sábado, 22 de maio de 2021

Alta Pressão — Último capítulo da parte um

 


Alta

Pressão

Capítulo 5

 

Lídia Toledo. Quem diria que aquela menina loira, bonitinha com carinha de anjo se tornaria numa das melhores policiais de Viva Paz e que se casaria com um campeão de boxe? Seu pai um ex militar que nunca se deu bem na vida devido ao alcoolismo lutou para que a filha caçula fosse o que ele sonhou em ser, um agente das forças auxiliares. Seu Geraldo Toledo conseguiu, porém a doença que o corroía por dentro não o permitiu ver sua filhinha formada. Geraldo desejava ser um agente da lei e Lídia sabia disso e por isso ela se esmera em tentar fazer um trabalho de excelência ante a sociedade.

Ela se orgulha do que fez. Colocar a cabeça de Gilmar Dutra a prêmio foi sim uma jogada de mestre. A isca foi lançada resta somente o peixe mordê-la. A tarde passou. A noite chegou e avança, mas Lídia segue trabalhando e de forma acelerada. Álvaro bateu duas vezes na porta que estava entreaberta.

— Achei que já estivesse em casa.

— Estou conferindo as últimas denúncias. — girou a cadeira ficando de frente para o chefe.

— E aí? — colocou às mãos na cintura.

— Nada.

— Será que não demos um tiro no pé? — andou até a janela. — Gilmar Dutra é um sujeito esperto, perigoso, depois de saber que ele se tornou um alvo, ele não seria tão burro de ficar dando sopa nas ruas.

— Sim, mas, veja pelo outro lado. Agora Dutra desconfia até da própria sombra. No crime não há fidelidade e muito menos lealdade, é cobra caçando cobra. O resultado virá.

— Bom, se quem está dizendo é a melhor policial de Viva Paz, quem sou eu pra duvidar.

Restou a policial ruborizar às bochechas.

— Está com fome? — Álvaro colocou as mãos nos bolsos.

— Faminta.

— Sei de um lugar que serve o melhor e maior hambúrguer da região, quer ir lá comigo? É por minha conta.

Quando Lídia percebeu já estava pegando suas coisas.

 

*

 

Tirando aquela capa de delegado, e toda aquela imponência, Álvaro não passa de um cara gente boa que adora jogar conversa fora num balcão de hamburgueria. Mas uma coisa é inegável, ele tem um charme quase irresistível.

— A minha carreira na polícia começou de forma modesta e aos poucos foi tomando volume.

Chegaram os pedidos.

— Quando eu ainda trabalhava na PM participei de incursões que ao meu ver nada mais era do que uma missão suicida. Perdi companheiros e vi outros serem feridos com gravidade, tudo porque não houve um planejamento adequado. Eu jurei pra mim mesmo que quando me formasse delegado jamais colocaria a vida de meus homens em perigo.

— Tive sorte então. — riu.

— Pode crer que sim. — tomou o suco. — e aí, o que achou do lugar, da comida?

— Maravilhoso, você sempre vem aqui? Eu não conhecia.

— Sou um homem sozinho, agente Toledo, quando não estou afim de cozinhar é pra cá que eu ligo. — outro gole no suco.

— Sério, e o que você cozinha? — Lídia ajeitou o corpo.

— De tudo um pouco, porém, a minha especialidade é frutos do mar.

— Amo!

— Legal, posso fazer um cozido de peixe com camarão e lhe convidar para almoçar.

Lá vem ele mais uma vez com seu charme irresistível.

— Ótimo, vou provar da comida do poderoso Álvaro Linhares.

Álvaro conteve a gargalhada. Seu celular tocou.

— Álvaro. — pausa. — o que, tem certeza? — outra pausa. — chego aí em dez minutos.

Lídia estava atônita.

— O que houve?

— Gilmar Dutra nos mandou um recado. Vamos.

