quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

Bala Negra - Final

 


BALA NEGRA

Um mês, um conto

 

Quem disse que não séria fácil ser uma policial acertou em cheio. Realmente não é. E quem disse que séria difícil errou por muito. Ser uma policial do calibre de Marli, chega a ser quase um sonho impossível. Se ela chegou até aqui, foi por puro mérito. Ela tem coragem, é determinada e possui um espírito de liderança fora do comum. Para se ter uma ideia, há homens que preferem trabalhar com ela. Claro que nem sempre tudo foi assim. A menina pobre, moradora de comunidade enfrentou sérias dificuldades no início de sua brilhante carreira no departamento policial. As barreiras foram duas, no caso. Uma, Marli é negra. Apesar de sua beleza natural exótica, ela percebia olhares não muito amistosos, questionadores. E outra, por ser mulher. O ambiente no meio policial, podemos dizer que em sua maioria é composto por homens. Todas essas dificuldades ela venceu trabalhando. Aos poucos ela foi conquistando seu espaço e mostrando seu valor. Hoje em dia, ninguém mais imagina aquele Departamento sem ela. Até mesmo delegado Cardoso reconhece isso.

A prisão de Nilton Lins pode até lhe render alguma premiação, subida de cargo ou até mesmo fama, coisa que do fundo do coração ela não gostaria que acontecesse. Colocar Lins na cadeia a fará respirar novamente. Com certeza ele não é o seu último inimigo, mas é o sujeito que de forma indireta arrancou dela o grande amor. Que destruiu sua vida sentimental. Nilton não tem consciência alguma disso, mas sofrerá as consequências. Uma mulher estressada tem um poder de destruição de magnitude mil.

Outra mensagem no WhatsApp.

“Lins está a poucos metros daí, senhora.”

Porto digitou rápido demais e enviou não dando bola para os erros de digitação. O que importa é que a mensagem foi respondida e que ela está ciente do que está acontecendo. Esse fato a fez lembrar de Pedro, de como isso o incomodava. Ele como professor universitário fazia questão de escrever certo e não tolerava quem fazia ao contrário. Analfabetismo funcional não era admitido por ele de forma alguma.

- A pessoa que sabe ler e não ler é pior que o pobre do analfabeto. E a pessoa que tem instrução e sabe escrever e mesmo assim não liga para os erros de escrita, sinceramente, deveria sair do meio dos analfabetos funcionais. Você não tem o direito de fazer parte desse grupo. – dizia em suas aulas.

Isso gerava discussões intermináveis entre o casal, mas Pedro acabou sendo vencido pelo cansaço. Hoje ela se recorda desses episódios dando risadas, mas que na época eram bastante complicados. Recordações e mais recordações. Lembranças e mais lembranças. Praticamente nesses últimos dias sua vida se resume a isso. Pedro não foi seu único namorado e provavelmente não será o seu último, mas o que acontece é que o professor a completa como nenhum outro a completou. Nesses quase quarenta anos de existência ela se envolveu com quatro homens e com todos ele teve o prazer de terminar o relacionamento. Não existia amor de verdade. Pedro, além de ser um excelente amante, ele também é amigo, cúmplice e o que é melhor, leal, coisa rara hoje em dia no meio masculino. Por isso ele faz tanto falta e pra falar a verdade, Marli não sabe se conseguirá seguir sem ele.

 

*

 

“ Eu me lembro de muita coisa daquele dia. Me lembro de quando chegamos naquele motel e o quanto eu a desejava. Era estranho. O meu desejo por Sabrina extrapolava o tesão, a pele, o prazer. Eu queria mais do que penetra-la. Eu queria vê-la morrer. Minha mãe tinha razão, sou mesmo um doente mental. Não há diagnóstico melhor do que vivenciar a experiência de assistir alguém morrer. Pobre Sabrina. Achou que havia encontrado o príncipe encantado, chega ser engraçado. Afoga-la naquela banheira deu um certo trabalho, mas foi recompensador no final. Minha mãe tinha razão. Claro que antes eu a comi durante uma hora em cima daquela cama cafona. Realizei todos os seus pedidos mais quentes e depois a chamei para se banhar comigo. Pobre Sabrina. Tão linda, tão inocente, tão pura.”

- Me dê prazer em baixo d’água. – pedi.

