terça-feira, 27 de dezembro de 2016

ASAS de FOGO



    Dhor aterrissa com força sobre um demônio esfacelando seu crânio, espalhando massa rosada pelo solo. Suas asas em chama iluminam todo o ambiante. Do meio da escuridão surge mais e mais demônios que rosnam com suas garras em riste. A espada é sacada, Dhor se prepara para o combate desigual. Dois seres das trevas avançam pelo ar com fúria. Segurando a arma branca com as duas mãos, Dhor golpeia um deles na perna. O mesmo cai segurando a ferida. O outro insiste em atacá-lo. O guerreiro de asas de fogo o atravessa no peito. O bicho solta um grunhido gutural. Menos dois. Antes que pudesse se recuperar do ferimento na perna, Dhor o acerta na cabeça.
Outros dois demônios aparecem golpeando Dhor que perde o equilíbrio. Um deles chuta o peito do guerreiro que perde também o fôlego. O outro se aproveita da situação e o soca no rosto. Dhor volta ao chão furioso. Chega de gracinha, hora de destruir esses animais das trevas. Se apoiando com a espada, Dhor se levanta. Olha para os dois cerrando os punhos.
       - Venham!
     Imediatamente os bichos voam pra cima. Dhor aplica um direto no rosto do primeiro que perde o controle do voo e cai feio. Asas de fogo se esquiva do outro. Segurando o rosto, o primeiro ainda tenta mais um ataque, mas seu oponente está atento e o golpeia mais uma vez. O punho de Dhor acerta com força o maxilar do demônio que gira no ar e bate com violência no chão. Se voltando para o outro, Dhor voa com a espada em punho e o corta no braço. Com o membro pendurado, o ser corre espalhando seu sangue. Dhor o alcança e termina com seu sofrimento enterrando sua arma afiada nas costas.
      - Argh!
     Dhor pousa e observa o estrago que fez. Vendo que o outro demônio ainda vive, ele anda até próximo do corpo e chuta sua cabeça dando fim a miserável vida do ser. De repente parece que o tempo parou. Um tremor acontece. Dhor olha ao redor e não vê nada.
      - O que foi, não consegue me ver? - a voz é debochada e Dhor sabe de quem é.
      - Seja homem e apareça de vez.
      - Você destruiu quatro dos meus homens, Dhor, isso não ficará barato.
      - Apareça, seu desgraçado. - ergue a espada. - venha me enfrentar.
Do meio das sombras um ser de pele escura aparece. Seus olhos puxados e amarelos fixam o guerreiro.
    - Vamos com calma, asas de fogo, com tem tanta certeza de que irá me derrotar. - saca uma lança.
   - Gente como você não pode permanecer vivo. - corre na direção do bicho que também se prepara para o combate.
     - Ótimo, vamos começar a discutir a relação.

   As duas armas se chocam arrancando fagulhas das lâminas. Enquanto lutam, os rosnados e grunhidos acontecem ao mesmo tempo, numa mistura de ódio e força.     

terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Realidade ZUMBI



   Acordar cedo nunca foi o forte de Carlos. O relógio que fica em cima do criado-mudo marca 05:00 e ele praticamente se arrasta até o chuveiro. Segunda feira é um dia cruel. Carlos ainda tem na boca o gosto do rum. Ao voltar para quarto ele olha para a cama onde sua nova namorada dorme seminua. Amanda ronca pesadamente. Por um instante ele sente uma ligeira inveja dela. Como ele gostaria de poder voltar para a cama e logo pela manhã fazer amor com ela. Carlos boceja e vai para o banheiro.
Dentro do carro, para espantar o sono ele coloca um CD de rock pesado quase que no último volume. Hora de pegar a estrada e trabalhar. Como toda manhã na maioria das cidades existe o infernal congestionamento. Carlos soca o volante várias vezes ao ver o número de carros parado. A lentidão do trânsito é de tirar qualquer um do sério, ainda mais alguém como Carlos.
Ele desiste do rock e sintoniza na rádio.
    - A misteriosa febre que vem assombrando parte da população mundial fez mais uma vítima. - Carlos balança a cabeça negativamente. - as autoridades tentam buscar uma solução para o mal.

    Carlos chega ao I.M.L quinze minutos depois do horário. Ainda dentro do carro ele coloca seu jaleco meio encardido e desce. Na porta ele passa quase que esbarrando nas pessoas que aguardam.
     - Com licença.
Em sua sala ele joga as chaves na mesa, pega sua prancheta e sai. Ele anda pelo corredor até chegar a sala de sua assistente, Letícia.
    - Alguma coisa pra mim? - surge na porta.
    - Sim, um homem, morreu a mais ou menos cinco horas.
    - Vou dar uma olhada. - para e repara na moça negra de cabelo natural.
    - Algum problema, doutor Carlos?
    - Nada, nenhum. - sai batendo a porta.
   Carlos puxa a gaveta e lá está o corpo. Um homem mediano, pele branca, cabelos negros e lisos, boa pinta. Carlos verifica a ficha. Volta a olhar para o corpo. O doutor abre os olhos do morto e as pupilas estão apagadas. Hora de descobrir a causa da morte desse sujeito. Carlos coloca os óculos de proteção e começa a riscar o tórax do defunto com o piloto.

Letícia sai de sua sala e anda em direção a sala de autópsia quando de repente ela escuta um grito gutural.
     - Doutor Carlos! - vocifera e sai correndo.



