segunda-feira, 27 de abril de 2020

A Sombra do Vingador - O começo


A Sombra do Vingador
O Começo

Frigideira aquecida. Manteiga e dois ovos. No relógio na parede 7h e Bruno Junior acelera o preparo do café da manhã. Mais uma vez ele chegará atrasado no departamento de polícia. Dois pães frescos e uma caneca de café com leite. Um desjejum reforçado já que o dia promete grandes emoções. TV ligada no volume médio para não acordar Carol que ainda baba deitada de bruços na cama. No noticiário matutino o mesmo de sempre, bolsa de valores, campeonato de futebol, violência nas ruas entre outras coisas.
      Assim que terminou o seu café da manhã, Bruno foi até o quarto e observou sua namorada deitada, semi nua, exibindo sua ótima forma física. Ela é muito gata mesmo, pensou o policial. O mal de Bruno é não conseguir fazer barulho. Quando estava colocando a calça ele se desequilibrou e esbarrou no frasco de creme da namorada. Carol não se assustou, apenas abriu os olhos e sorriu.
    - Bom dia, amor. – se espreguiçou.
    - Desculpa por te acordar tão cedo.
    - Não desculpo, você atrapalhou o meu sonho. – bocejou.
    - Sério, estava sonhando com o que? – apertou o cinto da calça.
    - Sonhei que você me beijava inteirinha, começando pelos pés. – esticou as pernas.
    Bruno Junior pegou a camisa de botão e a vestiu.
     - Nossa, mais que mulher quente é essa? Transamos muito ontem a noite, acordei atrasado até.
     - E daí? Eu quero mais hoje. – esticou o braço e segurou no volume da calça do agente.
     - Carol, querida, gostaria muito de ficar e reiniciar a brincadeira, mas o dever me chama.
     - Já sei. – se levantou contrariada. – a apreensão das drogas de Enrico Montanari. – deu um selinho no namorado. – parabéns pra você, herói.
     - Hoje iremos montar uma operação em conjunto com outros departamentos. Dessa vez o Italianinho vai para jaula. Quem manda nessa cidade é Bruno Junior. – pegou a arma e o distintivo.
     - Quero ver. – foi para o banheiro.

*

Mãos amarradas para trás. Um pedaço de pano dentro da boca e uma fita ao redor dela. Os pés também estão fortemente amarrados. No chão respingos de sangue fresco e nas mãos de Caio, capanga de Montanari, uma barra de ferro maciça. O torturado, ofegante, tenta manter-se acordado, mas isso é quase impossível. Ele olha para Caio e depois para o objeto em suas mãos.
     - Vamos lá, facilite as coisas para você. Vai falar ou não?
     Balançando a cabeça negativamente o homem se preparou para outros golpes, e eles vieram, todos nas pernas. Enrico entrou no recinto. Sempre bem vestido, blazer preto e camisa azul e um papel na mão. Por um instante ele acompanhou o martírio do torturado até Caio parar.
     - Opa, será que esse último estalo foi a tíbia se partindo? – olhou para o comparsa. – jamais quero arrumar confusão com você, Caio, você é mesmo um animal.
     - Vou considerar isso como um elogio. – limpou o suor da testa. – ele não vai confessar.
     - E nem precisa. – chutou uma das pernas. – já apurei. Ele contribuiu com a polícia. – mostrou ao sujeito as imagens no papel. – por sua causa perdi milhões com a apreensão das minhas drogas. Agora chegou a hora do ajuste de contas. Vamos lá, Caio. – bateu no ombro do assecla.

*

Mapa aberto sobre a mesa. Um piloto vermelho sinaliza os pontos onde as equipes devem se posicionar. Bruno Junior tem em sua sala cerca de dez policiais trabalhando duro para tirar de circulação o chefe da maior milícia da cidade, Enrico Montanari. O italiano é acusado de ser mandante de execuções de policiais e autoridades. Tem envolvimento com tráfico de drogas internacional entre outros esquemas, sujeito barra pesada. Em cima do mapa Junior colocou as fotos de Montanari e de Caio.
     - Estão vendo esse cara. – colocou o dedo na foto de Caio. – indivíduo de altíssima periculosidade, atende pelo nome de Caio, matador impiedoso, trabalha para o canalha do Montanari.  Todo cuidado e pouco. Temos que neutraliza-lo primeiro.
     - Já ouvi falar dele. – falou um agente barbudo. – vi como deixou sua última vítima. Meu Deus.
     - Pois é, vamos nessa, não pode passar de hoje. – bradou Bruno.
     Os homens ainda estava saindo da sala quando o celular tocou, era Carol.
      - Oi, querida?
      - Estou no mercado, posso levar um vinho para mais tarde?
      - Nossa, mas essa mulher está cheia de tesão.
      - Não paro de pensar na noite passada.
      - Legal, compre um bem gostoso. A noite nos vemos. Certo?
      - Não vejo a hora. – Carol Pimentel desligou o celular e abaixou para pegar a garrafa de vinho. Assim que ergueu o corpo deu de frente com um sujeito que colocou o cano da pistola em sua barriga.
      - Venha comigo, quietinha.

