sábado, 25 de dezembro de 2021

Noite de Lua Cheia

 


Noite de Lua Cheia

 

A cabana que se localiza solitária no coração da floresta  encontra-se num breu total. O silêncio é ameaçador. Chove. Trovões rasgam o céu negro de nuvens densas e carregadas. Dentro da cabana, Lurdes dorme sem preocupação alguma, deitada em algo que ela chama de cama. O sonho é perfeito. Mesmo adormecida, ela balbucia palavras de carinho, paixão e até mesmo algumas mais picantes. Um trovão um pouco mais escandaloso a arrancou do sonho erótico a fazendo saltar de seu leito, melhor dizendo.

— Maldição!

Lurdes tinha a visão desfocada, mas ainda assim viu que a cortina da janela do quarto não estava totalmente fechada. Mesmo a essa distância é possível ver as árvores e outras plantações sendo jogadas de um lado para outro pela chuva e o vento. A mulher calçou suas sandálias de palha feitas por ela mesma. Fechou a camisola e andou encolhida até a janela. O relógio na parede marca 03:41. Bocejando ela deu uma rápida olhada lá fora e viu alguém vindo. Um homem. A cabana não possui uma cerca ou muro, mas sim um caminho de mato sulcado e cascalhos. Ao ver a figura andando sem pressa alguma em meio a um dilúvio, Lurdes sentiu seu coração bater na garganta. Três toques na porta.

— Já vou, um minuto.

Lurdes se olhou no espelho. Com o dedo mínimo retirou as remelas dos cantos dos olhos e testou o hálito que estava péssimo por sinal. Amassou as madeixas e correu para abrir a porta.

— Bom dia, me desculpa a demora.

— Não se preocupe com isso, conheço bem as mulheres.

O sobretudo do sujeito se encontrava ensopado e ele não parecia se importa com isso. Ele entrou deixando para trás uma grande poça na varanda.

— Quem é vivo sempre aparece, né? Mesmo às três e cinquenta da manhã. — brincou Lurdes.

— Pois é, Maria. Era urgente e eu só podia vir hoje, nesse horário. — parou no meio da sala. — como vão as coisas por aqui?

— Desde a sua última visita, às coisas estão do mesmo jeito. — fechou a porta.

O estranho não pode deixar de notar o corpo da mulher.

— Acho que não, você está bem melhor do que da última vez. Não é?

Lurdes sorriu e cruzou os braços.

— E olha que já passaram-se noventa anos e...

— Noventa e cinco, para ser mais exato. — uniu às mãos protegidas por luvas pretas. — bom, vamos ao que interessa. Onde ele está?

Lurdes engoliu seco e pigarreou antes de responder.

— Acorrentado. Na floresta. — gaguejou.

— E por que o acorrentou?

Outra onda de medo circulou por seu corpo.

— Ele me pediu. Ele já não aguenta mais essa vida, se é que podemos chamar isso de vida.

O homem andou até ficar cara a cara com Lurdes. Ele a segurou pelas bochechas. Seus olhos se tornaram como brasas vivas.

— Senti um tom de insatisfação em sua fala, Maria.

Lurdes permitiu que seus olhos ficassem incandescentes também.

— Jamais! Sou grata ao senhor por ter mudado a minha vida.

— Então, qual o problema?

Lurdes afastou a mão gelada do sujeito de seu rosto e se afastou. Ela ocupou a cadeira paupérrima encostada perto da porta.

— Ele já tem cem anos e a cem anos vem vivendo de carnificina. Ele implorou-me para acorrentá-lo. Ele não quer mais devorar ninguém. Marcondes perdeu tudo, até sua mulher e filhos ele os matou...

— Você por um acaso está comovida, Maria? — deu às costas e andou até a porta do quarto.

— Claro que não, pra mim é indiferente, eu só estou repetindo o que o próprio Marcondes falou.

O homem ficou em silêncio olhando a “cama” desarrumada. Observou também o armário em frangalhos lá no canto. Ele girou nos calcanhares.

— Quantos amantes já se deitaram com você aqui?

Lurdes foi pega de surpresa.

— O que disse?

— Quantos homens já se deitaram ali? — apontou.

Maria cruzou às pernas. Não queria responder, não estava confortável.

— Sou uma feiticeira, esqueceu? Você me transformou em uma bruxa. Sou uma tarada compulsiva. Além de fazer e desfazer trabalhos, eu sacio os desejos dos homens, e os meus, é claro. Você é o culpado.

O homem riu.

— Confesso que exagerei na dose. — abaixou a cabeça. —retomando o raciocínio. Você precisa dar um fim em Marcondes e encontrar outro.

— Os tempos mudaram, senhor. Antes era mais fácil encontrar quem quisesse fazer um pacto e se transformar em lobo em noites de lua cheia.

