quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

LINHA POLICIAL - Série completa


  

LINHA POLICIAL

Série completa

 

 

Quem disse que homem não pode brincar de boneca? Quem foi o preconceituoso que estabeleceu essa regra maldita? Bonecas são seres que, diferente dos seres de carne e osso, não fazem mal algum. Eu gosto delas. Sempre gostei. Minha irmã compartilhava comigo algumas das inúmeras que ela tinha. Eu me lembro que passávamos o final de semana inteiro brincando de casinha. Que lembrança boa. Saudades de você minha irmã querida. Eu também tinha a curiosidade de saber o que as bonecas tinham dentro delas. Coração? Rim? Pulmão ou fígado? Não, não havia nada disso lá dentro. Bonecas de brinquedo são ocas. Esse foi o motivo pelo qual minha irmã rompeu comigo, eu as destruía. Bonecas de brinquedo não gritam e nem choram. Por isso prefiro bonecas humanas.

 

*

  - Mara, entenda, não há mais clima para morarmos juntos. – falou Paulo Alves olhando para a bomba de gasolina. – minha querida, se coloque no meu lugar, eu vi você saindo do motel junto com outro cara, você quer que eu pense o que, que vocês foram lá comer uma pizza? – o frentista apareceu na janela.

     - Trinta reais, senhor.

     Paulo já estava com uma nota de cinquenta entre os dedos e a passou para o funcionário do posto.

      - Mara é o seguinte, a noite conversamos com calma, certo? Fui! – encerrou a ligação e jogou o aparelho no banco do carona.

      O troco chegou. Paulo agradeceu e saiu com seu Sandero grafite do posto. Paulo Alves, 26 anos, policial a um ano somente, irá se apresentar no departamento de polícia da cidade no setor de investigação. Se ele está nervoso? Ansioso talvez seja a palavra certa. Investigador Paulo Alves, quem diria? Seu finado pai estaria orgulhoso. Jovem, de boa aparência, Paulo já foi ajudante de padeiro. Acordava antes das galinhas, não gostava do que fazia, por isso pediu demissão com seis meses de casa. Quando feirante, Paulo conseguiu levantar uma boa grana. Todo o dinheiro que ganhou vendendo laranja, ele depositou em sua conta bancária afim de custear o concurso para a polícia. Assim que ingressou na corporação, Paulo foi jogado nas ruas junto com outro sujeito medroso e inexperiente portando uma 45. Fez algumas prisões. Bateu em viciados e acertou a canela de um ladrão de bicicleta. Foi uma época legal, mas tudo o que ele queria era trabalhar com inteligência e foi o que fez. Lutou muito até chegar no objetivo, mas chegou e agora ele está a poucos quilômetros de se apresentar ao chefe Damião Ramos.

 

*

 

O departamento de polícia. Lugar que pode ser muito bem comparado a uma cidade que foi devastada por um tsunami. Logo na entrada, um sujeito que foi detido por agredir o dono de um bar por se negar vender mais um copo de pinga a ele, luta para se livrar das algemas. Paulo passou por ele que era vigiado por um policial e o mesmo o perguntou se ele tinha a chave.

     - Ei, você tem cara de quem é da polícia, me passa a chave logo.

     Dando de ombros, Alves se aproximou do balcão mostrando sua identificação e o documento de transferência. O policial responsável leu o documento em pé, num dinamismo fora do comum. Olhou para a foto e depois para Paulo.

      - Investigador Paulo Alves, seja bem vindo, irei conduzi-lo a sala do chefe.

      - Obrigado!

      Dentro do DP a confusão é ainda maior. Muita circulação de agentes. Telefones tocando. Murmúrios e sons de teclados sendo digitados. A sala do chefe localiza-se no fim de um corredor extenso de baixa iluminação.

      - O chefe já mandou trocar essas lâmpadas, mas só que... – tentou explicar.

      - Sei como essas coisas funcionam.

     Damião Ramos, um baita negro com quase dois metros de altura e cento e poucos quilos bem pesados. Assim que o agente e Paulo entraram, sua voz grave e alta soou como um estrondo por toda a sala.

      - Detetive Alves, senhor. – informou o policial.

      - Ótimo, valeu Clóvis. – Damião se levantou assustando o novato. – seja bem vindo ao caos agente Alves.

      - Obrigado, chefe. – a mão do líder encobriu a do investigador.

      - Veio disposto a trabalhar, fazer o que tem que ser feito? – abriu o paletó e se sentou.

      - Sim, senhor. – engoliu seco.

      - Puxei seu histórico ontem a noite e vi que o senhor nunca trabalhou no setor investigativo. Devo me preocupar com isso? – entrelaçou os dedos.

      - Li sobre o senhor e vi que na época em que serviu as forças armadas, o senhor não sabia o que fazer com o fuzil e no entanto, hoje comanda um departamento policial com maestria. Tudo tem sua primeira vez, chefe.

       Damião não sabia se ria, se chorava ou se apertava o pescoço daquele novato atrevido. Optou por sorrir. Foi mais fácil.

       - Ótimo, muito bom. – bateu na mesa e depois abriu a segunda gaveta. – quero que veja essas fotos. – as colocou na frente do investigador.

       Três fotos. Três arrepiantes imagens de uma cabeça feminina jogada num terreno baldio. Paulo as pegou lentamente e uma a uma foi analisando. Um olho aberto e o outro quase fechado. A boca semiaberta. Cabelos ruivos não naturais – assim pensou Paulo – jovem, aparenta ter a mesma idade que ele. Alves abaixou as fotos e contemplou Damião com sua expressão raivosa o fuzilando com o olhar.

      - Eu iria deixar esse caso com o detetive Guimarães, porém o mesmo adoeceu. Sua vinda para cá foi emergencial. Assuma o caso e por favor. Me deixe informado. Pode ir.

     Fora da caverna, como todos ali chamam a sala de Damião, Alves foi conduzido pelo mesmo policial até sua mesa. Segurando as fotos, Paulo ligou o computador e abriu o Google. Analisou mais uma vez as imagens.

      - E o resto do corpo? – batia no queixo com o indicador.

      Digitou de forma bem simples, cabeça de mulher é encontrada. Vários sites de notícias surgiram. Paulo clicou num de sua confiança e leu toda matéria com atenção. Fez algumas anotações e saiu. Enquanto cruzava o corredor sua cabeça girava a uma velocidade estonteante, um bom policial mergulha fundo no caso. Um excelente detetive volta ao princípio de tudo e dali ele organiza sua linha de investigação. Farei isso. Paulo Alves preferiu ir com seu veículo ao local. Hora de me tornar um policial de verdade.

 

 

 *

 

Mara. A mulher que Paulo um dia pensou em ser a mãe de seus filhos. A mulher pela qual se apaixonou de verdade, o traiu. Logo agora? Justo quando ele está vivendo a realização de um sonho, ser investigador da polícia, justo agora? Que vida é essa? Está certo, é preciso saber separar o pessoal do profissional, mas isso é algo quase impossível. Dizem os mais religiosos que quando a vida pessoal vai bem, tudo transcorre em paz. Paulo prefere acreditar nessas palavras mesmo não sendo tão espiritual assim. O problema é que ele ainda é apaixonado por Mara, ela tem tudo que um homem gosta. Bonita, inteligente, gostosa, sabe transar como poucas e tem uma visão de futuro incrível. Aonde está o problema então? Seria ele o causador de toda essa tempestade?