- O que? Quer que eu faça submersa? – sorriu me tocando.

- Exatamente. – a essa altura eu já estava salivando.

- Tudo bem então.

“ Sabrina mergulhou. Assim que senti sua boca segurei em seus ombros e forcei seu corpo para baixo. Nossa. Ao bater os braços a menina jogou muita água para fora molhando o carpete. A coitada lutou muito contra a morte, mas não teve jeito. Só a soltei quando vi sua barriga ficar estufada de tanta água que bebeu. A morte por afogamento deve ser horrível. Deus me livre. Sai da banheira e notei que a minha ereção permanecia firme. Abandonei o quarto deixando para trás um corpo nu boiando. Assim que alcancei a rua senti vontade de comemorar meu primeiro homicídio com algumas doses de tequila. Foi o que fiz.”

Restam somente cento e cinquenta metros para a chegada a tal lanchonete onde Marli o aguarda. Nilton veste uma camisa azul social para fora, na tentativa de esconder sua pistola presa ao cos da calça jeans. Seus passos são firmes, moderados e silenciosos devido ao par de tênis que usa. O cara não passa despercebido de jeito nenhum. Os olhares femininos são pra ele, o centro das atenções. Finalmente ele pisa na loja e suas narinas sugam o cheiro do café fresco, do pão de queijo além de outros cheiros. Seu alerta interno foi acionado e ele não sabe porque. Seus olhos escuros como noite sem lua escanearam todo o lugar e nada captaram de estranho, são os mesmos clientes de sempre. Lins entrou e ocupou a mesa que fica de frente para a saída. Uma estratégia caso tenha que sair às pressas. Nilton não está a vontade, algo o incomoda bastante. Mais uma vez ele olha ao redor, olha para a entrada, olha para o balcão, para a pequena fila do caixa. Tudo normal.

- Bom dia. – disse a única garçonete do lugar.

Assustado, Lins mal cumprimenta a menina.

- Ah, oi!

- O mesmo de sempre? – a moça tem um sorriso exageradamente aberto.

- Sim, acho que sim.

- Tudo bem. Anotado.

Algo voltou a dizer dentro dele que ele não deveria estar ali, não deveria ter saído de casa. O coração do assassino do machado acelerou de repente. Péssimo sinal. Ele já sentiu isso uma vez e quase foi pego. Uma van de uma empresa de internet encostou e dois funcionários regularmente uniformizados desceram. Um deles pegou a escada que se encontrava fixada no teto do veículo e a posicionou no poste. Um deles olhou para dentro da lanchonete. Nilton colocou sua mão direita na arma.

- Mais que merda! – sussurrou.

Um susto seguido de outro e Nilton não está gostando nem um pouco disso. Até o barulho da escada sendo armada o fez saltar da cadeira. Seu pedido chegou e assim que bateu os olhos na bandeja ele percebeu que a fome já não existia mais.

- Me desculpe, é que prefiro que embrulhe para viagem, já estou de saída.

- Sem problema. – voltou com a bandeja ainda sorrindo.

Nilton tentou manter a calma respirando devagar porém às coisas pioraram quando uma dupla de rapazes passou na calçada e atravessaram a rua aproveitando o sinal fechado. Ambos ficaram parados, de costas olhando para a vitrine de uma loja de esportes que fica em frente. Hora de sair daquele lugar o mais rápido possível. A garçonete voltava com o pacote quando Lins cruzava a porta.

- Ei, senhor, o seu pedido.

Nesse momento Marli saia do corredor que dá acesso ao banheiro feminino. Os olhares se cruzaram. O bandido sentiu suas vísceras se contorcerem. Marli ao ver seu alvo ali a menos de vinte passos sentiu os membros superiores ficarem fracos e mesmo assim ela conseguiu sacar sua Glock e lhe dar voz de prisão.

- Nilton Lins, fique onde estar, você está preso.

Corre corre e gritaria às nove da manhã dentro de uma lanchonete. Lins disparou pela calçada tirando sua arma da cintura. Os dois rapazes deixaram a loja de esportes correndo do outro lado.

- Atenção, indivíduo em fuga e está armado. – anunciou um dos policiais do outro lado da rua também correndo pelo rádio.

