terça-feira, 25 de outubro de 2022

Linha Policial crime em Guerra | Capítulo 4

 

Maiara passou quase que o dia inteiro entre trocas de roupas e poses provocantes. Fotos e postagens em sua página no Instagram. Em uma delas a filha do delegado se encontra em trajes de praia dentro do box no banheiro. Essa sim chamou a atenção não só de quem ela queria, como de outros tarados virtuais. Após alguns minutos de postagem, Rogério deixou um comentário um tanto quanto sem noção. “será que não se enxerga? Seu lugar é no mar". O primeiro sentimento que lhe abateu foi o de correr para o quarto e chorar até secarem às lágrimas, porém o segundo a fez rir. Lógico que o idiota ficou mexido ao ver a imagem dela de biquini. Isso só levou a confirmação de que ele anda fuçando em seu perfil. Karina entrou no quarto com uma das mãos na boca e a outra segurando o telefone.

- Que fotos são essas, garota?

- E ai, gostou? – fez uma dancinha.

- Eu gostei, mas, será que o pai e a mãe vão gostar?

- Vamos lá. O papai no momento se encontra ocupado correndo atrás de bandidos e a mamãe só tem olhos para ele, então...

Karina tinha que admitir, sua irmã mais nova estava coberta de razão.

- Verdade! – torceu os lábios. – mas e ai, o que achou do comentário do boçal do Rogério?

- Caguei e andei. – deu às costas. – vamos, me ajude a escolher outra roupa.

*

Damião Ramos aguardou que seu último homem entrasse na sala de reunião para dar início a preleção. A apreensão dos quinze oficiais ali dentro era algo mais que detectável, era quase palpável. Toda essa tensão tinha um motivo, aliás, um baita motivo. O roubo de um carro-forte pelo grupo de Orlando Urso. É! Realmente o tempo iria fechar dentro daquele metro quadrado.

- Vamos fazer silêncio, senhores.

Paulo Alves se ajeitou na cadeira.

- Eu tive uma longa conversa com o governador pelo telefone e ele me deu carta branca para agir e acabar de vez com essa guerra. Então já quero deixar bem claro uma coisa: eu irei liderar a operação. Tanto Orlando Urso como Dinho McLaren são meus e cabe a cada um dos senhores trazê-los a mim. Copiaram?

Sim, senhor, disseram todos ao mesmo tempo.

- Ótimo! Decidi batizar essa operação de “Rolo compressor” será desse jeito que iremos combater o crime organizado. Como um rolo compressor. Quero que anotem o que irei falar a partir de agora.

*

Toda a imprensa de Luzia, tanto a escrita como os telejornais não deixam de falar hora alguma sobre o roubo do carro-forte e da operação Rolo compressor de Damião Ramos. Claro que, ao saber que a polícia enfim combaterá os criminosos na mesma proporção com que eles atacam a sociedade, os habitantes de Luzia respiram um pouco mais aliviados. E não foi preciso agendar um prazo para o início da operação. Assim que a reunião com os oficiais terminou, Damião Ramos fez questão da parceria com Paulo Alves e já ganhou as ruas de Luzia em busca dos figurões do crime. Dentro da viatura, com a adrenalina circulando a mil nas veias, o chefe de polícia orienta o grupo quanto ao destino da busca.

- Atenção senhores, o nosso destino é a caverna do urso, então preparem para uma possível resistência. – disse via rádio.

- Copiado zero um.

A caverna do urso. Paulo Alves soube na mesma hora do que seu superior se referia. Damião vai invadir um dos bairros dominados por Orlando Urso. Um estado paralelo onde só é possível agir com auxílio do exército. Alves já esteve naquele lugar e sabe muito bem o que os aguarda lá.

- Chefe! O senhor tem certeza?

- Essa cidade é minha, agente Alves. Hoje eu acordei com disposição e se eu falei que vou lá e vou quebrar o cara, tenha certeza disso. Eu vou quebrar.

Pressão do estado. Pressão da sociedade. Chefe motivado. No que poderia dar essa mistura? Duas coisas: daria muito certo, ou daria muito errado. Claro que Damião Ramos tinha um plano, isso sem sombra de dúvidas, pensou Paulo ainda processando o que seu delegado havia acabado de declarar. Quebrar o cara. Se fosse tão simples entrar lá e eliminar o maior chefão do crime não era preciso a mobilização de tantos homens assim, qualquer guarda de trânsito já o teria feito. Quebrar o cara deve ter outro significado.

*

Mãos para trás. Passos precisos. Olhos tensos, fitos nele, no patrão. Raras foram as visitas de Urso aquele lugar. Segundo ele mesmo, a permanência prolongada ali é insalubre. Poeira, cheiro forte de desinfetante e pouca ventilação. Somente um idiota seria capaz de ficar ali por mais de uma hora. Foi por essas e outras terríveis condições que o lugar teve aprovação para ser o esconderijo. Onde todo o material roubado deveria ser armazenado e é claro que não seria diferente com a carga roubada do carro-forte.

- Está tudo ai, chefe. – afirmou um dos soldados.

- Dois milhões? – seguia olhando para a carga com as mãos para trás.

Fabiana também estava ali, porém se mantinha quieta.

- Dois milhões, chefe. – reafirmou Guará.

- Tudo bem. Compramos outra briga. A polícia virá com força total. Já ouviram falar da “Rolo compressor” de Damião Ramos e companhia?