*

Um, dois, três, quatro socos, diretos no rosto já machucado de Carol. Caio sacode as mãos e as coloca no balde com gelo. Enrico se levantou do sofá e a puxou pelos cabelos.
     - Seu namoradinho vai gostar do presente.
     Caroline está amarrada a uma cadeira. Seu belo corpo está coberto de hematomas e feridas abertas. Ela chora, sabe que vai morrer. A seu lado um homem faz um vídeo usando o seu celular.
      - Uma pena ter que te matar, garota, mas o bosta do seu namorado quase me faliu e eu não vou deixar isso barato. – olhou Caio. – seja rápido, não quero que ela sofra mais. Assim que terminar envie o vídeo. – saiu da sala.
*

Bruno Junior está sentado no banco do carona da viatura se dirigindo para o ponto estratégico quando o celular vibrou em seu bolso. Ao ver que se tratava de um vídeo ele riu achando ser mais uma das peripécias de sua mulher, mais um vídeo de Carol pelada no banho, ela não tem jeito.
     O policial abriu o vídeo. O rosto de Caio sorrindo mostrando o corpo de Carol, só de calcinha e sutiã, mergulhado numa poça de sangue o fez sentir náuseas.
     - Que pena, ela não resistiu. Bom velório.
     A viatura cortou para o acostamento abruptamente. Bruno mostrou o conteúdo do vídeo para o companheiro de profissão que lamentou profundamente.
     - O que iremos fazer?
     Com os olhos úmidos o investigador olhou para o companheiro e depois declarou descendo do carro.
     - A operação acabou.
     - Como assim, a operação acabou, Bruno?
     - Preciso resolver essa parada com Montanari sozinho. Volte para o DP, isso é uma ordem. FIM

sexta-feira, 10 de abril de 2020

Eu Marquei um Encontro com Deus


Eu
Marquei
um encontro
com Deus!

Ela mexe o alimento dentro da panela. Vontade Estela não tem de fazer, tão pouco de comer ante a crise que vem vivendo em seu casamento. Ela chegou ao seu limite, mulher nenhuma merece viver esse inferno, essa tempestade. Logo Estela, uma mulher de princípios, criada por pais que temiam a Deus sobre todas as coisas. Estela, que resolveu apostar num casamento que já iniciou sem segurança alguma tanto sentimental quanto financeiramente. Mário não inspirava confiança e seu velho pai já lhe alertava quanto a isso.
      - Estelinha, minha filha, esse rapaz não trabalha, não tem profissão, do que vão viver? – falou seu João Batista.
      Pois é. Estela acreditou nas promessas, caiu na fábula de Mário que jurou ama-la, protegê-la pelo resto de sua vida. Trinta e cinco anos e nada disso aconteceu. Mário com o passar do tempo só piorou. Por Estela ser uma mulher muito plácida, agregadora, ela engoliu sapos e mais sapos, ela preferiu ceder sempre e por isso a dona de casa vem sofrendo desde então. Dizem que o melhor remédio para essas coisas é o tempo, só dizem, mas para uma mulher já machucada, o tempo se tornou cumplice de um homem instável e hipócrita como Mário.
      Estela terminou de preparar o jantar e se sentou na mesa da copa. Olhou para sua casa, ou melhor, algo parecido com casa, nem pra construir algo descente Mário prestou, tudo o que conseguiu fazer foi um puxadinho. A onda de raiva e tristeza a assolou outra vez, deu vontade de largar tudo e sair pelo mundo gritando aos quatro cantos o quanto é infeliz. Não, ao invés disso Estela orou, pediu a Deus uma solução. Faltando pouco para Mário chegar, Estela correu até o quarto. Pegou sua Bíblia e se sentou na ponta da cama. Dentro do livro sagrado havia uma esferográfica vermelha e um pequeno pedaço de papel o qual ela começou a escrever ainda chorando.

