sábado, 16 de abril de 2022

Litoral

 


LITORAL

 

Foi um dia conturbado, confuso e chato. Pra falar a verdade, de uns tempos pra cá os dias vem ficando mais longos e difíceis de serem vividos. Mesmo sendo um empresário de sucesso e possuindo uma conta bancária recheada, Edson Reis vem enfrentando certas adversidades em sua vida sentimental. Ele sabe que não é o homem mais simpático do mundo e nem o marido que toda mulher pediu a Deus, mas ele tem se esforçado para ser o tal. Isabela, sua esposa, se encontra no banheiro debaixo do chuveiro a mais ou menos quinze minutos. Edson se controla ao máximo para não lhe passar um sermão devido ao desperdício de água. Ao invés de repreendê-la, o empresário achou melhor lhe fazer companhia.

     Lá está ela, linda, corpo molhado e escorregadio por causa do sabonete líquido. Maravilhosa. Edson a surpreende entrando no boxe e a agarrando por trás.

      - Aí, você é louco?

     - Vim lhe fazer companhia, posso? – segue segurando-a pela cintura.

     - Estou tomando banho, não está vendo?

     - Achei você tão sozinha aqui que resolvi...

     - Perturbar. – fechou o registro e pegou a toalha.

     - Qual o seu problema, Isa? Poxa, eu entro aqui louco de vontade de fazer amor com a minha mulher e ela simplesmente me ignora.

     - Hoje não vai rolar, sinto muito, estou podre de cansada, vou comer alguma coisa e dormir.

     - Não vai rolar de novo você quer dizer.

     Isabela se enrolou na toalha e abandonou o marido dentro do banheiro falando sozinho. Pois é, os dias não tem sido nada fáceis. Edson ama Isabela, ama estar casado com ela. Além de ser uma mulher espetacular, ela é também companheira e dedicada. Sim, Isabela foi tudo isso um dia, hoje ela vem deixado muito a desejar. Edson saiu do banheiro e a seguiu até o quarto ainda em tempo de vê-la colocando a roupa de dormir. Realmente as horas na academia tem feito muito bem a ela. Pernas, bunda, tudo perfeito, tudo durinho.

    - Isa, vamos conversar, por favor! – se sentou na cama.

    - Conversar sobre o que Edinho? – colocou a calcinha tipo fio dental e depois uma blusinha folgada.

     - Eu quero ficar bem com você, será que você não percebe?

     - Tudo bem. – se deitou na cama e puxou o edredom. – se quer ficar bem comigo vá até a cozinha e prepare um lanche bem gostoso, com direito a bacon e refrigerante.

      - Ah, qual foi, Isa, eu estou falando sério.

      - Mas eu também estou falando sério. Por favor.

      Foi mais uma noite no zero a zero. Vinte minutos depois Edson voltou com o lanche e encontrou sua esposa dormindo, ou fingindo estar dormindo. A mensagem foi passada, Isabela não quer se quer tentar encontrar uma solução para o caos em que se encontra o casamento. Mesmo sem fome ele foi obrigado a comer o lanche sozinho na copa. A mente masculina é uma fonte inesgotável de imaginação, perguntas sem respostas. Teria Isabela um outro relacionamento? Seria isso a causa do esfriamento? Ela teria essa cara de pau? Para que a noite não piorasse ainda mais ele decidiu dormir no sofá-cama, mais não conseguiu pregar os olhos. No dia seguinte ele tiraria essa história a limpo.

 

*

 

    Quando o relógio marcou oito em ponto Edson já se encontrava em sua sala, sentado a mesa tomando decisões de suma importância para a Reis e Associados juntamente com seus diretores. Uma das coisas que ele preza bastante é o tempo. Tempo para um homem como Edson é muito caro, por isso ele faz questão de que todas as reuniões sejam na parte da manhã e não na hora do almoço como muitos fazem. Como um bom mediador deve ser, Edson não permite que outros assuntos venham a desviar o foco, se o motivo da reunião é o financeiro que seja assim até o final. Em menos de uma hora tudo já estava resolvido e principalmente, esclarecido. Sua sala ficou um pouco maior assim que os dez diretores a deixaram. Mais uma olhada no relógio em seu pulso e Edson retira o paletó e o coloca no encosto da cadeira. Pega o celular e liga para Isabela que demora atender.

     - Oi? Estou na academia.

     - Quer almoçar comigo hoje?

     - Acho que não vai dar, tenho manicure marcada.

     - Você está mesmo na academia? Eu não ouço música e nem outras vozes.

     - É que eu tive que vir ao banheiro. Mais alguma coisa?

     - Não, nada.

     - Então tá, preciso terminar minhas sequencias, até mais tarde.

     Ele deixa o celular sobre a mesa e anda até a janela com as mãos enterradas nos bolsos. Lá fora o vai e vem de pessoas nas calçadas e carros passando em alta velocidade buzinando como loucos enfurecidos. Isabela está me traindo, agora ficou Claro, assim pensa Edson ainda olhando pela janela. Não será necessário a contratação de um detetive, tudo está na cara. Ele volta a se acomodar em sua cadeira e sua mente trabalha a todo vapor o fazendo perder de vez a concentração no trabalho. Quem seria esse fantasma rondando sua vida? Esse ser devastador não pode estar falando sério. Como assim limpar minha honra com sangue?

