Alta
Pressão
Capítulo
5
Lídia Toledo. Quem diria que aquela menina loira, bonitinha
com carinha de anjo se tornaria numa das melhores policiais de Viva Paz e que
se casaria com um campeão de boxe? Seu pai um ex militar que nunca se deu bem
na vida devido ao alcoolismo lutou para que a filha caçula fosse o que ele sonhou
em ser, um agente das forças auxiliares. Seu Geraldo Toledo conseguiu, porém a
doença que o corroía por dentro não o permitiu ver sua filhinha formada. Geraldo
desejava ser um agente da lei e Lídia sabia disso e por isso ela se esmera em
tentar fazer um trabalho de excelência ante a sociedade.
Ela se orgulha do que fez. Colocar a cabeça de Gilmar Dutra a
prêmio foi sim uma jogada de mestre. A isca foi lançada resta somente o peixe
mordê-la. A tarde passou. A noite chegou e avança, mas Lídia segue trabalhando e
de forma acelerada. Álvaro bateu duas vezes na porta que estava entreaberta.
— Achei que já estivesse em casa.
— Estou conferindo as últimas denúncias. — girou a cadeira
ficando de frente para o chefe.
— E aí? — colocou às mãos na cintura.
— Nada.
— Será que não demos um tiro no pé? — andou até a janela. —
Gilmar Dutra é um sujeito esperto, perigoso, depois de saber que ele se tornou
um alvo, ele não seria tão burro de ficar dando sopa nas ruas.
— Sim, mas, veja pelo outro lado. Agora Dutra desconfia até
da própria sombra. No crime não há fidelidade e muito menos lealdade, é cobra
caçando cobra. O resultado virá.
— Bom, se quem está dizendo é a melhor policial de Viva Paz,
quem sou eu pra duvidar.
Restou a policial ruborizar às bochechas.
— Está com fome? — Álvaro colocou as mãos nos bolsos.
— Faminta.
— Sei de um lugar que serve o melhor e maior hambúrguer da
região, quer ir lá comigo? É por minha conta.
Quando Lídia percebeu já estava pegando suas coisas.
*
Tirando aquela capa de delegado, e toda aquela
imponência, Álvaro não passa de um cara gente boa que adora jogar conversa fora
num balcão de hamburgueria. Mas uma coisa é inegável, ele tem um charme quase
irresistível.
— A minha carreira na polícia começou de forma modesta e aos
poucos foi tomando volume.
Chegaram os pedidos.
— Quando eu ainda trabalhava na PM participei de incursões
que ao meu ver nada mais era do que uma missão suicida. Perdi companheiros e vi
outros serem feridos com gravidade, tudo porque não houve um planejamento
adequado. Eu jurei pra mim mesmo que quando me formasse delegado jamais
colocaria a vida de meus homens em perigo.
— Tive sorte então. — riu.
— Pode crer que sim. — tomou o suco. — e aí, o que achou do
lugar, da comida?
— Maravilhoso, você sempre vem aqui? Eu não conhecia.
— Sou um homem sozinho, agente Toledo, quando não estou afim
de cozinhar é pra cá que eu ligo. — outro gole no suco.
— Sério, e o que você cozinha? — Lídia ajeitou o corpo.
— De tudo um pouco, porém, a minha especialidade é frutos do
mar.
— Amo!
— Legal, posso fazer um cozido de peixe com camarão e lhe
convidar para almoçar.
Lá vem ele mais uma vez com seu charme
irresistível.
— Ótimo, vou provar da comida do poderoso Álvaro Linhares.
Álvaro conteve a gargalhada. Seu celular tocou.
— Álvaro. — pausa. — o que, tem certeza? — outra pausa. — chego
aí em dez minutos.
Lídia estava atônita.
— O que houve?
— Gilmar Dutra nos mandou um recado. Vamos.
*
Um corpo, um cadáver,
e não um cadáver comum, mas sim o corpo de um caçador de recompensas procurado não
só pela polícia, mas também por todos os fora da lei de Viva Paz. Cacau.