Guará disse que não com a cabeça.

- Pois é! Então tratem de ficar mais espertos a partir de agora. Saindo daqui irei entrar em contato com meus fornecedores e pegar novas armas.

- Hum! Então os dias de Dinho McLaren estão contados?

Fabiana juntou-se ao marido segurando em seu braço.

- Exatamente! Tá na hora de alguém dar uma lição nesse garoto. Não é amor?

Ela apenas assentiu com um gesto de cabeça.

*

Dois milhões. Dinheiro não trás felicidade, porém manda buscá-la. O que dois milhões é capaz de comprar? De repente, para alguém mais humilde, toda essa grana mudaria considerável o curso de sua existência. Para alguém com boas intenções, inúmeras vidas seriam beneficiadas. Mas agora, para uma pessoa como Expedito Passos, chefe de uma das mais perigosas gangues que Luzia já produziu, dois milhões tem o mesmo efeito que uma bomba atômica. Dinho McLaren munido de sua imaturidade e com dinheiro no bolso. Uma combinação nada favorável. Ele quer a qualquer custo essa soma em dinheiro e para que isso aconteça não é preciso trabalhar muito.

- Fique a vontade. Assim que tiver a oportunidade não pense duas vezes. Traga essa grana pra mim.

- Me diga uma coisa, Dinho. O nosso trato ainda está de pé?

- Quinhentos mil reais. – colocou os pés em cima da mesa. – vai mesmo sumir do mapa?

- Não posso dar mole. Luzia é pequena demais. Urso me encontraria em dois tempos.

- Certo! Assim que você me trouxer a carga eu lhe passo sua parte.

Dois milhões de reais. Grana pra cacete. E o que é melhor; sem esforço algum praticamente. Dinho encerrou a ligação com um sorriso de orelha a orelha já fazendo planos e o principal deles, e não poderia ser diferente, a destruição de seu rival.

*

A Rolo compressor invadiu o bairro proibido e como não poderia ser diferente a recepção foi recheada com rajadas de disparos vindos de todos os cantos. Damião e seu grupo se dividiram. Paulo Alves ficou com a parte alta e ele com a parte baixa. Imediatamente os prédios, casas, bares, tudo foi tomado, os agentes não estavam ali para conversar e nem tão pouco para negociar. A ordem foi dada e foi uma só: pegar Orlando Urso.

- Vamos! Todos com as mãos na cabeça. – gritou Damião no interior de um bar. – revistam todos.

O dono do estabelecimento tentou sair em defesa de seus clientes.

- Calma, meu chefe, aqui não tem bandido não.

- Eu não pedi sua opinião. Sai de trás do balcão. – apontou sua arma.

Os suspeitos foram alinhados de frente para parede com as mãos atrás das cabeças. Damião pôs a pistola de volta ao coldre.

- Qual dos senhores já trabalhou ou trabalha para Orlando Urso?

Silêncio.

- Vou perguntar outra vez. Qual dos senhores já trabalhou ou trabalha para Orlando Urso?

Damião Ramos estava pronto para mudar de tática quando Paulo Alves o chamou via rádio com ótimas notícias.

- Pegamos um suspeito em um dos prédios.

- Tudo bem. Só me fala sua localização.

O endereço foi passado. Ramos era um barril de pólvora de pavio curto.

- Atenção sargento. Assuma a ocorrência. Ninguém sai daqui enquanto não abrirem o bico.

 

Certo tempo depois o chefe de polícia de Luzia estava diante de um dos atiradores de Urso algemado com às mãos para trás. Paulo Alves tentava arrancar dele maiores informações sobre o líder, mas sabe como são os meliantes né.

- Nada a declarar. – falou com a cabeça baixa.

- Jogador. – recomeçou Alves. – sua casa caiu. Seu chefe não está aqui para te livrar, então...

- Só falo na presença do meu advogado.

Damião descruzou os braços. Sacou sua arma do coldre. Segurou firme o vagabundo pelos cabelos e enterrou a quarenta cinco em sua boca.

- Vou te mostrar seu advogado, já já.

*

Ah, a exuberância da juventude. Segundo alguns pensadores: “a juventude é desperdiçada no jovem”. Maiara sempre sofreu por ser negra. Por ser filha do delegado. Por ser gordinha e também por escolher mal seus pretendentes. Diferente de sua irmã que nunca teve empecilho algum dessa natureza e olha que ambas são bem parecidas. Maiara jurou por Deus e o mundo que jamais daria outra chance ao idiota do Rogério. Prometeu a irmã e aos pais que nunca mais olharia na cara desse sujeito e no entanto...

- Pensei em você a noite toda. – falou ao celular. – depois que vi sua foto no Instagram e...

- Antes ou depois de comentar que sou uma baleia?

- Peço desculpas! Sou mesmo um escroto, não deveria ter escrito aquilo.

- Foi um escroto mesmo. – declarou sorrindo.

- Vou entender se não quiser mais falar comigo. Melhor eu desligar...

O sorriso foi desfeito. A estratégia de ignora-lo funcionou, mas não era esse o resultado esperado por ela.

- Ainda acha que o meu lugar é no mar?

Rogério ficou em silêncio.

- Quem cala consente. – cruzou as pernas.

- Não! Lógico que não. Seu lugar é comigo.