     O Sandero parou enfrente ao terreno onde a cabeça foi encontrada. Calça jeans, camisa justa ao corpo, sapatos engraxados. Paulo mais parece um garoto de programa do que um policial. Melhor rever isso, pensou ele entrando no terreno. Muito entulho espalhado, mato crescido e há também sacolas de lixo por ali. Andando um pouco mais, o detetive chegou num ponto onde possivelmente a cabeça foi achada. Olhando mais de perto pode-se ver sangue seco no meio das pedras.

       - Foi aqui! – sacou o telefone e bateu algumas dezenas de fotos.

       A grande dúvida é, o que fizeram com o restante do corpo? Que motivação é essa? O que teria feito a coitada da ruiva? Ainda se perguntando, Paulo olhou ao redor e não viu nenhum ponto de iluminação. aquele lugar a noite deve ser tenebroso. Quando já estava passando pelos tapumes mal colocados, Alves viu um cartão de visitas amassado, caído entre a calçada e a rua.

      - Loja de bonecas quase humanas. Curioso. – virou o verso do cartão. Um número de telefone muito mal escrito. Alves o enfiou no bolso e foi embora.

 

*

Janaína Lopes, jornalista de um tabloide digital. Adora as páginas polícias, por isso optou por ser a responsável em investigar e divulgar o que anda acontecendo por dentro das delegacias. Enquanto revisava seu texto, algo a chamou atenção. O horrendo caso da cabeça da ruiva. Ela leu o nome do investigador.

     - Paulo Alves. – clicou no nome onde abriu outra página com informações sobre o agente. Janaína leu somente o resumo. – não parece policial do setor de investigação, bonitinho demais. – ampliou a imagem. – preciso conversar com você detetive Alves.

      Janaína já teve a oportunidade de trabalhar em dois bons jornais, porém sua fama de fuxiqueira falou mais alto e ela não chegou a completar um ano em nenhum deles.

 Na época ela achou estar sofrendo racismo, mas assim que conseguiu entrar para o Cidade News descartou essa possibilidade. Graças a sua experiência, a página policial do tabloide é uma das mais lidas e solicitadas, ganhando prêmio inclusive. Mediana, bem magra e adepta ao uso dos cabelos naturais, Janaína se sente orgulhosa por representar uma classe sofrida e que precisa engolir preconceito atrás de preconceito.

 

*

 

Quem o vê andando de forma tão faceira no meio da rua não acredita que Romildo Silva seja um cara frio, um assassino gelado sem sangue passando pelas veias. O que teria acontecido com ele para que chegasse a esse ponto? Um terrível trauma de infância? Lógico que não. Romildo foi uma criança saudável, cercado de carinho, dedicação e atenção. Sua irmã mais nova, Olga, também foi uma criança que teve total atenção dos pais. O que houve de errado com Romildo? Por que matar? E não só matar, ele esquarteja suas vítimas, todas mulheres, suas bonecas como costume dizer. Bonecas de pano ou de plástico não gritam quando corto uma parte do corpo delas, mas as de carne e osso, ah, que legal.

    Alto, robusto, rosto grande e corado. A marca registrada de Romildo é com certeza seu bigode grisalho bastante grosso e mal aparado. Para se vestir até que o assassino tem bom gosto. Ao entrar na padaria ele contemplou uma boneca em potencial, a beleza da menina o fez salivar, Parece ter saído dos desenhos animados de princesa. Café puro e uma empadinha de frango. Comeu em pé mesmo, devorando a jovem estudante com seus olhos miúdos e apertados. Sem sombra de dúvidas ela será sua próxima boneca, a próxima a satisfazer, mesmo que de forma involuntária, os desejos mais sombrios de Romildo. Mas, felizmente para ela e infelizmente para ele, a mocinha foi surpreendida pelo namorado que a tapou os olhos por trás. Salva pelo gongo. O esquartejador deixou a padaria saboreando ainda a empadinha e lamentado a perda de uma nova boneca.

 

*

 

Pelo visto seu novo trabalho como detetive já anda dando às caras. Com mil coisas se passando a todo vapor em sua cabeça, ainda assim, Paulo consegue separar bem as situações. Ele pensa em Mara, em sua carreira como policial e também no caso, porém prioriza o que no momento se encontra ao alcance de suas mãos, o caso da ruiva. Vamos nessa então. Antes de ligar para o número da loja de bonecas quase humanas ele foi surpreendido pela chegada de uma negra linda, de olhos marcantes sendo conduzida por um agente fardado.

      - Investigador Paulo Alves, essa é Janaína Lopes do Cidade News.

      Paulo se levantou e a cumprimentou sem muita empolgação.

      - Em que posso ser útil?

      - Bom, é que, quero muito acompanhar as investigações do caso da cabeça da ruiva e...

      - Ah, sim, sente-se. Cidade News, já andei dando uma olhada nesse tabloide, vocês fazem um bom trabalho. – Alves se sentou meio largado. – digamos que eu estou bem no início, não tenho nada de concreto ainda.

      - Mas o que você acha? – começou a escrever no bloco.

      - Terrível. Um crime que merece toda atenção e também uma resolução. Farei o que for necessário pra que isso se resolva e o culpado seja detido.

      - Você é sempre muito formal desse jeito, detetive?

      - Quando estou trabalhando, sim.

      - E quando não está? – deixou o bloco de lado.

      - Bom. Aí eu me torno um jovem rapaz de 26 anos que só quer curtir com os amigos.

      - Legal! – recolheu seus pertences. – da próxima podemos marcar num lugar menos hostil. O que acha?

      - Boa ideia, quem sabe? Até lá já terei bastante material para publicação.

      Homens, são todos iguais. Esse discurso se encontra na boca de toda mulher. Paulo Alves viu Janaína indo embora e na hora ele riu como se fosse um garoto de quinze anos - é impressão minha ou ela me chamou para sair? Pensou. Passado esse momento de pura exaltação, ele ligou para a loja. Demorou-se um pouco, mas o atenderam.

       - Loja de bonecas o que deseja?

       - Sou o investigador Paulo Alves e...

       - Aí, graças a Deus, vocês a encontraram?

       Paulo sentiu o estômago dar um nó.

        - Calma, moça, encontramos quem?

        - A Jasmim, a menina que trabalha aqui como vendedora, ela sumiu tem dois dias.

        - Fique calma, chego aí em vinte minutos.

*

 

Jasmim está desaparecida há dois dias. Apareceu para trabalhar e como sempre, se entregou ao trabalho e inclusive, nesse último dia ela bateu sua meta nas vendas. A linda menina de traços europeus mais parecia uma santa de igreja com sua pele clara e rosto sereno. Paulo ouviu os relatos das outras funcionárias imaginando o que teria acontecido ou qual a motivação para o seu sumiço.

     - Ele tinha problemas familiares?

     - Pelo que eu saiba, não. – disse a gerente da loja. – Jasmim vivia falando bem do pai e da mãe assim como do irmão também. Ela era uma menina feliz nesse sentido.

     - E quanto a relacionamento amoroso, algum ex namorado ou marido?