 

*

 

Um  corpo, um cadáver, e não um cadáver comum, mas sim o corpo de um caçador de recompensas procurado não só pela polícia, mas também por todos os fora da lei de Viva Paz. Cacau. Amarrado. Sinais visíveis de tortura pesada. Foi jogado na porta do DPVP como se fosse um saco de lixo. Álvaro olhava para aquela situação tentando imaginar como tudo foi feito. A seu lado Lídia engole seco, sente que seu chefe está a ponto de explodir e dizer aos berros o quanto ela estava errada. Não. Nada disso aconteceu. Álvaro andou até perto dos policiais fardados e os questionou.

— Vocês foram atrás do carro e o que aconteceu depois?

— Eles atiraram e nos despistaram, senhor. Eles tinham um poder de fogo maior.

— Era gente do Gilmar mesmo? — o delegado se voltou para o corpo.

— Sem dúvida alguma, senhor. Esse era o tal de Cacau, um mercenariozinho. Ele deve ter visto a questão da recompensa e deu nisso.

— Sei bem quem ele é. Preciso que patrulhem essa região, certo?

— Pode deixar, senhor.

 

O recado da bandidagem foi dado. Todos que tentarem se aproximar terão o mesmo fim que Cacau. Lídia olhou para os papéis em cima de sua mesa e pela primeira vez sentiu que estava perdendo o controle da situação. Nesses casos, o melhor a ser feito é pedir ajuda. Duas cabeças pensam melhor do que uma. Motivada por isso ela organizou a papelada e foi até a sala do chefe.

— Preciso de sua autorização para busca e apreensão.

— De quem? — Álvaro ergueu a cabeça.

— Ora, de quem, Gilmar Dutra, de quem mais seria?

Álvaro deixou sua mesa.

— Lídia, escute, nada do que fizermos agora adiantará.

— Ele zombou da nossa cara, delegado.

— Sim, mas e daí? Dutra está desesperado, foi um clássico sinal de desespero. Vou lhe dizer uma coisa, detetive, quando você precisa falar que é, na verdade você não é. Entendeu?

Lídia olhou Álvaro nos olhos.

— Você é uma mulher inteligente. — colocou sua mão no ombro dela. — sei como está se sentindo, eu também já estive em seu lugar, tudo que peço agora é calma.

Sim. A mão do delegado agora se encontra segurando levemente seu brinco. Lídia sentiu suas pernas ficarem fracas e sua respiração acelerar sem controle. Álvaro a está seduzindo e se ele continuar insistindo dessa maneira ela não responderá pelos seus atos. O delegado é um sujeito experiente e vivido, conhece os caminhos que deixam o coração de qualquer mulher mexido e remexido. Aos poucos às costas de sua mão tocam seu rosto.

— Que pele sedosa. — disse olhando para ela.

Claro que a detetive não soube como responder a esse elogio, ou seria melhor, galanteio? Sei lá. Lídia está enfeitiçada pelo charme do chefe e se algo não for feito, ela pode acabar cometendo um gostosa besteira.

— Obrigada. É só isso.

— Ótimo. — se afastou. — vá pra casa. Pense essa noite.

— Sim, senhor.

 

*

 

Sueco assiste de longe a alegria de seu chefe. Isso é perigoso. Muito perigoso. Das últimas vezes em que Dutra se alegrou tanto assim eles quase foram pegos pela polícia. A mente de Gilmar é um labirinto. Sabe-se a entrada, porém a saída é algo impossível de se conhecer. Fato é, ele não é tão inteligente, porém o seu lado como líder compensa. Gilmar pode não ser inteligente, mas burro ele não é e nunca foi. Ele acabou de dar uma resposta as autoridades. Uma jogada e tanto. Filho da mãe.

— O que tanto você pensa, Sueco? Venha se divertir também. — convidou tirando o sutiã de uma das garotas.

— Meu médico me proibiu de comer carne, companheiro. — ergueu a lata de cerveja.

— Duvido. Veja quanta fartura temos. — balançou os seios nus da menina. — escolha uma e vá para minha suite.

Sueco bebeu toda a cerveja restante na lata e se levantou.

— Já que insiste. — pegou uma garota magra no colo. — vem com o papai.

— Viva a Liga Vermelha. — berrou a outra prostituta.

 

*

 

Queren e Gustavo assistem TV numa programação de esportes. Eles aguardam a exibição da entrevista dada pelos desafiantes comendo pipoca.