     Edson volta para sua mesa ainda tentando restabelecer sua concentração nas coisas que precisam ser resolvidas na empresa e mesmo assim aquele fantasma insiste em assombra-lo de forma violenta. Chega desse assunto, hora de pedir um café e seguir em frente com os negócios.

 

*

 

   Como era de se esperar, Isabela não está em casa e provavelmente irá demorar para chegar. Essa rotina tem sido a centelha que irá incendiar e devastar toda uma vida juntos. Ela nunca está aqui quando chego do trabalho, pensa Edson afrouxando a gravata e colocando a pasta sobre a mesa. Aonde essa história pode chegar? Ele a ama, sempre a amou e não entende o por que de seu casamento estar se tornando um território perigoso. Para aliviar as tensões ele se serve do velho e bom uísque. Adiciona duas pedras de gelo e toma um gole. O sofá será seu divã. Enquanto degusta da bebida ele se recorda de quando conheceu Isa. Foi durante o réveillon na casa de um amigo muito chegado. Edson chegou primeiro e assim que bateu os olhos naquela loira alta, nariz empinado e corpo super trabalhado nas horas de academia, o empresário fez questão de passar a virada do ano ao lado dela tomando champanhe da melhor qualidade. Nesse mesmo dia eles se beijaram e começaram a namorar, foi sensacional.

      O segundo copo da bebida desceu e ele nem sentiu. Já são quase 21 e nada de Isabela chegar. Essa situação só piora e cada vez mais se torna insustentável. Ela deve estar trepando com um vagabundo qualquer na cama de um motel xexelento cheio de pulgas, imaginou se dirigindo ao banheiro. Quando terminou, ele ouviu Isa entrar vestida com roupas de malhar.

      - Mais um pouco e eu lhe dou bom dia. – diz Edson da porta do banheiro.

      - Pois é, nem vi o tempo passar. – tirou os tênis. – e aí, como foi a reunião?

      - Tranquila. Dessa vez a Reis vai se tornar uma potência.

      - Fico feliz. – tirou também as meias. – vou subir, estou morta de cansada.

      Todas as noites tem sido iguais de uns tempos para cá, porém hoje Edson irá forçar a barra um pouco e dependendo do resultado ele dará ouvidos ao fantasma. Depois do jantar Isa foi se deitar. Leu um capítulo de livro de Stephen King e dormiu. Em seguida, sorrateiramente seu marido entrou em baixo do edredom e começou a beija-la nas pernas chegando a virilha. Mesmo sob protesto e resistência Edson não parou. Irritado com a reação já esperada, Edson a segurou com força tentando enfiar sua cabeça entre as pernas de Isabela que lhe aplicou um tipo de guilhotina.

     - Qual foi Isa? – falou dando tapinhas na perna da mulher.

     - Pare com isso, eu quero dormir.

     - E eu quero transar, faz uma semana. – saiu de baixo do edredom.

     - Não estou disposta.

     - Menstruada, de novo?

     - Sei lá, não me sinto bem, só isso, agora apague a luz por favor. – puxou o edredom e se encolheu.

     A ereção foi para o espaço. O empresário volta para o sofá e outra vez aquele maldito sentimento lhe bate a porta. Limpar minha honra com sangue, pensou esfregando a testa. Ele precisa tirar essa dúvida corrosiva – adiantaria fiscalizar o celular dela? – corre até o quarto onde os roncos de Isa são ouvidos. O aparelho está em cima da cômoda. Edson se apossa dele e volta para a sala.

     Ele lê todas as mensagens e escuta os áudios. Nada. Abriu o Facebook, também nada. Isa é esperta, ela não daria esse mole. Se ela o está traindo deve estar fazendo isso muito bem escondido – devo segui-la? – deixou o aparelho de lado e voltou a ser perturbado pelo fantasma.

     Você também é culpado nessa história, mas nem por isso você a sacaneou. Limpe sua honra, tenha coragem, seja homem, acabe com isso de uma vez. Mate-a.

      O celular voltou para o mesmo lugar e Edson se deitou ao lado de Isa que dorme profunda e tranquilamente.

*

 

     O tempo só fez bem a Isabela. Loira por natureza, olhos claros e traços europeus fortes e muito gostosa. Em pé na frente do fogão, usando seu shortinho curto e blusa larga de dormir, Edson só falta enlouquecer a observando sentado a mesa.

     - Andei pensando. Que tal um final de semana no litoral?

     Isa girou nos calcanhares.

     - Jura?

     - Juro. Será bom para nós dois, o que acha?

     - Fantástico, estou precisando mesmo pegar uma corzinha.

     - Legal. Partiremos na quinta-feira a noite, tudo bem?

     - Ótimo.

     Enquanto dirige a caminho da empresa, Edson constrói todo um cenário para sua tacada mortal. O primeiro passo foi dado. Levá-la para um lugar distante sem levantar qualquer suspeita não foi tão difícil. Para Isabela o seu marido está tentando de todas as formas fazer com que o casamento volte a normalidade. Porém o que lhe aguarda nesse próximo final de semana é algo que ela jamais imaginou. Será o fim de semana em que Isa pagará por tudo o que tem feito as escondidas, pagará por ser ingrata e adúltera. Edson também sabe que não é só Isabela quem tem culpa nessa história toda. Ele também deu a sua contribuição para que o relacionamento entre os dois se tornasse essa terra hostil. Mas fazer o que? A vida é assim, ela é dura mesmo e sempre alguém terá que pagar.