     - Jasmim era solteira e fazia questão de permanecer assim até se formar na faculdade.

     - Ótimo. – se levantou. – vou querer as imagens das câmeras de segurança do último dia dela aqui.

     - Vou buscar as fitas.

     Paulo sente que o caso é ainda mais complexo. Pra ser sincero ele torce para que Jasmim seja só mais uma garota mimada que fugiu de casa por não saber lidar ou não aceitar as regras do lar. Sim, do fundo do coração ele prefere que seja isso. Alves não quer encontrar outra cabeça perdida por aí. Imagina, em seu primeiro caso como investigador ter que se debruçar diante de um assassino em série? Muita loucura seria. As fitas chegaram.

     - Terei que levá-las.

     - Sem problemas. – a gerente apertou os olhos. – por favor, detetive Alves, encontre nossa menina.

    - Vou encontrá-la.

 

*

 

O molho de chaves foi parar em cima da mesa de centro assim como o distintivo. A arma foi posta com todo o cuidado no braço do sofá. O apartamento se encontra numa penumbra estranha, Paulo pode sentir isso assim que entrou. A pistola mais uma vez voltou para suas mãos.

     - Mara, você ainda está aqui? – mirou na porta da cozinha. – sem essa de brincadeira Mara, não se assusta um policial desse jeito.

     Silêncio. Paulo andou até o meio da sala ainda com a arma em punho.

     - Merda, Mara, assim você vai acabar levando um tiro.

     Decepcionada a mulher deixou o quarto em trajes sensuais lamentando por terem estragado a surpresa. Realmente Mara é uma morena estonteante. Depois de cortar os cabelos bem curtos ela ficou ainda mais sexy, do jeito de Paulo gosta.

     - Poxa, amor, queria fazer uma surpresa. – colocou as mãos na cintura.

     - Disse certo, queria. – guardou a pistola no coldre. – precisamos conversar e você sabe disso.

     Bufando Mara se sentou tapando sua parte íntima com a almofada. Paulo deve admitir, que mulher sensacional. Por fora ele se faz de forte, mas por dentro a vontade é de jogar tudo o que aconteceu pela janela e transar com ela até não conseguir mais.

      - Paulinho, eu, eu...

      - Contra fatos não há argumentos, Mara, eu vi vocês saindo do motel, você não está lidando com otário não.

      - Posso falar? – descruzou as pernas. E que pernas.

      - Não. Chega. Você já falou muito. Não tem jeito, Mara. – sentou-se ao lado dela quase babando olhando para o decote da lingerie. – só me diga uma coisa. Ele é melhor do que eu?

      - Melhor em que? – se virou para ele.

       - Não se faça de desentendida.

       - Isso nós iremos descobrir juntos.

       Mara pulou para o colo de Paulo. Pegou sua cabeça e a pressionou contra seu busto. O cheiro de sabonete líquido feminino, a pele macia e sedosa, as mãos acariciando seus cabelos, Alves achou que o zíper da calça fosse estourar tamanha sua excitação. Ele tentou resistir, mas suas mãos foram sozinhas até às costas de Mara e a livrou do sutiã. A respiração da namorada se tornou irregular assim que seus seios foram tocados pela boca do policial. Paulo Alves já estava partindo para a calcinha quando sua mente voltou naquele momento em que ele a viu sair do motel com outro cara. Água na fogueira.

     - Não!

     - Não o que, amor? – voz ofegante.

     - Não vou ceder. – a tirou de cima dele.

     - Aí, Paulinho, eu estou cheia de tesão e pelo não sou só eu. – apontou para o volume sua calça.

     - Já chega, Mara, pra mim já deu. Arrume suas coisas.

     - Está me mandando embora? – falou recolocando o sutiã.

     - Sim!

 

*

 

Jasmim Soares, daqui a três meses completará vinte anos e o que vida, o destino lhe reservou? Um sequestro seguido uma morte bem dolorosa. Nessas horas, quando estamos vivemos os últimos eventos de uma vida curta feito a de jasmim, nos demos conta do quanto somos pequenos, impotentes e por que não dizer dependentes de um ser maior. Com pés e mãos amarrados e jogada dentro daquela cubículo frio e mal cheiroso, a vendedora sente raiva dela próprio. Como pôde ser tão ingênua, tão boazinha, tão inocente e conservadora. Como foi cair na lábia do bigodudo com cara de maluco? Agora ele vai me matar ou sei lá o que, pensou ela ainda tentando se livrar das amarras.

     Romildo entrou no quarto, para desespero de jasmim. Seu olhar para ela era de um lunático sem freio, disposto o tudo. Com um mão na cintura e a outra em sua parte íntima a jovem já imaginou que iria lhe acontecer, por isso se preparou psicologicamente – do que adianta espernear, depois de se satisfazer ele vai me matar mesmo.

      - Você é linda, Jasmim, por isso está aqui, me apaixonei por você.

      - O que vai fazer? – chorou.

      - O que eu fiz com todas as minhas bonecas. Primeiro iremos trepar e logo mais irei arrancar os braços, às pernas e finalmente a cabeça. Não é assim que fazem as crianças com os brinquedos?

      - Me ajuda, estou amarrada aqui sem comida, com sede há dias...

      - Três dias, acho. – se aproximou dela e lhe apalpou os seios do tamanho de pêras. – são durinhos.

      - Tire suas mãos de mim, seu porco.

      - Vou lhe contar uma coisa, jasmim, eu costumo violentar minhas bonecas, mas antes eu as amordaço. Farei diferente com você, quero ouvir você gritando, me xingando e chorando. – apertou a bunda da garota. – e aí, o que acha da ideia?

       - Moço, pelo amor de Deus, eu, eu, ainda sou...

      Romildo Silva uivou feito um lobo para o lua cheia.

       - Uma boneca virgem, isso é demais, acho que vou transar mais de uma vez.

      Romildo a colocou de quatro na estreita cama de solteiro. Aos prantos Jasmim viu e sentiu sua calça sendo retirada junto com a calcinha. A única vez que isso aconteceu foi quando seu primo de segundo grau brincava com ela de marido e mulher nos fundos de sua casa. Ela também ficou de quatro, mas ele não a penetrou, só simulou. Agora tudo é diferente. Jasmim será desvirginada por um louco em fúria. Ela parou de chorar assim que sentiu algo morno cair entre suas nádegas.

      - Mil desculpas, querida, meu lubrificante acabou, terá que ser na saliva mesmo.

      E assim foi. Jasmim Soares aguentou calada tudo o que Romildo fez e olha que não foram poucas as loucuras. Nervoso por sua vítima não emitir nenhum som, o esquartejador passou a bater.

      - Grita, grita, vamos, eu quero ouvir você chorar. Vamos.

     Pobre jasmim. Um dia ela se imaginou sendo penetrada e apanhando, porém em condições diferentes e um homem de sua escolha.

 

 

 

É difícil se concentrar quando se tem mil coisas girando a todo vapor na mente. Por mais que Paulo force a barra, Mara continua lá, linda, cheirosa e gostosa, invadindo seus pensamentos. Vida que segue. O trabalho nesse momento vem em primeiro lugar. Sentado de forma relaxada Alves apertou o play e logo a fita de vídeo lhe deu as primeiras imagens da loja de bonecas. Lá está ela, jasmim – nossa, uma gatinha mesmo – é notório sua dedicação ao trabalho, sua entrega, mal o cliente entrou e ele já é recebido com um sorriso de fada. É venda na certa. Um casal entrou e foi recepcionado da mesma forma, claro que saíram dali com o produto em mãos.

