segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Já Pode Beijar a Noiva


Já Pode Beijar a Noiva


1

      Desde quando foi pedida em noivado até o dia de hoje se passaram dois longos anos. Hoje, nada, nem ninguém vai atrapalhar o tão esperado dia em que Débora entrará pelas portas da catedral para se encontrar com Antônio, seu grande amor, o homem com quem dividirá sua vida. Sim, a vendedora de roupas e universitária colocará um anel no dedo de seu amado selando o que ao longo de cinco anos foi dito por eles. Amor eterno.
        O dia da noiva começou cedo, mais ou menos as seis da manhã com Débora descendo os cinco andares de escadas de seu prédio na zona Oeste para sua habitual corrida de vinte voltas na praça. Loira, alta, olhos verdes, Débora não passa despercebida por ninguém, principalmente pelos homens. Sempre quando corre usando sua roupa de malhação seus ouvidos são poluídos de galanteios que vão desde os mais carinhosos até o mais chulos. Algo normal na vida de uma mulher bonita de corpo e de rosto.
        A primeira missão do dia foi completa, Vinte voltas entorno da praça. Ela volta para o seu apartamento quando recebe uma ligação.
        - Oi? - coloca a toalha e a garrafinha de água em cima da mesa de centro.
       - Oi, bom dia! Estou ligando para agendar a última prova do vestido, pode ser as duas da tarde?
        - Sim, pode. - retira a blusa suada.
        - Certo, está agendado então. Obrigado e tenha um bom dia.
      Ela corre para o banheiro onde mentalmente repassa todo o roteiro desse dia apertado. Manicure, cabeleireiro, última prova do vestido, enfim, uma gama de coisas e pouco tempo para tudo isso. Só de pensar ela já está cansada. Mas e Antônio? O que ele está fazendo nesse exato momento? Dormindo? Provavelmente que não. Com certeza ele já deve está no salão providenciando tudo o que falta. Débora sai do chuveiro enrolada numa toalha minúscula, pega o celular e disca o número de seu futuro marido. Dois toques e Antônio atende ofegante.
        - Oi querida?
        - Oi, bom dia, como passou a noite?
        - Bem, quer dizer, ansioso, pra falar a verdade eu só dormi algumas horas, e você?
        - Eu dormi feito uma pedra, eu quase perco a hora da corrida, acredita?
        - Que bom que descansou, eu já estou aqui no salão resolvendo as coisas, não quero que nada saia errado no nosso grande dia.
        - Eu te amo!
        - Também te amo.
        Hora de passar na manicure. Enquanto se arruma, Débora se recorda de quando sua tia se casou. Foi um dia agitado, estranho, a noiva não parava de falar um instante. Sofia ficava entre dar ordens e gritar ao telefone com seu noivo que sempre deixava as coisas para última hora, tio Mauro sempre foi um homem lerdo, porém um encanto de pessoa. Cinco anos mais tarde uma doença terrível o tirou do convívio de sua família. Foi um baque que quase levou Sofia a loucura. Hoje graças a Deus ela superou a perda e construiu outra família com Otávio, o galã. Ela sai em disparada com o carro sem dá seta, coisa que irrita Antônio que evita deixar que ela conduza o carro.
          - Você ainda vai matar alguém. - ela repete as palavras de seu noivo.