 

    Em seu escritório, depois de despachar alguns documentos ele repassa todo o plano. Para as outras pessoas tudo não passará de um fatídico acidente, um afogamento. Estranhamente Edson se pega rindo sozinho – no que estou me transformando, meu Deus? – ele não sabe explicar, mas ele ri, talvez seja o efeito desse sentimento maligno vindo a tona.

     - Afogamento! – fala batucando com a caneta na mesa.

 

*

     Há cinco anos o casal passou o feriado de Páscoa no litoral. Foi preciso muito cuidado para que Isabela não voltasse das mini férias grávida. Edson lembra com tristeza das três noites em que eles fizeram amor intensamente e se embriagaram com vinho. Foram dias especiais. Assim que termina de socar as últimas malas no carro ele limpa o suor da testa e olha para cima, para a janela do quarto onde é possível ver Isa se maquiando. Se passou pela cabeça desistir do plano? Não, claro que não. Ela tem outro, tá na cara. Ele sustenta o olhar até fazer com que o ato chame atenção. Isa olhou para ele e jogou um beijinho – bom, muito bom, mas eu vou te matar.

     Pé na estrada. O trânsito até que está colaborando. Isabela enterrou os fones nos ouvidos, aumentou o volume e colocou os pés no painel. Claro que Edson não gostou, em outra ocasião ele iniciaria uma discussão que duraria até o destino final. Hoje ele está relaxado, quer se poupar, ele se limita em somente vislumbrar o par de pernas dela. Tudo no mais profundo silêncio até que Isa começa a cantar e alto num inglês fluente.

     - Opa! – diz Edson. – “wind of change” boa.

    Sim. Foram quase cinco minutos de pura emoção com o casal Reis cantando o incrível hit do  The Scorpions. Pela primeira vez depois de muito tempo eles voltaram a se comportar como um casal normal – quando foi que te perdi, Isabela, quando?

    - Pelos menos o curso de inglês está servindo para alguma coisa. – diz ela tirando os fones.

    - Que nada, você sempre falou bem inglês, porém cantar ficou complicado.

     Edson esperava que Isa iniciasse uma briga boba, mas o que veio o surpreendeu. Ela começou a rir e o contagiou. Depois disso ela colocou a mão entre suas pernas e apertou o volume.

      - Posso cantar em seu microfone, o que acha?

      - Uma boa ideia. – segue olhando para a estrada.

      - Acho que não, eu canto mal pacas. – voltou a rir e ele também.

      - Já imaginava.

     Apesar de não ser alta temporada, o litoral costuma ser um lugar muito bem frequentado, somente os ricos e poderosos podem desfrutar de férias fora do período. Antes de parar no bairro onde passarão o final de semana, Edson, a pedido de Isa fez um passeio na orla onde viram praias relativamente vazias e águas límpidas, uma verdadeira obra de arte do Criador.

     - Podemos tomar um sorvete ali? – perguntou Isabela.

     - Vamos.

    O estabelecimento é uma sorveteria nova onde o próprio cliente se serve, um tipo de self service só que de deliciosos sorvetes de diversos sabores. O casal Reis ocupou a mesa que fica perto da saída.

     - Pelo visto a dieta já foi para o espaço. – Edson olhou para a quantidade de sorvete no pote de Isa.

     - Acho que não vale a pena me privar de comer certas coisas quando estou de férias ou curtindo um final de semana.

      - Posso lhe fazer uma pergunta?

      - Até duas, senhor Reis. – experimentou o de abacaxi.

      - O que está acontecendo com a gente?

     - Pra falar a verdade, Edson, eu não sei ao certo, mas está evidente que caímos naquela parte onde os casais mais temem; a rotina.

     - E você acha que o que estamos fazendo agora irá nos tirar dessa fase?

     - Se vai nos tirar eu não sei, mas que pode ser o ponta pé inicial, disso eu não tenho dúvida.

     Isa pegou um pouco de sorvete e fez menção de dar na boca do marido, mas assim que Edson fechou os olhos e abriu a boca ela o sujou no nariz.

     - Ora, ora vejam só. – sorriu.

     - Foi mal, deixa que eu limpo. – se inclinou e lambeu a ponta do nariz de Edson.

     - Hum, foi bom isso, mas eu esperava um beijo. – ruborizou.

     - Com qual sabor, manga, abacaxi ou chocolate?

     - Chocolate seria ótimo.

     Isa lambuzou os lábios do marido e depois o beijou. Não durou muito, mas o empresário pode sentir toda paixão proporcionada por aquele momento. Deu vontade de joga-la em cima daquela mesa e fazer amor ali mesmo com direito a sorvete por todo o corpo esbelto dela. Pelo visto o final de semana começou quente.

 

*

 

     A casa onde a família Reis pretende passar os três dias é algo fabuloso com direito a sol pela manhã entrando pela janela do quarto ao som do mar quebrando nas pedras. Um verdadeiro sonho banhado pelas águas salgadas do litoral. Edson começa a retirar as malas e Isabela confere cômodo por cômodo da residência, ela está amando tudo o que está vivendo. Depois de olhar a cozinha e se certificar que está tudo em ordem, ela voltou para a varanda e vislumbrou as casas vizinhas.