Fim

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Oração



A porta do quarto se abre. A luz do corredor invade o cômodo que nos últimos dias vem sendo palco de clamores e prantos. Ela entra e não acende a luz. Seus passos fracos arrastam o chinelo preso ao pé até próximo da cama. Ela contempla a cama vazia. O relógio na parede marca vinte e duas horas, o mesmo horário em que seu marido gostava de se deitar. Agora ele não está ali. Uma lágrima escorre de seu rosto envelhecido e molha suas mãos. Sua respiração é pesada e cheia de sentimentos. Suas forças estão a abandonando aos poucos. Ela se ajoelha e entrelaça os dedos. O balbucio inicial indica que as palavras estão fugindo e ela não sabe mais o que dizer.
- Senhor…
Ela continua lá, ajoelhada, prostrada, indefesa, vulnerável. Lá fora a noite vai chegando ao seu ápice e dentro do quarto o clima lúgubre é quase palpável. Mais uma vez as palavras não chegam a boca.
- Senhor…
Na porta do quarto alguém a observa com seus olhos vivos. As mãos unidas e inertes aguardam o que acontecerá. A poucos metros dali ela permanece ajoelhada tentando articular. Sua mente está cansada, saturada e aos poucos o sono a vai dominando. Ela abre os olhos e ergue a cabeça, finalmente as palavras saem em meio ao choro.
- Senhor, quero meu amado de volta. - a pessoa parada perto da porta franze a testa. - eu o quero aqui, comigo, não suportarei viver sem ele, será doloroso demais, eu, eu o amo, foi o Senhor quem o me deu. Preciso dele, por favor, Deus, por favor, eu imploro, mas, que seja feita a sua vontade e não a minha, eu lhe peço isso em nome de seu filho, Jesus Cristo, amém. - ela volta a chorar e fica ali por alguns minutos. A pessoa sai do quarto silenciosamente.

O REINO

A pessoa que estava no quarto caminha com pressa trazendo na mão direita um papel. Ele chega diante de uma luz forte e se ajoelha.
- Grandioso, trago da terra um clamor.
- Sim, é de meu conhecimento. - a voz que vem da luz é alta e forte.
- Janete clama pelo marido que se encontra doente, segundo ela, seria impossível viver sem ele, Poderoso.
A luz fica ainda mais forte e muda o seu tom de cor para o azul.
- Vi as lágrimas dela, senti a dor de seu coração e sei que ela fala a verdade. Vá até o lugar onde ele se encontra e fique lá até o final. Vou conceder o pedido do coração dela.
- Louvor e honra a ti, Senhor!

HOSPITAL

Mãe, filhos e netos esperam na recepção. Janete se encontra com os olhos inchados e úmidos. Abraçado a mãe, o filho mais velho morde o lábio inferior olhando para a porta. A espera é torturante e machuca bastante.
- Calma, mãe, o pai vai sair dessa. - aperta firme a mão da mãe.
- Em nome de Jesus.
A porta abre e os corações palpitam mais rápidos. O médico aparece olhando para Janete e os outros.
- Vamos conversar.
Janete é conduzida até a sala do doutor em silêncio. Chegando lá ela é a única a sentar.
- Bom, como eu havia falado, o risco da cirurgia era grande e seu marido tinha sérias chances de vir a óbito ainda na mesa. - o médico faz um terrível pausa. - bom, o senhor Ademar resistiu a intervenção e passa bem.
De repente aquela minúscula sala fria se transformou num tipo de templo onde os presentes glorificam. Janete na mesma hora agradece a Deus e também ao doutor.
- Obrigado, muito obrigado, doutor Jeremias.
- Que nada, fiz apenas o que tinha que ser feito. - se levanta. - com licença, vou dar uma olhada nos outros pacientes, mais uma vez parabéns.
Janete é abraçada pelos filhos e ao mesmo tempo ela glorifica a Deus pelo feito.
- Obrigado Senhor, muito obrigado!
A pessoa que estava no quarto de Janete na noite anterior, deixa o centro cirúrgico, passa pelo doutor Jeremias e sorrir para ele. O médico passa sem tomar conhecimento. O ser, antes de sair do hospital ainda olha para a família que comemora no corredor. Ele passa pela recepção e observa um homem angustiado e espera um pouco. Falando baixo o rapaz diz.
- Nos ajude Deus nessa hora. - o ser se posiciona ao lado do rapaz.

FIM



quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Contos para a madrugada (série completa)



Zumbis




          O mundo nunca mais foi o mesmo desde quando o primeiro defunto se levantou de seu leito lúgubre e passou a caminhar errante entre os vivos. Seria isso uma maldição ou obra de homens ambiciosos? Isso ninguém sabe. Tudo o que sabemos é que os mortos vivos estão por toda a parte levando terror e desespero aos seres viventes desprotegidos. Zumbis, é assim que são chamados os defuntos andantes, cadáveres devoradores.
           Ela foi sepultada á um pouco mais de um mês. Sua morte foi lenta e dolorosa. Ela não queria morrer, lutou contra isso até suas forças se esvaírem. Ela não queria morrer, porém seu coração desejava ardentemente se livrar da dor que o castigava. No seu ultimo dia de vida ela ainda fez uma belíssima declaração de amor a vida antes do carro perder a direção e se chocar contra outro de frente. Presa nas ferragens, ela pediu para que os bombeiros a salvasse. Isso não aconteceu. Seu coração explodiu derramando sua vida no asfalto negro. Ela não queria morrer.
           Agora ela anda por aquela mesma estrada. Os olhos amarelos e a boca aberta de onde escorre um líquido denso esverdeado, o que seria aquilo? Pois é, ela agora é uma zumbi, uma morta viva que tras com ela o pânico. Enquanto seus pés se arrastam pelo asfalto, pedaços de seu corpo apodrecido vão desenhando e riscando com carne e sangue repugnante. Fora o odor que contamina todo o espaço ocupado por ela.
           Alguém a vê se arrastando pela estrada:
            - Cuidado, zumbi. – diz um homem vestido com uma espécie de macacão branco, máscara cirúrgica e touca.
            - Seu estado é caótico senhor, ela está caindo aos pedaços. – diz outro vestido da mesma forma.
            - Tudo bem, tentar amarrá-la seria trabalho jogado fora, seu corpo não resistiria ás cordas, se romperia.
            - O jeito é eliminá-la aqui mesmo.
            - Ótimo, me passe o facão.
            Claro que ele teme pela reação da zumbi. Por mais que ele já tenha feito isso diversas vezes, esses bichos são imprevisíveis demais. Ela ao sentir a aproximação do homem, seus grunhidos aumentam e com seus braços finos e esburacados de feridas tentam tocá-lo. Com uma certa habilidade o homem corta primeiro os membros superiores. O sangue negro respinga sujando o macacão outrora branco. A zumbi não toma conhecimento e ainda assim parte pra cima. O outro sujeito vendo a dificuldade de seu parceiro, saca seu rabo de galo e acerta em cheio a cabeça da zumbi que desaba como fruta podre.
           - Pronto, essa não incomoda mais ninguém.
           - Vamos levá-la para o laboratório senhor?
           - Não, deixe que os urubus cuidarão dela.
           O corpo podre volta ao seu estado horizontal. O crânio dividido e os braços decepados. E como o cientista mesmo falou os urubus cuidaram mesmo dela.