*

Não há como dizer que o amor é um sentimento. O relacionamento entre Fabiana e Orlando deixa claro que, o amor é sim atitude. Ela poderia muito bem dizer não para ele assim que o mesmo revelou quem ele era. Fabiana nasceu numa família religiosa, tudo deixava claro que ela seguiria o caminho eclesiástico assim como aconteceu com suas tias e irmã. Seu pai era um sacerdote rigoroso e zeloso pelos assuntos do divino. Ao saber que sua filha havia se envolvido com um criminoso, ele mesmo fez questão de excomungá-la.

Fabiana e Orlando Urso se amam de verdade e por isso eles cada vez que se trancam no quarto e fazem amor, o mundo parece girar mais devagar – pelo menos para eles. Toda essa empolgação tem motivo. O casal comemora o sucesso do roubo, mas isso está perto de acabar. Um dos soldados esmurrou a porta do quarto do chefe  bastante apreensivo.

- Um minuto. – deixou a cama segurando o lençol. – só espero que seja importante. – abriu a porta. – o que está havendo?

- Senhor, deu merda, o senhor precisa vir agora. – o homem transpirava em demasia.

- Diz logo o que aconteceu. – vociferou.

- Damião Ramos entrou na comunidade e levou alguns dos nossos...

O murro dado na porta foi tão forte que Fabiana deu um salto sentada na cama.

- Eu deixei bem claro que, só deveriam me incomodar se fosse algo importante. Damião Ramos uma ova...

O homem engoliu seco várias vezes.

- Não é só isso, senhor. Toda grana foi roubada. Os dois milhões. Dinho McLaren levou o dinheiro.

 

 

 


segunda-feira, 17 de outubro de 2022

Linha Policial - O crime em Guerra - Capítulo 3

 


Linha Policial

O Crime Em Guerra

Capítulo 3

 

Fabiana Urso. Quando tudo ainda era bastante incerto e seu futuro marido vivia quebrando a cara com alianças com gente que não inspiravam confiança, ela odiava ser chamada assim. Claro, Fabiana tinha lá suas razões em não gostar do vulgo. Orlando não possuía o poder e nem a fortuna que tem hoje. Orlando era apenas um marginalzinho meia-boca tentando se dar bem na vida. Mas, mesmo não acreditando muito e querendo abandonar tudo de vez e seguir um rumo diferente, Fabiana deixou o coração falar mais alto e hoje ela é a primeira dama do crime. Loira natural, 47 anos, charmosa, dona dos olhos verdes mais encantadores do mundo, ela consegue sim sentir orgulho de tudo o que ajudou ao seu esposo a conquistar. Nesses últimos dias Fabiana tem estado bem preocupada. Preocupada com os negócios do Urso e por isso ela decidiu palpitar junto ao marido numa reunião de “associados".

- Que tal um roubo? – falou sem hesitar.

- O que iremos roubar? – questionou um dos sócios.

- Eu andei pesquisando sobre o transporte de valores. Por dia eles chegam a transportar bilhões. Se queremos levantar recursos para a compra de armas e aquecer nossos negócios, eu não vejo outra alternativa.

Todos olharam para o chefe isolado na ponta da mesa. Orlando pigarreou antes de jogar para votação.

- Ok! Levantem a mão quem é a favor do roubo.

Foi unânime. Urso sorriu para sua esposa orgulhoso, o que seria de mim se ela não existisse?

- Ótimo! Não será nada fácil roubar um carro forte. Tal ação deve ser minuciosamente pensada e calculada. Não posso e não quero perder mais dos meus soldados. Todos entenderam? – o sim também foi unânime. – muito bem. Dispensados.

Assim que todos deixaram a sala de reunião Urso tinha nos olhos um brilho, o mesmo brilho de um adolescente apaixonado.

- Vem aqui!

- Fiz algo de errado, Dom Orlando Urso?

- Dom? Ainda não. Mas não devo estar tão longe disso. – Fabiana ocupou seu colo. – roubar um carro forte? Você anda assistindo muitos filmes policiais. – a beijou. – sabe quanto isso pode custar?

- Sabe quanto isso vai lhe render?

Eles se olharam.

- Posso confiar essa missão a você?

Agora foi a vez de Fabiana beija-lo.

- Deve!

*

Todas as vezes em que um casal briga, seja qual for o motivo, a volta é sempre melhor. Nada como fazer às pazes deitados numa cama ardente. Shirley e Damião já passaram por isso incontáveis vezes, mas em sua maioria terminavam sempre cada um pro seu lado. Cada um com sua razão. Talvez tenha sido esse um dos principais motivos do casamento ter ido a ruína. As vezes é melhor ter paz do que ter razão. Quando ela abriu os olhos e contemplou depois de muito tempo aquele homem enorme deitado a seu lado, aos roncos após uma deliciosa experiência sexual, foi que Shirley pode meditar e aceitar a verdade contida nessa frase.

- Oi? – Damião despertou.

- Oi! – Shirley sentia uma vergonha que não cabia nela.

A princípio, ambos não sabiam o que dizer um para o outro, porém, nada que um bom silêncio não resolva.

- Eu também estava morrendo de saudade. – Ramos acariciou seu rosto. – Posso considerar o que houve uma volta?

- Uma possível volta. – completou.

- Quantos por cento de chance disso acontecer?

Ela pôs a mão em sua boca.

- Sem números, delegado. Sem números. Vamos deixar com que as coisas fluam naturalmente.

Damião aproveitou para beija-la na palma da mão.