     - Como devem ser os nossos vizinhos? – ela disse.

     - Espero que sejam pessoas legais. – fechou a mala do carro. – e aí, o que achou da casa?

     - Maravilhosa.

     - Que bom que gostou. Vamos terminar de guardar as coisas e depois sair para almoçar.

     Demorou um pouco, mas por fim tudo organizado do jeito que dona Isabela gosta. Faltando pouco para as 15h o casal partiu rumo ao restaurante mais próximo. Edson dirige e Isa segue mexendo no celular. Ele a ama de verdade e é por isso que ele não admite certas coisas. Sim, isso é um problema, Edson esperava tudo, menos uma traição, por ele Isabela deveria retribuir tudo o que ele sente por ela em dobro. Claro, a vida não é assim. O pior dos males com certeza é a ingratidão.

     Pelo horário o restaurante se encontra vazio, mas ainda servindo o almoço. A comida é ótima, melhor que o esperado. Na saída do estabelecimento, para uma melhor digestão e também para aproveitar melhor o passeio eles resolveram caminhar na areia e conversar. De repente um cachorro de raça pequena os assusta fugindo do seu dono.

     - Olha que gracinha. – diz Isa.

     - Que raça é essa? – se abaixou para acariciar a animal.

     - Chihuahua. – falou um rapaz moreno de camisa regata.

     - É lindo, é seu? – pergunta Isa.

     - É sim, seu nome é Leão. Vocês chegaram hoje, não foi?

     - Sim, como sabe? – Edson se levantou.

     - Somos vizinhos, eu vi quando chegaram, sou Davi. – estendeu a mão.

     - Como vai Davi, essa é Isabela minha esposa e eu sou Edson, Edson Reis.

     - Prazer. Então, vão passar só o final de semana ou é algo definitivo?

     - Não, não, só final de semana mesmo. – responde Isa.

     - Vocês estão voltando para a casa?

     - É, viemos almoçar, por que, quer uma carona? – Edson se antecipa.

     - Poxa, adoraria, vim andando desde lá com o Leão e agora estou com preguiça de fazer o mesmo caminho andando.

      - Legal, vem com a gente.

     Isabela preferiu ceder o seu lugar no carona para o simpático recém conhecido que não parou de falar um minuto. Em poucos metros o casal Reis já poderia dizer que Davi Viana é um amigo de longa data tamanha a simpatia do sujeito de porte atlético.

     - Então você é empresário?

     - Pois é meu chapa, estamos nessa luta a algum tempo. – Edson reduziu para passar numa lombada.

     - E os negócios vão bem?

     - Graças a Deus. Em breve a Reis se tornará uma das grandes do Business. Mesmo sendo de médio porte o seu faturamento já é algo fantástico, imagina quando ela se tornar uma megaempresa.

     - Uau! – vibrou Davi.

     Ao chegarem no bairro  Davi é deixado no portão de sua casa e ao descer ele continua a falar.

     - Edson, que tal uma cervejinha logo mais?

     - Eu topo. – se adiantou Isa.

     - Legal, eu levo os petiscos. – tamborilou no volante.

     - Certo, então até a noite.

     Davi se afasta. O casal Reis até agora estão pasmos com o fato do rapaz moreno escuro, cabelos negros ondulados e olhos claros falar pelos cotovelos. Eles voltam para a casa e querem aproveitar cada segundo naquele lugar revigorante.

 

*

 

   Por alguns minutos Edson se esqueceu do seu propósito ali ao ver sua esposa em traje de praia. Isabela o hipnotiza com aquele biquíni branco a deixando ainda mais sensual. Faz tempo que ele não sente o calor daquela pele tratada pelos melhores cremes e hidratantes. Ele sabe que ela negará fogo mais uma vez, porém não custa nada tentar. Enquanto ela ajeita a calcinha do biquíni o enterrando ainda mais para dentro das nádegas, Edson a surpreendeu a agarrando por trás e lhe beijando a nuca.

     - Agora você não me escapa.

     - Aí, Edinho, assim você vai tirar todo o filtro solar, poxa.

     - Sabia que você está gostosa nesse biquíni?

     - Você está em apertando.

     - Faz aquela dancinha pra mim? Você lembra? – continua a beija-la no pescoço.

     - Se você me soltar eu faço.

     - Promete?

     - Prometo.

     Assim que Edson a soltou Isa disparou porta afora o deixando furioso e ainda com ereção.

     - Vagabunda. – falou baixo. – por isso que eu vou acabar com você sua vadia.

 

*

 

    O fantasma da morte segue rondando o território onde Edson é o seu principal objetivo. Antes de saírem para o encontro com Davi, ele, o fantasma, se aproximou veementemente do empresário e o tentou ao ponto dele desejar mata-la enquanto ela se arrumava no quarto. Edson precisou respirar fundo e ter auto controle, nada pode fazer com que o plano seja mudado. Ele a matará no mar, será perfeito, um simples mergulho e pronto, seus pulmões se encherão das águas salgadas da praia.

   Amendoim torrado, torresmo, além de outros petiscos, Edson e Isa chegaram a casa de Davi que já se encontrava a espera deles.