*

Mário derramou um pouco de vinho no busto de um menina que tem mais ou menos a idade de seu filho, feito isso ele a lambeu como um canino lambe uma vasilha de ração. A casa de prostituição se encontra lotada por homens bêbados ou drogados loucos por sexo. Há também meninas circulando com suas roupas brilhantes e minúsculas se exibindo oferecendo seus corpos. Mário puxou sua menina para o quarto.
      - Hora da diversão. – disse ele tirando a bermuda.
      - Não querendo me meter na sua vida, mas, você está aqui desde a tarde e sua mulher? – a menina se deitou na cama.
      - O que tem ela?
      - Ela não desconfia, não liga, qual a dela?
      - Minha flor, vamos parar de falar na dona Maria se não eu brocho. – se jogou em cima da meretriz.
      Lá se foi mais uma quinzena gasta com bebidas e prostitutas. Perto da meia noite Mário abriu a porta da frente e entrou. Estela abriu os olhos despertando do sono. Correu até a sala onde seu esposo já se encontrava tirando a camisa.
      - Vai jantar, quer que eu esquente a comida?
      - Não precisa, vou tomar um banho e cair na cama.
      - Posso saber aonde você estava, está cheirando a perfume barato.
      - Perfume barato? Eu estava no trabalho. – passou por ela se dirigindo ao banheiro.
      - Precisamos comprar gás, esse está perto de acabar, você pode deixar o dinheiro amanhã?
      - Caramba, Estela, você só sabe pedir dinheiro. Eu não tenho.
      Para não terminar esse dia ainda mais machucada, ainda mais ferida, Estela resolveu não esticar o assunto, voltou  ao quarto para tentar dormir. Claro que foi difícil pegar no sono, ainda mais depois que seu marido se deitou a seu lado ainda exalando perfume de mulher da vida, seu estômago lhe fez companhia durante toda a noite. O pior de toda essa história são os questionamentos, como mulher Estela fica a se perguntar aonde ela errou, será que a culpa é totalmente dela? Sou uma boa esposa? Por que ele prefere as piranhas da rua ao invés dela? Inúmeros porquês batem com força não permitindo que ela descanse. Nesses casos a melhor coisa a se fazer é falar diretamente com Deus, Ele sim tem todas as respostas.

*

Por não conseguir dormir, Estela acordou com sua cabeça explodindo, a dor era tão forte que ela fez uso do remédio antes do café da manhã. Mário ainda roncava esparramado na cama quando o telefone tocou, bocejando a dona de casa atendeu e como um bálsamo que alivia a dor a voz do filho tirou de Estela um sorriso iluminado.
      - Oi, benção, mãe!
      - Deus abençoe meu filho, como vão as coisas por aí?
      - Muito trabalho, muitos estudos o dia todo, e o pai?
      - Seu pai está na mesma, saindo sem falar para onde vai e voltando tarde da noite.
      - Poxa, estou vendo que ele não mudou nada, ele havia prometido que mudaria, que passaria a dar mais atenção para a família, para a senhora...
      - É, meu filho, Mário é um homem que precisa urgente de uma providência divina.
      Marinho mora no exterior, saiu de casa para estudar e trabalhar, mas é claro que não foi só isso que o motivou a abandonar seu lar, na verdade o rapaz já não suportava ter que dividir o mesmo teto com o pai. Tantas foram as brigas, desentendimentos, troca de acusações e discussões que duravam semanas. Portugal foi o seu refúgio. Certa manhã, sem se despedir do pai, ele beijou a testa da mãe e partiu.
      - Obrigado por ligar, filho, fique com Deus.
      - Valeu, mãe, nas férias eu dou uma passada aí.
      Estela sempre desejou ter mais de um filho, um casal sempre foi o seu sonho de consumo, mas os planos de Mário eram outros, por ele, eles não teriam nem mesmo Marinho, crianças gastam muito, dizia ele. Estela precisou fazer muita força e quando estava preste a desistir da maternidade, és que a cegonha lhe presenteou com um menininho sorridente. Se por um lado Mário filho trouxe alegria e luz para a casa, por outro e não por culpa da criança, o que já estava ruim ficou ainda pior. Mário foi um pai ausente, relapso, sem afetividade alguma. Marinho cresceu tendo ao lado um pai exigente, grosso, estupido, um péssimo exemplo de homem.

*

A cama daquele motel sujo de beira de estrada queima o fogo diabólico da traição. Mário se afoga no suor da amante lhe fazendo juras de amor eterno. Depois do prazer o banho compartilhado e em seguida hora de alimentar o corpo. Mário gastou seus últimos reais no pagamento do motel e do almoço. Na saída eles combinaram de se encontrar no final de semana nesse mesmo lugar e horário. Para um homem como Mário a traição faz parte do pacote, casamento que não tiver uma intriga dessa natureza não é casamento. Até que no início quando ainda dava tempo de reverter a situação ele sentia uma ponta de arrependimento, mas tudo foi pelo ralo assim que tocou na pele morena da outra naquela noite fria e chuvosa. Hoje em dia o mecânico já está mais do que impermeabilizado ante a tudo que vem acontecendo, Mario não se importa se Estela desconfia de alguma coisa, caso isso um dia aconteça ele tem a justificativa na ponta da língua “você não faz o que elas fazem, simples assim”
      Sem se preocupar com o que virá ao colocar os pés em casa depois de passar o dia inteiro fora, Mário entrou em casa. Passou pela sala vazia e andou até a cozinha de onde vinha um cheiro de queimado. Na panela o que era arroz agora se tornou um punhado de carvão.
       - Ora, mais que lerdeza é essa dessa mulher. – gritou. – Estela, cadê você?
       Mário jogou a panela na pia e abriu a torneira. Xingando uma barbaridade ele correu até o quarto e deu de cara com Estela caída perto da cômoda.
      - Estela? – se agachou ao lado da esposa. – Estela, essa não, meu Deus.