- E o que faremos enquanto isso?

- Vou lhe mostrar. - Deitou-se em cima dele.

*

Karina e Maiara sempre foram muito mais do que só irmãs. Entre elas há amizade, companheirismo e muita lealdade envolvida. Desde quando sua maninha caçula começou apresentar sinais de fragilidade emocional, Karina a alertou e alertou sua mãe. Aos 20 anos e cursando o terceiro período da faculdade de veterinária, Karina viu a necessidade de auxiliar seus pais – mesmo divorciados – na criação da irmã.

- O que achou das palavras do papai?

Karina parou o que estava fazendo no celular passando a prestar atenção em Maiara deitada no tapete do quarto.

- Eu sempre achei o velho Damião Ramos um bom conselheiro e naquele dia foi mais uma prova do quanto o nosso pai é um homem sábio.

Maiara anuiu.

- E o babaca do Rogério, já te ligou ou mandou mensagem?

- Graças a Deus, não. A fila precisa andar irmãzinha. Um dia eu há de encontrar alguém que valorize essas carnes.

Karina bateu de leve na bunda da irmã.

- E coloca carne nisso.

*

Fuzis, metralhadoras e até granadas. Armados e perigosos. Divididos em cinco veículos os homens de Urso deixaram a garagem de uma empresa de fachada rumo a execução de mais uma ação criminosa. Tudo fora bem organizado, mapeado e cuidadosamente calculado como exigiu o chefe. Fabiana não quer e nem pode falhar. Ela sabe do que seu marido é capaz de fazer com quem falha mais do que ninguém.

- Eles já saíram, senhora. – informou um dos seguranças segurando o rádio.

Seu nervosismo e preocupação são tão grandes que ela não conseguiu responder. Nessa momento Orlando entrou no escritório e deu de cara com uma Fabiana de rosto pálido e olhos arregalados.

- Não tem que se preocupar se houve um bom planejamento. Não é?

- É! – engoliu seco.

- Ótimo! – se serviu de um uísque. – mais de dois milhões em cinco minutos. – ergueu o copo. – um brinde a minha rainha.

 

O carro-forte saiu da via secundária e em alta velocidade pegou a avenida que corta a cidade milagrosamente sem trânsito intenso naquele horário. Quanto menos tempo passar na rua com os valores exorbitantes, melhor.

- Poucos carros na pista. Acho melhor acelerar, não acha? – sugeriu o motorista.

- Muito bom! Vou informar os seguranças. – sacou o rádio. – fala rapaziada, o chefe aqui vai pisar fundo. Como estão as coisas ai?

Não houve resposta.

- Estranho! – franziu a testa. – chamando carro dois.

O motorista olhou pelo retrovisor.

- Não os vejo também.

- Merda! – pegou a calibre doze. – deu alguma merda lá trás...

O carro foi cercado por duas vans, cada uma de um lado e seus ocupantes atiravam sem parar.

- Já era mano. Pare o carro sem reagir. – orientou o carona. Em seguida chamou os seguranças na parte de trás do veiculo. – vocês ai atrás, vamos deixar eles levarem a carga. Fiquem calmos. Certo?

Toda ação teria que ser rápida e limpa, essas foram as a orientações dadas pela chefia. Os outros carros ao verem aquela movimentação aterrorizante na avenida aceleravam ou brecavam, mas na sua grande maioria davam ré causando um verdadeiro pandemônio naquela altura da via. Os quatro pneus do veículo de valores foram atingidos quase causando um capotamento.

- Vamos nessa, rapaziada. – falou o bandido descendo de seu carro e batendo na lataria do carro-forte. – sem resistência, só queremos o dinheiro mesmo.

Pobre do trabalhador. Além de ter que aturar a arrogância do patrão. Além de ser mal remunerado, sofrer pressão por estar lidando com algo de muito valor ele ainda corre o risco de bater de frente com criminosos que não tem nada a perder.

- Deixem as armas ai dentro e saem com às mãos na cabeça.

Os cinco seguranças ainda foram obrigados a descarregar o carro-forte  e a carregar as vans. Tudo isso em tempo recorde.

- “Bora" moleza! – gritou um deles.

Cinco minutos. Tudo ocorreu com ordenou Fabiana. Os homens correram para o acostamento da avenida enquanto que suas armas eram levadas pelo grupo. Assim que se viram fora de perigo eles fizeram contato com a empresa que aciou a polícia.

*

Fabiana é uma mulher vaidosa, por semana ela chega a gastar mais de quinhentos reais num salão de beleza. Ela estava a pinto de estragar a pintura das unhas quando recebeu um ligação a informando sobre o roubo.

- Deu tudo certo, senhora. Agora estamos a caminho do QG.

Respirando um pouco mais aliviada, Fabiana sentou-se no sofá e relaxou.

- Parabéns a todos. Mandaram bem. Guardam todo o dinheiro lá, chegaremos em seguida. – desligou.

Orlando Urso entrou no escritório com as duas mãos no bolso e ao ver a expressão da esposa ele matou a charada.

- Estou um pouco mais rico?

- Sim! Está sim.

 

Todo o prazer e loucura. Toda uma sensação eletrizante circulando por seu corpo bem definido. Com a excitação em seu nível máximo fazendo com que Dinho McLaren sofra espasmos acontece da boa ação feita por uma menina ajoelhada entre suas pernas. Mãos e boca trabalhando maravilhosamente bem.