Um mês antes
           Letícia Barbosa ergue a lata de cerveja junto com os amigos na praça de alimentação do shopping comemorando seus 30 anos de existência e gostosura:
           - Um brinde a vida! – todos fazem coro a ela.

Fim


Contos para a madrugada
Fantasmas


           Para que usar a porta se ele pode atravessá-la. Desde quando voltou do abismo o espírito de Sergio vagou pelo mundo dos vivos até encontrar sua casa. Falecido á vinte anos, Sergio se perdeu nesse novo mundo. Agora ele achou sua casa, seu antigo lar. Tudo está no mais absurdo silêncio e escuro. Ele flutua até a cozinha e vê a pia coberta de louça – relaxada como sempre – flutua mais um pouco até a sala, tudo em ordem. Olha para as escadas e resolve ir até os quartos.
           Uma das portas está entre aberta e Sergio entra. Enrolado nos lençóis está seu filho mais novo, Gustavo:
            - Gugu, você cresceu, já é um homem. – fala baixinho. Em seguida uma lembrança o faz chorar. – pra que falar baixo? Ele não pode me ouvir.
            Sergio sai do quarto e vai até o outro que tem a porta trancada. Mais uma vez ele usa sua capacidade de atravessar. Se estivesse vivo, com certeza morreria com a cena que vê no quarto de sua filha mais velha:
            - Bianca?
            Bianca enrolada no edredom com um sujeito. Eles transam como loucos.
            - Minha filha, mais como, e sua mãe? Pare!
            Não adianta. Bianca não para, não o escuta. Que desgosto. Sergio não consegue chorar. Em meio aos gemidos da filha ele abandona o quarto e se dirige ao seu quarto onde repousa sua amada. Como as coisas mudaram desde quando ele desencarnou. Devagar ele flutua e atravessa as paredes. Outro baque. Maria, com que foi casado por vinte anos deitada entre os braços de um homem que não é ele, quem é esse cara?
            - Maria, minha flor, me traíste? Não, com certeza não, você deu sequencia a sua vida, merecia ser feliz.  – ele ainda permanece ali olhando até que um sino toca. Hora de voltar, deixar os vivos viverem suas vidas. Como mágica Sergio desaparece. Maria desperta:
            - Sergio! – seu marido também acorda com o grito.
            - O que foi amor?
            - Tive um sonho com meu finado marido, ele estava ali, observando a gente, Osvaldo.
            - Foi só um sonho querida, volte a dormir.
            Maria se recosta no peito de Osvaldo sentindo o cheiro do Musk que Sergio usava.

Fim

        
Contos para a madrugada
Vampiros


           Entre espasmos e tentativas de se livrar das garras da criatura, a vítima é sugada pela jugular até a ultima gota. O vampiro não hesita em se deliciar com seu sangue quente e fresco. Em poucos minutos a primeira vítima da noite está morta. Ele ainda tem fome, olha para o corpo sem vida no chão e observa os orifícios no pescoço ainda escapando um fio de sangue.
           Vampiros, quem são eles? De onde vieram? Para onde vão? Uma praga infernal. Sobrevoando a floresta ele com seus olhos de águia consegue identificar mais um vítima medrosa. Mais sangue. Como uma ave de rapina ele captura sua pressa cravando seus caninos na jugular:
            - Socorro!
            O vampiro com uma fome voraz vai sugando até sentir a vida do pobre homem indo embora. Suga até a ultima gota. O corpo cai. O vampiro limpa com a manga comprida o sangue que escorre de sua boca. Fome saciada? Acho que não!
             De repente uma dor o faz curvar. O que será isso. Ao olhar para seu peito, uma flecha penetrou em sua carne fria, gélida. Ainda entorpecido pela dor ele consegue ver escondido no meio da mata um caçador, ou melhor caçadores, que inferno. Uma armadilha, seria isso?
             Mais uma flecha acerta seu peito e seu grito é estridente. Quanta dor.
              - Vamos, ele não tem saída.
              O vampiro está cercado. Humanos miseráveis. Será esse seu fim? Um caçador com chapéu de caubói sai do meio do mato apontando sua arma para a cabeça do animal da noite:
             - Não tente fugir seu desgraçado, sua vida acaba aqui.
             - NÃO!
             O vampiro abre os braços e aciona suas unhas e pressas se transformando numa criatura horripilante. O caçador atira duas vezes, o peito do vampiro explode espalhando sangue por toda a parte. Outros homens também saem de seus esconderijos e atiram fazendo do corpo do noturno uma peneira ambulante.
              - Vamos acabar de vez com essa raça de demônios. – grita o líder dos caçadores.
              Em poucos minutos o que era uma ameaça, se transformou num monte de cinzas:
              - Nossa que cheiro horrível. – diz um jovem caçador.
              - Vai se acostumando ainda há muitos por ia.
              Eles não sabem, mais o líder está certo. Vindo na direção deles uma nuvem de noturnos cobre o céu tornando a noite ainda mais densa.

Fim






Contos para a madrugada
Lobisomem



         Nada como uma bela manhã de segunda e um corpo cambaleante de ressaca. Esse é o estado do xerife Paiva da pequena cidade do interior do país. Debruçado em sua mesa ele não escuta quando sua fiel secretária chega lhe trazendo um café mais amargo que sua própria vida numa xícara minúscula:
          - Xerife Paiva, o seu café sem açúcar como o senhor pediu.
          Ainda sonolento e salivando pelo canto da boca, o responsável por manter a ordem na cidade se ergue na cadeira. Sua mão treme, mesmo assim ele consegue segurar a xícara com o líquido fumegante.
          - Alguma ocorrência? – pergunta ele.
          - Mais uma vítima. – Paiva faz uma careta ao provar o café.
          - Ele atacou outra vez?
          - Sim, dessa vez uma mulher de 35 anos.
          Assoprando o café e se levantando, Paiva pega seu chapéu e sua arma.
          - Chame Justino, diga a ele que o espero no bar do Bento.
          - Vai beber mais uma? – pergunta a mulher baixinha e gordinha.
          - O que a senhora tem a ver com isso dona Flor?
          - Nada seu xerife.
          - Pois então vá fazer o que lhe mandei.