Um infarto, um terrível mal que dizimou a triste vida da dona casa e colocou um ponto final na história de Estela Andrade. No sepultamento Marinho não quis ficar ao lado do pai, preferiu ficar com os tios, ele sabe que Mário possui sua parcela de culpa quanto ao falecimento de sua mãe.
     - Seu pai está sofrendo muito, tem certeza de que não quer ir lá falar com ele? – perguntou um dos tios no cemitério.
     - Não. – foi bastante categórico. – meu pai precisa aprender a lição. Tenho certeza que aquelas lágrimas são de um profundo remorso.
     O corpo de Estela foi deixado naquela cova debaixo de um sol ameno numa tarde de Setembro. Os poucos amigos que lhe restaram prestaram ao mecânico suas condolências assim que tudo terminou no cemitério. Chorando muito ele esperou que seu filho viessem lhe acalentar, mas isso não aconteceu, Marinho entrou num dos carros e partiu para o aeroporto.
      - Meu filho. – falou sozinho. – fique mais um pouco, por favor.
     Desde esse dia Mário não foi mais o mesmo. A morte repentina de sua mulher o deixou nu no que se refere a alegria, vontade de viver a vida, curtir com as meninas da rua, tudo isso parece ter ficado dentro do caixão junto com Estela. No trabalho na oficina seus companheiros de profissão ainda tentam consola-lo com palavras e convites para noitadas, Mário está irredutível. A cada final de expediente o sofrimento recomeça, como entrar naquela casa e não ver Estela com aquele olhar triste, mas ao mesmo tempo esperançoso? Como não sentir sua presença lúgubre em cada canto, cada cômodo? Como?
     Devagar ele retorna ao lar. Acende a luz. Tudo tão amargo, tão saudoso, Mário anda até a cozinha, o lugar preferido de Estela, desse lugar saíram as refeições mais saborosas, simples, porém deliciosas. Ele abriu o armário, tudo organizado como ela gostava que estivesse.
      - Meu Deus, por que? – chorou.
      Foi até a área de serviço, ainda há roupas dela no varal de chão, camisola, peças íntimas entre outras coisas, tudo faz lembrar dela. No quarto os sentimentos afloraram ainda mais ao ver em cima da cômoda o porta retrato onde Marinho, Estela e ele estão juntos. Mário se lembra desse dia. Foi num domingo onde ele não gostaria de estar, no parque de diversões. Mário passou o dia inteiro reclamando por estar gastando dinheiro e também por não haver atrativos para ele.
     - Também não há diversão para mim, mas veja a alegria no rosto do Marinho. – disse Estela.
     - Ah, estou achando isso tudo uma tremenda bobagem, vamos embora.
     Dói muito. Nunca foi um bom pai e nunca se esforçou para ser. Sempre foi um péssimo marido e não fazia questão de ser. Mário se jogou na cama e chorou encolhido até perder as forças e dormir.

*

Meses sem Estela, sem ter contato com o filho, sem se alimentar direito, vivendo um inferno existencial. Mário tenta as duras penas se concentrar no trabalho, mas está difícil.
     - Mário, já posso ligar para a cliente do Corolla? – perguntou o gerente da oficina.
     - Ainda faltam alguns ajustes. – saiu debaixo do automóvel.
     Visivelmente preocupado o rapaz consultou o horário em seu relógio.
     - Mário, aqui priorizamos prazo, você havia dito que as 15h o carro estaria pronto, faltam cinco para as quinze.
     - Poxa, não tem como dizer a ela para passar amanhã?
     - Tá de sacanagem não está? E como fica a reputação da empresa, Mário? Se as coisas continuarem nesse ritmo eu não sei não hein.
     - Caramba, Beto, quebra meu galho aí cara, eu estou dando o meu melhor. – os olhos encheram de lágrimas.
     Beto olhou para Mário e expirou.
     - Você deve estar enfrentando a maior barra, não estar? – Mário meneou a cabeça. – tudo bem, eu reconheço que em seus melhores dias você dava o sangue aqui. Vou ligar para a cliente e estender o prazo até amanhã, ok?
     - Valeu, Beto.
    Assim que chegou em casa a vontade de ligar para Marinho foi do nível um ao nível máximo e ele não resistiu. Com as mãos trêmulas digitou o número do filho que demorou um pouco para atender.
      - Fala, Mário?
      - Fala, Mário, como assim, onde está o “bencão, pai”?
       - Estou um pouco ocupado agora, o senhor quer me dizer logo o que quer?
       - O pai está com saudade, muita saudade, estou me sentindo abandonado, esquecido...
       - Sentindo na pele o que você fez com a minha mãe, a diferença é que de fato minha mãe morreu e você a considerava morta, mesmo ela viva, aqui se faz, aqui se paga.
       - Me desejando mal, é isso? – choramingou.
       - Pai, infelizmente o senhor plantou isso, o senhor não valorizou a sua família, não fez questão de conseguir de nós amor e hoje nada pode ser feito. Terá que conviver com isso. Engula.
         Mário ouvia tudo calado, sentindo o coração ser fatiado por cada verdade dita pelo filho. Hoje o mecânico enxerga com clareza o mal que fez e que agora é tarde para reconstruir.
     - Mais alguma coisa, pai?
     - Não meu filho, vá trabalhar, não irei te atrapalhar mais, tá bom? – disse entre soluços.
     - Se cuida. – desligou.
     Um filho inimigo. Mário fracassou como pai e quando isso acontece, na maioria das vezes, os confrontos entre pai e filho costumam ser os mais nocivos, piores que grandes batalhas. Engula isso, ouvir tais palavras da boca de Marinho doeu pra valer e durou a noite toda. De madrugada Mário encontrou dentro da maleta de ferramentas um pequeno frasco de veneno para ratos. Dentro havia pouco da substância mortal. Ele virou o pote na boca e para ajudar a descer Mário tomou dois copos de água e se sentou aguardando a morte chegar.