     Damião Ramos parou e ficou ali, de pé, olhando o vídeo sem ser notado por Paulo.

     - Como vão às coisas, Alves?

    A voz do chefe soou como um trovão numa tempestade.

     - Opa! – se ajeitou. – sim, caminhando.

     - O que é isso? – cruzou os braços.

     - Imagens de uma loja de bonecas, essa vendedora desapareceu há três dias, penso eu que tanto o caso da ruiva quanto esse estão interligados.

     Damião voltou a olhar para o vídeo.

     - E o que te faz acreditar nessa hipótese?

    Rapidamente Paulo pegou o cartão de visitas em cima da mesa.

     - Achei isso no lugar onde encontraram a cabeça da ruiva. – entregou ao chefe.

     Meneando a cabeça o chefe analisou frente e verso do cartão e o devolveu ao detetive.

     - Siga em frente. Está no caminho certo. – saiu.

     Isso era tudo o que Alves queria ouvir numa manhã conturbada. Não chegou a ser um elogio, mas sim uma alavanca. Sentindo os efeitos das palavras do chefe ele voltou a se sentar e ficar praticamente com a cara enfiada no monitor – vou te pegar seu merda.

 

*

 

Janaína ultimamente, ou pelo menos desde quando conheceu pessoalmente o policial Paulo, ela anda confusa. Ela não sabe direito o que vem sentido por ele. Paixão? Admiração? Ou fogo no rabo mesmo? Pois é, ela sabe muito bem que com essas coisas não se brinca. Coisas do coração são perigosas demais. Janaína passou por um relacionamento que no início foi bacana, Fabio era um sujeito apaixonado, a tratava como uma rainha. Eles não se viam todos os dias, mas aos finais de semana se trancavam no apartamento dele e transavam até ficarem exaustos. Não demorou muito tempo para que Fabio tirasse a máscara e revelasse seu lado ciumento, possessivo e até violento. Foi duro. De repente a menina que era uma rainha se tornou a pior das plebeias. Janaína acreditava piamente que poderia construir uma família com Fábio, ser mãe de seus filhos. A vida e suas reviravoltas.

    Os tempos mudaram. Se uma mulher está afim de um cara, ela toma a iniciativa e isso cabe perfeitamente na jornalista. Janaína pegou o celular e ligou para Paulo que atendeu no primeiro toque.

      - Novidades?

      - Poucas.

      - Pode me contar? – girou a cadeira.

      - Sim, mas peço que não publique nada ainda, certo?

      - Você quem manda chefe. – brincou.

     Paulo disse tudo, ou quase tudo, ele conhece bem o mundo jornalístico. Ao fim da conversa Janaína Lopes resolveu atacar.

     - Ainda está de pé o nosso encontro informal?

     - Sim, está de pé sim, com certeza. Que tal hoje?

      - Hoje é dia útil, detetive. – falou vibrando.

      - E quando não é dia útil para um policial e para uma jornalista?

      - Tem razão. Posso escolher o lugar? Gosta de pizza?

      - E quem não gosta?

      - Legal, anote o endereço.

      Feito, ou melhor, fisgado. A ligação foi encerrada seguida de um gritinho de comemoração que chamou atenção de toda redação. Gás renovado. Nada como uma deliciosa pizza portuguesa para fechar bem a noite. Xeque-mate dona Janaína Lopes.

 

*

 

Conter pranto não é nada fácil, ainda mais depois de passar por situações tão traumáticas. Jasmim conheceu uma menina que foi estuprada, ela estudava no mesmo colégio que ela. Isso aconteceu faz bastante tempo, jasmim não se lembra exatamente em que ano estava e nem a série cursada. De uma coisa ela lembra, a menina nunca mais foi a mesma, as vezes ela dizia que preferiria ter morrido. E foi o que fez. Numa segunda-feira ela não apareceu na escola. Sua professora, visivelmente abalada pediu para que fizessem um semicírculo e despejou.

     - A Clara, a menina da outra turma cometeu suicídio. Rezamos por seus pais e familiares.

     Em posição fetal todo o corpo treme sem controle. Jasmim agora se vê como Clara, desejando a morte olhando para Romildo que se recompõe das duas trepadas sentado numa cadeira na outra extremidade da sala.

      - Olha, bem que eu gostaria de transar mais, porém confesso que ando fora de forma. – subiu o zíper. – e você, jasmim, aguentaria mais uma?

      Jasmim balbuciou algo.

      - Se quiser posso subir e tomar o azulzinho. Riu. – não, claro que não farei isso. – deu as costas. – volto logo, vou pegar o cutelo.

 

*

 

O sono começa a bater forte e os olhos parecem pesar uma tonelada cada um. Pois é, é o que acontece por ficar um longo período diante de um monitor. Paulo pausou o vídeo e foi até onde fica a cafeteira. Bocejando ele se serviu de um pouco mais da metade do copo. Tudo o que viu até agora no vídeo não o alarmou, não acionou seu lado policial. O caso da ruiva com certeza está interligado com o desaparecimento de Jasmim, isso ele não descarta jamais. O café é fresco, a temperatura mostra isso e Alves mais uma vez está diante do monitor um pouco mais acordado agora. Entra e sai de clientes. Jasmim ziquezaqueando entre eles tentado dar atenção a todos. Um cara olhando uma boneca no canto superior esquerdo, pelo menos aos olhos de Paulo ele não parece muito interessado no produto. Cada vez que jasmim passa por ele é observada descaradamente. Ele deve fazer parte do grupo de homens mais velhos que são tarados por novinhas.

     - Pode ser ele! – saltou quase derramando café na camisa. – pausou o vídeo. – meu Deus, será? – apertou o play.

     O tal sujeito finalmente tem atenção de jasmim. Eles conversam por um tempo e depois a vendedora o conduz para o outro lado da loja. Mais conversa. Jasmim tenta convencê-lo a comprar pelo menos uma boneca pequena de pano. Como era de se imaginar ele não levou nada, só queria estar perto da ninfeta. Jasmim lhe entregou o cartão da loja. O cara parece ter pedido algo que aparentemente ela se negou a fazer, mas por fim aceitou. Jasmim pegou o cartão de volta, sacou sua caneta do bolso e escreveu algo no verso. Na mesma hora Paulo olhou para o cartão de visitas sobre a mesa.

     - Te peguei, seu filho da mãe.

 

*

 

O rosto está salpicado de sangue, diferente das mãos e braços que estão cobertos por ele. Romildo terminou de arrancar a cabeça – ele sempre as deixa por último – com dificuldade para ergue-la no alto, ele enrolou os cabelos entre os dedos e a levantou até ficar cara a cara. O aspecto de jasmim é de cortar o coração. Os dois olhos abertos focando o nada e a boca semiaberta. Romildo Silva consegue olhar para aquilo e sentir prazer.

    - És a mais linda entre as outras. – a beijou na boca. – perfeita.