- Não pare agora. – pediu ofegante.

O clímax foi intenso. Longo, e porque não dizer atrapalhado.

- Uau! – festejou a garota.

- Nossa! Seis minutos. Temos uma recordista aqui.

- Hum! Sério? – disse limpando o rosto.

O celular de McLaren tocou.

- Sim?

- Chefe, o Senhor vai gostar do que eu tenho a dizer.

- Diga!

- Urso acaba de roubar um carro forte com milhões.

 


segunda-feira, 10 de outubro de 2022

Linha Policial - O crime em Guerra - Capítulo 2


 

Linha Policial

O crime em Guerra

Capítulo 2

 

Luzia se encontra mais uma vez diante de uma crise e não só isso. Há um conflito em andamento e no meio dessa onda de violência sem controle está o população que clama por paz. É bem verdade que a polícia vem as duras penas fazendo o trabalho dela como: patrulhamento ostensivo vinte quatro horas. Os pontos mais críticos da cidade foram cobertos, sem falar das buscas chefiadas por Paulo Alves que no momento está invadindo um território hostil. Foi preciso solicitar o auxílio da PM com carros blindados.

- A partir desse ponto todo cuidado é pouco. – alertou um PM.

- Qual a recomendação? – Paulo olhou para ele.

- Voltarmos!

O local é um bairro onde o número de prédios supera o de casas e segundo o sargento da polícia militar, ali quem manda é Orlando Urso.

- Ouvi dizer que há atiradores de Orlando na maioria dos prédios. – o sargento informou.

- Vou solicitar apoio aéreo.

- Chame o exército também, investigador.

Paulo Alves não queria acreditar, mas o militar estava com a razão. Deitado, com os olhos fixados na mira do rifle, um dos homens de Urso observa as viaturas seguindo bairro adentro. Ele tem ordens para atirar, mas preferiu aguardar o melhor momento. Via rádio ele comunica-se com seu superior.

- Estou com uma bela visão aqui. Vou começar a festa.

Careca, moreno escuro, barba bem feita e camisa de mangas compridas azul escuro. Orlando Urso fuma desesperadamente seu cigarro visivelmente irritado. Lógico que ele gostaria de ver o circo pegar fogo, mas ele tem outras prioridades. Queimar gordura com a polícia seria perda de tempo e só ajudaria a piorar ainda mais as coisas.

- Deixe passar. O meu negócio é com o McLaren.

- O senhor quem sabe.

Orlando levantou-se do sofá vermelho sob os olhares temerosos de um de seus guardas costas.

- McLaren pensa que a morte do meu sobrinho vai ficar por isso mesmo. – coçou a barba. – ainda hoje ele terá a resposta.

*

De um lado da mesa, mesa essa onde Damião costumava fazer suas intermináveis refeições, está Maiara, Karina e Shirley e do outro, ele, o ex chefe da família Ramos, tentando encontrar palavras. As três tem muito a dizer, porém aguardam educadamente, segundo recomendou Shirley.

- Filha, estou aqui para o que der e vier, por isso não guarde segredos. Certo?

Maiara deu uma rápida olhada para o lado em direção a sua mãe.

- O que aconteceu? – Damião entrelaçou os dedos.

Shirley finalmente autorizou a fala de sua filha num gesto sutil de cabeça. Depois de engolir seco por duas vezes a menina abriu a boca.

- Eu já não vinha bem de uns tempos pra cá. Na verdade, desde a sua saída de casa.

Damião sentiu o estômago gelar.

- Então resolvi distrair a mente com garotos e...

Shirley pediu a palavra.

- Vá com calma, filha.

- Seguindo... lembra do Marcos? O senhor não ia muito com a cara dele...

- Nem eu! – retrucou Karina.

- Posso continuar?

Damião olhou para a filha mais velha com ar de reprovação.

- Então! Tivemos uma relação intensa e...

- Você quase engravidou. – Shirley olhou para o teto.

- E depois do Marcos eu me lembro que, nada tinha mais sentido pra mim. Foi quando conheci o Rogério. Me apaixonei de verdade por ele e... – voz embargada.

Ramos apertou os olhos.

- Ele fez alguma coisa? Tipo... – Shirley também estava emocionada.

- Ele disse que, eu era uma gatinha, pena que sou gorda. Isso me destruiu. – desabou. – por isso estou bebendo. No álcool eu encontro o caminho para esquecer essa realidade.

Damião Ramos tamborilou os dedos na mesa.

- Tudo bem. E você acha que o álcool vai te levar pra onde se continuar bebendo dessa forma? Saiba de uma coisa, minha filha, esse tal de Rogério NÃO representa nada em sua vida, não é ele quem dita as regras. A vida é sua, só entra nela quem você quer. Tome uma posição.

Maiara limpou às lagrimas.

- Se estereótipos colocasse comida na mesa, se regesse o mundo ou melhor, se resolvesse os problemas do mundo, tudo bem, mas não resolve nada. O que vale é você. Se conheça. Se aceite e vá em frente.

Karina abraçou a irmã.

- Obrigada, pai.

Karina levou a irmã para o quarto e Shirley acompanhou o ex marido até a porta. Ela ainda se encontrava anestesiada e porque não dizer orgulhosa pelas palavras dele dirigidas a sua filha.

- Obrigada por tudo. Obrigada por vir.

- Não tem que me agradecer. Estamos exercendo nosso papel. Me ligue sempre que precisar. – colocou o paletó.