Nessa hora ela agradeceu aos céus por ter escolhido um calçado leve e sem salto. Os transeuntes tentam entender o que está acontecendo, mas tudo o que conseguem ver é uma mulher negra, armada, correndo como louca atrás de um sujeito branco também armado. Não há muito o que fazer, Nilton não quer ir para a cadeia, por isso ele atira duas vezes. O tiro direcionado a dupla de agentes do outro lado explodiu o vidro da janela traseira de um Sandero preto parado em frente a um horte-frute. Os policiais deram graças a Deus por não haver ninguém no interior do veículo. O outro disparo passou longe de Marli, porém deixou alguém ferido lá trás.

- Mais que droga. – vociferou Porto. – não resista, Lins, será pior.

Em meio a toda aquela confusão, Nilton conseguiu ouvir o pedido da detetive. Não. Ele não está afim de atendê-la. Tudo que ele quer no momento é seguir fugindo. Nilton Lins é um cara esbelto, está bem fisicamente, mas, na boa, ficar correndo a pé não dará em nada, pensou. Nesses casos o melhor a fazer é atrasar a polícia. Uma mulher deixava o correios quando foi baleada quase que a queima roupa no braço. Ela se assustou e caiu sentada na calçada. O assassino do machado deu uma rápida olhada para trás e viu Marli prestando socorro a vítima.

- Boa garoto! – vibrou.

Marli sinalizou para que um dos policiais assumissem o seu lugar.

- Fique aqui. Chama o socorro. Vou atrás do Lins. – disparou a correr.

- Cuidado, senhora.

Muitas coisas passaram pela mente de Marli. Duas delas funcionam como um combustível. Pedro é uma delas. Ela o ama e lutará para reatar seu casamento. A outra é justamente o seu nome, sua carreira como agente da lei. Nessa missão Marli não pode falhar jamais. Seu inimigo outra vez olhou para ela antes de atravessar um cruzamento. O que esse merda pensa que é? Pensou. “ A minha vontade é de mirar e atirar, pelas costas mesmo. Dane-se. Eu não tenho o dia todo, ainda tenho um casamento para recuperar”. Enquanto Porto pensava, seu adversário passava pelo cruzamento, olhando para trás. Nilton foi surpreendido por uma motocicleta que avançou o sinal. O choque foi tão forte que seu corpo foi arremessado a mais ou menos setenta metros de distância. Marli viu tudo como se fosse em câmera lenta.

- Jesus Cristo! – exclamou boquiaberta.

Lins bateu no asfalto e ainda rolou só parando dois metros depois.

- Argh! Me ajudem, me levem para o hospital. – falou aos berros.

O lado direito do rosto está inteiro ralado. Seu antebraço esquerdo está com um fratura exposta. Estranhamente ele começou a tossir e a cada tosse, novas manchas de sangue aparecem no asfalto. Uma possível hemorragia interna. Ele levanta a cabeça e visualiza Marli chegando e decide seguir fugindo. As pessoas estão perplexas. Como ainda consegue caminhar?

- Nilton, pare, já chega. – gritou Marli.

“ O que essa negra pensa que é para me dar ordens?” Lins apertou o passo. O sangue escorre da fratura exposta de seu antebraço deixando para trás grossas gotas. Sua visão de repente se torna turva e outra onda de tosse acontece.

- PARE! – Marli apontou sua Glock.

A investigadora parece não acreditar no que está acontecendo bem diante dos seus olhos. Nilton Lins se encontra gravemente ferido, necessitando de auxílio médico com urgência e mesmo assim o seu instinto de sobrevivência consegue falar mais alto. Ele voltou a sacar sua arma e a apontou para a policial. É possível ouvir o som estridente das sirenas das viaturas e é bem provável que aja ambulância também. Armas apontadas. Olhares frios. Nilton sente dores terríveis por todo o corpo, ele mal consegue impor a arma. Nessa hora Marli recorre a fé, “ Solte a arma, por favor, meu Deus, eu não quero atirar”

Os curiosos vão se aglomerando. Carros passando a uma velocidade abaixo do permitido congestionando o trânsito. Viaturas freando abruptamente e Marli sem muita opção. Nilton tosse outra vez despejando uma quantidade considerável de sangue pela boca. Seu olhar para a policial já não carrega mais aquele ódio.

- Solte a arma, Lins, você precisa de ajuda.