— Só quero ver, pai.

— Ah, filha, eu mandei bem, vamos ver o que aquele bobão falou.

De repente o apresentador fez a chamada.

Hoje nossa equipe conversou com os desafiantes Gustavo Mãos de rocha e Jorge Touro. Como todos sabem ambos já penduraram às luvas, mais o amor pelo boxe falou mais alto e agora irão se enfrentar num desafio de titãs.

Nesse momento Lídia chegou.

— Olá meus amores.

— Oi, amor, chegou bem na hora da entrevista, junte-se a nós.

— Opa, quero sim.

O jornalista começou com Jorge.

E aí, Touro, o que Gustavo pode esperar no ringue?

Jorge fixou o olhar na câmera.

— Dor, muita dor.

— Que cara idiota. — vociferou Queren.

— Pelo visto esse tal de Touro não tem argumento. — completou Lídia.

 

Assim que alcançou o clímax Lídia fincou suavemente suas unhas nas costas de seu marido que logo em seguida também chegou ao seu prazer. Ele rolou para o seu lado da cama. Esperou seus batimentos voltarem ao normal e olhou para ela. Desde quando chegou, Lídia está estranha, calada, diferente do normal.

— Posso saber o que aconteceu? — Gustavo soltou a pergunta no ar.

— Nada. Não aconteceu nada. — se deitou em seu peito. — pra ser sincera, aconteceu sim.

Gustavo se preparou para a avalanche que viria.

— Eu te amo muito. Amo você e Queren. Eu sei que no início tudo foi muito conturbado, mas eu a amo como se fosse minha filha.

— Sei disso. Aliás, eu sempre soube. Lembra quando ela te chamou de mãe pela primeira vez? Foi emocionante. — Gustavo a beijou na cabeça.

— É mesmo. Foi legal. Às meninas queriam bater nela . Ela correu e falou. Minha mãe é uma policial e ela vai prender todas vocês. — falou rindo.

— Graças a Deus vocês se entenderam.

— Vamos pro banho?

— Você quem manda, agente Toledo.

 

*

 

Quem nasceu para ser do crime, não adianta que nada será o bastante para ele. Gilmar Dutra se tornou um gangster famoso e procurado já desbravou diversos horizontes, porém há um que ele ainda não explorou. Sua primeira aventura no crime foi um desastre. Imagine um trombadinha magro e desengonçado tentando roubar pessoas em praça pública fazendo uso de um canivete cego? Esse era Dutra aos quatorze anos guiados por rapazes maiores de idade para conseguir um trocado. Sua primeira abordagem aconteceu no famoso calçadão de Viva Paz onde ele sacou seu minúsculo canivete e o apontou para uma senhora.

— Vamos, vovó, passa a bolsa, anda logo.

A idosa o ignorou passando por ele apertando o passo. Furioso, mas também frustrado, o pequeno marginal ainda tentou desferir alguns golpes com a arma branca, mas foi surpreendido pela guarda municipal que o colocou pra correr.

— Mais que droga. Nem pra ladrão eu sirvo. — falou correndo.

Quando chegou a idade adulta Gilmar integrou a um grupo mafioso especialista em roubo de loja de joias. Finalmente Dutra se encontrou nesse meio. Foram vários roubos. Várias fugas com direito a troca de tiros com a polícia. Gilmar foi ocupando posições na máfia até assumir o cargo de segundo homem. Foi aí que ele se viu capaz de se tornar chefe do crime. Durante uma operação no centro da cidade o então líder foi morto. Dutra eliminou seus concorrentes e chamou seu amigo Sueco formando assim a Liga Vermelha. Hoje ele quer mais, muito mais. Desde quando começou a roubar carga nas autoestradas, alguma coisa vem lhe falando ao ouvido.

— Sueco? — bateu na porta do quarto do amigo. — tem alguém aí com você?

A porta foi aberta. Sueco estava nu e haviam duas garotas dormindo abraçadas.

— Diga? — bocejou.

— Acorde às meninas e as mande embora. Temos um trabalho a ser feito.