*

Lá fora um galo teima em cantar anunciando um novo dia. Aos poucos os olhos vão se abrindo. O corpo está podre e a cabeça pior ainda. Mário tem no canto da boca resíduos de que aconteceu nessa madrugada. Deitado no meio da sala e a seu lado punhados de vômitos, o mecânico balança a cabeça lamentando o fato de não conseguir dar cabo a própria vida.
     - Será que nem pra isso eu presto, meu Deus.
     Foi a pior noite de sua existência, o mal estar causado pelo envenenamento o fez ter múltiplos pesadelos, um seguido do outro, fora o fato de ter dormido no chão, isso arrebentou com a coluna do viúvo. Mário não sabe se agradece a Deus por estar vivo ou não, na verdade Mário nunca se importou muito com o Criador, para ele Deus está muito distante e alheio a qualquer dificuldade de sua criação. Diferente de seu esposo, Estela sempre recorreu ao Senhor, ela não era religiosa, amava a Deus pelo fato Dele ser Senhor e também porque independente dela ser pequena, pecadora Deus nunca a deixou só.
      Quando saiu do banho, ainda pensando no assunto sobre Deus, Mário pela primeira vez na vida sentiu vontade de conferir nas escrituras o que fascinava tanto sua finada mulher. Não foi difícil encontrar a bíblia de capa rosa de Estela, ela sempre a deixava em cima da cômoda. O pranto foi inevitável. Estela costumava orar baixinho na madrugada para não acorda-lo depois das noitadas, era uma mulher fantástica. Com um certo desconforto ele abriu a bíblia. Se sentou na cama e leu algumas passagens. As lágrimas molhavam cada página e o nó formado na garganta representava para ele as vezes em que sua esposa o queria junto dela. Mário não soube explicar nem para ele próprio, mas a palavra perdão veio forte em sua mente. Ele fechou o livro sagrado e se levantou, perdão, sim, o perdão é a saída para os males.

*

Mário sempre achou que nunca conseguiria negar um convite para passar a noite na farra, desde a morte de Estela ele vem fazer isso com bastante frequência e o que é melhor, sem peso algum na consciência. No momento ele só tem cabeça para uma única coisa, o pedido de perdão para a falecida. Um drama, um verdadeiro drama onde as emoções e os sentimentos estão aflorados. Mário sabe que sua esposa nunca mais voltará. Que dilema. Isso o vem consumindo dia e noite. “Se ao menos eu tivesse a oportunidade de vê-la, nem que fosse por um minuto, não hesitaria em lhe pedir perdão” estaria Mário ficando louco? Estaria ele propondo um desafio ao Criador? Mesmo no trabalho ele se pega pensando nessa questão.
     - E aí, Mário? – perguntou Beto. – como vão as coisas?
     - Ainda não consegui superar a partida de Estela, acho que nunca superarei. – falou limpando as ferramentas.
     - Não fale assim, ainda está muito recente, claro que você vai superar. – apertou o ombro do funcionário.
     Palavras são apenas palavras, não podemos ignora-las, mas quase sempre elas são levadas pelo vento. Mário não produziu mais uma vez no trabalho, o expediente acabou e serviços ficaram pela metade. Perdão. Tudo o que ele fez com Estela precisa ser perdoado por ela, mas como, ela morreu, e agora?
     Querida Estela, quando se casou comigo, eu me lembro do brilho em seus olhos, da felicidade estampada em seu rosto. Tudo que fiz foi acabar com tudo, destruí nosso casamento, fiz de sua existência um caos. Se ao menos eu tivesse a chance de lhe pedir perdão por tudo. Se eu tivesse que pagar com a vida, eu pagaria só para segurar em suas mãos e dizer que fui um boçal, um monstro. Me perdoe, querida, por te matar em minha vida.
     Mário chorou forte, sozinho, tendo as paredes como testemunha. Cambaleante ele andou até a janela. Fixou os olhos no céu escuro e falou.
      - Eu sei que está aí, me olhando e sei que está se divertindo com o meu desespero. – limpou as lágrimas. – eu não sou crente, nunca quis ser, mas eu sei que está me ouvindo. Quero falar com o Senhor, pessoalmente e entenda o que estou dizendo. Quero conversar com o Senhor.
     Mário abaixou o olhar até um quiosque que fica bem em frente sua casa.
      - Quero me encontrar com o Senhor amanhã, ali, as nove em ponto, certo?
      Mário riu do que fez.
      - O que estou fazendo? – gargalhou.