Shirley abriu a porta, parecia querer dizer algo.

- E como vão às coisas no departamento?

Damião olhou para fora.

- Nada bem. Estamos no meio de uma guerra entre gangues rivais, você já deve ter visto nos jornais. Está complicado o negócio.

- Mas você vai conseguir. Sempre conseguiu. Damião Ramos, o nosso xerife, o xerife de Luzia. – colocou a mão em seu ombro.

Eles se olharam.

- Eu já vou indo.

- Tchau!

*

O bar está relativamente lotado. Em plena luz do dia, homens acotovelam-se segurando suas tulipas de chope ou de cerveja, a fim de assistirem a partida de sinuca que acontece na parte da frente do boteco. Cinco deles trazem na cintura pistolas ou até mais de uma.

- Quem ganhar essa vou patrocinar a próxima rodada. – berrou erguendo o copo da bebida gelada.

Ainda sob os brados de alegria uma SUV parou abruptamente na frente do estabelecimento e do veículo preto desceram seis mascarados portando fuzis. Eles invadiram o lugar expulsando os civis. Antes que os alvos pudessem sacar suas armas eles foram executados sem chance de defesa. Houve corre corre, gritaria assim que o grupo deixou o lugar.

Em fuga, a SUV pegou a via principal da cidade. O sujeito que ocupa o banco do carona sacou o celular sentindo o calor que emana de seu armamento.

- Deu tudo certo? – perguntou Orlando.

- Sim! O senhor ainda vai precisar dos nossos serviços?

- Por enquanto é só. – desligou.

*

Paulo e Janaína estão enrolados num edredom trocando beijos longos e molhados. No celular dele toca uma linda canção composta pelo seu artista internacional preferido. “The One” de Elton Jonh é sem dúvida alguma uma de suas melhores músicas já composta. Janaína sente a mão grande do homem de sua vida invadindo sua parte íntima lhe arrancando suspiros. Não há resistência, apenas liberdade e entrega. O policial possui sua namorada calmamente ouvindo bem perto do seu ouvido os seus gemidos. De repente “The One” é interrompida dando lugar o som estridente da chamada. Paulo intensificou seus movimentos tentando acelerar o processo, mas não adiantou. Ele saiu de cima de Janaína bastante ofegante.

- Alves falando.

- Vá para o endereço que irei falar, agora. – Damião falava tão alto que, mesmo não querendo Janaína conseguia ouvir.

- Sim, mais o que aconteceu?

- Orlando Urso ordenou um massacre na zona Leste. Foram cinco homens de McLaren fuzilados a luz do dia dentro de um bar.

Janaína Lopes arregalou os olhos para Paulo Alves que se vestia.

- Jesus! Seguindo para o local.

- Certo! Nos vemos lá.

O zíper da calça foi fechado sob lamentos do policial.

- Vamos continuar logo mais a noite?

- Vou pensar no seu caso, gatão.

*

Um bom líder, antes de tudo é um ser humano. Não há como separar uma coisa da outra. Por mais que você tenha poder e homens a seu dispor lhe protegendo vinte quatro horas por dia e possua um armamento bélico gigante, ainda assim, quando as coisas se tornam difíceis o ser mortal que habita em você gritará mais forte. Dinho McLaren ao tomar conhecimento do massacre ordenado por seu rival, temeu e temeu muito. E pela primeira vez em muito tempo ele sentiu que essa guerra estaria perdida.

- E a polícia? – perguntou a um de seus homens.

- Com certeza já devem estar no local. – respondeu meio que receoso.

- Tudo bem. O certo agora é não perder o controle. – se levantou. – me dêem um tempo. Preciso pensar, isso já está indo longe demais.

- O que faremos enquanto isso, senhor? Orlando Urso já provou que está disposto a jogar pesado...

- Urso é problema meu. Eu sei exatamente o que fazer com alguém que se coloca em meu caminho. Quanto a vocês, sigam trabalhando. E por favor, mantenham o foco o tempo inteiro.

- Entendido, senhor.

*

Damião Ramos olhava os corpos e dentro de si havia uma batalha por dois sentimentos. Um deles é aquela velha máxima: enquanto a guerra for entre eles e não houver nenhum inocente envolvido tudo bem. O outro é: até onde isso pode afetar toda uma cidade? Só quem perde com essa briga é a população. Ele deixou o interior do bar fazendo com que sua cabeça funcione na potência máxima. Alves desceu do carro driblando equipes de reportagens e policiais militares que fazem a segurança do local.

- Sem sobreviventes mesmo, não é? – Paulo media as palavras.

- Exatamente! – colocou as mãos na cintura. – não podemos ser somente recolhedores de corpos. Pedirei ao governador mais apoio. Vou querer homens nosso em cada esquina, não importa o quanto isso custará. O nosso dever a partir de hoje é a prisão de Orlando Urso e McLaren.

*

O dia não foi tão produtivo do jeito que fora planejado, mas foi o suficiente para deixar Orlando inspirado para um drink com sua mulher Fabiana com a noite caindo em Luzia. Ele a serviu cantarolando a música que se tornou a trilha sonora para o seu pedido de casamento há vinte anos.

- Hum! Pelo visto os negócios vão indo de vento em polpa.

- Digamos que sim. – lhe entregou o copo.

- E o merda do McLaren? – torceu o rosto.

Orlando ocupou a outra cadeira.