Sueco bocejou mais uma vez coçando suas partes íntimas.

— Que tipo de trabalho?

— Vamos roubar o banco VP Central.

 

Em breve a segunda parte.

 

 

 

 

 

 

 


sábado, 15 de maio de 2021

Alta Pressão - Capítulo 4

 


Alta

Pressão

Capítulo 4

 

No que me tornei? Logo eu, criado com todo o rigor por minha vó materna que exigia de mim disciplina e uma boa dose de espiritualidade. No que me tornei? Do que valeu todo o esforço de minha vó que só queria que o único neto tivesse um destino diferente dos pais que se foram cedo demais. Meus pais se deixaram levar pela vida desregrada, sem limites, empapada por doses e mais doses de álcool e droga pesada. Graças a minha vovó eu fui resgatado a tempo, antes de ser consumido também e tudo pra que? Hoje tenho minha cabeça a prêmio por um valor alto. Me desculpe, vó, não estou fazendo valer o seu esforço.

Dutra abriu bem devagar a janela do apartamento onde se encontra escondido desde quando soube que toda Viva Paz está a sua procura. Seu coração bateu um pouco mais aliviado ao ver os dois seguranças posicionados do outro lado da calçada. Enquanto os dois estiverem ali, suas noites de sono estarão garantidas — pelo menos é o que ele pensa. Tudo em paz lá fora, agora é hora de sentar- se com seu braço direito e traçar novos rumos. Viver escondido não é vida pra ninguém. Ele precisa admitir, dessa vez a polícia fez um golaço jogando a população contra ele. Porém ele precisa reagir.

— Posso entrar? — perguntou Sueco parado na porta.

— Está atrasado, hein! — lhe apontou uma das cadeiras.

— Ué? Acordou de ovo virado? É a vida meu brother.

— Já chega, eu não tenho o dia inteiro, preciso de uma solução e rápido.

Sueco olhou para Gilmar um pouco mais demorado. O companheirismo dos dois é de longa data, teve seu início no reformatório quando ambos tocavam o terror nos corredores estreitos e escuros da instituição. Dutra era o mais ousado. Certa ocasião ele invadiu a sala da direção e destruiu tudo o que estava a sua frente. Isso lhe custou quinze dias de detenção, sem falar nas intermináveis surras dadas pelo próprio diretor. Gilmar sofria por agir por ímpeto, por isso ele se juntou a Sueco para pensar por ele.

— Eu te avisei. Atacar a polícia é assinar atestado de burrice.

— Eu precisava dar uma resposta. — vociferou.

— Pois é e agora tem uma cidade inteira atrás de você.

Gilmar voltou a abrir de leve a janela.

— Você é a cabeça pensante do grupo. Me tire dessa enrascada.

 

*

Um trinta e oito na cintura. Uma jaqueta suja para cobrir a droga da arma e agora e só ir lá e pegar o sujeito. Simples. Assim sobrevive um caçador de recompensas. Ele é conhecido pelo vulgo Cacau, devido ao seu tom de pele. Cacau leva a vida matando bandidos por soma em dinheiro vivo. Assim que soube da recompensa a Gilmar Dutra, ele adiou os outros compromissos para tentar a sorte com o maior malfeitor de Viva Paz.

— Matar Gilmar Dutra? Você está louco, Cacau? A polícia também está a sua procura. — alertou um cidadão em situação de rua.

— Prometo que, seu conseguir pegar o merda do Dutra, irei lhe tirar dessa vida. Combinado?

O homem encardido cuspiu o pedaço de pão e sorriu mostrando uma arcada dentária apodrecida.

— Agora eu dou valor.

Cacau subiu em sua motocicleta barulhenta e disparou rua afora deixando poeira para trás.

 

*

 

O treinador propôs um curto treino ao ex campeão, coisa que Gustavo aceitou de imediato. A bola da vez foi um dos alunos da própria academia onde o marido de Lídia e dono. Enquanto Gustavo se prepara para o combate, ele observa seu o voluntário se aquecendo espancando o saco de bater.

— Ele tem um cruzado de esquerda potente. — falou.

— Pois é, fique distante, ele não é qualquer aluno, Júnior tem futuro, ouviu?