2


       Igreja lotada. O estacionamento e a calçada estão abarrotados de veículos. O padre e o noivo já se encontram no altar. Débora está dez minutos atrasada. Ruborizado, Antônio olha para os convidados e já é possível ouvir burburinhos entre os bancos. Cadê essa mulher? Tia Sofia e seu marido galã conversam baixo.
       - Tinha que ser a Débora mesmo, muito lerda, se fosse eu, a cerimônia já tinha terminado.
       - Calma, Sofia, imprevistos acontecem, ela pode ter pegado um trânsito.
       - Que trânsito que nada, isso se chama lerdeza mesmo.
       - Você fica maravilhosa irritada. - coloca a mão no rosto da esposa.
       - Hum, quer ir ao banheiro comigo?
       - Sofia, quer transar no banheiro de uma igreja?
       - Adoraria, imagina?
       - Contenha-se mulher, quando chegarmos em casa a noite será toda nossa.
     Finalmente Débora aparece na porta da catedral. Luz própria, beleza, magia, tudo isso Débora traz com ela. Uma superprodução. A noiva arranca suspiros de todos ali dentro. Ao som do violino Débora encantadora desfila lentamente até seu amado. Antônio engole seco várias vezes. Seria areia demais para seu caminhãozinho de brinquedo? Logo ele que na época de escola foi considerado o mais sem sal da turma?
       Agora eles estão ali diante do sacerdote que empurra palavras e frases clichês cansando os ouvidos dos presentes. Pra falar a verdade, tanto Antônio como Débora não ouviram nada do que o velho padre disse. Toda aquela atmosfera os envolve deixando o novel casal cego, mudo e surdo. A catedral ficou pequena para tamanha paixão entre os dois. No banco da frente tia Sofia não consegue controlar a emoção. Como ela gostaria que sua irmã estivesse ali para ver a filha se casando, realizando seu sonho.
        - Quer que eu vá buscar água meu anjo?
        - Obrigado.
      Tio Otávio sai de seu lugar e passa por uma pilha de convidados. Bonito, de cabelos começando a ficar grisalhos, Otávio parece ter saído das novelas mexicanas. Ele passa por uma convidada que desde o começo vem o encarando mesmo com o marido ao lado. Ele passa jogando todo seu charme forçando a mulher sorrir para ele. Por mais que Otávio saiba que poderia ter todas as mulheres que quisesse, ele permanece fiel a Sofia, um sujeito honrado.
          No altar a ladainha continua até que por fim o grande momento.
         - Débora Resende, deseja receber Antônio Lima como seu marido?
         - Sim!
         - Antônio Lima, deseja receber Débora Resende como sua legítima esposa?
         - NÃO!
      Como assim? Não! Foi isso mesmo que ele disse? Não? Mas como pode? Eu ouvi mesmo isso, ele disse não? Rapidamente uma confusão se formou e Antônio disparou porta afora deixando uma mulher destruída por fora e por dentro. Até o padre ficou arrasado.
      - Minha filha, tenha calma, ele pode ter surtado, tudo ficará resolvido.
      A vontade era de pedir ao padre que calasse a boca. Débora continua vendo seu noivo indo embora correndo acompanhado por olhares dos convidados. A dúvida é generalizada, ninguém entendeu absolutamente nada do que aconteceu. O buquê é solto, o véu é suspenso e as lágrimas borram a maquiagem que ficou incrível. Tia Sofia corre para ficar ao lado da sobrinha que criou como se fosse filha.
        - Meu anjo, fique firme, a titia está aqui.

3

       A caneca com o restinho de café é colocada ao lado do cinzeiro que acumula pontas de cigarro. Com as mãos trêmulas ela acende mais um. Olhando para a janela naquela tarde de quarta feira, Débora sequer sabe como está o dia lá fora. Sem ânimo, com preguiça e com vontade de morrer, a ex universitária fumou praticamente o dia inteiro. Um mês, exatamente hoje faz um mês que o apocalipse particular aconteceu e desde então a vida de Débora se transformou num amontoado. Ela se transformou em outra pessoa. Engordou alguns quilos. Perdeu um pouco da beleza e adquiriu um rancor do inferno. Sem falar do mal humor. Pois é, um mês. Antônio nunca mais foi visto desde quando saiu correndo da catedral. Aquele desgraçado destruiu a minha vida. Débora lembra que naquela noite o choque foi tão grande que ela não conseguia enxergar nada a sua frente. Tudo o que ela queria era uma resposta. Resposta, ela jamais veio, ela se foi com aquele miserável.
          Usando apenas uma camiseta alguns números a menos e uma calcinha frouxa, Débora se levanta para buscar mais café. Até isso tem sido uma tarefa quase impossível. Ela para diante do espelho e se olha.
           - Horrorosa!
        Tenta fazer um rabo de cavalo, mas não consegue. Xinga e desiste da façanha. A cozinha está um nojo. Há louça de uma semana com resto de comida apodrecendo. Ela enche a caneca de café e mais uma vez passa e para diante do espelho.
        - Bem feito, quem mandou dar para ele antes do casamento? Ele comeu, gostou e se mandou, você é uma tonta mesmo, depois de ouvir tantos conselhos da titia Sofia você caiu na lábia daquele sujeito, bem feito, sua bruxa.
         De repente ela para de conversar com o seu reflexo no espelho. Silêncio. Em seguida o choro vem. Estou ficando louca mesmo. Abandonou tudo, emprego, faculdade, amigas, baladas. De homem ela não quer saber nunca mais, melhor viver sozinha. Ela volta para o sofá, acende mais um cigarro, procura pelo controle da TV e o encontra embaixo dos travesseiros. A TV é ligada justamente numa parte da novela onde os atores estão se beijando. Meu Deus, até quando ficarei sem beijar? Sem fazer amor? Débora continua assistindo a cena, mas sem prestar atenção. Sua cabeça está em outro lugar. Antônio. Aonde estará aquela bicha enrustida? A TV é desligada. Ela procura pelo controle do som e o encontra no chão, embaixo do sofá. A música dançante a envolve e quando dá por si, Débora, que é uma desengonçada se encontra dançando, sozinha em cima do tapete, transpirando aponto dos cabelos colarem na pele pegajosa.
           A playlist acaba. Ela desmorona sorrindo.
           - Sua louca.
       O coração acelerado, as pupilas dilatadas e uma incrível vontade de chorar, sair correndo, se vingar ou, pelo menos, tirar satisfação. Antônio. Minha vontade é de te matar pelo que fez com a minha vida. Em certos momentos ela sente seu apartamento girando. As paredes falam com ela. O mundo de repente se volta contra ela. Débora grita com vontade, um grito gutural. Depois disso, o silêncio. Débora olha para o teto e paredes, tudo está em seu lugar. O silêncio sepulcral é quebrado pelo som de chamada do celular. Mesmo acima do peso ela se levanta rápido. Finalmente a ex vendedora de roupas consegue achar o aparelho que ficou no banheiro. Ao pegar no telefone o visor mostra um número bastante conhecido por ela.
         - ANTÔNIO? 