    Colocou a cabeça perto dos outros membros cortados e comemorou o terrível feito com palminhas. É preciso ser muito doente para se alegrar ante a um cenário macabro como por exemplo ter o corpo de alguém esquartejado, esvaindo sangue por todos os lados.

     - Bom. Hora de limpar essa sujeirinha.

 

*

 

Janaína não chega nem aos pés de Mara no quesito gostosura. A jornalista é magra, pouco quadril e pra contrariar de vez as preferências do policial, os seios não chegam nem na média, são bem pequenos. Por outro lado ela é simpática, agradável, incrivelmente inteligente e algo que Paulo pode notar no primeiro encontro com ela lá no DP, Janaína carrega nela uma sensualidade que o faz perder a concentração na conversa, imagina essa magrinha na cama?

     - Gostou da pizza? – perguntou Janaína cortando mais uma fatia.

     - Adorei, a massa é bem leve.

     - Eu só peço daqui. – fez uma pausa. – e o caso?

     - Achei que esse encontro fosse informal. – sorriu.

     - Verdade. – limpou a boca. – vamos falar de você então. – cruzou às pernas. – é casado, mora aonde, pra que time torce, por que entrou para a polícia?

     - São muitas perguntas, melhor pedirmos mais uma pizza. – brincou.

     - Concordo! Garçom.

     Foi uma noite pra lá de agradável. Risadas,  boa conversa, confissões, enfim, fazia tempo que ambos não se divertiam tanto. Janaína terminou aquele encontro ainda mais apaixonada por Paulo e ele por ela. O Sandero grafite parou em frente ao portão da casa de Janaína. No rádio o locutor anuncia a próxima canção.

     - Amo essa rádio. – disse Janaína.

     - Pois é, só toca música boa. – olhou para ela. - Gostei da nossa noite e você?

     - Encantada.

     - Quer repetir a dose?

     - Perguntando se macaco quer banana? – riram. A jornalista olhou para sua casa e disparou. – vamos entrar?

 

*

 

A casa de Janaína lembra muito uma exposição de quadros de artistas do passado e da atualidade. Por onde se olha há um famoso ou famosa sorrindo forçadamente. Paulo gostou, mas também achou estranho. Ele não perguntou o porquê e deixou para que a dona da casa se manifestasse.

    - Sou uma jornalista moderna senhor Alves, me interesso por essas personalidades.

    - E isso inclui Menudos? – apontou para o quadro.

    - Pois é, coisa de fã retardada. – riu. – quer beber alguma coisa?

    - Lhe acompanho.

    - Quando vai deixar a formalidade fora dessa detetive? Estamos num encontro. – andou até a cozinha.

    Pior que ela tem razão, Paulo está travado sem saber o que fazer. Janaína está no papo, ele sabe disso, mas como ir mais adiante? Ela voltou da cozinha com dois copos pela metade de uísque puro, sem gelo e muito decidida a fisgar de vez seu pretendente.

    - E o caso, detetive? – lhe entregou a bebida.

    - Estamos num encontro. – ergueu o copo.

    - Certo. Vamos começar o jogo. A cada ponto do caso que você revelar eu tiro uma peça de roupa. O que acha?

    Paulo apertou os olhos.

    - Está falando sério?

    - Nunca falei tão sério em toda minha vida. – tomou um gole.

    Ótimo, pensou ele.

     - Acredito eu que estamos diante de um caso de um assassino em série.

    Sim, Janaína tirou a blusa exibindo o sutiã.

    - Uma menina se encontra desaparecida e eu creio que o mesmo cara que a sequestrou é o mesmo que matou e decapitou a ruiva.

    A calça jeans foi tirada e depois o sutiã. Paulo quase infartou. Um corpo magro, mas muito chamativo. Ele sempre admirou as mulheres negras.

    - Só me diz uma coisa. Você está fazendo isso só por causa da sua matéria?

    - Não. – pegou o copo em cima da mesa de centro e engoliu o que restava da bebida. – estou fazendo isso porque estou louca por você, detetive. – o abraçou e o beijou.

 

*

 

Não me importo com o que os outros pensam de mim, se eu sou esquisitão o problema é meu. Passei muito tempo da minha vida vivendo em função do que os outros iriam pensar ou dizer do meu comportamento e das minhas atitudes. Chega, essa época passou, sou adulto, um novo Romildo Silva.

    Boas lembranças foram feitas para serem guardadas no fundo da alma de qualquer ser humano. Romildo costuma lembrar de sua infância sempre que a água morna do chuveiro entra em contato com sua pele. Ele se recorda de seus pais e sua irmã. Típica família que se reúne aos domingos para saborear o suculento frango assado feito pela rainha do lar. Quem iria adivinhar que do seio desse lar supostamente perfeito iria surgir um monstro assassino matador de mulheres? Romildo se transformou num homem sem piedade, frio, calculista, oco por dentro. Ele terminou o banho louco para capturar outra boneca.

 

*

 

Se livrar das garras insaciáveis da jornalista não foi nada fácil. Se no quesito estereótipo Janaína perde para Mara, no quesito desempenho sexual as duas empatam. Loucura pura. Assim que chegou ao departamento policial Paulo foi notificado sobre a solicitação de Damião em sua sala.

    - Vou logo dizendo, hoje o humor dele está péssimo. – alertou um agente.

    Agora imagine uma montanha gigante e enfurecida? Essa é a visão do policial se dirigindo ao gabinete do chefe. Por que as coisas são assim? Elas não podiam ser mais simples? Paulo Alves tocou duas vezes na porta e entrou. Damião Ramos continuou a digitar e a falar ao telefone. Intimidado, restou a Paulo aguardar espremido no canto. O telefone foi colocado no gancho de forma violenta.

     - Eles não conseguem fazer nada, absolutamente nada direito. – olhou para Alves. – aonde você estava?

     - Bom, eu...

     - Provavelmente estava com a jornalista, não é?

     Como ele sabe?

     - E não adianta mentir meu caro detetive. Quando entrou aqui o cheiro de sabonete feminino empestou a sala, sem falar no fato de você não estar barbeado. Acertei?

     - Acertou!

     - Viu? Ainda sou um bom investigador. – bateu palmas. – já temos o assassino da ruiva?

     - Não, ainda, mas tenho um suspeito. Lembra do caso do sumiço da vendedora?

      Damião fechou os olhos assentindo.

      Tudo foi explicado ao chefe que ouviu a tudo calado, sem mover um músculo. Isso é bom ou ruim? Quando terminou, Paulo estava ainda mais apreensivo e de uma certa forma com medo do que viria pela frente. Damião é uma incógnita em pessoa, é difícil decifra-lo.

     - Quer saber de uma coisa, agente Alves? Sua linha de investigação é um pouco confusa, fora dos padrões, mas pode dar certo. Agora vale um conselho.

     Alves empertigou-se.

      - Procure não ficar no achismo, vá lá e confira. Ver é melhor do que não ver. Entendeu?

     - Sim, senhor.

     - Dispensado!

     A curta reunião com Damião deu um novo gás ao jovem policial, “ver é melhor do que não ver” Paulo gostou disso. De volta a sua mesa ele se pôs a pensar. Por enquanto ele só tem a imagem do suposto matador. Sair do achismo. É preciso ir lá e conferir. Chega de pensar muito, hora de agir.