     - Vamos entrando gente. – falou sobre os latidos irritantes do cachorro.

     A casa de praia de Davi não foge do padrão. Poucos móveis e muita bagunça de viajante. Na caixinha de som sucessos internacionais no volume médio. Edson já gostou logo de cara. A cerveja também o agradou e o bate papo foi bastante envolvente e inteligente.

     - Professor de educação física. – disse Isa. – ainda atua?

     - Não posso parar, ganho a vida com isso.

     - Por que veio para o litoral sozinho? – perguntou Edson.

     - Novos desafios, novos horizontes meu amigo. A vida lá na cidade já estava me sufocando, entende? Por isso larguei tudo e vim fazer vida aqui, perto da praia.

      - Quer coisa melhor do que isso? – brincou Isa.

      A conversa estava boa demais. Quando os petiscos acabaram eles pediram pizza e compraram mais cerveja. Bons vizinhos. Já era outro dia quando o sono e cansaço os abateu. Isa foi a primeira a ser atingida.

    - Acho que vou cair no seu sofá Davi. – bocejou.

    - Podem ficar a vontade se quiserem dormir.

    O próprio Edson se achou estranho ao aceitar passar a noite ali, na casa de um cara que conheceu há algumas horas. Isa e ele ocuparam o quarto de cima e dormiram como recém nascidos despojados de toda maldade.

     Edson abriu os olhos e se assustou ao ver o horário no relógio de parede. Faltando pouco para o meio dia ele deu um salto da cama e não viu sua esposa a seu lado. Afastou as cortinas onde pode vê-la se exercitando junto com Davi nas areias quentes. Ciúmes? Não. Ou talvez um pouco? Deixa pra lá. Tudo o que ele quer agora é um café forte, depois ele pensa nisso com calma.

      Ao meio-dia Davi voltou para casa e encontrou Edson na varanda degustando um delicioso café da manhã ao som de Elton John.

     - Cara, me desculpa mexer nas suas coisas, mais não resisti, você tem uma playlist do Elton.

     - Fiz antes de vir. – disse enxugando o suor da testa e pescoço. – sua esposa até lhe chamou para se exercitar, mas você estava desmaiado.

     - E onde ela foi?

     - Foi tomar banho lá na casa de vocês. Exercícios na areia são pesados mesmo.

     - E aí, Davi, cara, você é um rapaz com um porte físico legal, boa pinta, cadê a mulherada?

     - Acabei de sair de um relacionamento de três anos. Ela era possessiva demais, me controlava vinte quatro horas, sem falar do ciúmes. Agora, digamos que estou mais focado no trabalho. E você e a dona Isabela?

     - Como posso dizer? Isa e eu estamos tentando fazer com que o nosso casamento não caia na rotina, por isso a nossa vinda para o litoral, sacou? A vida lá na cidade consome demais, acredita que já ficamos semanas sem transar?

      - Vida de casado tem dessas coisas, no meu caso a outra queria sexo quase que em todos os encontros.

     - Coisa boa hein! – brincou.

     - Era bom, mas não compensava o estresse do dia a dia. – jogou a toalha no ombro.

     - Bom. – deixou a xícara sobre a mesa. – vou tentar fazer alguma coisa com a patroa. Vai fazer o que mais tarde?

     - Vou tomar um banho agora, ir ao mercado e mais tarde um filme legal na Netflix.

     - Que tal mais uma cervejinha?

     - Eu topo. – apertou a mão do empresário.

 

*

 

     Nada melhor para fazer com que a mente funcione perfeitamente do que uma caminhada na areia deixando que o mar banhe seus pés. Antes de ir para casa, Edson fez essa terapia e funcionou. A praia começa a receber seus convidados e convidadas. Uma dessas convidadas vem andando mais ou menos na mesma direção que o empresário. Uma morena clara, cabelos negros esvoaçantes, uma tanga estampada por flores cobrindo somente a parte de baixo. A parte de cima fez com que Edson trocasse as pernas devido o balançar do par de seios fartos sustentados pelo sutiã. Eles se cruzam e ambos sustentaram o olhar. Que tentação. Que mal teria em iniciar um relacionamento extraconjugal já que Isa vem cometendo esse pecado faz tempo? E além do mais, Isabela está a poucas horas de sair definitivamente não só do casamento, mas também da vida. Seria viável olhar para trás e chamar essa gata para sair mais tarde? Melhor não perder essa oportunidade.

     Edson girou o pescoço ao mesmo tempo em que a morena também o fez. Eles voltaram a se olhar e Edson fez menção de lhe chamar, mas ficou só na vontade mesmo. Melhor não. Segundo ele mesmo, ele sairá dessa história limpo. Jamais se rebaixará ao nível de Isa, jamais. Voltou para a casa onde sua esposa digitava algo no celular deitada na rede exibindo um par de pernas enlouquecedor.

      - Demorou. – disse ela ainda digitando.

      - Fiz uma caminhada pela areia. – se sentou na mureta da varanda.

      - Achei que estivesse com Davi.

     - Ele foi ao mercado. Que tal um mergulho. – uma nuvem negra lhe encobriu os olhos.

     - Daqui a pouco. – voltou a digitar.