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

SANGUE a SANGUE



1


Como foi combinado, Raimundo Centelha chega montado em seu cavalo malhado ao local do encontro. Seu desafiante pelo visto ainda não chegou, algo normal para um fora da lei destemido como ele. JP, a pedra no sapato de Raimundo, o homem que vem lhe tirando o sono e se ele não agir logo é capaz do vaqueiro chegar a loucura. JP é um bandido, um vagabundo que merece ser aniquilado e isso se fará hoje, nesse local aberto onde o sol parece está a centímetros de sua cabeça. Um verdadeiro deserto.               Raimundo desce do animal olhando ao redor e tudo que vê o deixa ainda mais desanimado. A vegetação que ainda resiste ao calor brota do chão rachado dando uma sombria sensação ao vaqueiro. Ele confere a munição em seu revólver e depois cospe uma boa quantidade de saliva. O cheiro forte de bosta de boi vez por outra impregna seu nariz fino. Raimundo centelha amarra seu cavalo no que um dia foi uma goiabeira. O suor começa a descer pelas costas molhando sua camisa xadrez vermelha. Seu chapéu preto surrado ajuda a proteger sua cabeça do sol forte. Será que JP vem?

2
Raimundo Centelha

Raimundo é um típico sujeito que resolve tudo na cidade onde mora. Até mesmo o xerife Gomes confia em sua vocação de ser o cara. Forte, possui um rosto marcante quadrado e uma barba grossa sempre por fazer. O vulgo Centelha veio quando ele eliminou sozinho uma turma de índios usando apenas seu revólver. O confronto foi a noite, Raimundo estava escondido, os índios não sabiam de onde vinham os disparos, eles viam apenas as centelhas. Naquela noite Raimundo matou cerca de 15 índios e foi consagrado.
         Raimundo se encantou por Rosa, a mulher dos seios mais fartos da cidade. Rosa é sonho de consumo até mesmo do padre Chiba. Sempre que vai confessar, Rosa é assediada pelo sacerdote. Certa vez, cansada de se cantada, ela marcou um encontro com o pároco num lugar reservado. Achando que teria uma noite de prazer, padre Chiba se perfumou e partiu para o encontro. Chegando lá ele teve uma surpresa. Ao invés da morena de lábios grossos e pele macia, ele encontrou Raimundo espumando de ódio.
- Boa noite, padre Chiba.
        A surra que o padre tomou o deixou sem os dentes da frente. Centelha ainda lhe quebrou um braço e ordenou que o mesmo fosse embora da cidade naquela mesma noite.
- Não quero ver essa sua cara amarela nunca mais, certo?
    Raimundo Centelha, o homem que conquistou o coração da mulher mais maravilhosa do velho oeste. Em todos os encontros o vaqueiro se fartava fazendo dos seios de Rosa o seu parque de diversão. Nenhum homem se quer ousava em olhar para Rosa, todos sabem que ela era exclusividade de Raimundo.