— Pode deixar. — colocou o protetor de cabeça. — vamos nessa.

A luta treino começou lenta com ambos se estudando. Gustavo segue a risca às orientações de seu treinador sem mantendo distante de júnior. Ao contrário do ex campeão, o jovem precisa mostrar serviço, por isso ele decidiu ser mais agressivo. Com um bom jogo de pernas Júnior disparou o cruzado que explodiu no rosto de Gustavo que desabou.

— Nossa, que coice. — resmungou o treinador baixinho. — campeão, você está bem?

— Estou sim, eu só perdi o equilíbrio.

De volta ao combate Gustavo agora levará o treino um pouco mais a sério e encarar Júnior de igual para igual. De repente a luta ficou violenta demais com os lutadores trocando golpes fortes. Junior mandou outra vez seu cruzado de esquerda. Gustavo se esquivou. A guarda ficou imperfeita. O campeão aplicou um direto na ponta do queixo deixando o aluno sem rumo certo. Outra vez Gustavo o acertou e pronto, Júnior beijou a lona.

— É isso aí, Gustavo. — vibrou Baixinho. — Júnior, como você está?

— Apagado. — respondeu o treinador auxiliar.

Junior acordou e foi levado para a enfermaria. A autoconfiança de Gustavo ultrapassou o teto, mas ainda assim ele não consegue relaxar, isso porque ele conhece muito bem o potencial de seu adversário. Junior não é Jorge Touro, nem chega aos pés dele. Junior tem tudo para ser um ótimo pugilista, tem força, técnica, é rápido, mas Touro é o Touro. Depois das orientações de Baixinho, Gustavo tomou uma chuveirada para seguir com o trabalho na academia.

 

*

 

Além de bonita ela é extremamente inteligente, porém tem um único defeito; não é minha. Álvaro permitiu que pensamentos como esse lhe invadisse atrapalhando sua linha de raciocínio. Sua sala se transformou num verdadeiro auditório onde sua melhor policial discursa e estuda a melhor forma de se combater o crime organizado. Logo atrás dela está o mapa da cidade projetado com alguns pontos em vermelho. As regiões mais afetadas pela violência infelizmente são onde o estado de uma certa forma negligenciou.

— Vejam, senhores, são crianças, jovens e adultos que não são assistidos pelo estado os que mais estão inclinados ao crime. O crime os adota e eles aceitam porque? Alguém se habilita?

Álvaro pediu a palavra.

— Eles aceitam porque não há outra coisa a ser feita. Dinheiro fácil, dinheiro vivo. Imagine um menino de dez, quinze anos, louco por um tênis de marca ou videogame. A mãe e pai sequer conseguem alimenta-lo. A saída é o crime.

Lídia estalou os dedos.

— Certo! E, pessoas como Gilmar Dutra, se aproveitam do fato de serem pessoas pobres e necessitadas para alicia-las.

— A Liga Vermelha! — balbuciou o delegado. — o câncer de Viva Paz. — fechou o punho.

A reunião terminou. Álvaro voltou para sua mesa ainda embasbacado com a agente que simplesmente se encontra irresistível usado uma calça jeans justa, camisa preta, rabo de cavalo e com o distintivo pendurado. Lídia terminou de juntar suas coisas e olhou para o chefe.

— Sei que você quer dizer alguma coisa, Delegado Álvaro, pode dizer.

— Você foi perfeita. Pronto disse.

— Tem certeza? — pegou às pastas.

— Não. Gilmar declarou guerra ao estado. E agora que ele é o homem mais procurado da cidade, temos que levar em consideração que ele vai usar todo o seu poder de fogo contra nós. Não podemos só ficar nos defendendo.

— Então, o que o senhor está me propondo é...

— Isso mesmo. Uma ostensiva.

 

*

 

O último chute acertou com força a boca de Cacau lhe arrancando a sangue frio um canino. Sueco recolheu o dente do caçador de recompensas do chão e elogiou Dutra pelo feito.

— Rapaz, que bicuda foi essa. Desse jeito você vai ser convocado para a seleção hein.