Amarrado. Sinais visíveis de tortura pesada. Foi jogado na porta do DPVP como
se fosse um saco de lixo. Álvaro olhava para aquela situação tentando imaginar como
tudo foi feito. A seu lado Lídia engole seco, sente que seu chefe está a ponto
de explodir e dizer aos berros o quanto ela estava errada. Não. Nada disso
aconteceu. Álvaro andou até perto dos policiais fardados e os questionou.
— Vocês foram atrás do carro e o que aconteceu depois?
— Eles atiraram e nos despistaram, senhor. Eles tinham um
poder de fogo maior.
— Era gente do Gilmar mesmo? — o delegado se voltou para o
corpo.
— Sem dúvida alguma, senhor. Esse era o tal de Cacau, um mercenariozinho.
Ele deve ter visto a questão da recompensa e deu nisso.
— Sei bem quem ele é. Preciso que patrulhem essa região,
certo?
— Pode deixar, senhor.
O recado da bandidagem foi dado. Todos que tentarem se
aproximar terão o mesmo fim que Cacau. Lídia olhou para os papéis em cima de
sua mesa e pela primeira vez sentiu que estava perdendo o controle da situação.
Nesses casos, o melhor a ser feito é pedir ajuda. Duas cabeças pensam melhor do
que uma. Motivada por isso ela organizou a papelada e foi até a sala do chefe.
— Preciso de sua autorização para busca e apreensão.
— De quem? — Álvaro ergueu a cabeça.
— Ora, de quem, Gilmar Dutra, de quem mais seria?
Álvaro deixou sua mesa.
— Lídia, escute, nada do que fizermos agora adiantará.
— Ele zombou da nossa cara, delegado.
— Sim, mas e daí? Dutra está desesperado, foi um clássico
sinal de desespero. Vou lhe dizer uma coisa, detetive, quando você precisa
falar que é, na verdade você não é. Entendeu?
Lídia olhou Álvaro nos olhos.
— Você é uma mulher inteligente. — colocou sua mão no ombro
dela. — sei como está se sentindo, eu também já estive em seu lugar, tudo que
peço agora é calma.
Sim. A mão do delegado agora se encontra segurando levemente
seu brinco. Lídia sentiu suas pernas ficarem fracas e sua respiração acelerar
sem controle. Álvaro a está seduzindo e se ele continuar insistindo dessa
maneira ela não responderá pelos seus atos. O delegado é um sujeito experiente
e vivido, conhece os caminhos que deixam o coração de qualquer mulher mexido e
remexido. Aos poucos às costas de sua mão tocam seu rosto.
— Que pele sedosa. — disse olhando para ela.
Claro que a detetive não soube como responder a esse elogio,
ou seria melhor, galanteio? Sei lá. Lídia está enfeitiçada pelo charme do chefe
e se algo não for feito, ela pode acabar cometendo um gostosa besteira.
— Obrigada. É só isso.
— Ótimo. — se afastou. — vá pra casa. Pense essa noite.
— Sim, senhor.
*
Sueco assiste de longe a alegria de seu chefe. Isso é
perigoso. Muito perigoso. Das últimas vezes em que Dutra se alegrou tanto assim
eles quase foram pegos pela polícia. A mente de Gilmar é um labirinto. Sabe-se
a entrada, porém a saída é algo impossível de se conhecer. Fato é, ele não é
tão inteligente, porém o seu lado como líder compensa. Gilmar pode não ser
inteligente, mas burro ele não é e nunca foi. Ele acabou de dar uma resposta as
autoridades. Uma jogada e tanto. Filho da mãe.
— O que tanto você pensa, Sueco? Venha se divertir também. —
convidou tirando o sutiã de uma das garotas.
— Meu médico me proibiu de comer carne, companheiro. — ergueu
a lata de cerveja.
— Duvido. Veja quanta fartura temos. — balançou os seios nus
da menina. — escolha uma e vá para minha suite.
Sueco bebeu toda a cerveja restante na lata e se levantou.
— Já que insiste. — pegou uma garota magra no colo. — vem com
o papai.
— Viva a Liga Vermelha. — berrou a outra prostituta.
*
Queren e Gustavo assistem TV numa programação de esportes.
Eles aguardam a exibição da entrevista dada pelos desafiantes comendo pipoca.
— Só quero ver, pai.