     Filha da mãe, é bem provável que ela esteja conversando com o amante que ficou lá na cidade. Devem estar marcando um motelzinho para matarem a saudade. Deixe eles pensarem que isso irá acontecer. Ele vai procurá-la, só que ela estará no fundo do mar, servindo de comida para tubarão.

     - Tá certo. – desceu da mureta. – vou tomar um banho e ler.

 

*

 

    Eles foram dar um mergulho. O mar não está tão calmo porém na areia ainda há pessoas. Edson chama sua esposa para ir até um grupo de pedras, distante das pessoas. Hora de colocar o plano em ação. Eles vão nadando. Isa é mais ágil e vai deixando seu marido para trás.

     - Nade, vamos. – disse ela.

     Agora eles estão nas pedras. Uma rápida olhada para trás e Edson sente que esse é o momento. Será angustiante, mas vai valer o trabalho. Ele a matará afogada e deixará seu corpo em qualquer lugar ali. Todos acharão que a pobre moça se descontrolou, por isso se afogou. Você é um gênio Edson Reis.

      Isa saiu da água e se sentou nas pedras para descansar. Em seguida Edson fez a mesma coisa ficando ao lado dela. Só eles e mais ninguém. De repente Isa colocou a mão entre as pernas de Edson que a olhou de soslaio.

      - O que foi, não vai querer? – ela seguiu apalpando o marido.

      - Aqui, e se aparecer alguém?

      - Ah, todo mundo gosta de um showzinho.

      - Sério? – sorriu. – Ah, então tá bom.

      Sim, foi ao som do mar batendo nas pedras em que Edson sofreu o melhor sexo oral de sua existência. Isa foi sensacional fazendo seu esposo chegar ao clímax em vinte minutos. O plano de mata-la teve que ser adiado pelo menos por enquanto.

     - Uau! – disse ele. – como farei para voltar, estou fraco.

     - Preciso voltar, tomar um banho, tirar esse gosto da boca.

      Isa entrou na casa e Edson foi caminhando até a casa de Davi. O vento ficou um pouco mais forte e o empresário já estava arrepiado de frio. A alguns metros do portão da casa Edson viu algo no chão, um telefone. Olhou em volta e não viu ninguém. Pegou o celular que se encontrava desbloqueado, na verdade não havia senha de desbloqueio. A foto na tela principal mostra o rosto simpático de seu dono.

      - É do Davi.

     Edson já estava decidido a devolver o aparelho quando uma nova mensagem chegou e como a curiosidade matou o gato o empresário viu o emissor. Foi um choque tão grande que Edson sentiu vontade de gritar.

      - Isa?

      Tremendo. Quase chorando. Ele não queria, mas foi mas forte do que ele. Calma Edinho, eles podem muito bem terem trocado números a fim de marcarem para fazer exercícios. Ele respirou fundo. Abriu o WhatsApp e leu o conteúdo da mensagem. Foi de fazer o estômago dá um nó.

    Isa: Acabei de entrar. O babaca me chamou para nadar e você não sabe da maior, fiz um oral nele, espero que não fique com nojo da minha boca, se você for bonzinho eu faço um em você também.

      Ainda em choque Edson enfiou o telefone no bolso e andou para distante da casa. Os olhos marejados e com muito ódio no coração ele vai ler outras mensagens e áudios trocados. Conforme ele vai andando o seu polegar vai arrastando conversas e mais conversas. Áudios e mais áudios e até vídeos. Mensagens de dias, meses, meu Deus do céu. Ele para de andar e olha o mar sorrindo de nervoso. Quem diria, Davi e Isa. Edson engole seco e volta ao telefone.

     Davi: Bom dia gata, vamos nos ver hoje?

     Isa: Claro, acho que ele vai chegar um pouco mais tarde hoje.

      Davi: Ótimo, vou querer  fazer de tudo.

      Isa: Vê se consegue um lubrificante bom, o último não ficou legal.

      Davi: Relaxa, vou fazer você voar.

     Edson sentiu vontade de vomitar. Mulherzinha baixa, safada. Ele arrastou e leu mais conversas.

      Isa: O Edinho vai passar o final do semana fora, vem pra cá.

       Davi: tem certeza?

       Isa: tenho, sexta, sábado e domingo, só volta na segunda feira a tarde.

       Disso ele lembra bem. Foi quando ele precisou ir até o nordeste se reunir com outros empresários e fechou negócio com todos os trinta. Como pode? Enquanto Edson corre atrás afim de conseguir com que a máquina permaneça girando, Isa se aventura nos braços de um marombeiro. As lágrimas não hesitam em descer. Perto de onde ele parou há um banco de concreto, caindo ao pedaços, mas ainda servindo ao seu propósito. Ele olhou para ambos os lados da praia e não viu ninguém, ninguém como Davi ou Isa. Se acomodou e voltou a ler as mensagens.

      Isa: queria tanto poder sair desse inferno.

      Davi: está tão ruim assim viver com o magnata?

      Isa: horrível. Ele gosta de mim, eu sinto isso, mas sabe quando você sente que já perdeu a graça? Pra você ter uma ideia, faz um bom tempo que não transamos, peguei um nojo dele. Argh!

       Contrações acontecem durante todo o tempo em que Edson lê essa mensagem. Tá explicado o porquê da frieza do relacionamento. Ele tem culpa nisso também. A empresa durante um bom período ocupou o lugar de Isabela, foram dias e noites envolvido com questões da Reis que a esposa passou a ser uma mera coadjuvante.

