terça-feira, 11 de junho de 2019

Desaparecida no dia 12 de Junho


Desaparecida no dia 12 de Junho

Era para ser o melhor dia dos namorados. Era para ser a melhor noite de nossas vidas. O vento soprava a nosso favor. Eu me lembro quando recebi a ligação dela me pedindo para levar o melhor vinho que eu encontrasse no mercado e também o melhor queijo. Eu trabalhava como auxiliar administrativo numa multinacional e ganhava muito bem. Passei o dia inteiro imaginando como seria a nossa noite do dia dos namorados. Para deixar tudo ainda mais picante, Juliana me enviou uma foto a qual me deixou sem fôlego. A danadinha me fez uma pergunta pra lá de sem vergonha. Na foto três peças íntimas de cores diferentes, uma branca, outra vermelha e por último uma preta. Quase enlouqueci imaginando-a somente com a preta. Respondi de imediato dizendo que optei pela preta.
        O encontro estava marcado para as vinte horas no apartamento dela. Juliana era linda. Uma negra de cabelos cheios naturais e lábios tentadores. Tive que comprar uma briga grande ao assumir o relacionamento com ela. Como pode um sujeito branco, bonito e com uma carreira promissora vai se envolver com uma negra de comunidade?
       O povo fala demais. Juliana pode muito bem ter nascido numa favela, mas ela não tinha a favela dentro dela. Juliana estava se formando em nutrição, tinha foco, queria seguir um caminho diferente de seus pais e irmãos, por isso me apaixonei por ela.

*

Cheguei no apartamento de Juliana por volta das 19:50. Toquei algumas vezes a campainha e aguardei. Conferi meu hálito e depois voltei a tocar a campainha. Nada. Toquei outra vez um pouco mais preocupado. Nada. Saquei o celular e disquei o número dela. “ O número que você ligou está fora de área ou desligado”. Resolvi bater na porta e chamar por ela.
     - Ju, é o Léo, está tudo bem?
     Quando percebi eu estava esmurrando a porta. Um vizinho idoso bastante simpático apareceu no corredor segurando um cachorrinho no colo.
      - Está tudo bem?
      - Ah, boa noite, por um acaso o senhor viu a moça que mora aqui?
      - Eu a vi sair depois do almoço e desde então não a vi mais, já tentou ligar?
      - Pois é, já, só dá fora de área.
      - Hum, desejo-lhe sorte. – entra em seu apartamento.
      Permaneço ali por alguns minutos intrigado e quase com raiva. Seria Juliana capaz de me enganar? Estaria ela me testando? Não. Claro que Juliana não seria capaz de tal coisa. Ou seria? Ainda tentei ligar, mas a resposta era sempre a mesma. Sai do prédio meio que atordoado. Pensei em ligar para seus parentes e amigos, porém recuava sempre que me lembrava das brigas que tivemos.
      Eu estava inconformado, fiz muitos planos para essa noite e simplesmente Juliana não apareceu. Assim que subi no coletivo engoli o orgulho e liguei para a mãe dela. Fui atendido com hostilidade porém eu não quis me estender muito. Fui notificado que Juliana não dava notícias desde o início da semana. Minha preocupação se transformou num mal estar. Onde estaria Juliana?

10 anos depois

Termino de conferir alguns documentos e os despachos para outra filial de nossas empresas. Trabalhei bastante para chegar ao cargo de diretor executivo. Sempre que chego a empresa sinto orgulho ao ler meu nome na plaquinha da porta.Leonardo Moura.
      - Isso é tudo. – organizo os papéis e os entrego a secretária.
      Assim que volto a ficar sozinho em minha sala eu abro o Facebook e passo algum tempo observando as postagens. Ao lado do computador o porta retrato com minha família. Minha esposa Camila e meus filhos, Gabriel e Kelly. Como eu os amo. Tudo o que faço é para eles. Deus me presenteou com uma carreira, uma família maravilhosa, não tenho do que reclamar. Não tenho mesmo.
      Volto minha atenção para a rede social e percebo que há uma solicitação de amizade. Clico e o que vejo em seguida me fez gelar na cadeira. Meus olhos tremem descontroladamente. Juliana Dantas. Ela mesmo. Como eu poderia esquecer aquele sorriso? Aceito a amizade e imediatamente ela deixa um “oi” no chat. Respondo: “oi, como tem passado?” ela volta a digitar: “ muito bem, preciso conversar com você”. Dígito: “ sim, claro, quando quiser”. Ela digita: “pode ser hoje?”. “com certeza. Onde?”. Ela demorou um pouco: “no café da galeria as vinte, combinado?”. “ por mim tudo bem”.
      Juliana Dantas, dez anos depois. O que poderia ter acontecido se caso nós tivéssemos nos encontrado naquele terrível dia dos namorados? Com certeza a noite terminaria em sexo e no outro dia eu estaria arrependido ou ter me tornado pai. Dez anos depois ela reaparece em minha vida na tentativa de arrumar a bagunça que deixou. As vinte horas estaremos frente a frente, um jogando na cara do outro o que fez e o que deixou de fazer. Devo comemorar o fato? Juliana, um sonho que terminou num pesadelo. Dez anos depois.