*
Foi mais uma noite de sono pesado. Mário acordou cedo e sua boca estava seca. O ar dentro daquela casa estava estranho, quente e úmido. Só depois de colocar as ideias em ordem foi que ele viu que passou a noite no sofá. Tropeçando e com o corpo dolorido o mecânico andou até a janela. Lá fora o dia está bonito, sol forte com vento sacolejando as plantações. No quiosque algo ou alguém acenava para ele. Mário piscou algumas vezes e depois olhou com mais atenção. Sim, tinha uma pessoa acenando para ele sentado numa das mesas. As pernas finas começaram a tremer e o viúvo virou e viu o pequeno relógio em cima do raque que marcava nove e quinze.
      - Eu não estou acreditando nisso.
      Mário voltou a olhar para aquela figura sentada a mesa. Seu vestido era branco, não um branco comum, o tecido era translúcido. Ele continuava a chamá-lo. Mário abriu a porta. Passou pelo portão meio que anestesiado. Atravessou a rua e olhou para aquele ser ali também olhando para ele.
     - Você havia marcado às nove, não foi?
     - Sim, sim, vamos devagar, com quem eu falo?
     - Você falou comigo ontem a noite, se lembra? Marcou um encontro comigo aqui, nesse lugar. Aqui estou.
     O rosto também tinha um brilho azul claro, tudo naquela ser parecia delicado, as mãos, os pés a voz, tudo nele transmitia paz.
     - Deus? – apertou os olhos.
     - Sente-se, Mário Andrade.
     - Antes de me sentar, será que posso pedir uma prova.
     - Ah, aquela velha história, vocês são tão inseguros. Pare com isso, Mário, você já é adulto o suficiente. Vamos, fique a vontade.
      Ainda de pé Mário olhou o movimento do quiosque.
      - Eles podem te ver?
      - Não, ninguém jamais viu Deus. – entrelaçou os dedos.
      - Então eu estou falando sozinho, em pé, aqui?
      - Se é nisso que crer.
      O mecânico puxou a cadeira e se sentou lentamente na frente do ser. Engolindo seco e com mil coisas se passando em sua mente Mário não conseguiu formular sequer uma pergunta.
      - Deus?
      - Ou talvez, o sujeito lá de cima, você falava assim, lembra?
      Essa declaração o deixou desconfortável.
      - Não precisa ficar assim, eu te entendo.
      Silêncio.
      - O que foi? – Mário perguntou.
      - Diga você.
      - O Senhor já sabe o que eu quero.
      - Gostaria muito de poder ouvi-lo falar.
      Outro silêncio. Uma lágrima escorreu.
      - Acho que não tenho esse direito. Sou uma pessoa que nunca valorizei suas coisas, sempre as desprezei. – se levantou. – desculpa se lhe fiz perder tempo.
      - Fique comigo.
      Os olhos Dele se tornaram semelhantes aos de sua finada mãe, a mulher que ele mais amou nesse mundo. Mário voltou a se sentar.
      - Mário, veja bem, de uma forma ou de outra, todos desprezam as minhas coisas, até mesmo aqueles que declaram me servir. Você só é mais um nesse mundo.
     - Mais, eu abusei, mentiras, traições, desperdícios em coisas que não me acrescentaram em nada, joguei fora tudo o que construí.
     - Sim, eu sei, sua família por exemplo foi uma das coisas, não foi?
     Mário a partir desse ponto não conseguiu mais olhar para Deus e nem mais segurar as lágrimas. A palavra família soa muito forte e machuca bastante, principalmente mencionada pelo próprio fundador da família.
      - O Senhor viu tudo, não foi?
      Deus meneou a cabeça dizendo sim.
      - E por que não me impediu?
      - E por que não pediu a minha ajuda? Esse é um dos grandes problemas de todos vocês, agem por impulso, por ímpeto, e quando as coisas ficam ruins me culpam. Mas eu entendo.
      O dono do quiosque se aproximou da mesa com o menu.
      - Com licença, bom dia, já querem fazer o pedido?
      Com o coração disparado, Mário olhou para Deus que sorriu.
      - Ele pode te ver?
      - Não! – pegou o cardápio. – vamos tomar o café da manhã completo, o que acha Mário?
      - Si, sim, vamos tomar café.
      O dono do quiosque terminou de anotar e saiu. Mário se voltou para o Senhor.
      - Só me explica uma coisa. O seu aspecto é de causar espanto, é maravilhoso, mas ao mesmo tempo nos causa estranheza, como ele agiu com tanta naturalidade com o Senhor?
      - Ele infelizmente não está com o coração aberto, por isso que, para ele eu sou um velho amigo teu de infância, está conseguindo me acompanhar?
      - Sério? – arregalou os olhos.
      - Muito sério. Mas me diga, por que marcou esse encontro?