          Justino é o seu auxiliar, alto e magro, o rapaz não leva muito jeito para ser o substituto de Paiva. Mesmo assim o velho xerife acredita que Justino dará conta do recado quando finalmente ele gozar de sua aposentadoria.
          - O senhor me chamou xerife?
          - Sim, o bicho atacou outra vez, temos que pegá-lo.
          - Montaremos uma força tarefa?
          - Não, pelo que eu saiba lobisomem é homem durante o dia e em noites de lua cheia ele se transforma, temos que descobrir quem é esse bicho durante o dia.
          - Como faremos isso senhor?
          - Venha comigo.

           No necrotério da cidade, na realidade uma casa improvisada, Justino e Paiva interrompem o trabalho do legista Garcia.
            - Diga ai xerife, veio dar uma olhada no corpo?
            - Não, vim beijar sua mãe, claro que vim ver o corpo.
            - Calma xerife. – Garcia se afasta da mesa onde repousa o corpo da mulher. – lhes apresento a senhora Mara, morta por uma bela e poderosa mordida de um lobo, ou algo parecido.
            - Caramba, acabou com o pescoço e parte das pernas. – comenta Justino.
            Paiva anota tudo em seu bloquinho.
            - Em que mais posso ser útil xerife?
            - Nada, fique de boca fechada. – Paiva se vira para Justino. – onde o corpo foi encontrado?
            Justino coça o queixo.
            - Na estrada próximo de sua casa. – aponta para o cadáver.
          - Vamos até lá.

          No local ainda há manchas de sangue e pedaços de tecido. Paiva e Justino recolhem tudo. Ela é a quarta vítima do ataque do lobisomem.
          - Bom, ela vestia saia vermelha e blusa branca, ótimo. – Paiva guarda tudo num envelope. – vamos voltar ao necrotério.
          Enquanto Justino dirige rumo ao necrotério Paiva fala sozinho, ou com seus botões.
          - Já tem algo em mente xerife?
          - Acho que sim, veja, ela saiu de casa antes das seis da noite pelas informações, foi à vendinha e comprou fubá, já estava subindo a rua quando foi surpreendida pelo bicho que a devorou. O lobisomem mora desse lado da cidade, eu tenho certeza.

          Paiva e Justino entram na sala onde Garcia escreve algo na prancheta.
           - Estamos de volta Garcia.  – diz Paiva.
           - Grande xerife, o que mandas outra vez. – Garcia rir alto. Paiva faz uma careta.
           - Ou você comeu merda ou continua com o péssimo habito de não escovar os dentes, Garcia, que bafo miserável.
           Constrangido Garcia tapa a boca com uma das mãos e vai até o espelho. Ele verifica se há sujeira nos dentes e seu semblante se fecha. Paiva saca sua arma tranquilamente:
            - Como pode devorar a pobre moça Garcia, ou devo chamá-lo de lobisomem. Você vem comigo.
            Ainda confuso e dirigindo, Justino pergunta a Paiva como ele descobriu que Garcia era o tal lobisomem.
             - Foi fácil demais, quando chegamos pela primeira vez ao necrotério, Garcia sorriu para nós e notei que além dos dentes amarelados havia neles fiapos de linha vermelha, do mesmo tecido da saia da moça devorada, por isso que fiz questão de voltar à cena do crime para não cometer injustiça, entendeu futuro xerife?
             - O senhor é mesmo fera xerife Paiva.

Fim


Contos para a madrugada
Espíritos negros


         Hesitante ele demora alguns minutos para chegar ao terraço. Seu terno cinza e sapatos lustrosos denunciam seu padrão de vida. O mundo dos negócios tirou dele o convívio da família, parentes e amigos. Hoje o seu único amigo é o dinheiro e a fama. Alves cresceu muito no ramo de transportes coletivos. É dono de uma das maiores empresas de ônibus do estado.
         Agora Alves sobe as escadas se segurando no corre mão com força. Ele para e olha para trás – por quê não subi de elevador? – tarde demais. Agora resta apenas um andar para chegar ao terraço.
         A vista é maravilhosa, encantadora. Alves para e respira fundo. O empresário já esteve ali á alguns meses. Pra falar a verdade passou a noite ali com a amante se enchendo de vinho e conhaque, pra não falar em cocaína e outras drogas. Ele afrouxa a gravata e se aproxima do beiral. Que manhã linda. Mais uma vez ele olha para trás, parece esperar por alguém e esse alguém surge no vão da escada:
         - Decisão tomada Alves?
         - Sim. – responde um pouco hesitante.
         - Então faça. – a pessoa também se aproxima do beiral.
         - Pode deixar.
         Sem dificuldade Alves sobe no beiral de proteção e abre os braços. A pessoa sorrir.
         - Isso, rumo à liberdade, sem problemas, sem dividas.
         Alves fecha os olhos e uma única lágrima escorre no olho direito. A pessoa se irrita.
         - Como assim? Você e quer voltar atrás?
         - Não, claro que não.
         Alves se prepara para pular quando outra pessoa surge no vão da escada.
         - Carlos? – grita Lucia. – o que faz aqui em cima sozinho, alias, o que faz ai em cima do beiral, quer se matar por um acaso?
         - Diga o que você quer Lucia.
         - Você tem uma reunião importante agora pela manhã com seus fornecedores, todos lhes esperam.
         Alves bufa e olha para a pessoa a seu lado.
         - Diga a eles que já estou indo.
         Lucia se ausenta e Alves olha ao redor e a pessoa já não está mais ali.