- Lhe dei uma resposta a altura. – deu um curto gole. – agora ele sabe quem manda nessa cidade. Não há como parar o ataque voraz do Urso. – gargalhou.

- Não estamos indo longe demais com essa guerra? O que pode acontecer daqui pra frente?

- Não fui eu quem começou isso. Meu sobrinho Bruno tinha tudo para suceder os negócios e McLaren tirou isso de mim. Não vou parar enquanto não vê-lo morto.

- E se você for morto, o que será dos negócios?

Orlando colocou o copo no chão e a chamou. Ela sentou-se em seu colo e logo foi sendo acariciada nos cabelos.

- Você será a rainha de Luzia. Absoluta. A senhora Urso. Certo? Agora chega desse baixo astral e vamos relembrar os velhos tempos.

*

Shirley terminou o banho e deixou o banheiro envolvida na toalha bastante pensativa. Desde quando se separou de Damião ela só teve um relacionamento muito breve com um tal de Jorge, um sujeito de cinquenta anos que vivia mais ocupado e preocupado com seu comércio do que com qualquer outra  coisa. Jorge era bonitão, mas tinha sérios problemas com relação a sexo. Ele e Shirley ficaram juntos dois meses e só conseguiram transar somente duas vezes e mesmo assim...

Shirley é ainda muito atraente e gosta bastante de sexo. Prova disso foi que, mesmo Damião sendo bastante gordo e grande, isso nunca foi empecilho para boas e longas noites de amor. Ramos era e ela acredita que ainda possa ser um baita amante na cama. O casamento acabou, porém Shirley ainda trás com ela algum sentimento pelo seu ex e isso se intensificou com o jeito que ele solucionou a crise vivida por Maiara. Um pai de verdade. Um homem de verdade. Inspirada por tudo isso ela pegou o celular e ligou.

- Oi? Shirley, aconteceu alguma coisa?

- Não, não. Está tudo bem. É... você já terminou o plantão? - sentou-se na cama.

- O plantão acabou sim, mas eu ainda me encontro no departamento.

Ela engoliu seco antes de falar.

- Quer vir aqui?

Damião ficou em silêncio.

- Oi! Você ainda está na linha?

- Sim, estou. Chego ai em dez minutos.

 

 

 


segunda-feira, 3 de outubro de 2022

Linha Policial - O crime em Guerra

 


LINHA POLICIAL

O crime em Guerra

 

Foi um final de semana incrível. Depois de muitas investidas e tentativas frustradas, finalmente Bruno conseguiu atingir seu objetivo. Agora ele tem uma namorada e não só isso; uma bela namorada em todos os sentidos. Claro que, para impressionar sua garota ele precisou tirar o escorpião do bolso e não pensar duas vezes antes de leva-la para jantar num dos mais requintados restaurantes de Luzia. Valeu a pena e pra falar a verdade, dinheiro nunca foi problema para ele.

- O que achou da comida?

- Nossa, maravilhosa. – respondeu ruborizada.

- Posso lhe fazer uma pergunta?

- Sim?

- Você sabe de quem eu sou sobrinho, não sabe? – engoliu seco.

- Claro que sei. – abaixou a cabeça olhando para às mãos.

- Era por isso que não aceitava sair comigo antes?

O silêncio da moça respondeu a pergunta.

- Eu não sou como o meu tio. Pode acreditar e não tenho pretensão alguma de ser.

- E se ele um dia lhe colocar na linha de sucessão e...

Bruno a segurou pelas mãos.

- Eu negarei. Por você. Tudo bem?

Meneou sorrindo.

O beijo foi longo, cheio de bons sentimentos e tirou de uma vez por todas tudo o que ainda restava de ressentimentos sobre Bruno. Ele a levou de carro até o portão de sua casa e lá, ainda dentro do veículo trocaram fluídos mais uma vez.

- Me liga assim que chegar em casa, tudo bem? – Laura tinha as bochechas vermelhas.

- Hum, pode deixar.

Um último selinho antes de descer e pronto, Laura estava sã e salva. Bruno pegou seu caminho de volta ainda sentindo na pele a energia deixada por sua garota e para fazer com que o clima perdure, ele ligou o rádio. 700 metros depois um sujeito tenta a duras penas fazer com que sua moto funcione.

- Boa noite, amigão. Precisa de ajuda?

- Acho que sim. Não é falta de combustível então... – falou coçando a cabeça.

- Eu entendo pouco de motocicletas, mas, vamos ver. – desceu do carro.

Bruno acocorou-se para olhar mais de perto quando teve seu crânio perfurado por um disparo de 45 com silenciador.

*

Damião Ramos entrou as pressas em sua sala esbarrando seus cento e cinquenta quilos em tudo que vinha pela frente. O motivo de tanta urgência tinha nome, Shirley, sua ex mulher.

- Oi, alô? – atendeu aos berros o celular.

- Damião. Precisamos conversar.

Pelo tom de voz de Shirley essa conversa não seria nada agradável.

- Alguma coisa com as meninas? – o coração do chefe de polícia batia na garganta.

- Sim! Maiara anda bebendo demais, precisa da nossa ajuda.

- Claro, claro. – trocou o celular de lado. – hoje ainda, tudo bem?

- Tudo bem, quanto mais rápido melhor.