*
Demorou um pouco, mas conforme o tempo foi passando Mário foi desabafando, retirando do fundo do íntimo tudo que estava entulhado, tudo que bloqueava os mais puros sentimentos de entrar. Em nenhum momento o Senhor o interrompeu, acompanhou calado tanto as lamúrias, quanto aos desabafos. O pedido chegou e eles continuavam a conversar, por incrível que pareça a comida não esfriou, Deus não deixou que isso acontecesse.
      Mário estava indo muito bem até que o assunto Estela ocupou o lugar de destaque e isso fez com que o mecânico pisasse no freio. Deus observou a mudança brusca na expressão do sujeito e seguiu em silêncio.
      - Tenho certeza que minha esposa partiu muito magoada.
      - Sim.
      - O Senhor viu o coração dela, não foi?
      Deus disse que sim com a cabeça.
      - O que tinha no momento da morte dela? – chorou.
      - Bom. No momento Estela sentiu uma forte dor no peito e no outro ela já não estava mais aqui. Tudo que posso dizer é que sua esposa foi uma mulher fragilizada, fizeram dela uma mulher frágil, porém Estela lutou muito, sempre que precisava recorria a mim.
      - Pois é, eu as vezes a flagrava orando, mesmo depois das brigas. Nossa. – colocou as mãos no rosto abafando o pranto. – fiz da vida da minha mulher um inferno, a xingava, magoava, a provocava, ela não merecia, não merecia mesmo. – de repente Mário tirou as mãos do rosto e fechou o semblante. – por que tirou a vida dela?
     - Estava demorando você colocar a culpa em mim. Quer mesmo que eu fale?
     Mário ruborizou.
     - A coroa da minha criação, não é assim que falam nos templos, que o homem é a cereja do bolo de tudo o que fiz? Mas uma coisa eu digo Mário Andrade, vocês, não honram esse título, abusam de minha bondade e misericórdia. Vocês não fazem por merecer e ainda tem a coragem de me pedir algo.
     Mário abriu a boca para interromper, mas Deus não permitiu.
    - Vou dizer por que chamei Estela. Antes dela ser concebida eu já havia feito os planos para a vida dela e depois disso permiti que ela viesse a esse mundo. Ela estava indo muito bem até vocês se conhecerem. Eu lhe conhecia, Mário, mas Estela não. A minha filha também cometeu erros assim como todos, porém com um diferencial, ela os reconhecia e se arrependia. Recolhi Estela porque os meus planos para ela terminavam ali e digo mais. – Deus se inclinou. – ela cumpriu sua missão.
     - Senhor, me desculpe. Eu só fiz aquela mulher sofrer, ela gemia calada no canto dela, aceitava todas as minhas provocações e suportava como ninguém as traições. Como assim ela cumpriu a missão dela?
     - Bom. Estamos aqui agora.
    Mário calou a boca, iria fazer outro questionamento, mas se calou. Trêmulo ele provou do café olhando para Deus. Estela cumpriu sua missão. Tudo agora fazia sentido. A xícara voltou para o pirex e o Criador aguardou com paciência ele se restabelecer.
     - Senhor, o meu filho, Marinho, eu...
     - Eu já estou cuidando do coração dele. – voltou a se recostar na cadeira. – estou esperando que faça o seu pedido.
     Um nó se formou na garganta e logo uma secura na boca o impediu de falar. Mário se sentiu estranho, mas conseguiu falar.
      - Mário, venha comigo, vamos dar um passeio.