         Depois da reunião Alves descobriu que deve além daquilo que pensava. Trancado no banheiro e sentado no vaso sanitário ele alisa a calvície . Ao olhar para o box ele vê a pessoa de braços cruzados.
         - Então, você não vai suportar tanta pressão, o que lhe resta fazer então?
         - O que me sugere então?
         - Na gaveta tem uma lâmina que você comprou para se barbear, para ficar com sua amante, use-a.
         Com as mãos trêmulas ele abre a gaveta e apanha a lâmina. Arregaça as mangas do paletó e corta o pulso direito. Em seguida o esquerdo e se joga no chão do box aguardando a morte chegar.

Fim

   









           

Incertezas



 O despertador pela quinta vez dispara executando um som estridente, porém o casal não desperta. Em cima do criado mudo as latas de cerveja denuncia a catástrofe da noite passada. De bruços o homem ronca e de sua boca envolvida por uma grossa barba sai uma baba que molha a fronha azul do travesseiro. Ela, semi nua com os seios médios a mostra, ainda segura uma lata de energético que por sorte o líquido derramou todo no chão e não na cama. Já são quase nove horas e até agora ninguém se mexeu. Parecem mortos. Alguém toca na porta duas vezes. Aos poucos ele vai abrindo os olhos e vendo tudo disforme. O som das batidas ainda soam longe. O gosto amargo em sua boca o faz voltar a si. As batidas ficam mais fortes e por fim ela se mexe.
             - Wagner, estão batendo. – diz a mulher com voz de sono.
             - Deve ser a arrumadeira enchendo o saco. – fala meio que enrolado.
             Bem devagar Wagner se levanta e se alonga. Apesar dos 52 anos que carrega, o empresário consegue manter sua boa forma. Apenas de cueca ele atende.
             - Bom dia senhor Wagner, vim trazer o café. – diz a funcionária do hotel toda sorridente.
             - Bom dia, pode deixar ali mesmo. – responde aos bocejos.
             A mulher baixinha natural do Ceará entra e não deixa de reparar em Wagner ostentando sensualidade. O quarto ainda cheira cerveja e outras bebidas. O carrinho é deixado no canto. Wagner se despede da mulher e se volta para a outra deitada na cama.
             - Morgana, vem tomar café, os ovos vão esfriar. – boceja mais uma vez.
             Morgana apenas acena dizendo para esperar. Impaciente Wagner vai até ela e a belisca nas nádegas.
             - Ai amor, isso dói. – reclama.
             - Venha logo mulher.
             Morgana é um espetáculo de mulher. Mediana, morena, pele bronzeada, olhos claros e longos cabelos com luzes, ela arranca olhares por onde passa. Juntos eles tomam café da manhã. Enquanto Wagner se veste, Morgana toma um delicioso banho.
             - Vou na frente, tenho que receber alguns clientes, você vai chegar lá que horas?
             - Na parte da tarde depois do almoço, também tenho que receber alguns clientes, aqueles Chineses, lembra?
             - Hum, lembro sim. – aperta a gravata. – me liga.

***

             Na empresa, Wagner gesticula bastante apresentando alguns slides aos clientes que se encantam com o produto apresentando pelo empresário.
             - Então é isso senhores, o que acharam?
             - Eu fiquei pasmo, com certeza esse produto cairá como uma luva em minha empresa. – diz um dos clientes.
             - Eu também, podemos fechar negócio agora mesmo. – afirma outro.
             Todos os cinco homens ali na sala conversam empolgadamente com Wagner, um deles se aproxima e estende a mão.
             - Senhor Wagner, me chamo Almeida e estou aqui representando minha empresa, infelizmente não poderei ficar para a confraternização, tenho outros fornecedores para visitar.
             - Poxa, mais que pena, toma uma champanhe pelo menos.
             - Não vai dar, tenho que ir, mas, posso tirar uma foto para marcar esse momento?
             - Lógico!
             Wagner se abraça ao representante e logo o flash o cega momentaneamente.
             - Podemos marcar um almoço, ou coisa assim o que acha? – propõe Almeida.
             - Acho ótimo, amanhã então?
             - Perfeito!
             Almeida se despede deixando Wagner com outros bebendo.

***

             No restaurante, Wagner, Morgana e Almeida degustam lagosta fresquinha enquanto falam pacificamente sobre negócios. O representante não tira os olhos da morena sentada ao lado do empresário, principalmente do decote. Temendo ser pego, Almeida trata logo de se concentrar na conversa.
             - Sua empresa, como anda meu caro Almeida?
             - Bom, como já falei, estamos atravessando uma fase um pouco ruim, nada de tão grave, já tivemos em outras piores, vamos superar essa com certeza.
             - Você acha que com o produto do Wagner vocês irão decolar? – indaga Morgana.
             - Sem duvida. – Almeida entrelaça os dedos. – o seu produto é muito bom senhor Wagner, estamos acreditando nisso piamente.
             - Ótimo, vamos comemorar pedindo mais uma dessa. – Wagner aponta para o que sobrou do crustáceo.
             - Que tal uma foto? – propõe Almeida.
             - O senhor adora mesmo fotos hein senhor Almeida. – diz Wagner.
             - Olha, se eu não fosse seguir a carreira executiva, juro que estaria por ai registrando as mais belas imagens.

***

            Depois de mais uma noite de amor os dois dormem profundamente. Próximo da uma da manhã o celular de Wagner toca, no visor o nome Almeida. Morgana acorda e atende.
            - É um pouco tarde para ligações o senhor não acha, Almeida?
            - Mil perdões senhora Morgana, preciso falar com o senhor Wagner urgente.
            - Ele está dormindo! – diz Morgana impaciente.
            - Mil desculpas, mas, é urgente, a senhora poderia passar o celular para ele?
            - Tudo bem. – bufa chamando o homem desmaiado na cama. Meio bêbado Wagner atende.
            - Qual foi Almeida? – esfrega o rosto.
            - Nossa empresa infelizmente terá que romper com o contrato, eu sinto muito senhor.
            - Por mim tudo bem, já tenho dinheiro o suficiente para dez gerações. Boa noite Almeida, foi um prazer conhecê-lo.
            - O prazer foi todo meu senhor Wagner.