— Vou arrancar todos os dentes desse otário. — outro chute no rosto.

Cacau se encontra amarrado com os braços para trás e deitado no chão e sofrendo os mais terríveis golpes pelo sapato de bico fino do rei do crime. A cada chute novos respingos de sangue. Seu rosto está desfigurado e ele já desmaiou algumas vezes.

— Legal. Mate esse imbecil e depois o coloque na porta do DPVP. Vamos dar um recado para os vermes.

 

 

 


sábado, 8 de maio de 2021

Alta Pressão - Capítulo 3

 


Alta

Pressão

Capítulo 3

 

Lídia chegou em casa e tudo o que ela mais queria era tomar um banho demorado e depois saborear uma refeição bem diferente, quem sabe uma massa? O fato de seu chefe direto ter entrado em sua sala e lhe convidar para sair foi algo que realmente ela não esperava acontecer nunca na vida. Ela ficou mexida, agora está que claro que de ambas as partes existe uma forte atração. Quando isso começou? Por que ela deixou isso crescer? Sim, claro, essas coisas fazem bem. Qual mulher que não gosta de se sentir desejada, mesmo sendo ela casada? O que a deixa de fato preocupada é, aonde isso vai parar? O que poderá acontecer depois de um possível jantar com Álvaro?

— Oi, amor, nem vi você chegar.

A voz de Gustavo a arrancou dos pensamentos.

— Eu estava louca por um banho.

— Quer companhia? — abriu de leve a porta do box.

— Hum, se você me pedir mais uma vez e desse jeito, acho que vou querer sim.

— Hum, sério? — a beijou. — a Queren está na sala te esperando, pedimos comida japonesa. Que tal?

— Ok, mais tarde então.

 

*

 

Dutra não quer se acostumar a perder sempre para a polícia. Na verdade ele não quer mais perder pra ninguém. Já chega. Muitos foram os investimentos e poucos os retornos. O plano que vem fazendo sua mente explodir é ousado e ele tem plena convicção de que estará acendendo o pavio de um barril de pólvora. Sueco não está nem um pouco contente com o plano, para ele, Gilmar estará dando um tiro no próprio pé.

— É isso mesmo que você quer, iniciar uma guerra contra a polícia? — falou guardando às granadas.

— Eu só estarei mostrando minha ira. A polícia simplesmente não pode achar que pode chegar e me causar prejuízo e sair sem resistência ou retaliação. Viva Paz será minha meu caro Sueco e quando isso acontecer, todos saberão quem eu sou de fato.

— Tudo bem, você quem manda.

 

A viatura está parada no acostamento de uma das avenidas mais movimentadas da cidade. Um PM está do lado de fora observando a movimentação e o outro digita com uma certa dificuldade no teclado do computador do carro.

— Droga, eu nunca vou conseguir ser mais rápido nesse negócio.

— Você precisa parar de beber, só isso, você treme demais. — brincou olhando para um carro diminuindo a velocidade.

— Muito engraçado.

O agente colocou a mão na arma, mas não deu tempo de saca-la. Quatro homens portando fuzis atiraram executando ambos os PMs. Em seguida Sueco lançou uma granada embaixo da viatura que praticamente levantou vôo.

— A primeira da noite já foi. Vamos.

 

Em outro ponto da cidade uma patamo parada em frente a um restaurante de luxo faz a segurança daquela localidade com pelo menos quatro PMs. Um motoqueiro passou e lançou um artefato. A granada explodiu causando pânico. Em seguida Sueco e sua turma passaram lançando outra e atirando.

— Aqui é o bonde do Dutra seus vermes. — berraram todos enquanto executavam sumariamente os policiais.

Clientes do restaurante deixavam o lugar aterrorizados com a situação. Uns ligavam pedindo ajuda. Outros filmavam. Em questão de minutos Viva Paz se tornou um campo de guerra. Em seu esconderijo, ao receber às notificações dos ataques, Gilmar vibrava como um futebolista que acabara de marcar um gol. Agora sim às coisas estão do jeito que ele gosta. Caos, medo, pânico, uma cidade sitiada. Deixar de ser um simples traficante ou ladrão de carga para se tornar um terrorista foi sua melhor decisão. Todos saberão quem é o autor dos ataques, eles terão sua assinatura. A cidade está em chamas.