      Davi: Calma, daremos um jeito nisso, só precisamos esperar uma oportunidade.

      Seu casamento já era. Esse sentimento é horrível. Não é preciso mais esperar, chega de viver um conto de fadas nesse paraíso. O negócio é mata-la o mais rápido possível e cair fora, quem sabe ir para outro estado ou talvez morar fora do país por algum tempo. Edson guardou o celular no bolso da bermuda e faz o caminho de volta para a casa.

 

*

    O restante do dia transcorreu bem. A vida naquele lugar parece ter saído das páginas dos livros de fantasia. Clima ameno, pouco barulho, comida boa e inúmeras opções de entretenimento, além do mar que cada vez que se olha é um convite para se banhar nas águas verdes e calmas. Isa adormeceu na rede, seu semblante mesmo dormindo é de uma pessoa preocupada. Edson passa por ela se segurando para não a sufocar com o travesseiro. Ele anda até a saída da casa a tempo de ver Davi parado do lado de fora de sua residência. Parece procurar algo na areia – seria isso que tenho em meu bolso?

     Ele volta para dentro e se tranca no quarto. Pegou o celular no bolso e controlou sua raiva. Ele confere outras mensagens. Edson vai passando e encontra um vídeo enviado por Isa. Um vídeo muito comprometedor onde sua bela esposa exibe suas partes íntimas e dança como se fosse uma dançarina de boate. Edson percebeu que ele estava a ponto de esmagar o aparelho de tanto que ele o apertava com as mãos. O vídeo tem dois minutos e meio, foi outro golpe em seu estômago. Novas mensagens.

      Isa: Edson está cada vez mais rico. A empresa está prosperando, temos que dar um jeito nisso.

      Davi: Calma, gata, o papai aqui já está elaborando um plano.

     Além de adúlteros eles ainda querem me roubar? Para se poupar ele resolveu ler as mensagens mais recentes.

      Davi: Isa, fique tranquila, essa empresa será nossa, ou melhor, a grana dele. Assim que possível me passe mais informações.

      Isa: Deixa comigo.

      Mais um vídeo e dessa vez foi enviado por Davi que Edson fez questão de não assisti-lo. Chegou a alguns áudios e suas pernas perderam a firmeza. Ele observou a data em que foram enviados. Um dia antes de viajarem para o litoral.

      Isa: Edson me chamou para passar o final de semana no litoral. Eu já tenho o endereço de onde vamos ficar. Vá pra lá agora, arrume uma casa perto.

      Davi: Ótimo. O plano é esse, vou dar um jeito de obter  a confiança dele e aí então...

      Isa: Davi, só peço que seja rápido, um golpe certeiro na cabeça e pronto, qualquer coisa as pessoas irão achar que ele caiu e bateu com a cabeça. Você preparou a marreta?

      Davi: Sim, já preparei. Vai ser rápido.

      Isa: Corra pra lá.

      Como são as coisas, meu Deus. O plano deles era me matar, pensou Edson. Enquanto ele ainda digeria o teor dos áudios uma nova mensagem de Isabela chegou.

      Isa: Por que não me responde? O tempo está passando, daqui a pouco vamos embora e nada.

      O empresário se viu tentando a responder.

      Isa: Você só visualiza e nada.

      Aquele fantasma da morte entrou no quarto e falou ao ouvido de Edson que pela primeira vez não fez questão de expulsa-lo, ouviu atentamente a tudo. Porém a nova mensagem de Isa o fez rir.

       Isa: Faremos o seguinte então. Vamos atrai-lo para onde eu transei com ele, nas pedras, lá é um bom lugar. Deixaremos o corpo lá e chamaremos a polícia, bombeiros, sei lá. Tá decidido. Me responda assim que possível. Beijos, te amo.

*

 

    Fazer o bem dá muito trabalho, já a maldade não custa nada. Edson saiu de casa apressado e andou até a casa de Davi sem perceber que seus pés estavam descalços. Faltando pouco para chegar a varanda ele notou que o morador se encontrava na residência. Retirou o celular do bolso e o jogou no canto, perto da janela que dá para os quiosques. Feito isso ele bateu palmas chamando atenção de Davi.

      - Ô de casa?

      - Fala meu mano, vamos entrando, estou um pouco afoito. – apareceu na janela.

      - O que houve?

      - Cara, perdi meu celular, acredita?

      - Caramba, isso é muito chato. Posso ajudar a encontra-lo. Vou ver aqui fora.

      - O Pior é que já procurei, mas quem sabe você não dá sorte.

      A maldade não custa nada, não dá trabalho. Edson disfarçou muito bem, ficou ali aguardando o momento. Degustou cada segundo daquela situação e depois sim anunciou que havia encontrado o aparelho.

      - Estava aonde?

      - Bem ali, no canto, perto da janela, você nunca o encontraria mesmo.

      Davi Viana pegou o celular das mãos de Edson e o guardou no bolso da calça com uma rapidez espantosa. Depois disso eles ainda tomaram uma cerveja juntos no quiosque em frente a casa de Davi. O tempo todo em que Edson falava sobre diversos assuntos, Davi conferia algo no telefone. A vontade do empresário era de enchê-lo de socos ali mesmo, com certeza esse merda está conferindo as mensagens da safada. De repente Davi se mostrou desconfortável e decidiu encerrar o encontro.