***

            Quando finalmente Wagner acordou Morgana já não estava mais. Um recadinho em cima do criado mudo dizia que ela tinha que chegar cedo a empresa para resolver questões burocráticas. Bocejando ele vai até a geladeira coçando as partes baixas por cima do short de dormir. Alguém toca a porta. Ele olha o relógio na parede. Quase dez. Morgana com certeza pediu mais um café para as dez. ainda bocejando ele atende a porta e ao abri-la ele quase enfarta.
          - Ruth?
          - Oi Wagner, bom dia!
          - Olha, eu só não passei a noite em casa por que... – diz gaguejando.
          - Por que passou a noite com aquela vagabunda não é?
          - Que vagabunda? Vai começar com aquele papo de novo, Ruth, eu já falei que eu não tenho mulher na rua. – Wagner se afasta da porta.
          - Ah, não? Vai me dizer que você dormiu nesse hotel chique sozinho?
          - Claro que sim.
          - E a Morgana? – Ruth encara seu marido.
          - Eu não tenho nada a ver com ela, Morgana é só minha funcionária eu mal falo com ela.
          Ruth abre a bolsa e puxa uma foto.
          - Não fala, mas, sai com ela para comer não é? – mostra a foto de Wagner abraçado com Morgana no restaurante.
          - Foi uma comemoração nesse dia.
          - Hum! – Ruth franze a testa. – e você pagou lagosta para todos os funcionários?
          Wagner engole em seco. Por um instante ele olha para a foto e percebe o ambiente ao redor e de repente seus olhos são abertos, foi Almeida quem bateu essa foto!
          - Como conseguiu essa foto? Quem lhe deu? – pergunta tremendo os lábios.
          - Não interessa. – Ruth vocifera.
          - Isso não prova nada, Ruth, eu não tenho nada com a Morgana. – vocifera também.
          - A é espertalhão. – puxa da bolsa um gravador. – escute isso.
          
         - "É um pouco tarde para ligações o senhor não acha Almeida?"
         Ruth olha para o marido que perde a cor.
         - Devo continuar? - Ruth aperta o play.
         - "Mil perdões senhora Morgana, preciso conversar com o senhor Wagner urgente!"
         Ruth continua olhando feio para Wagner.
         - Então você não tem nada com a Morgana?
         Em sinal de puro desespero, Wagner se descabela ainda mais e depois de muito relutar ele assume a traição.
          - Tudo bem, tudo bem, eu me relaciono com a Morgana sim, já algum tempo. Pronto falei.
          - Pela primeira vez você tomou uma atitude de homem. – diz Ruth ainda com o gravador na mão. – vou por um ponto final nisso tudo, quero o divórcio e o quero já, parte de seus bens são meus.
          - Que bens, que bens, estou quebrado, a empresa vai fechar, estou falido Ruth.
          Mais uma vez Ruth aperta o play

          - "Por mim tudo bem, tenho dinheiro o suficiente para dez gerações"

          Wagner mais uma vez se descabela. Provavelmente Ruth já procurou os meios legais para se divorciar. Wagner deixou o quarto daquele hotel odiando a todos, principalmente a Almeida.  FIM  


sábado, 19 de novembro de 2016

A Vampira do Quarto 8


Uma mulher de poucas palavras. De andar misterioso e de olhar enigmático. Malana, esse é o seu nome. Mulher de corpo magro, cheio de curvas perigosas e acentuadas. Malana, menina mulher de pele branca como a neve. Em seu quarto a penumbra esconde os mistérios. O cheiro da noite paira entre os quadros sombrios de crânios com seus sorrisos tenebrosos. A única janela existente naquele quarto jamais fora aberta, Malana odeia a luz do sol. Deitada na cama focando o teto tendo com música o zunido do vento que bate nas fendas. Seu corpo perfeito, gelado aguarda o próximo degustador de sua sensualidade. Dois toques na porta e sua voz grave e rouca autoriza a entrada.

***

              Lourenço, seu cliente fiel adentra ao quarto mais excitado do que nunca. Ele a devora com os olhos e ela permanece na mesma posição brincando com os dedos do pé. Lourenço deixa no encosto da cadeira seu sobretudo marrom. Retira o chapéu e o coloca na mesa ainda olhando para Malana. Loiro de olhos azuis piscina, Lourenço é o amante preferido da prostituta misteriosa.
              - Boa noite meu Lorde. – Malana se insinua.
              - Boa noite minha rainha infernal, o que temos pra hoje?
              - Hoje quero ser sua escrava, me amarre e me castigue como quiser.
              - Veremos então.

***

              O dia raiou e Lourenço ainda não saiu da cama. Suas forças se foram e ele mal consegue respirar. Mais parece que alguém sugou suas energias até não poder mais. Com um esforço sobrenatural ele consegue se virar. Malana não está. Ela sempre faz isso. Desaparece antes do nascer de mais um dia. Quando finalmente o sol ilumina o quarto é que Lourenço consegue se levantar.
              - Malana?
              Lourenço anda até a janela e não consegue abri-la. Faz mais uma força e nada. Nu, ele volta para próximo da cama, olha sua carteira, percebe que não fora mexida. De dentro da carteira ele retira algumas cédulas e as deixa em cima do travesseiro. Se veste. Seu coração palpita bastante. De repente um frio o envolve o fazendo arrepiar
             - Cruz credo! – se benze.
             Lourenço deixa o quarto oito com um leve tremor nas pernas.