Não houve cerimônias por parte de Shirley ao encerrar a ligação e isso deixou o “Montanha gigante” meio que sem chão. Ela e Damião estão separados a bastante tempo e mesmo assim ele ainda alimenta dentro de si uma falsa ilusão de que a qualquer hora Shirley lhe pedirá para reatar o casamento. Até então isso não aconteceu e Damião sabe mais do que ninguém que nutrir tal sentimento pode lhe causar sérios danos a longo prazo. O melhor a ser feito e deixar essa história de lado e tentar ajudar sua filha caçula da melhor forma possível. Nesse interregno Paulo Alves bateu na porta.

- Entre! – falou gesticulando.

- Lhe vi meio apreensivo. Algum problema?

Damião Ramos não estava afim de responder, tão pouco compartilhar com terceiros seus problemas pessoais.

- Não foi nada. – guardou o telefone. – diga você o que houve.

- Dinho McLaren declarou guerra ao grupo de Orlando Urso  matando o sobrinho do mesmo.

Ramos esfregou o rosto bolachudo, isso é péssimo.

- Aguardando ordens, senhor. – Alves pôs as mãos para trás.

Damião é sim um homem intimidador, imponente, mas no momento encontra-se fragilizado. Isso é visível em seu modo de caminhar até sua mesa. Alves achou melhor não insistir em perguntar sobre o que acontecera.

- Esse caso é seu, Paulo. Peço que fique apenas na observação. Urso e McLaren ainda vão longe nesse conflito e é nosso dever proteger os civis.

- Sim, senhor.

- Reúna toda equipe e os informe sobre o assunto. Estamos de prontidão.

Paulo girou nos calcanhares.

*

Luzia não é tão grande assim, mas de qualquer forma é uma baita cidade. Prédios comerciais e residenciais por toda parte. Possuí um bom número de shoppings, sem falar de galerias, supermercados de nome famosos e escolas técnicas. Como em toda cidade de médio porte, Luzia tem seus problemas e um deles, com certeza é a violência. Grupos criminosos sedentos por domínio de territórios ganham cada vez mais espaços nas páginas dos jornais. Atualmente a gangue de Orlando Urso vem conquistando e avançando não só nas periferias, como também os grandes centros na venda de drogas, roubo de cargas, assaltos a carros fortes e agências bancárias. Claro que isso chamaria atenção de rivais. Dinho McLaren também deseja usufruir desse negócio altamente rentável, mas para se tornar absoluto ele precisa tirar o maioral da jogada.

O escritório de McLaren – ou o que ele chama de escritório – fica num bairro de classe média. Uma casa foi alugada para ser o ponto de encontro e ali elaborar as ações do grupo. Ali também serve como um “parque de diversões” para o chefe. Dinho é ainda muito jovem, tem uma saúde de ferro e possui um apetite sexual quase que incontrolável. Aos trinta anos, Dinho ostenta um shape perfeito coberto por tatuagens de animais e esqueletos. Ele tem verdadeira fixação por caveiras. Expedito Passos não é flor que se cheire, nunca foi. Nunca hesitou antes de puxar o gatilho e executar alguém. Segundo ele mesmo “eu nasci para ser mau".

Em meio a inúmeros telefonemas e negociações com seus parceiros internacionais, Dinho recebeu uma boa notícia. Sua ordem havia sido executada.

- Pronto! Agora é só aguardar o idiota morder a isca. – falou ao celular.

- Espero que saiba o que está fazendo, McLaren. Orlando é ainda dono do território.

- Isso por enquanto, meu caro. O plano é matar pelo menos um por dia até chegarmos nele.

Houve silêncio do outro lado da linha.

- O que aconteceu, o gato comeu sua língua, doutor? – vociferou.

- Matar Orlando Urso? É isso mesmo que você quer? E a polícia?

Dinho levantou-se e se serviu de um uísque.

- Por um acaso o senhor está com medo de Damião Ramos e sua turma? – tomou um gole.

- Não, mas lembre-se, Luzia é uma boa cidade. Temos prefeituras, um governador, deputados, vereadores e um xerife, então...

McLaren já estava ficando de saco cheio daquela conversa.

- Certo, doutor. Deixe a polícia fazer o trabalho dela. Em breve eles comerão na minha mão. Até mais tarde.

Damião Ramos e sua turma é sem dúvida alguma um bom motivo para qualquer criminoso se preocupar. Dinho sabe muito bem disso. Ele terminou de tomar sua bebida e tratou de cuidar dessa parte também, tenho que manter meus olhos nos homens da lei.

*

Em cima da escrivaninha, junto com livros, porta-canetas, cadernos e bibelôs está também a garrafa de Martini sorrindo para Maiara Ramos, filha do chefe de polícia de Luzia. Uma mulher negra linda, de pele perfeita e rosto rechonchudo igual ao do pai. Dizem as más línguas que ela terá o mesmo problema de peso que ele, porém ela luta com unhas e dentes contra isso. A garrafa está pela metade e ela ainda tem o dia inteiro para mata-la. Para sair e comprar outra. Sem hesitação alguma Maiara encheu o copo até a borda e o tomou. Encheu novamente e o tomou sem cerimônias, sem fazer cara feia. Cambaleante a jovem voltou para cama refletindo no que acabara de fazer. O que estou fazendo é perda de tempo. Levantou-se correndo. Pegou a garrafa dispensando o copo. Olhou brevemente para o rótulo e sorriu, talvez isso ajude amenizar a dor. Virou de uma vez só sem perder a respiração.