 

Alguma coisa não deixa o chefe de polícia dormir e essa coisa tem nome, Lídia. Ele já tentou esquecê-la, mas nada o faz afasta-la de seus pensamentos e sonhos. Essa atração não começou de uma hora para outra. No início Lídia não passava de uma aspirante a investigadora bonitinha dentro do DPVP. Ele sempre soube que ela era comprometida e mesmo assim não reprimiu seus sentimentos por ela e agora não sabe como frear isso. Não, ele não sente ciúmes por Lídia ser casada e há porque sentir. O boxeador chegou primeiro, méritos pra ele. Se Toledo gosta dele? Sim, disso ele sabe, porém há uma barreira entre eles. Seu celular tocou em cima da mesa.

— Delegado Álvaro falando! — sua expressão mudou drasticamente. — como assim? — pausa. — acione a todos, estamos numa emergência, chego aí em meia hora.

 

*

 

Dar prazer a pessoa que se ama é bom, mas receber o prazer dela é melhor ainda. Lídia chegou ao clímax puxando os lençóis da cama entre espasmos. Como ela precisava disso. Combater o crime e defender o cidadão de bem sempre foi seu objetivo, porem requer da pessoa tempo, disposição e determinação e quanto a isso Lídia tem sobrando. O casal já estava se preparando para a próxima etapa quando o celular de Toledo vibrou.

— Sério? — resmungou Gustavo.

— Relaxa, não deve ser nada de mais.

Antes mesmo de pegar o aparelho a detetive já tinha visto o nome de Álvaro piscando na tela. Naturalmente duas coisas lhe vieram a mente; ou ele quer esticar o assunto que começou lá no DPVP ou algo de muito grave aconteceu e sinceramente ela gostaria muito que fosse a primeira situação.

— Toledo falando.

Agente Toledo, me desculpa, sua folga terá que ser cancelada, a cidade está em crise, a Liga Vermelha atacou. Me encontre na rua Bosque em vinte minutos.

Lídia girou o corpo e Gustavo já se encontrava vestido com seus short de dormir.

— Prometo continuarmos quando eu voltar. — falou correndo para o banheiro.

— Já vi esse filme antes.

 

*

 

Viaturas, todas elas patrulhando toda aquela região. Muita movimentação de civis curiosos querendo saber o que houve de fato. A imprensa a todo momento tenta furar o bloqueio policial disputando quem fará a melhor foto ou filmagem. Um repórter um pouco mais concentrado em passar a notícia visualizou a chegada de Lídia ao local e correu junto com seu câmera para conseguir uma exclusiva.

— Investigadora Lídia Toledo, pode nos atender por gentileza?

— Com quem estou falando? — espalmou a mão.

— Jorge Muniz do Folha Policial.

— Ah, sim, tudo bem. — abaixou o braço.

— A chamada Liga Vermelha tem envolvimento nós ataques, a senhora pode confirmar essa informação?

— Confirmo, sim. Mais uma vez o DPVP causou um prejuízo enorme a Liga e com certeza o que houve essa noite foi um tipo de resposta.

Nesse momento Álvaro apareceu gesticulando para ela.

— E quanto a prisão de Gilmar Dutra, já foi expedido o pedido não foi?

— Positivo. Agora com esses acontecimentos, a polícia não irá parar com às operações até sua captura.

Lídia andou até seu chefe que estava parado olhando a viatura atacada ainda com focos de incêndio.

— Dutra já mostrou do que é capaz e o que estamos fazendo?

— Ele queria guerra e a conseguiu. — se afastou.

— Aonde você vai?

— Prender o Dutra. — correu e entrou no carro.

 

*

 

Passar a madrugada inteira assistindo a vídeos de câmera que registraram o ataque. A vida de um policial mude de uma hora para outra num estalar de dedos. Até poucas horas atrás Lídia estava se deliciando num sexo maravilhoso com seu esposo depois de um jantar pra lá de exótico e agora ela se vê envolvida até o pescoço num provável ataque terrorista. Todo o departamento está em silêncio, mesmo porque já passa das uma da manhã. Antes de seguir para a próxima fita a detetive conferiu as mensagens de Gustavo no whatsapp.