Ele sorriu sem graça. Apertou o cano da pistola contra sua têmpora e atirou.

Acabou. Tudo acabou. O corpo do assassino do machado ao atingir o chão produziu um barulho surdo. Marli engoliu seco. A Glock voltou para o coldre. Um nó se formou em sua garganta, mas ela não chorou. Está tudo acabado.  Em questão de minutos seus parceiros de operação foram ao seu encontro lhe prestar congratulações, mas a única coisa que ela gostaria de verdade era abraçar seu marido. Cansada, suada, Marli deveria estar feliz, mas não está. Ela viu o inimigo número um da cidade sair de cena, bem na sua frente, mas, nem por isso ela consegue se alegrar. Salvou toda uma cidade, mas não o seu casamento. Droga de vida.

Dentro da viatura, seguindo para o departamento, sentada no banco do passageiro, ela segura firme seu celular olhando a paisagem que passa voando. De repente o aparelho vibra. Sem querer olhar ela olhou.  Era Pedro. FIM.


quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

Bala Negra - Capítulo 2

 


BALA NEGRA

Um mês um conto

 

O crime foi sem dúvida alguma horrendo, terrível, notório. Até a imprensa internacional ficou chocada com o ocorrido. Para se ter uma ideia, no dia do sepultamento um dos maiores jornais americano cobriu o acontecimento e ainda conseguiu uma exclusiva com a policial responsável pelo caso. Marli não estava afim de falar, o momento não pedia esse tipo de exposição, porém foi vencida pelo cansaço. Quando a jornalista posicionou o microfone e disparou a primeira pergunta, Porto agradeceu por ter feito, mesmo contra sua vontade, o curso básico de inglês.

- O que a senhora tem a dizer sobre o caso?

Marli pigarreou antes de responder.

- Bom! A polícia vem fazendo o trabalho dela. O que eu posso dizer é que, um crime brutal como esse não pode e não ficará impune.

- E quanto ao assassino do Machado, Nilton Lins, segundo me foi passado, não é a primeira vez que ele comete um crime bárbaro como esse. A senhora confirma essa informação?

Se Marli fosse uma mulher branca estaria ruborizada de vergonha. A repórter tinha razão. Lins possui uma ficha quilométrica e mesmo assim a polícia ainda não conseguiu detê-lo. A experiente investigadora precisou ser rápida.

- Sim, confirmo. Nilton nos vem tirando o sono a muito tempo. A minha polícia trabalha com inteligência. Não estamos lidando com um criminoso comum mas, lhe garanto que a prisão desse, assassino do machado, será prioridade.

Assim que a jornalista agradeceu a oportunidade, Marli pode voltar a respirar. O tempo passou e ela nem sentiu. Quando saiu da capela o cortejo já seguia rumo ao jazigo perpétuo da família Batista. Foi comovente demais, pesado demais, houve desmaios e até um curto, mas agressivo discurso por parte de um membro da família. Marli estava a uma certa distância e só o que conseguiu ouvir foi um ruidoso pedido de justiça que ecoou nos murros pichados daquele cemitério. Para a policial já deu. Hora de voltar para o departamento e cuidar do caso.

*

 

A tensão aumenta a cada segundo. A qualquer momento Nilton entrará naquela lanchonete. Porto precisa se manter calma, fria, como sempre foi. Sua sorte precisa mudar. Sua equipe a informou que ele adora os pães de queijo que são feitos naquele estabelecimento e que toda manhã Lins compra dois ou três para viagem. Olhando de longe até que a iguaria é realmente atrativa. Marli se viu tentada em pedir um, mas se conteve em ficar só na água com gás. Por falar em água, Pedro mais uma vez lhe veio a mente. Pra falar a verdade ele nunca sai de sua cabeça. A água é a sua bebida predileta, depois disso só o café. Quanta falta ele tem feito, principalmente nessa fase. Marli sente falta do cheiro dele. Ela se recorda das brincadeiras de seu Ogro amado, como costumava chamá-lo.

- Você cheira a manteiga de cacau. – dizia ele a beijando no pescoço.

- E você a loção pós barba.