 

*

 

Ler sempre foi uma dificuldade para Romildo desde criança, mas o fato é, o que um cara que não suporta leitura faz dentro de uma livraria? Claro, uma boneca ambulante. Linda, apetitosa e provavelmente muito inteligente. Ela tem nas mãos dois livros de Stephen King, qual levar?

    - Eu levaria esse de capa preta. – interferiu Romildo.

    - “Escuridão total sem estrelas”. – falou desconfiada. – já leu os contos?

    - É... Sim! – ruborizou.

    - Pelo seu visual, o senhor adora leitura, acertei?

    - Amo, tenho todos desse autor e quero doa-los. Lhe interessa?

    - Muito! – riu.

    - Ótimo, vamos até minha casa, é aqui perto.

    Uma serpente. É isso que o velho Romildo Silva é, uma serpente. Michele foi envolvida, caiu na armadilha do esquartejador, será sua próxima boneca. A cara de satisfação do assassino e até seu jeito de andar faz pensar que ele está nas nuvens. A moça não para de tagarelar, mas isso não chega a incomodá-lo. O que ela lhe proporcionará será grandioso.

     - Chegamos. Seja bem vinda.

 

*

 

Romildo conduz Michele até o interior de sua casa. Logo de cara a moça estranha a organização do lugar e também o seu odor. Até agora nem sombra de uma estante repleta de livros. Calada, ela apenas seguiu os passos pesados do cinquentão esquisito. Eles já estão na cozinha e nada, somente o cheiro de carne podre que se potencializou.

     - Por um acaso o senhor está desgelando alguma carne?

     - Por que a pergunta? – se virou para ela.

     - O cheiro está muito forte. – tapou o nariz.

     - Deve ser minha velha geladeira, ela vive desligando sozinha. Eu ainda não tive tempo para joga-la fora.

     - Entendi. Vamos aos livros? – falou ainda com o nariz tapado.

     - Ótimo!

     Michele Prado, longe de ser uma diva, mas com toda certeza é uma boneca, seu par de pernas faz jus a isso. Cabelos cacheados e uma boca grande, suculenta. Romildo soube escolher bem. Agora eles andam lado a lado. Vez por outra seus olhos esbarram nos seios volumosos o fazendo salivar – vou me esbaldar. Tudo o que ele precisa agora é golpeá-la e pronto. Eles já estavam saindo pela porta dos fundos quando Romildo girou o corpo aplicando uma cotovelada que acertou em cheio o rosto de Michele. Ela caiu, mas não desmaiou.

     - O que significa isso?

     Rosto ruborizado. Dentes expostos e uma fúria incontrolável. Romildo tentou de todo jeito apagá-la com chutes na cabeça, porém Michele conseguiu se sair bem dessa.

     - Sua vaca. – gritou.

    Sentindo uma leve tontura devido a cotovelada, a mulher se apoiou nos braços para se levantar, mas foi segura pelos cabelos e puxada. Romildo fechou o punho para desferir um direto, só não contava com o pé esquerdo protegido por um tênis explodindo em suas partes baixas. Arfando, boca em forma de “O”, Silva se afastou segurando suas genitálias.

     - Sua vagabunda, você não perde por esperar.

    Entre tropeços e esbarrões nos móveis, a jovem recepcionista ganhou a sala seguindo na direção do quintal ouvindo os grunhidos de seu atacante. Choro e suor misturados a uma respiração descontrolada. Michele chegou ao quintal procurando onde se esconder ou até mesmo pular o muro. Ela correu até o portão e o forçou. Girou a fechadura de um lado para outro e nada. Romildo apareceu na porta já restabelecido do chute que levou no saco.

      - Não seja tão dramática minha Barbie, juntos iremos nos divertir. – correu.

      Michele gritou por socorro saltando e segurando na base do muro. O esquartejador a puxou pelas pernas. Seu corpo ao bater no chão produziu um som surdo e ela se contorceu. Romildo veio por cima travando seus braços contra o chão.

      - Que tal um beijo para reatarmos a relação?

     Aos poucos Michele foi parando de lutar, se tornou menos resistente.

      - Tá bom, tá bom. Você venceu. – falou ainda ofegante. – me beije.

      - Eu sabia, Barbie, você era a que faltava na minha coleção.

      O nojo, a repulsa, a raiva, tudo isso estava aflorado em Michele, porém foi preciso autocontrole. A boca flácida e o hálito não muito agradável foram sentidos. Assim que a língua de Romildo tocou o céu da boca, Michele permitiu que todos esses sentimentos fossem transportados para sua mandíbula. A mordida produziu uma dor inexplicável em Romildo Silva que uivou feito um coiote. Michele cuspiu o pedaço que estava em sua boca enquanto o louco batia com a cabeça no chão.

     - Meu Deus, Meu Pai. – berrava. - Preciso de um médico.

    Depois de duas tentativas, finalmente ela conseguiu subir no muro e pula-lo ganhando a rua. Andando apressada, olhando para trás, boca suja do sangue do desgraçado, Michele dobrou o corpo liberando o vômito na calçada.

    - Merda!

   Ao se erguer ela avistou um táxi. Feito uma louca à recepcionista gesticulou bastante chamando atenção do motorista.

    - O que houve mocinha?

    - Quase fui estuprada, me leve para o departamento de polícia agora.

    - É pra já.

 

*

 

Paulo Alves já havia se esquecido do quanto é bom se apaixonar. Do quanto é legal poder ouvir a voz da pessoa do outro lado da linha dizendo que está saudade, que não vê a hora do próximo encontro, entre outras coisas mais. Pois é, o investigador nesse momento está ao telefone conversando com sua namorada Janaína Lopes sobre os últimos acontecimentos entre ela e ele.

     - Foi demais, não foi?

     - Muito. Podemos nos ver hoje?

     Alves coçou a nuca.

     - É gata. – pegou a imagem de Romildo imprimida numa folha de A4. – hoje não vai rolar. – ergueu a folha no ar. – estou atolado, preciso andar um pouco mais com o caso.

     - Já tem um suspeito?

     - Sim, e mais nada. Vou ficar até tarde e...

     Michele, juntamente com um policial se aproximaram da mesa do detetive. Muito abatida, maquiagem borrada e olhos arregalados, essa era a imagem da recepcionista ao se sentar diante do agente.

     - Preciso desligar, mais tarde a gente se fala. Beijos.

     Paulo também pode reparar o quanto a mulher a sua frente tremia segurando sua bolsa no colo.

     - Detetive, essa senhora foi atacada. – começou o agente.

     - Sim. – se ajeitou na cadeira.

     - Ele tentou me estuprar. – Michele falou atropelando as palavras. – graças a Deus eu consegui fugir.

     - Calma. Aceita uma água ou café? – ela assentiu. – por favor policial, providencie. – a senhora conseguiria identificá-lo caso o visse?

     - Claro. Aquele rosto eu jamais me esquecerei. – chorou.

     Michele contou tudo e com riqueza nos detalhes. Se a mente de um cidadão comum assemelha-se a uma máquina, imagina a de um investigador? Paulo, conforme foi ouvindo o relato, ligou os pontos. Cabeça de uma ruiva encontrada, o sumiço de Jasmim e agora esse ataque. Sim, ambos os casos pertencem ao mesmo autor. E se não for? Bom, ver é melhor do que não ver, pensou Alves pegando a folha A4.