Oi, ainda acordado?

Gustavo está digitando.

Eu estava vendo o que aconteceu. Parece cena de filme, meu Deus.

Pra você ver, eles não estão de brincadeira não.

Gustavo está digitando.

O que pensa em fazer?

Bom, sabemos quem foram os responsáveis, o que resta a fazer e encontrar Gilmar Dutra e prendê-lo.

Difícil, não?

Lídia está digitando.

Sim, quase impossível, mas eu já tenho um plano.

Essa é minha garota. Vá em frente, amor, prenda esses vagabundos.

 

*

 

A mão parruda do delegado repousou no ombro esquerdo de Lídia que dormia sentada diante do computador. Ela não se assustou, mas ficou impressionada ao ver que havia passado a noite ali. Seu corpo doía por inteiro.

— Café? — disse Álvaro erguendo a caneca.

— Ah, sim, obrigada.

— Como passou a noite? — olhou para o monitor. — já temos uma pista?

— Não, mas, tive uma ideia. — sorveu o café.

— Sim, compartilhe, por favor. — Álvaro puxou outra cadeira.

— Irei trabalhar como no velho oeste. Vamos oferecer uma recompensa pela cabeça de Gilmar Dutra.

— Está falando sério? — colocou a mão no queixo e apertou os olhos.

— Sim, muito sério. Fazendo isso a prisão de Dutra será questão de tempo. Temos que fazer com que Viva Paz pressione esses ratos a saírem dos buracos.

Álvaro arregalou os olhos.

— Siga em frente, Toledo, lhe dou total apoio.

O chefe deixou a sala e Lídia comemorou.

— Yes!

 

*

 

Assim como Gustavo, Touro também vem se empenhando nos treinos. Num passado recente aconteceu um combate onde Jorge terminou vencedor, mas algo além dos golpes deixaram sua cabeça confusa. Gustavo é um baita lutador, foi pura sorte ele conseguir nocauteá-lo. Os números não mentem, Touro venceu todos os combates contra Gustavo, mas a técnica que ele utiliza essa sim o assombra. Jorge Touro sabe mais do que ninguém de que ele não é um lutador muito técnico, a força é sempre a sua maior aliada, por isso venceu. Gustavo é sim um pugilista perigoso, inteligente, por isso está onde está.

— Muito bem Jorge, chuveiro. — orientou o treinador.

— Preciso de um sparing. — guardou às cordas.

— Melhor não, fizemos um treino físico pesado, vamos deixar o treino técnico para amanhã.

— Cara, o dia da luta está se aproximando, eu não vou subir no ringue para lutar com qualquer um. É contra o Gustavo.

— Jorge, eu entendo sua preocupação. Assisti a luta de vocês dois e vi que ele era melhor tecnicamente, tanto que os nocautes só vieram nos últimos assaltos. Mas agora o assunto é outro. Vocês já não são mais os mesmos lutadores de antes. O tempo passou. Vá com calma.

Jorge voltou a pegar às cordas.

— Só mais três de trinta, ok?

— Tudo bem. Manda ver.

 

*

 

Acordar com a sensação de ser o assunto em voga em toda cidade é algo novo para Gilmar. Agora ele não é só um ganguester pé de chinelo e sim um terrorista perigoso, em uma só noite executou quatro políciais de forma sumária. Seu nome se encontra nas redes, hoje ele é mais famoso que o presidente da república. Para seguir com às comemorações só mesmo um café fresco.

— Com licença, Dutra. — disse um dos seus guarda costas abrindo a porta do quarto.

— Diga? — falou bocejando.

— Sueco quer falar com você urgente. Deu merda.

— O que deu merda?

Sueco apareceu de repente segurando o jornal do dia que mostra sua foto e alguns dizeres.

Gilmar Dutra, indivíduo de altíssima periculosidade. Recompensa por sua captura 1 milhão de reais.

— Gilmar, você está muito encrencado, meu chapa.