Claro que essas trocas de carinho terminavam sempre na cama ou ali mesmo, na mesa da copa. Marli pode dizer tranquilamente que se separou do marido fazendo sexo. Três vezes por semana. Era fantástico. Essas lembranças só fazem o ódio por Nilton crescer, “ele me afastou de você”. A história de Pedro com ela começou engraçada. Marli percebia os olhares dele, só não entendia por que ele não se aproximava dela. Foram seis meses até o professor universitário criar coragem para o primeiro contato. Marli estava parada no primeiro degrau da escada que a levaria até sua sala de aula no segundo andar. Pedro estava descendo e quando a viu ali, sozinha, tratou logo de lhe chamar atenção.

- Com licença, sua bolsa está aberta. – falou rápido.

- Ah, sim, obrigada, eu estou respondendo algumas mensagens. Já guardo o telefone.

- Ah, não, fique a vontade, não é permitido o uso do celular em sala de aula, mas nos corredores sim, ainda mais sendo você uma policial. – o “ policial” saiu sussurrado.

Marli franziu o cenho.

- Me desculpa. – gaguejou empurrando os óculos pra cima. – na biblioteca, outro dia, você deixou sua pasta semiaberta e, vi seu distintivo.

Marli ficou surpresa e assustada ao mesmo tempo. Outro mole desse e a faculdade inteira ficará sabendo da existência de uma policial na instituição.

- Professor Pedro Oliveira. – estendeu a mão.

- Marli Porto. – apertou firme aquela mão enorme e peluda.

Dali pra frente os encontros e esbarrões se tornaram frequentes até o dia em que Pedro a convidou para sair e ainda dentro do restaurante o professor se declarou para ela que aceitou sem hesitação. O beijo não aconteceu ali, naquela mesa, mas sim dentro do carro.

- Eu já estava afim de você também, por que demorou tanto? – declarou Marli segurando o rosto do namorado.

- Já lhe disseram que você é uma mulher imponente?

- Ah, sim, muitas vezes. – bufou.

- É, isso assusta, um pouco. Mas, agora quero mais um beijo.

Mais uma lembrança que entornou gasolina na chama de seu ódio por Nilton. Pedro agora está distante dela. O que pesa nisso tudo é saber que ainda existia amor verdadeiro entre os dois. Como todo e bom casal, eles discutiam, mas nunca foi cogitado a possibilidade de separação. Nem quando houve um certo desconforto por parte da família de Pedro que não aceitavam o fato dele estar se relacionado com uma mulher negra. Marli bateu de frente com a sogra e as duas quase chegam as vias de fato. Foi uma noite a qual a policial deveria, mas não consegue esquecer. Pedro ficou contra sua família e resolveu apostar no relacionamento com ele. Esse era e é o homem que ela ama. Uma lágrima teimosa surgiu e ela a deixou escapar. O celular vibrou no bolso da calça. Sinceramente ela desejou que fosse Pedro, mas não era o seu amado.

“Ele acabou de sair e está indo nessa direção”

 

*

 

Sabe quando você acorda e aquele pressentimento de que tudo não sairá como o planejado te assola e mesmo assim você resolve arriscar por que não tem outro jeito te assola? Pois é, isso também acontece com pessoas da estirpe de Nilton Lins. Ele não teve uma boa noite de sono. Sonhou várias vezes que estava sendo preso e tortura. Se levantou no meio da madrugada para tomar banho, se livrando do suor denso. Em determinados momentos ele se perguntou o que ele fez com a vida daquele garoto que só queria curtir e brincar? Daquele menino que todos achavam que seria modelo fotográfico ou ator de novelas. O que ele fez de sua vida. Vida? Que vida? Ela acabou quando ele cometeu seu primeiro homicídio. Quando ele afogou sua namorada na banheira daquele motel cinco estrelas. Foi complicado no início, mas com o passar do tempo Lins acabou tomando gosto pela morte. Ele não dormiu mais depois da quinta tentativa. Preferiu ficar vendo fotos de mulheres nuas na internet até o dia clarear e por fim tomar um café e comer pão de queijo na lanchonete.