***

             O bar é nojento, fedido e repleto de homens bêbados falando alto. Lourenço faz o contraste. Educado, quase um rei, o dono da fabrica de sabão toma seu vinho tinto pensando em Malana. O mistério que a cerca a deixa cada dia mais linda, desejável. Quem será ela de verdade? Os rumores fazem dela uma lenda. O vinho acaba e ele pede mais uma taça. O dono do bar empoeirado o serve.
              - Como tem passado meu senhor?
              - Muito bem, a fabrica nunca vendeu tanto como nos últimos dias.
              - Muito bem, eu mesmo consumo seu produto desde quando seu pai era vivo.
              - Posso lhe fazer uma pergunta?
              - Claro. – enche a taça.
              - Você frequenta o vilarejo dos quartos?
              O dono do bar hesita em responder.
              - Sou casado.
              - Sei disso, vai dizer que nunca passou por lá.
              O dono do bar coloca a garrafa em baixo do braço e sussurra.
              - Jura que não irá espalhar isso?
              - Minha mãe mortinha. – Lourenço também sussurra.
              - Algumas vezes.
              - Você alguma vez entrou no quarto oito?
              - Malana! – o gorducho dono do bar abre um sorriso largo até as orelhas.
              - Isso, o que sabe sobre ela? – Lourenço se recosta na cadeira de madeira.
              - Eu só sei que ela é maravilhosa, diva, sobrenatural.
              - Me explica uma coisa. – o empresário cruza os braços. – onde ela se esconde durante o dia?
              - Mistério, dizem que ela pertence à família dos noturnos.
              - Noturnos? – Lourenço franze a testa.
              - Sim, diz à lenda que eles são loucos por sangue humano ou animal e que odeiam a luz do sol.
              - Sério?
              - Muito sério, quem é mordido por eles também se torna um noturno.
              - Ah, isso é historia pra boi dormir. – se levanta. – quanto deu a minha conta?
              - O vinho foi por conta da casa. – diz o dono do bar aborrecido por não darem crédito a sua historia. 

***

              À noite, depois de atender vários clientes, Malana se encontra deitada à espera de Lourenço. Para ficar a sós com ele, ela dispensou os outros programas que durariam a noite toda. Dois toques. É ele. Correndo ela se levanta com os cabelos negros esvoaçantes.
              - Boa noite! – diz ela rouca.
              - Muito boa, o que temos pra hoje?
              - Muitas cavalgadas. – o beija na face.
              - Opa, então vamos.
              A noite seguiu como Malana falou. O sexo é quase selvagem. Gemidos misturados e banhados por suor. Malana leva seu amante à beira da loucura com suas curvas. Lourenço precisa se segurar para não explodir. Numa dessas investidas sensuais da mulher ele a entope de seu líquido. Na mesma hora ela para e sua expressão muda.
              - O que você fez?
              - Me desculpe, não consegui me segurar.
              - Paramos por aqui, não estou me sentindo bem. – ela sai de cima dele.
              - Quer um remédio?
              - Não, só quero ficar sozinha, estou meio tonta.
              Lourenço se veste rápido. Deixa o dinheiro do programa sobre a mesa e desaparece. Malana se deita e fica em posição fetal com uma expressão de dor.

***
             No mesmo bar Lourenço fica a pensar em tudo o que aconteceu. Os pontos de interrogação são vários em sua mente. O gorducho se aproxima limpando as mãos num pano mais sujo que o próprio chão do lugar.
             - Diz ai chefe, como foi lá?
             - Muito bom, apenas isso.
             - Hum. Então, sobrou um pouco daquela sopa de alho que você tomou hoje à tarde, vai querer? É por conta da casa.
             - Lógico, ela estava uma delicia.

***

             Dez toques na porta oito. Impaciente o cliente a arromba. O quarto está vazio. Ele olha ao redor e tudo que vê é um monte de cinzas espalhadas na cama. Ao lado as roupas ousadas de Malana que nunca mais foi vista na face da terra.

FIM

             

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Fotos



Família, a base de qualquer ser humano

Contatos

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Julio Finegan

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Biografia

Nome: Júlio Finegan
Naturalidade: Rio de Janeiro
Nacionalidade: Brasileiro
Casado com: Aline Pimenta Costa dos Santos
Pai de : Julia Costa
Data de nascimento: 20\04\1978
Ocupação: Professor de música(canto e teclado)
Primeiro livro que leu:  Sítio do pica-pau amarelo(Monteiro Lobato)
Autores: Dan Brown   Harlan Coben   James Patterson   Roger Hobbs   André Vianco  Eduardo Sphor 
Livro lançado: Tua fé te salvou(2006) 

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Sozinhos

Resultado de imagem para fotos de corações partidos

 A água quente escorre por seu corpo magro e com curvas. Simone deixa que cada gota lave sua alma cansada e pesada. Sem muita vontade ela fecha o registro e se envolve na toalha rosa. Devagar ela abandona o Box e tateando com o pé direito ela procura por suas sandálias. Simone cruza a cozinha em direção a sala. O lugar está às escuras, mas isso não chega a incomodá-la. Nua, completamente nua, Simone se despoja da toalha e mesmo molhando o piso ela circula pelo quarto em busca de sua peça íntima.

              Querendo ou não Simone é bastante sensual colocando sua calcinha vermelha. Mais uma vez ela se olha no espelho. Em outra época ela com certeza dançaria uma dança pra lá de insinuante. Hoje não. O clima não favorece. Ela pega sua roupinha de dormir e a coloca e se joga na cama. Olhando para o teto Simone pensa em tudo que viveu durante o dia.

              No corredor do fórum ela aguardava a chegada de sua advogada mexendo no celular. Ao olhar para o portão principal ela sente seu coração palpitar. Fernando. Ele caminha e quando seus olhos se cruzam eles disfarçam. Ela volta a mexer no aparelho e ele se acomoda no banco. Depois de algum tempo esperando finalmente sua advogada chegou. Com dois beijinhos elas iniciam uma conversa. Fernando finge que não vê. Logo em seguida um homem de terno e gravata entra e se coloca ao lado de Fernando.

              É chegada à hora. A anunciante com sua voz aguda chama por Simone e Fernando. Ambos entram à sala refrigerada na companhia de seus advogados. A audiência seguiu tranquila. Vez por outra eles trocavam olhares, mas nada além disso. Depois de quase uma hora eles saem. Fernando troca uma ideia com o doutor. Simone se despede com um forte abraço em sua advogada. Fernando entra em seu carro, um Tucson e Simone pega um táxi.

              Agora ela está ali, deitada, olhando o teto e imaginando o que Fernando estaria fazendo à uma hora dessas ali com ela. Sexo, com certeza eles estariam fazendo sexo, como faziam quase toda noite. Seu estomago reclama e avisa que ela não come desde a tarde. Depois de devorar o sanduíche ela abre a janela e observa a movimentação da cidade do décimo andar. Respira ar puro e tenta não chorar. Mas ela não consegue, a saudade é grande e machuca demais. Suas lagrimas escorrem lubrificando seu rosto bonito e jovem. Fernando, aonde você está?