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JP o forasteiro

          Certa manhã chega na cidade um misterioso homem que tem o rosto coberto por uma máscara ninja e um chapéu marrom. Nas costas uma espada samurai. Seu cavalo-branco o qual ele o chama de avalanche o conduz até o salão mais frequentado do vilarejo. Ele desce do animal e adentra ao estabelecimento. Lá dentro a conversa alta e as risadas cessam com a chegada do ninja. Ele se dirige até o balcão e faz seu pedido.
- Uma cerveja, por favor.
        O dono do salão enxuga suas mãos no avental e olha para o estranho.
- O senhor tem a bondade de tirar a máscara, por favor.
- Por que devo tirar minha máscara?
- Não é educado entrar num local fechado usando máscara. - volta a enxugar as mãos no avental.
- Quer dizer que se eu não tirar minha máscara, não serei servido?
- Justamente.
- Onde está escrito isso, me mostra.
        Houve um silêncio incomodo. Um homem que fuma seu charuto no canto do salão se levanta e caminha na direção do ninja.
- Qual o seu nome?
- Quem quer saber? - o ninja se afasta do balcão.
- Meu nome é Tiago e quero saber o seu nome antes de lhe matar. - toca com o dedo no peito do estranho.
- Bom, sendo assim, me chamem apenas de JP, tudo bem?
- Muito bem, JP, agora caia fora do salão, melhor, vá embora da cidade.
- E a minha cerveja?
- Ele não vende bebida alcoólica aqui, se manda seu ninja desgraçado.
- Opa, cuidado com as ofensas.
Tiago se prepara para sacar sua arma quando JP o acerta no rosto com um forte soco. Tiago cai em cima da mesa segurando seu nariz que foi quebrado.
- Matem esse desgraçado. - grita Tiago.
       Um homem alto e magro quebra uma garrafa e tenta acertar o estranho, mas é atingido no rosto por um chute. Em seguida todos os frequentadores do salão estão atrás de JP que vai derrubando um por um de seus adversários. O dono do salão vendo que um só homem liquidou cerca de vinte, resolveu lhe servir a cerveja.
- É por conta da casa. - diz tremendo.

4
JP e Rosa

Já havia se passado uma semana do acontecido no salão e JP se tornou uma lenda naquela cidade. Ele estava dando banho em seu cavalo Avalanche quando seus olhos negros contemplaram os seios de uma morena que descia de uma carruagem. O banho do animal teve que esperar. Rosa por sua vez gostou de ser paquerada pelo mascarado misterioso. Ela foi passando e jogando toda sua sensualidade.
- Tire os olhos dessa mulher, se quiser continuar vivo. - disse um menino negro e raquítico.
- O que?
- Ela pertence a Raimundo Centelha. Toma, tá aqui sua comida, são 13 reais.
- Trouxe o que eu lhe pedi, da última vez você me trouxe frango com quiabo, eu odeio quiabo.
- Tá tudo certo, contrafilé e fritas, pode ver.
         O ninja confere.
- Beleza. - enterra a mão no bolso de trás e puxa um monte de moedas. - dez, onze, doze, treze, certinho, agora vaza.
- Siga meu conselho seu JP, esqueça a dona Rosa.
- Ah, então o nome dela é Rosa, obrigado Mandela, você me prestou um favorzão.
- Eu avisei. - Mandela vai embora.
        Rosa ficou na mente e no coração do vaqueiro ninja. Depois de um certo tempo ele foi até a casa da donzela e tocou em sua janela. Rosa apareceu vestindo uma roupa de dormir tentadora que valorizou seu busto chamativo.
- Boa noite cavalheiro.
- Boa noite, Rosa, vim lhe convidar para um passeio noturno em meu cavalo Avalanche.
- Creio que já passa da meia-noite, e eu sou comprometida.
- Eu não tenho ciúmes.
          Rosa sorrir gostando da piadinha do mascarado.
- E além do mais, como vou sair com um homem que não mostra o rosto.
- Se eu lhe mostrar o meu rosto, promete sair comigo?
- Posso pensar.
- Sim ou não?
         Rosa pensa e olha para dentro de seu quarto.
- Certo.
        JP retira devagar sua máscara ninja revelando seu rosto. Mais que rápido ele volta cobri-lo.
- Então, posso entrar em seu quarto?
- Claro que não, como falei, sou comprometida e você não faz o meu tipo.
      JP abaixa a cabeça e antes que Rosa pudesse fecha a janela ele a acerta com uma estrela que crava em sua testa. A mulher cai, parte do seu corpo fica pra fora da casa.
- Ninguém vê o rosto de JP e fica vivo, nem mesmo uma gostosa como Rosa.