 


quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

Bala Negra - Capítulo 1

 


BALA NEGRA

 

Um ano. Há um ano Marli Porto investigadora da polícia vem numa verdadeira caçada a Nilton Lins e hoje, finalmente hoje, ela terá o prazer de algema-lo. Dá uma resposta a sociedade é pouco para ela. O ato criminoso de Lins custou a vida do casal de idosos e também o casamento da detetive. Desde quando foi escalada e assumiu o caso, Marli mergulhou fundo deixando sua família em segundo plano. Pedro, seu marido há dez anos, não conseguia entender tal dedicação da esposa. Para ele foi apenas mais um crime. Basta fazer os procedimentos corretamente e pronto, Nilton estaria atrás das grades. Para um leigo como Pedro às coisas funcionam dessa maneira, porém Nilton não é qualquer fora da lei. Ele não é um bandidinho formado na esquina. Lins matou o casal de idosos a machadadas. Roubo seguido de morte e não foi só uma vez. Nilton é violento, temido até por outros criminosos. O assassino do machado precisa ser tirado de circulação imediatamente.

Marli também quer por às mãos em Lins porque ele, de forma indireta destruiu seu casamento com o homem que ela ama. Pedro não suportou o fato de ter sido jogado para escanteio por causa de uma investigação. Marli não quer admitir nem mesmo para ela, mas verdade seja dita, ela ficou paranoica. Sua mente vivia em constante ebulição devido as pressões sofridas.

- A sociedade, a imprensa e o que é pior, o governo precisa de uma resposta. – falou o delegado.

- Nilton é escorregadio demais. Ele está sempre a um passo a nossa frente.

- Marli, confiamos esse caso a você. Você já provou que é eficiente e que não está aqui para brincadeira. Se Lins está sempre a um passo a nossa frente é porque você vem dando esse espaço a ele. – entrelaçou os dedos. - lembre-se, Marli Porto, só avança que acha espaço.

Porto se lembra desse dia como sendo o pior de sua vida. Delegado Cardoso estava coberto de razão, mas ele não sabia o que sua melhor agente estava passando dentro de casa. Ela é uma agente da lei cumpridora de seu dever, mas por trás daquela negra alta imponente existe uma mulher como todas às outras. Marli estava a ponto de explodir e cada vez que uma operação falhava ela sentia vontade de chorar trancada em seu quarto, ou recostar a cabeça no peito de Pedro e ficar ali. Mas ela não pode se dar a esse luxo. Demonstrar fraqueza está fora de cogitação.

A prisão do inimigo público número um agora é questão de tempo. Durante um ano Marli e sua equipe montou um esquema infalível que certamente terminará com Nilton enjaulado. Não há como sair errado. Assim ela espera. Essa manhã foi ainda mais atípica. Além de ter que se acostumar a viver uma nova vida de mulher separada, acordar sem Pedro a seu lado na cama, Marli foi notificada sobre a presença de Lins nas imediações de seu bairro.  Foi preciso deixar a preguiça e o desânimo de lado e partir. A primeira fase do plano, digamos, seria a pior. Identificação. Encontrar Nilton seria como tentar encontrar uma agulha num palheiro. Todos da equipe tinham plena convicção de que seria difícil, quase impossível, porém não sabiam que seria tanto. Pra começar, Nilton Lins estava totalmente diferente desde sua última aparição. Os longos cabelos e barba já não existem mais. Ele agora posa de galã com cabelos bem cortados e sem barba arrancando suspiros das desavisadas. Foi preciso um olhar microscópico  para identificá-lo.

Equipe alertada. Equipe focada. Cada um em suas posições e pronto. Resta somente esperar e aborda-lo. A segunda fase do plano foi um pouco mais fácil. Seguir os passos do assassino, entrar em sua rotina. Foi um trabalho fácil? Sim, foi, porém cansativo, chato e enfadonho. Lins não é um cidadão comum, vale lembrar que ele é um foragido da polícia e rotina para um fugitivo é sinônimo de prisão certa. Demorou, por fim conseguiram saber o que o matador fazia todas às manhãs. Restou apenas organizar a operação para um minucioso mapeamento de seus passos e aguardar que a fera morda a isca.

 

*

 

Nilton já havia sondado aquela casa fazia alguns dias. Descobriu que o casal de idosos moravam sozinhos e que dificilmente recebiam visita de filhos ou amigos. Lins também percebeu que o velho demorava alguns longos minutos para fechar o portão depois do passeio com o cachorro. Dai pra frente foi fácil. Certo final de tarde ele aguardou o aposentado passar em frente a uma construção inacabada puxando o vira-lata.

- Vamos andando Pipoca.

