terça-feira, 27 de dezembro de 2016

ASAS de FOGO



    Dhor aterrissa com força sobre um demônio esfacelando seu crânio, espalhando massa rosada pelo solo. Suas asas em chama iluminam todo o ambiante. Do meio da escuridão surge mais e mais demônios que rosnam com suas garras em riste. A espada é sacada, Dhor se prepara para o combate desigual. Dois seres das trevas avançam pelo ar com fúria. Segurando a arma branca com as duas mãos, Dhor golpeia um deles na perna. O mesmo cai segurando a ferida. O outro insiste em atacá-lo. O guerreiro de asas de fogo o atravessa no peito. O bicho solta um grunhido gutural. Menos dois. Antes que pudesse se recuperar do ferimento na perna, Dhor o acerta na cabeça.
Outros dois demônios aparecem golpeando Dhor que perde o equilíbrio. Um deles chuta o peito do guerreiro que perde também o fôlego. O outro se aproveita da situação e o soca no rosto. Dhor volta ao chão furioso. Chega de gracinha, hora de destruir esses animais das trevas. Se apoiando com a espada, Dhor se levanta. Olha para os dois cerrando os punhos.
       - Venham!
     Imediatamente os bichos voam pra cima. Dhor aplica um direto no rosto do primeiro que perde o controle do voo e cai feio. Asas de fogo se esquiva do outro. Segurando o rosto, o primeiro ainda tenta mais um ataque, mas seu oponente está atento e o golpeia mais uma vez. O punho de Dhor acerta com força o maxilar do demônio que gira no ar e bate com violência no chão. Se voltando para o outro, Dhor voa com a espada em punho e o corta no braço. Com o membro pendurado, o ser corre espalhando seu sangue. Dhor o alcança e termina com seu sofrimento enterrando sua arma afiada nas costas.
      - Argh!
     Dhor pousa e observa o estrago que fez. Vendo que o outro demônio ainda vive, ele anda até próximo do corpo e chuta sua cabeça dando fim a miserável vida do ser. De repente parece que o tempo parou. Um tremor acontece. Dhor olha ao redor e não vê nada.
      - O que foi, não consegue me ver? - a voz é debochada e Dhor sabe de quem é.
      - Seja homem e apareça de vez.
      - Você destruiu quatro dos meus homens, Dhor, isso não ficará barato.
      - Apareça, seu desgraçado. - ergue a espada. - venha me enfrentar.
Do meio das sombras um ser de pele escura aparece. Seus olhos puxados e amarelos fixam o guerreiro.
    - Vamos com calma, asas de fogo, com tem tanta certeza de que irá me derrotar. - saca uma lança.
   - Gente como você não pode permanecer vivo. - corre na direção do bicho que também se prepara para o combate.
     - Ótimo, vamos começar a discutir a relação.

   As duas armas se chocam arrancando fagulhas das lâminas. Enquanto lutam, os rosnados e grunhidos acontecem ao mesmo tempo, numa mistura de ódio e força.     

terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Realidade ZUMBI



   Acordar cedo nunca foi o forte de Carlos. O relógio que fica em cima do criado-mudo marca 05:00 e ele praticamente se arrasta até o chuveiro. Segunda feira é um dia cruel. Carlos ainda tem na boca o gosto do rum. Ao voltar para quarto ele olha para a cama onde sua nova namorada dorme seminua. Amanda ronca pesadamente. Por um instante ele sente uma ligeira inveja dela. Como ele gostaria de poder voltar para a cama e logo pela manhã fazer amor com ela. Carlos boceja e vai para o banheiro.
Dentro do carro, para espantar o sono ele coloca um CD de rock pesado quase que no último volume. Hora de pegar a estrada e trabalhar. Como toda manhã na maioria das cidades existe o infernal congestionamento. Carlos soca o volante várias vezes ao ver o número de carros parado. A lentidão do trânsito é de tirar qualquer um do sério, ainda mais alguém como Carlos.
Ele desiste do rock e sintoniza na rádio.
    - A misteriosa febre que vem assombrando parte da população mundial fez mais uma vítima. - Carlos balança a cabeça negativamente. - as autoridades tentam buscar uma solução para o mal.

    Carlos chega ao I.M.L quinze minutos depois do horário. Ainda dentro do carro ele coloca seu jaleco meio encardido e desce. Na porta ele passa quase que esbarrando nas pessoas que aguardam.
     - Com licença.
Em sua sala ele joga as chaves na mesa, pega sua prancheta e sai. Ele anda pelo corredor até chegar a sala de sua assistente, Letícia.
    - Alguma coisa pra mim? - surge na porta.
    - Sim, um homem, morreu a mais ou menos cinco horas.
    - Vou dar uma olhada. - para e repara na moça negra de cabelo natural.
    - Algum problema, doutor Carlos?
    - Nada, nenhum. - sai batendo a porta.
   Carlos puxa a gaveta e lá está o corpo. Um homem mediano, pele branca, cabelos negros e lisos, boa pinta. Carlos verifica a ficha. Volta a olhar para o corpo. O doutor abre os olhos do morto e as pupilas estão apagadas. Hora de descobrir a causa da morte desse sujeito. Carlos coloca os óculos de proteção e começa a riscar o tórax do defunto com o piloto.