5
O funeral

Choro, lamento e muitos desmaios, assim ficou marcado o sepultamento da mulher mais bela da cidade. Segurando uma flor, Raimundo observa o caixão levando sua amada para apodrecer. Ele joga a flor na cova e promete vingança. O pastor toca em seu ombro.
- Raimundo, a palavra diz que a vingança pertence a Deus.
- Deus não tinha uma mulher feito Rosa, pastor, se tivesse a conversa seria outra. Eu vou matar JP, um tiro e nada mais.
       Rosa é sepultada. Raimundo se lembra dos beijos, das risadas, dos carinhos e principalmente dos seios. Tudo acabado. Fim de história. Rosa agora faz parte do passado. Raimundo Centelha sai do cemitério disposto a se vingar. Ele vai até o salão e pede além de um copo duplo de cana, um papel e uma caneta. Ele escreve rapidamente, seu merda, te espero no deserto ao meio dia de amanhã para acertarmos nossas contas. Ele toma de uma vez a cachaça.
- Bigode, entregue esse bilhete ao miserável do JP.

6
O acerto de contas

Realmente JP está demorando e isso causa uma certa irritação ao vaqueiro. Ele cospe e retira o chapéu para limpar o suor da testa. Se abana quando vê o ninja vindo em seu cavalo. Raimundo coloca a mão no coldre e tranca os dentes. JP desce de Avalanche.
- Me desculpe o atraso, permita-me dizer algo antes de nos matarmos?
- O que? - rosna.
- Sei que errei, acabei com o grande amor de sua vida, mas pense, te livrei de um terrível mal.
- Que conversa é essa?
- Veja bem, sei que você pretendia se casar com Rosa, não é mesmo? - JP para de andar.
- Sim. - volta a rosnar.
- Cara, Rosa seria um pé no saco, todas as mulheres são assim, no início elas são demais, fazem sexo todos os dias, mas depois já era, ela não ira permitir que você se encontrasse com seus amigos para uma cerveja, ou seja, o grande Raimundo centelha se tornaria um chefe de família arruinado, você deveria me agradecer.
- Por que a matou? - diz com os olhos marejados.
- Ela me prometeu algo, algo que ela não cumpriria e…
- E? - tranca os dentes.
- Ela viu o meu rosto, ninguém vê o rosto de JP e vive.
- Vou ver o seu rosto e garanto que vou viver, quer apostar.
- Como quiser.
         Raimundo saca o revólver e atira e não acerta. JP retira a espada e corre na direção do vaqueiro. Mais um tiro que passa em branco. JP corta o braço do homem que ao ver o ferimento enlouquece de raiva. Raimundo parte pra cima do adversário e recebe outro corte. O sangue já começa a manchar o chão rachado e as forças do caubói parece querer abandoná-lo. Mais uma tentativa de acertar o ninja e tudo que Centelha encontra é um corte nas costas.
- Ai, meu Deus. - cai gritando.
- Já basta pra você? - JP ergue a espada.
           Um escorpião sobe pela pata traseira de Avalanche que tenta espantá-lo com seu rabo. O bicho crava sua pressa no lombo do animal que relincha. Ao ouvir seu cavalo relinchando JP se distrai e Raimundo vê uma rica oportunidade de atacá-lo. Raimundo se levanta, passa uma rasteira e retira a espada do ninja. JP ainda tenta reagir, mas o vaqueiro é mais forte. O soco de Centelha faz o ninja rodopiar. A espada entra no abdome até aparecer do outro lado nas costas. Eles se olham. Raimundo retira o chapéu e logo em seguida a máscara de seu oponente.
- Padre Chiba?
- Eu mesmo, desgraçado. - diz cuspindo sangue. - você venceu outra vez. E eu, na tentativa de me vingar, acabei perdendo. Me mate, senão voltarei.
           Raimundo puxa a espada e o esguicho de sangue suja sua roupa. Padre Chiba cai e sem pensar muito Centelha dá, um, dois, três, quatro, cinco, seis tiros, todos no rosto do antigo ninja.
- Morre miserável. - cospe.
           Avalanche o cavalo já sente os efeitos da picada e se deita. Raimundo caminha até o pobre animal.
- Pode deixar, eu cuidarei de você, agora fique tranquilo. - alisa o focinho do bicho.


Fim