A vítima passou. Lins se apossou do machado recém comprado. Esperou até que seu Batista se aproximasse de seu portão e foi atrás. Como era de se esperar, Batista demorou para fechar o portão devido as dores nas mãos.  Foi abordado.

- Cala a boca e entre. Vamos!

- O que, como assim?

Nilton o empurrou. O idoso perdeu o equilíbrio e caiu batendo as costas no chão. A cadela começou a latir e foi a primeira a estrear o fio do machado.

- Santo Deus. – gemeu Batista.

- Levanta, vamos e nem tente alarmar. – Lins o puxou pelo braço com truculência.

Lá dentro é uma típica casa de classe média. Os móveis são poucos, porém valiosos, sem falar nos eletrodomésticos. Mas o que realmente interessava Nilton era o dinheiro. Sim, apesar do charme, da boa aparência, Nilton Lins não passa de um ladrão de residência barato. Aos empurrões o dono da casa é conduzido até onde sua esposa se encontra, na cozinha adiantando o jantar.

- Fale para ela o que está acontecendo. – jogou o velho contra a mesa.

- Por favor, não nos faça mal, leve o que quiser. – implorou o aposentado.

- Batista, meu Deus, o que está acontecendo aqui? – Dora soltou a faca.

- O dinheiro, eu quero o dinheiro e não adianta dizer que não tem porque eu sei que tem. – vociferou ameaçando-os com o machado.

Dora olhou para o esposo que tinha no rosto a face do pavor. Depois se voltou para Nilton que transpirava e respirava perigo. Ele está falando sério, pensou a ex professora.

- Promete nos deixar em paz? – perguntou Dora.

- Não posso prometer nada. – bateu no cabo da ferramenta.

As coisas não acabaram bem para o casal Dora e Batista. O crime repercutiu e sensibilizou a todos. O sentimento de revolta também foi generalizado. Nilton saiu da casa dos idosos naquele início de noite carregando a arma do crime – limpa é claro e como uma boa soma em dinheiro. Os corpos foram encontrados três dias depois por familiares que acionaram a polícia. Como não há crime perfeito e nem mal que dure para sempre, Lins pecou ao não averiguar se havia câmeras de segurança na casa. Poderia não haver na casa de Dora e Batista, mas do outro lado da rua, exatamente na calçada do vizinho da frente existia uma e registrou tudo, inclusive a saída ligeira do assassino. Marli Porto enquanto analisava às imagens trancava as mandíbulas e socava a mesa sem parar.

- Eu te pego desgraçado.


sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

2021 chegou!!!

 


2020 ficou para trás. Foi um ano repleto de desafios, perdas, mas foi também um ano onde podemos o quanto o ser humano consegue se reinventar, mostrar o realmente importa. A pandemia do Corona vírus mexeu com o mundo. Acredito eu que jamais voltaremos a ser como antes. O novo normal fará parte de nossas vidas daqui pra frente.

2020 passou, mas deixou marcas profundas. Famílias choraram seus mortos pelo Covid e também por outros males. Houve fechamentos, nos isolamos, nos distanciamos, passamos a lavar mais as mãos, usamos máscaras, enfim. Tudo isso para protegermos quem amamos e a nós mesmos. Detalhe, a pandemia ainda não acabou.

Superamos 2020, graças a Deus. Uma nova oportunidade nos foi dada e cabe a nós aproveita-la da melhor forma possível.  Hoje temos um inimigo incomum, o Covid-19. Não há mais tempo para disputas e nem espaço para rivalidade. Devemos unir forças e juntos seguir superando a cada dia esse vírus tenebroso.

Espero do fundo do meu coração que 2021 seja o ano em que daremos uma resposta a altura a tudo que passamos em 2020.

ATENÇÃO LEITORES

O ANO DE 2021 SÓ ESTÁ COMEÇANDO E AQUI NO MANUAL DOS CONTOS SEGUIREMOS POSTANDO BOAS HISTÓRIAS E TENTAREMOS MANTER O BLOG SEMPRE ATUALIZADO.

EU, JÚLIO FINEGAN O CRIADOR DO MANUAL DOS CONTOS PROMETO CONTOS POLICIAIS, COTIDIANO E TERROR. FICA ESPERTO.

FELIZ ANO NOVO!!!