Letícia sai de sua sala e anda em direção a sala de autópsia quando de repente ela escuta um grito gutural.
     - Doutor Carlos! - vocifera e sai correndo.



Fim

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Oração



A porta do quarto se abre. A luz do corredor invade o cômodo que nos últimos dias vem sendo palco de clamores e prantos. Ela entra e não acende a luz. Seus passos fracos arrastam o chinelo preso ao pé até próximo da cama. Ela contempla a cama vazia. O relógio na parede marca vinte e duas horas, o mesmo horário em que seu marido gostava de se deitar. Agora ele não está ali. Uma lágrima escorre de seu rosto envelhecido e molha suas mãos. Sua respiração é pesada e cheia de sentimentos. Suas forças estão a abandonando aos poucos. Ela se ajoelha e entrelaça os dedos. O balbucio inicial indica que as palavras estão fugindo e ela não sabe mais o que dizer.
- Senhor…
Ela continua lá, ajoelhada, prostrada, indefesa, vulnerável. Lá fora a noite vai chegando ao seu ápice e dentro do quarto o clima lúgubre é quase palpável. Mais uma vez as palavras não chegam a boca.
- Senhor…
Na porta do quarto alguém a observa com seus olhos vivos. As mãos unidas e inertes aguardam o que acontecerá. A poucos metros dali ela permanece ajoelhada tentando articular. Sua mente está cansada, saturada e aos poucos o sono a vai dominando. Ela abre os olhos e ergue a cabeça, finalmente as palavras saem em meio ao choro.
- Senhor, quero meu amado de volta. - a pessoa parada perto da porta franze a testa. - eu o quero aqui, comigo, não suportarei viver sem ele, será doloroso demais, eu, eu o amo, foi o Senhor quem o me deu. Preciso dele, por favor, Deus, por favor, eu imploro, mas, que seja feita a sua vontade e não a minha, eu lhe peço isso em nome de seu filho, Jesus Cristo, amém. - ela volta a chorar e fica ali por alguns minutos. A pessoa sai do quarto silenciosamente.

O REINO

A pessoa que estava no quarto caminha com pressa trazendo na mão direita um papel. Ele chega diante de uma luz forte e se ajoelha.
- Grandioso, trago da terra um clamor.
- Sim, é de meu conhecimento. - a voz que vem da luz é alta e forte.
- Janete clama pelo marido que se encontra doente, segundo ela, seria impossível viver sem ele, Poderoso.
A luz fica ainda mais forte e muda o seu tom de cor para o azul.
- Vi as lágrimas dela, senti a dor de seu coração e sei que ela fala a verdade. Vá até o lugar onde ele se encontra e fique lá até o final. Vou conceder o pedido do coração dela.
- Louvor e honra a ti, Senhor!

HOSPITAL

Mãe, filhos e netos esperam na recepção. Janete se encontra com os olhos inchados e úmidos. Abraçado a mãe, o filho mais velho morde o lábio inferior olhando para a porta. A espera é torturante e machuca bastante.
- Calma, mãe, o pai vai sair dessa. - aperta firme a mão da mãe.
- Em nome de Jesus.
A porta abre e os corações palpitam mais rápidos. O médico aparece olhando para Janete e os outros.
- Vamos conversar.
Janete é conduzida até a sala do doutor em silêncio. Chegando lá ela é a única a sentar.
- Bom, como eu havia falado, o risco da cirurgia era grande e seu marido tinha sérias chances de vir a óbito ainda na mesa. - o médico faz um terrível pausa. - bom, o senhor Ademar resistiu a intervenção e passa bem.
De repente aquela minúscula sala fria se transformou num tipo de templo onde os presentes glorificam. Janete na mesma hora agradece a Deus e também ao doutor.
- Obrigado, muito obrigado, doutor Jeremias.
- Que nada, fiz apenas o que tinha que ser feito. - se levanta. - com licença, vou dar uma olhada nos outros pacientes, mais uma vez parabéns.
Janete é abraçada pelos filhos e ao mesmo tempo ela glorifica a Deus pelo feito.
- Obrigado Senhor, muito obrigado!
A pessoa que estava no quarto de Janete na noite anterior, deixa o centro cirúrgico, passa pelo doutor Jeremias e sorrir para ele. O médico passa sem tomar conhecimento. O ser, antes de sair do hospital ainda olha para a família que comemora no corredor. Ele passa pela recepção e observa um homem angustiado e espera um pouco. Falando baixo o rapaz diz.
- Nos ajude Deus nessa hora. - o ser se posiciona ao lado do rapaz.

FIM