— Ledo engano, Maria de Lurdes. Hoje em dia, os seres humanos estão mais carentes, solitários e vazios. Será mais fácil de que há cem anos. — colocou às mãos para trás.

Lurdes levantou-se. Foi até a janela. A chuva não dava trégua e mesmo em meio aos estrondos dos trovões era possível ouvir o barulho das correntes.

— Assim que o dia surgir irei desfazer o pacto. — olhou para ele. — mais alguma coisa?

— Sim! Para ocupar o lugar de Marcondes, procure um jovem que tenha inclinação para o mal, de preferência alguém que já tenha executado outras pessoas olhando nos olhos delas. — passou a língua nos lábios.

— Um psicopata?

— Exato. — estalou os dedos.

Lurdes assentiu. O sujeito começou a andar em direção a porta. Maria respirava aliviada quando o mesmo parou e olhou para ela. O medo a possuiu de uma forma que a deixou sem ar.

— Lhe trouxe um presente.

Ele tirou do bolso interno do sobretudo uma pequena esfera vermelha brilhante.

— Era teu desejo poder levitar, não era?

Lurdes não conseguiu conter a gargalhada.

— Cento e cinquenta anos depois? Só o senhor mesmo.

Ele também riu.

— Não foi por maldade, eu só não via necessidade de fazê-la levitar por aí. Vai querer ou não? — esticou o braço.

— Lógico que sim.

Lurdes segurou a esfera com as pontas dos dedos indicador e polegar. Colocou-a na língua e a engoliu em seco quase se sufocando. O homem riu.

— Não era para engolir.

— Argh, o que? — colocou às mãos no pescoço.

— Bastava encostá-la em seu pulso e ela entraria em sua corrente sanguínea. — risos. — vocês são mesmo criaturas idiotas. — abriu a porta e saiu.

Assim que a porta fechou-se a bruxa deu o dedo do meio e na mesma hora uma cólica insuportável a fez cair de joelhos.

— Perdão senhor, perdão. Tenha piedade de mim. — gemeu.

 

*

 

Às sete da manhã a feiticeira sentia o vento frio cortar seu rosto em meio ao gás que a floresta expelia. Ela levita a uma velocidade moderada que lhe permitia abrir os braços e fechar os olhos. A três metros se encontra Marcondes, Acorrentado feito um cachorro em uma árvore. Ele está molhado, feridas por todo o corpo, principalmente na região do pescoço e braços. O velho está caído de barriga para baixo.

— Marcondes. Acorde.

— Ah, o que? — abriu um dos olhos.

— Vou te libertar desse sofrimento. — seus pés tocaram o chão molhado.

O idoso ficou de joelhos em posição de oração.

— Não, por favor, eu não suporto mais matar, já chega. — chorou.

— Pare com isso. — vociferou. — ele esteve lá na cabana e eu contei tudo.

— O senhor esteve lá, e o que ele disse?

Lurdes deixou que seu semblante decaísse. No fundo ela sentia muito pela vida do velho.

— Você já sabe.

Marcondes fitou o chão, seu olhar se tornou soturno.

— Vou para o inferno. Não verei minha Francisca e nem os meninos. Por que, meu Deus?

— Você aceitou fazer o pacto, Marcondes, lembra? Sabia das consequências. Agora abra a boca.

Marcondes estendeu o braço a pedindo para esperar.

— Quem sabe se eu rezar antes, Deus não me ouve.

Maria de Lurdes cruzou os braços e revirou os olhos bufando.

— Acha mesmo que Ele vai ouvir a prece de um demônio?

Marcondes chorou, berrou, clamou em alta voz por perdão. Lurdes aproveitou o momento e retirou dele o espírito do lobo. O idoso veio a óbito na mesma hora.

— Cada uma que me aparece.

O espírito do lobo levitara junto com Lurdes até chegarem na cabana. Ela o deixou do lado de fora e entrou afim de se arrumar para ir até a cidade. Enquanto se maquiava ela ouviu ruídos de gravetos sendo partidos e de pisadas fortes vindas do meio do mato. Maria abandonou o batom e abriu a janela. Da mata fechada surgiu um rapaz de no máximo dezoito anos pedindo ajuda.

— Socorro, moça, preciso me esconder.

A bruxa observou que o garoto tinha às mãos e os braços sujos de sangue e uma faca de caça na cintura, no cós da calça.

— Espere aí, menino, eu preciso...

— Não me faça perguntas e me deixe entrar. — puxou a faca.

Estranhamente Maria de Lurdes sorriu. Abriu os braços o saudou.

— Seja bem vindo.