— Ah, filha, eu mandei bem, vamos ver o que aquele bobão
falou.
De repente o apresentador fez a chamada.
— Hoje nossa equipe conversou com os desafiantes Gustavo
Mãos de rocha e Jorge Touro. Como todos sabem ambos já penduraram às luvas,
mais o amor pelo boxe falou mais alto e agora irão se enfrentar num desafio de
titãs.
Nesse momento Lídia chegou.
— Olá meus amores.
— Oi, amor, chegou bem na hora da entrevista, junte-se a nós.
— Opa, quero sim.
O jornalista começou com Jorge.
— E aí, Touro, o que Gustavo pode esperar no ringue?
Jorge fixou o olhar na câmera.
— Dor, muita dor.
— Que cara idiota. — vociferou Queren.
— Pelo visto esse tal de Touro não tem argumento. — completou
Lídia.
Assim que alcançou o clímax Lídia fincou suavemente suas
unhas nas costas de seu marido que logo em seguida também chegou ao seu prazer.
Ele rolou para o seu lado da cama. Esperou seus batimentos voltarem ao normal e
olhou para ela. Desde quando chegou, Lídia está estranha, calada, diferente do
normal.
— Posso saber o que aconteceu? — Gustavo soltou a pergunta no
ar.
— Nada. Não aconteceu nada. — se deitou em seu peito. — pra
ser sincera, aconteceu sim.
Gustavo se preparou para a avalanche que viria.
— Eu te amo muito. Amo você e Queren. Eu sei que no início
tudo foi muito conturbado, mas eu a amo como se fosse minha filha.
— Sei disso. Aliás, eu sempre soube. Lembra quando ela te
chamou de mãe pela primeira vez? Foi emocionante. — Gustavo a beijou na cabeça.
— É mesmo. Foi legal. Às meninas queriam bater nela . Ela
correu e falou. Minha mãe é uma policial e ela vai prender todas vocês. — falou
rindo.
— Graças a Deus vocês se entenderam.
— Vamos pro banho?
— Você quem manda, agente Toledo.
*
Quem nasceu para ser do crime, não adianta que nada será o
bastante para ele. Gilmar Dutra se tornou um gangster famoso e procurado já
desbravou diversos horizontes, porém há um que ele ainda não explorou. Sua
primeira aventura no crime foi um desastre. Imagine um trombadinha magro e
desengonçado tentando roubar pessoas em praça pública fazendo uso de um
canivete cego? Esse era Dutra aos quatorze anos guiados por rapazes maiores de
idade para conseguir um trocado. Sua primeira abordagem aconteceu no famoso
calçadão de Viva Paz onde ele sacou seu minúsculo canivete e o apontou para uma
senhora.
— Vamos, vovó, passa a bolsa, anda logo.
A idosa o ignorou passando por ele apertando o passo.
Furioso, mas também frustrado, o pequeno marginal ainda tentou desferir alguns
golpes com a arma branca, mas foi surpreendido pela guarda municipal que o
colocou pra correr.
— Mais que droga. Nem pra ladrão eu sirvo. — falou correndo.
Quando chegou a idade adulta Gilmar integrou a um grupo
mafioso especialista em roubo de loja de joias. Finalmente Dutra se encontrou
nesse meio. Foram vários roubos. Várias fugas com direito a troca de tiros com
a polícia. Gilmar foi ocupando posições na máfia até assumir o cargo de segundo
homem. Foi aí que ele se viu capaz de se tornar chefe do crime. Durante uma
operação no centro da cidade o então líder foi morto. Dutra eliminou seus
concorrentes e chamou seu amigo Sueco formando assim a Liga Vermelha. Hoje ele
quer mais, muito mais. Desde quando começou a roubar carga nas autoestradas,
alguma coisa vem lhe falando ao ouvido.
— Sueco? — bateu na porta do quarto do amigo. — tem alguém aí
com você?
A porta foi aberta. Sueco estava nu e haviam duas garotas
dormindo abraçadas.
— Diga? — bocejou.
— Acorde às meninas e as mande embora. Temos um trabalho a
ser feito.
Sueco bocejou mais uma vez coçando suas partes íntimas.
— Que tipo de trabalho?
— Vamos roubar o banco VP Central.