      - Por um acaso o sujeito que lhe atacou era parecido com esse?

      Não foi preciso Michele responder. O corpo da mulher reagiu assim que os olhos identificaram Romildo Silva. Bingo!

      - É ele! – voltou a tremer.

      - Certo. Quero o endereço.

 

*

 

Depois de se arrastar até a sala, Romildo perdeu a consciência e desabou ficando esparramado no chão ainda sangrando pela boca. Foi uma viagem ao centro do inferno, sua vida no passado, a diabólica experiência de ter matado sua irmã mais nova. Ela foi sua primeira boneca. Por mais que na infância Romildo tenha sido uma criança saudável, ou aparentemente saudável, coberta de carinho e atenção, algo foi deixado para trás. Algo que deveria ter sido tratado com urgência. Esse lado monstro foi despertado e nutrido pelo sacrifício de sua irmã. Foi uma tragédia. A família Silva assolada, destruída e sem forças para se reerguer. Foram feitas investigações e nada foi concluído. Nada. Quem iria imaginar que um garoto de 10 fosse capaz de tamanha barbaridade?

     Romildo cresceu e envelheceu junto com o monstro. Foram noites sem dormir assombrado por bonecas despedaçadas, inúmeras delas. Mas ao nascer de um novo dia ele estava de volta, o louco, o esquartejador sem coração. Ao abrir os olhos ele ainda estava lá, no chão, com uma poça de sangue ao redor da cabeça. A dor não diminuíra. Ele fez força para se levantar, mas foi vencido mais uma vez e desfaleceu.

 

*

 

 

Chefe Damião Ramos assistia ao noticiário quando sua espaçosa sala foi simplesmente invadida por polícias fardados exceto por Alves. Claro que isso o irritou e muito ao ponto dele esbravejar batendo na mesa.

    - Posso saber o que está acontecendo aqui?

    Quem seria capaz de ficar frente a frente com a fera? Paulo assumiu toda a responsabilidade dando um passo a frente.

     - Senhor, preciso que autorize uma operação de busca.

     - Finalidade? – desligou a TV.

     - Vamos prender quem decapitou a ruiva.

     Damião fechou o paletó andando na direção do detetive com sua expressão gélida.

      - O senhor está certo do que vai fazer?

      - Temos um suspeito, uma testemunha, a localização do suspeito...

      - Positivo. – deu às costas. – está autorizado.

     

As viaturas entraram de uma só vez e em alta velocidade pelas ruas daquele bairro singelo. Os moradores ficaram assustados e de um certa forma curiosos e não é por menos, movimentação policial por ali não é comum. Paulo Alves lidera a equipe. Claro, o nervosismo faz parte do conjunto. Ao mesmo tempo em que ele se encontra com os nervos a flor da pele, Paulo também está bastante orgulhoso e otimista. Valeu a pena todo o sacrifício feito, as madrugadas acordado estudando, os treinamentos rigorosos e tudo mais. Agora ele está ali, dentro de uma viatura, chefiando um grupo de homens, rumo a resolução de seu primeiro caso. Se Deus quiser, tudo dará certo.

     - Chegamos. – informou o motorista.

     - Positivo. Vamos dividir as equipes. – reforçou o agente.

     A casa foi cercada e ao comando de Paulo invadida. De forma silenciosa os agentes enfileirados foram penetrando nas entranhas daquela residência. Arma em punho, olhos arregalados, batimento cardíaco a mil, Alves alcançou a garagem podendo sentir um forte cheiro de carne podre. Com um sútil gesto de cabeça ele autorizou a invasão dos policiais ao interior da casa. Com apenas um chute a porta cedeu e cerca de sete homens entraram apontando seus fuzis e pistolas para todos cantos da sala. Vazia. Tudo o que viram foram manchas de sangue no piso, manchas essas que se seguiam até a outra saída.

     - Vamos virar esse lugar de ponta cabeça. – sussurrou Paulo.

     Na parte dos fundos, Romildo tenta de todas as formas de livrar da dor e do sangramento. Ele abriu a garrafa de álcool e a virou na boca. O rosto ficou vermelho, retorcido, mas ele não gritou, preferiu socar a parede do minúsculo banheiro. Ao cuspir na pia ele ouviu barulhos vindos da área de serviço. Olhou pela fresta da porta e viu dois policiais pulando a mureta.

      - Mas... Que merda é essa? – se afastou.

     Romildo abriu devagar o armário onde ele guarda pasta de dente, sabonete, loção de barbear entre outras coisas e se apossou de seu trinta e oito de seis tiros.

      - Quem ousa entrar em meu reino.

 

*

 

Um efeito surpresa do lado inimigo. Por essa ninguém esperava. Romildo apareceu na porta do banheiro externo apontando e disparando contra os homens de Paulo. Um deles é atingido no ombro e o outro de raspão no braço.

    - Ele está armado. – alertou o alvejado no ombro.

    Por mais que a essa altura a operação já possua dois policiais feridos, ainda assim as coisas estão sob controle e Alves sabe disso. Não é hora para desespero e sim de mostrar quem manda no pedaço. Ao ver seus companheiros abrigados atrás do murinho da área de serviço houve um certo alívio.

      - Onde ele está? – gritou Paulo.

      - Lá dentro. – indicou o ferido no braço.

      Romildo disparou mais uma vez e sem sucesso. Aborrecido por estar encurralado dentro daquele metro quadrado mal cheiroso, o matador de mulheres verificou a munição e depois olhou pela fresta e viu Paulo agachado mirando nele.

       - Saiam todos daqui. – berrou.

       - Não precisa ser dessa forma. Entregue-se e tudo será resolvido. – Alves se abrigou.

       - Está tentando me ludibriar? Eu sei que serei jogado no fundo de uma cela fedida.

        - Qual o seu nome?

        - E isso importa? Sempre andei por aí e ninguém nunca perguntou a minha origem, meu passado e agora que estamos um contra o outro queremos saber como nos chamamos. Muito engraçado isso.

       - Eu me importo. Veja. – colocou a arma no chão e olhou para os colegas.

       - Isso é burrice, detetive. – falou outro agente.

      Sim. Claro que é burrice, mas Paulo preferiu arriscar. Ele deixou a pistola de lado e se levantou com os braços para o alto. Incrível como situações extremas nos leva a fazer coisas que jamais em condições normais faríamos. Negociar com o bandido. Paulo deu lugar ao negociador adormecido dentro dele.

     - Viu? Saia de onde estar e vamos conversar. – nenhuma movimentação. - Sou o investigador Paulo Alves, tenho 26 anos e amo o que faço. Você ama o que faz?

      - Amo! – falou atrás da porta. – está usando colete, detetive?

      - Não. – levantou a blusa. – vou pedir para que meus homens saiam, assim podemos conversar mais a vontade, o que acha?

      - Fica a seu critério, investigador. – só a voz é ouvida.

      Paulo gesticulou e sem hesitação os policiais saíram. O medo triplicou, mas agora é um pouco tarde para se voltar atrás. Ainda com os braços erguidos, Alves viu um sujeito esquisito saindo do banheiro, um homem que poderia ser seu pai. Romildo ainda segurava seu trinta e oito. O medo quadruplicou.