      - Bom meu amigo o papo tá legal, mas tenho que entrar e fazer plano de aula. Quer nadar até às pedras mais tarde, você e a dona Isabela?

      - Adoraria.

      - Fechado.

      Sim, claro que Edson pediu mais uma cerveja e saboreou cada gota daquele líquido amargo e gelado. Ele ficou ali rindo sozinho e imaginando como será essa viagem fantástica até às pedras onde tudo terminará ou começará, isso vai depender do resultado. Depois de pedir mais duas latinhas ele pagou a conta, não é necessário ficar embriagado. Foi embora ainda se divertindo com tudo isso que estava vivendo.

 

*

 

     Edson e Isa, lado a lado. Ela segurando uma bolsa térmica. Ele sem camisa e com sunga de praia, aguardando a chegada de Davi que também trás com ele uma bolsa térmica de uma marca famosa de energético. Edson dá uma rápida olhada para Isa que mal percebe o gesto. Ela é linda, gostosa demais, porém possui um coração negro. Isa parece nervosa.

      - Vamos lá? Estou levando um lanchinho. – disse Davi sorrindo.

      - Nós também. – Isa mostrou a bolsa.

      - Tá pronto, magnata? – disse Davi sorridente.

      Magnata. Isso fez Edson ferver por dentro.

      - Eu já nasci pronto.

      O trio nadou e nadou. Davi por ter um preparo físico melhor assumiu a liderança, seguido de Isabela e em terceiro, muito bem colocado está Edson Reis. Alguns minutos depois eles alcançam as pedras. Ninguém a vista, somente eles e o sol já perdendo sua força. Edson se sentou ofegante ouvindo a zombaria do professor de educação física. Isa ficou mais acima passando filtro solar. O clima não estava legal e todos deixaram isso bem claro ao se calarem por longos dois minutos. Davi aproveitou para se alongar e até ensaiou alguns golpes. Isabela se deitou em uma das poucas pedras lisas para aproveitar os últimos momentos da luz solar.

     - E aí, professor, vamos tomar uma gelada? – sugeriu Edson erguendo uma latinha.

     - Bora!

     Sentindo que seria esse o momento, Isa disfarçou e se levantou. Sim, claro que ela não quer assistir ao assassinato de seu marido, Davi é mais frio, mais monstro, fará isso da maneira mais rápida e fácil possível.

     - Com licença senhores, hora do xixi.

    Isabela desapareceu entre as pedras e os dois homens estão lado a lado, Davi sentado e Edson em pé apreciando a vista completa do litoral.

     - Então Davi, o que acha? – tomou um gole.

     - Amo esse lugar.

     - Não estou falando disso, estou falando de Isabela. – Edson olhou para baixo e viu uma pedra solta, pesada o bastante para afundar o crânio do miserável.

      - Como assim o que acho? – olhou para cima e depois para a bolsa térmica onde se encontra a marreta preparada.

       - É ou não é uma baita de uma mulher?

       - Putz, cara, eu não sei lhe responder.

       - Mas eu sei. – abaixou rapidamente pegando a pedra e acertando com ódio a cabeça de Davi que exclamou um ruído muito estranho. – ela é uma vaca.

      O sangue desceu na mesma hora encobrindo todo o rosto do rapaz que tombou para frente ainda roncando feito um suíno. Edson o acertou mais uma vez e ouviu-se um estalo.

       - Oh, Deus. – chorou.

      Isa voltou e viu seu esposo acocorado diante do corpo de Davi.

      - Nossa, Davi, o que aconteceu? – gritou.

      - O que? – Edson girou o seu pescoço.

      - Meu Deus, o que aconteceu com ele?

      - Eu, eu, não sei, ele escorregou e bateu a cabeça.

      Isa correu não se importando em ter os pés feridos pelas pontas das pedras. Seu choro causou enjoo em Edson que assistiu sua esposa se jogar em cima do corpo e lamentar e depois acusa-lo.

       - Desgraçado, ele não caiu, você o matou.

      O fantasma da morte mais uma vez estava lá regendo toda situação. Seu miserável, ela não pode sair daqui com vida, acabe de vez com isso e vá embora. A mesma pedra. Ensanguentada. Isa deitada em cima do corpo praticamente. Ódio, muito ódio, eles iam te matar seu otário. Edson ergueu a pedra negra em suas mãos e a explodiu no crânio de Isa que também roncou feito um porco.

      - Maldita seja por provocar tudo isso. – bateu outra vez a matando. Isa morreu deitada em cima de Davi.

      As águas chicoteiam as pedras e Edson tem o choro abafado pelo som. O fantasma da morte é só elogios ao empresário. Ele olha para suas mãos e elas estão sujas de sangue. Ainda chorando ele pega a bolsa térmica de Davi. Lá dentro uma marreta preparada onde pedaços de pedras foram colocadas para parecer que Edson sofrera um acidente, Deus do céu! Há também uma arma. O fantasma da morte o abandonou e Edson se viu sozinho. A dor veio toda de uma só vez. Ele conferiu a munição. Foi um bom final de semana no litoral. FIM.