Pernas cruzadas. Cabelos bem tratados e deixados ao seu natural. Roupas básicas e uma mochila acomodada em uma das cadeiras do café da galeria. Quando namorava com Léo eles costumavam sempre comer ali. O lanche era sempre o mesmo, misto quente e refrigerante. Juliana pediu algo diferente para a noite, uma sopa de ervilha e torradas com azeite. Juliana trás no olhar uma frustração e não é por menos. Ela não conseguiu concluir nutrição e nem está nos planos retomar o sonho. Depois do terceiro filho as coisas ficam mais difíceis.
      Conseguir um emprego de recepcionista num motel de quinta foi o melhor que conseguiu e ela é grata por isso, caso contrário sua família estaria passando por maus bocados. A vida é feita de escolhas e ela se deixou levar por promessas que ela sabia que jamais seriam cumpridas. Ela sabia disso. Hoje Juliana paga um preço caro e não culpa a ninguém por isso. Ela causou tudo isso. Trocar o certo pelo duvidoso, esse é o mau de todo o ser humano. Um funcionário da galeria se aproxima com o menu.
      - Já quer fazer seu pedido, senhora?
      - Estou esperando uma pessoa.
      - É que já são vinte e uma, já estamos fechando.
      Juliana olha o relógio no pulso e o garçom está certo. Vinte uma hora. Leonardo não vem, como ela pode ser tão boba. Claro que ele não viria, depois de dez anos alguém reaparecer assim, do nada.
     - Tudo bem. Só me traga a conta, por favor.
     Eu não culpo o Léo, ele está no direito dele. Eu o deixei. Eu o iludi, entulhei seus planos, preferi o já pronto ao invés de ajudar a construir. Ele tem todo o direito de me odiar. Eu o abandonei. Se em dez anos as coisas não foram fáceis para mim imagine para ele depois de tomar um pé na bunda sem explicação. Foi um longo caminho até aqui. Passei noites em claro vendo as publicações dele no Facebook e chorei diante de suas conquistas. Ele construiu uma família incrível e eu entendo por que ele não veio me encontrar. Ele não me abandonou, mas sim eu. Tudo continua na mesma, nada mudou. Jogo terminado. Dez anos depois, Léo venceu pela resistência. Fim!

sábado, 8 de junho de 2019

A Menina Egoísta


É com grande orgulho que apresento esse conto escrito por ninguém menos que Júlia Finegan, minha filha. Divirtam-se!!!


Era uma vez uma menina muito egoísta. Ela não emprestava as coisas para ninguém e quando as suas amigas queriam alguma coisa emprestada ela não dividia.
Num belo dia, Raquel levou para sua escola duas bananas, abacate amassado,
sanduíche de presunto e um suco de melancia.
Após ter feito o primeiro tempo de aula Raquel pegou seu lanche e disse: “Que gostoso.”
Sua amiga pediu um pedaço e Raquel recusou. Ela tinha 18 anos. Tinha um
rapaz chamado Guilherme ela gostava muito dele e ele gostava muito dela. Guilherme ele
tinha 19 anos.
Um certo dia eles estavam conversando na escola ele a pediu em namoro e
ela aceitou. No dia seguinte ela deu a ele um pedaço de seu sanduíche e as suas colegas acharam injusto porque Raquel não dividia nada com elas.
Guilherme seu namorado falou para Raquel assim: “Raquel divide com suas
amigas, porque se não suas amigas não vão dividir nada com você. Raquel dividiu.
No dia seguinte Raquel agradeceu a Guilherme por ter a ajudado a dividir as coisas. E eles se beijaram com o maior amor do mundo e viveram felizes para sempre.