             À hora de dormir é algo doloroso. Simone procura por Fernando e não o encontra. Um terror, um horror, separação é algo terrível mesmo. Logo Simone que prometeu viver toda a sua vida ao lado de Fernando. Hoje ela se encontra sozinha e apavorada pelos fantasmas das cruéis lembranças. Depois de três horas finalmente ela pega no sono.

             O sol invade o quarto a fazendo despertar. Devagar ela abre os olhos e sem muita coragem ele pega o celular e quase morre do coração ao ver o nome de Fernando na relação das chamadas perdidas. Simone verifica e vê que deixou o aparelho no silencioso.  



              Como tudo isso foi acontecer? Onde erramos? Por que estou sozinho nessa cama? Essas perguntas rondam a mente de Fernando e ele não encontra respostas plausíveis. Diante de um quadro que aparentemente parece irreversível, ele faz uma breve reflexão de sua vida ao lado de Simone nos últimos cinco anos. Tudo parecia legal, bonito, as mil maravilhas. De repente o que era não existia mais e tudo veio a baixo num piscar de olhos.

              Ele não consegue pegar no sono. Simone não atendeu sua ligação. Seu coração está partido em mil pedaços. O jeito é esquecer e tentar um rumo diferente.

              Trabalhar nunca foi tão complicado. Logo ele que precisa ter cem por cento de sua mente focada no trabalho. Hoje, sentado em sua mesa apinhada de tarefas, Fernando não encontra coragem sequer para ler os relatórios. Se pudesse ele jogaria tudo pela janela e fugiria da li voando. Com um longo suspiro ele inicia o trabalho sem a mínima vontade.

              A volta para casa é ainda mais complicada. Ter que passar em frente de onde era seu lar ao lado da mulher que amava é muito ruim. Ele tenta mais a velocidade é reduzida. Lá está o portão, o muro, a caixa de correios e a antena da Sky. Putz, que sensação horrível. Fernando pisa no acelerador e dispara estrada a fora.

              Machucado, sim, Fernando está machucado e sem forças para reagir. Até mesmo numa conversa informal com seu amigo ele não consegue relaxar:
               - O que vai fazer de sua vida agora Fernando?
               - Sei lá, tudo aconteceu tão rápido que ainda não tive tempo de pensar nisso.
               - Se precisar conversar não hesite em me ligar, certo?
               - Valeu parceiro!

               Hora de dormir. Caramba, que coisa chata, terrível. Onde está Simone com seus cremes pos banho e seu roupão rosa. Quantas vezes ele a surpreendeu retirando a força o roupão e a jogando na cama nua para mais uma noite de sexo. Nossa que lembrança incomoda. Ele se pega com ereção ao pensar no corpo de Simone. Constrangedor. O que ela estaria fazendo nesse exato momento?

               O dia amanheceu. O cheiro do café é gostoso e perfuma toda a casa. Simone termina de passar a bebida fumegante quanto batem na porta. Ela franze a testa, seus trajes não estão adequados para visita. Antes de abri-la ela confere, seu coração quase grita:
               - Fernando?
               - Oi, quer dizer, bom dia!
               - Bom dia!
               - Passei por que acabei esquecendo de pegar dois livros que estão dentro do guarda roupas.
               - Livros? – Simone tenta ser forte, é a primeira vez em um mês que eles se falam.
               - Sim, um do Dan Brown e o outro do Harlan Coben, pega lá pra mim, por favor.
               - Tudo bem!  


              Fernando permaneceu na porta doido para entrar e enchê-la de beijos. Simone entrou no quarto a procura do tal livro. Como de sempre ela demora um pouco para achar e volta olhando a bela capa do livro:
              - Não me lembro desse!
              - O comprei antes disso tudo acontecer. – estende a mão.
              - Disso tudo o que? – apóia o corpo na parede.
              - Ah, você sabe, Simone.
              - Você pode me emprestar quando terminar de ler?
              - Ué, desde quando você é fã de livros?
              - Ah, sei lá, um dia a gente precisa mudar um pouco né?
              - Bom, eu já vou indo, thau!
              - Thau!

              Fernando entrou no carro e não pode deixar de notar Simone o observando ainda da porta, será que vale a pena um adeus? Ele arrisca e ela acena também. Será que vale a pena voltar lá e abraçá-la e levá-la para cama? Não, ai seria demais né Fernando! Ele acelera e desaparece ao dobrar a esquina.
              Simone ainda permanece ali parada na porta sentindo o perfume amadeirado de seu ex imaginando ele voltando e a abraçando e a levando para cama a deixando louca. Porém ele partiu, sumiu, será que volta? Acho que não. Ela dá meia volta batendo a porta.

              Um mês se passou, um longo e terrível mês se passou e desde aquele dia Simone não teve noticias de Fernando. Agora que está livre, ela vive indo a shows e sessões de cinema mesmo sozinha. É chato, mas, fazer o que? O pior é ter que conviver com as cantadas e convites de outros homens.
              
               Simone se abaixa para pegar açúcar e quando levanta dá de cara com Fernando:
                - Oi, tudo bom? – diz ele.
                - Tudo e você?
                - Vou bem, viajei para a casa do tio Moisés, lembra dele?
                - Sim, claro e como ele está?
                - Doente, precisando de cuidados.
                - Que chato, Fenando, mas ele vai ficar bem se Deus quiser. Fazendo compras? – ela pergunta.
                - Não, apenas algumas coisinhas para passar a noite. – aponta para a cestinha cheia de Miojo.
                - Miojo? Desde quando você come miojo?
                - Pois é. – coça a cabeça. – tenho que me virar. – Fernando dá uma disfarçada e olha para a cesta de Simone repleta de coisas para uma macarronada, aquela preferida por ele.

                Na saída do mercado eles se despedem:
                 - Bom, eu já vou indo, preparar meu miojo. – ergue a sacola.
                 - E eu preparar meu macarrão com queijo.
                 - Ótimo, vou indo então, thau!
                 - Thau!

FIM