou eu, agora solte-o.

- Ele está com o canhão.

- Não, eu estou com o canhão, esse bosta fez um bom trabalho, agora se afaste.

Hesitante Souza fica de lado e sem cerimônia alguma Carvalho atira duas vezes contra a cabeça de Casa nova.

- Uma pena, era um bom soldado, mais falhou em sua missão. – Carvalho volta apontar sua arma contra a cabeça do policial.

- Está explicado, por isso você pediu para falar com o preso né, você o ameaçou e ele preferiu se matar, na verdade você é o líder do bando dos guerreiros.

- Você é bastante esperto, Souza, pena que vai morrer, daria um bom soldado. – olha para o corpo de Casa nova numa poça de sangue. – eu bem que tentava alertá-lo via radio, ele achava que tinha o rei na barriga, agora eu tenho o canhão, montarei minha equipe e seremos os fora da lei mais perigosos dessa maldita cidade e sem você para me atrapalhar, diga adeus à vida, Luis.

- Solte a arma comandante!

O sol atrapalha um pouco mais mesmo assim Souza vê a silueta gordinha de Márcia com a metralhadora apontada pra cabeça de Carvalho.

- Você está preso comandante. – Carvalho bufa e deixa a arma cair. Souza o algema.



22



Ao saberem que Casa nova está morto e que o mentor dos guerreiros foi preso, alguns dos asseclas se renderam e outros fugiram. Márcia foi hospitalizada e passa bem. Souza sofreu ferimentos leves no rosto e foi liberado. Carvalho foi preso sob acusação de ser o líder dos guerreiros. O presidente já tem outro nome para o comando do exército. Finalmente o canhão voltou para quartel general e de lá será levando para outro estado secreto.



Dias depois



Meio sem jeito Souza toca na porta e a própria Márcia o atende. Pela primeira vez o detetive a ver de short e blusa.

- Chefinho!

- Oi! – mostra as flores. – pra você.

- São lindas, obrigado, entre, quer beber alguma coisa?

- Não, na verdade vim lhe agradecer por duas coisas. – pigarreia. – por ter salvo minha vida e... – Márcia o olha com ternura. – por não ter morrido.

- Souza. – Márcia engole seco. – você acha que eu iria te deixar sozinho por ai, formamos uma dupla imbatível.

- É verdade!

- Posso te fazer uma pergunta?

- Sim!

- E a Laura, voltou a te ligar? – Souza coloca as mãos no bolso.

- Ligou, você ainda estava no hospital.

- E então? – Luis Souza retira as mãos do bolso.

- E então que eu resolvi terminar tudo, falei que tudo não passou de uma aventura e que...

- Você já está velhinho demais para ela. – Márcia rir.

- É verdade.

Um clima os envolve até que Souza resolve quebrá-lo.

- Bom, já vou indo, se recupere, ainda temos um bando de vagabundos para colocarmos na cadeia.

- Sim senhor. – bate continência.



FIM