*

Deus e Mário caminharam cerca de uma hora, conversaram sobre muitas coisas, inclusive sobre a criação do mundo. Deus tinha algo diferente para a humanidade e mesmo depois da vinda de seu Unigênito ao mundo os homens seguem traçando suas próprias metas excluindo Deus de seus planos. Deus falou também que planejou para o ser humano uma vida mais íntima com ele, porém eles preferiram se aglomerar em templos, enganando a si mesmos, cultuando tudo, menos a Ele.
     - Se vocês entendessem que eu prefiro um coração arrependido do que horas e horas de celebrações, ah, isso sim seria um verdadeiro culto.
     Durante a caminhada algumas pessoas passavam por eles e cumprimentavam a ambos, mas o que chamou mais atenção foram as crianças.
     - Oi, Senhor. – disse uma menininha negra de mãos dadas com a mãe.
     Eles deram a volta no quarteirão e quando estavam voltando Mário diminuiu o passo e abriu o coração.
     - Senhor. – eles pararam perto de um jardim onde há uma fonte artificial. – eu gostaria muito de ter a oportunidade de pedir perdão a Estela, se isso fosse o último ato de minha existência, eu gostaria de poder realizá-lo agora. Mesmo que eu tenha que ir para o inferno hoje, eu iria entender porque eu mereço o castigo.
     - Mário, eu estabeleci uma regra onde os mortos não podem voltar ao mundo dos vivos. – Mário abaixou a cabeça. – lembra quando lhe falei que Estela havia cumprido a missão dela? – O viúvo assentiu. – posso fazer uma pergunta, mas saiba que eu já sei a resposta.
     - Sim?
     - Você a amava, não é?
     - Eu só não admitia, não me declarava, mas eu a amava sim. – fechou os olhos.
     - Eu sei disso. – colocou as mãos nos ombros do mecânico. – e é por isso que eu vou lhe conceder essa oportunidade. Vi algo em seu coração Mário Andrade. Vá, Estela te aguarda em casa.
      - Sério, Senhor? – Deus já havia ido embora.

Mário chegou em casa transpirando muito e com a respiração irregular. Entrou na sala e sentiu um clima leve, uma esperança palpável. Toda aquele ar enegrecido já não existia mais. Foi até a cozinha, tudo em ordem, a panela de arroz cozinhando. Seu peito parecendo um motor trabalhando em sua potencia máxima. Correu até o quarto e lá está ela, Estela, linda, diferente, com um sorriso contagiante.
     - Mário. – disse ela sentada na cama.
     - Es, Estela, você voltou.
     - De onde? – colocou os cabelos atrás das orelhas.
     - Você havia morrido, não se lembra?
     - Sim, mas, eu jamais saí dessa casa. Sente-se querido.
     - Como assim?
     - Eu infartei aqui, senti uma dor horrível no peito, mas depois disso veio um alívio celestial e adormeci e quando abri os olhos eu estava aqui com você.
      “ Os mortos não sabem que estão mortos?” pensou Mário.
      - Tudo bem, Estela, está tudo bem. – Mário fez força para não chorar.
      - Você está tão diferente, nem parece aquele Mário. O que houve?
     Foi inevitável. Mais uma vez o mecânico perdeu a guerra contra ele mesmo. Num gesto inesperado ele segurou as mãos mornas da esposa e chorou feito uma criança.
     - Estela, eu, sei que te fiz sofrer, te traí e você suportou tudo isso durante anos. Eu destruí nosso casamento, nossa família, nossas vidas. Me perdoe querida, por favor, me perdoe.
     De olhos fechados Mário só sentiu as mãos delicadas de Estela segurando seu rosto.
     - Querido, abra os olhos, vamos.
     Relutante Mário abriu os olhos e viu sua mulher de uma forma que ele jamais viu um ser humano. Estela havia ganhado um novo Tom de pele, um olhar de pura ternura e sua voz era baixa, porém ele a entendia perfeitamente.
      - Claro que eu te perdôo. Eu vivia pedindo a Deus uma resposta, por que ele me colocou no mundo? E agora eu sei o porquê. Eu cumpri a missão. Agora estou me recordando de uma oração que fiz, eu dizia, Senhor, por que eu, por que me juntou a ele? Deus não me respondeu de imediato, mas agora percebo que Ele me usou como instrumento para te levar até Ele. Eu estou muito feliz.
       - Obrigado por tudo, querida. – beijou as mãos dela. – eu tenho mais uma coisa a dizer.
       - Eu já sei. – riu.
       - Como assim já sabe?
       - Apesar das traições, das brigas e grosserias, você nunca deixou de me amar, não é?
       - Sim, sim, eu sempre te amei. – beijou as mãos dela outra vez.
       - Fique em paz, querido, tente ser o melhor homem do mundo, o melhor ser humano, seja amigo de Deus. – aos poucos Estela começava a desaparecer.
       - Oh, Estela, fique mais um pouco.
      - Em breve nos veremos. Até lá.
      O encontro durou apenas alguns minutos, mas foi o divisor de águas na vida do mecânico Mário Andrade. Tempos depois ele teve um encontro com seu filho e tudo foi acertado. Desde então Mário foi um outro homem. As melhores mudanças acontecem de dentro para fora. Essa foi uma obra de ficção, um conto onde podemos ver o quanto o Senhor é misericordioso e compassivo. Deus está sempre perto de nós, desejoso da nossa aproximação. Marque você um encontro com Ele, tome um café, almoce ou jante com Ele, o convide para passear, conte a Ele o que você almeja. Ele é seu amigo e amigos são para essas coisas. FIM.