      - Sou Romildo Silva, muito prazer. O que vocês querem?

      - Você atacou uma jovem.

      Silva riu e abriu a boca mostrando a língua ferida.

      - Não foi bem eu quem a atacou.

      Paulo engoliu seco. Ele é perigoso, pensou.

       - Mais alguma coisa? – arqueou uma sobrancelha.

       - Jasmim Soares, você a conheceu?

       Romildo pareceu abalado ao ouvir tal nome. Ele abaixou a arma e sua expressão se tornou amigável. Olhou para o céu e em seguida para Paulo.

       - Abaixe os braços, detetive, vamos conversar feito gente. – sua voz agora estava suave, mansa. – quer mesmo saber onde está Jasmim? Venha, ela está lá no quarto.

      Agora o coração de Paulo se transformou numa britadeira. Na mesma hora ele viu que Romildo não se encontra com suas faculdades mentais em perfeito estado. Um homem louco é uma bomba relógio.

      - Me acompanhe, por favor.

     Caminhar lado a lado com alguém que a segundos atrás queria enfiar uma bala na sua cabeça parece ser coisa de outro mundo. Mais alto, mais forte e mais velho, Romildo anda em silêncio e não esboça qualquer gesto, qualquer menção de que vá atacar o policial a seu lado. Paulo por sua vez se mantém em alerta, Silva pode estar desarmado, mas ainda assim é uma ameaça. Sem contar que o agente não sabe para onde Romildo o está levando. Uma armadilha, ou simplesmente ele decidiu falar a verdade e se entregar? Paulo tomou uma decisão e ele precisa banca-la até o final.

     O cheiro de carne apodrecida piorou assim que ambos chegaram perto da porta. Paulo Alves olhou para Romildo hesitante em deixar com que o policial faça seu trabalho.

      - Esse é o quartinho aonde guardo todo o meu material e...

      - E? – tocou na fechadura.

      Romildo colocou sua mão em cima da mão do investigador. Paulo gelou até os ossos.

      - Perdoe-me.

      Romildo Silva abriu a porta e o ar pesado nocauteou o policial. Paulo sentiu seu estômago torcer e retorcer. Ele deu um passo curto para dentro do quarto e viu um show de carnificina, um tipo de açougue de carne humana. O inferno na terra. Romildo permaneceu parado na porta, com a cabeça baixa, parecia chorar em silêncio. Alves andou um pouco mais e viu um corpo, em decomposição em sua primeira fase. O corpo de uma mulher, nua. Jasmim?

      - Essa é a Jasmim. – balbuciou Romildo. – e aquela outra é...

      - A Ruiva. – emendou Alves.

      - Augusta, esse era o nome dela. Me deu muito trabalho, me xingou, me humilhou, por isso resolvi mata-la. Eu a havia escolhido para ser a minha boneca principal, a senhora das meninas inanimadas, mas aí...

      - Por que a decapitou? Por que deixou sua cabeça em qualquer canto?

      - Augusta, como falei, me humilhou demais, me chamou de louco, desequilibrado e isso eu não admito.

      - Mas, mas, você é louco. Veja isso. – abriu os braços.

     A expressão de Romildo mudou do gatinho manso doméstico para o leão furioso.

     - Do que me chamou? – fechou os punhos.

     - Augusta estava certa, você é um louco, um desequilibrado. Precisa de ajuda psiquiátrica urgente.

     - Eu estou contribuindo com o seu trabalho e é assim que você me retribui?

     Paulo se preparou para o confronto. Será um Davi contra Golias dentro de um cenário sombrio. Algo possuiu Romildo, isso fica evidenciado em cada gesto, no olhar e na forma de falar. De repente ele voltou a ser aquele garoto violento e sem limites, destruidor de brinquedos. Com os braços estendidos ele partiu pra cima do policial rangendo os dentes.

      - Fora daqui.

      Paulo se esquivou e Romildo passou. Por mais que Silva seja um homem grande, isso não o impede de ser rápido. Sem esperar Alves foi atingido por um soco que o deixou desequilibrado. Outro forte golpe, dessa vez no peito tirando todo o ar o agente.

      - Estou adorando brincar de boneco. Bem que meu me disse.

      Um potente cruzado e Paulo caiu sobre uma pequena mesa.

      - Vamos lá detetive, mostre do que é capaz. – outro soco e Alves desabou.

      Mesmo tonto, sangrando e sentindo os fortes golpes, Paulo resolveu entrar de vez na briga. Se levantou, ergueu a guarda, posicionou a perna de apoio e foi para o combate. Silva se preparava para desferir mais um cruzado quando foi surpreendido por um gancho e depois um cruzado de esquerda.

     - Nojento. – gritou dando vários socos aleatórios, todos sem direção certa.

     Aproveitando o descontrole de seu oponente, Paulo o deixou sem ação socando seu nariz. Romildo grunhiu segurando o nariz quebrado. Alves o chutou na barriga. Tropeçando nas próprias pernas o louco caiu chorando.

      - Não me bata mais, chega, chega. – se encolheu.

 

*

 

Mais do que pagar pelos seus crimes, Romildo Silva precisa ser tratado, exorcizado ou sei lá o que, essa foi o pensamento de Paulo ao sair daquela casa com o mesmo algemado. Ele já não oferece risco ou ameaça, apenas chora e diz palavra desconexas. Assim que foi colocado dentro da viatura os agentes comemoraram e rasgaram em elogios o detetive novato da corporação. A surpresa maior foi a chegada do chefe Damião Ramos acompanhado de outros oficiais. Ramos desceu da viatura e caminhou abotoando o paletó até Alves.

      - Você está bem? – disse olhando os ferimentos no rosto do investidor.

      - Sim, chefe, estou bem, um pouco dolorido, mas pronto para outra.

      - Que situação complicada. Quer dizer que ele mantinha os corpos lá dentro, apodrecidos?

      - Exatamente, senhor, o cara é louco de pedra. Por isso não encontrávamos o restante do corpo da ruiva, ele estava o tempo todo aqui. A Jasmim o mesmo caso. Um filme de terror na vida real.

       Damião olhou para Romildo dentro do carro policial.

     - Parabéns, Paulo, por tirar de circulação esse monstro. Agora chega de festa. Essa cidade está infestada de pessoas com ele, piores inclusive. Conto com vocês para protegermos os civis.

 

*

 

Matéria lançada no Cidade News escrita pela magnífica Janaína Lopes. Paulo terminou de lê-la em seu tablet e beijou sua namorada. Ambos estão na cama, cobertos apenas por um fino lençol.

      - Caso encerrado? – disse ela.

      - Esse.

      - Romildo Silva. Esse sujeito tem um histórico tenebroso. Imagina, mulheres bonecas, onde já se viu?

      - Ele ficará internado no hospício e depois encaminhado para o presídio. Trinta anos fará bem a ele. – brincou.

      - Por falar em fazer bem. E a Mara? – o beijou no peito.

      - O que tem a Mara?

      - Ela te fazia bem? – outro beijo, agora na barriga.

      - Depende do que. – riu.

      - Por exemplo. – se cobriu com o lençol ficando entre as pernas do policial. – ela te deixava em pé depois da segunda trepada?

      - Ah, isso ela nunca fez. Oh!

 

Fim.