FIM.


terça-feira, 30 de novembro de 2021

O Maldito da Cruz - Capítulo 2

 


O Maldito da Cruz

Capítulo 2

 

Assim que Mauro chegou a delegacia ele foi abordado por companheiros que o aguardavam desde as primeiras horas daquela manhã de sol. A confusão não era por menos. O sumiço de um pastor conhecido como Rogério vem causando um verdadeiro furacão não só ali, mais nas grandes  e pequenas mídias. Leão Silveira nunca gostou desse tipo de ocorrência. Se casos de pessoas não conhecidas já são trabalhosos, imagina de alguém tão influente como Rogério. Visivelmente aborrecido, o delegado passou pela turbulência da entrada e chegou até sua sala onde Ana Paula se encontra com os familiares do pastor.

— Olá, cheguei. — disse ofegante.

Ao vê-lo, a assistente pode voltar a respirar.

— Digam, o que aconteceu? — foi para trás de sua mesa.

A esposa do pastor tinha o rosto ruborizado e chorava sem controle algum, isso obrigou o filho mais velho a assumir o depoimento.

— Meu pai desapareceu. Acho que ele foi sequestrado.

— Eita! Vamos com calma. O que o leva a pensar nessa possibilidade?

— O carro dele foi deixado na entrada do nosso prédio e todos os seus pertences estavam lá.

Leão passou a mão na barba e olhou ligeiramente para Ana Paula, ela está radiante hoje.

— Irei pessoalmente ao local. Mais alguma coisa que eu deva saber?

Finalmente a esposa conseguiu falar.

— Como assim, doutor?

— Pastor Rogério é uma figura pública. Pode não ser famoso a nível nacional, mas, aqui, nessa região ele é mais conhecido do que nota de dois reais, então, o que eu estou querendo saber é; o pastor tinha algum inimigo?

O silêncio na sala foi sepulcral.

— Não, eu acho. — respondeu a mulher.

Outra olhada para Ana Paula. Dessa vez ela lhe devolveu na mesma proporção.

— Quero que voltem para casa. Estarei dando início às buscas.

A religiosa num gesto inesperado e abrupto, segurou a mão do policial e praticamente implorou para ele.

— Por favor, encontre meu marido.

Ana Paula abaixou a cabeça compadecida do sofrimento da mulher.

— Farei o que estiver ao meu alcance, senhora.

Sozinho. Por fim ele está sozinho. Os melhores momentos para Mauro. Ele nunca se importou com a solidão. Pelo contrário. Foi imerso nela que ele solucionou os casos mais cabulosos em sua carreira. Desde quando era um investigador, Leão Silveira sempre optou por se isolar para montar quebra cabeças e conseguiu sucesso em todos. Assim que a família do pastor deixou sua sala, ele se recostou na cadeira e imediatamente colocou a mente para girar. Sequestrar um líder religioso não é uma coisa comum. Minutos depois, vestida rigorosamente com o uniforme da polícia, Ana Paula, adentrou sem muito alarde segurando alguns papéis. Negra, magra, cabelos cacheados e amarrados para trás e um batom vermelho deixando sua boca sempre em destaque.

— Quando o senhor pretendo ir ao local?

— O mais rápido possível. Preciso do histórico de Wallace Bento.

— Sério? Acha mesmo que o tal sacerdote da morte está por trás disso? — Ana Paula puxou uma cadeira.

O Sacerdote da Morte. Esse título estranhamente causa medo ao delegado. Há três anos desde quando Wallace apareceu que Mauro vem virando essa cidade de cabeça para baixo a sua procura. Algo jamais visto ou imaginado nesse lugar que é uma cópia quase perfeita do paraíso. Um assassino em série. Um matador excêntrico e cruel.

— Acho que devemos isso a essa cidade. Ninguém mais aguenta as ações desse louco. A prisão de Wallace seria como alcançar o auge de nossas carreiras. Não acha? — Leão não tirava os olhos da boca dela.

— Se está dizendo... Concordo. — sorriu. — posso ir com o senhor?

— Será bom ter companhia.

 

*

 

Luciano Silveira não está conseguindo se concentrar na tarefa que requer sua total dedicação. Essa falta de concentração não é algo novo em sua curta trajetória no home office. Desde quando uma terrível crise se instaurou no casamento de seus pais ele não vem produzindo o que é exigido por seus superiores. A situação ficou ainda pior com a saída de sua mãe do seio familiar e explodiu quando a mesma faleceu. Luciano ama seu pai de verdade, mas nunca escondeu dele sua mágoa. Antes das coisas se transformarem num pesadelo, a família não era perfeita, porém se existisse um prêmio para o lar mais harmonioso do mundo, com certeza o troféu seria da família Silveira. Mauro e Patrícia formavam um casal a moda antiga do tipo que um não fazia as refeições sem o outro. Até hoje o jovem não consegue entender aonde todo aquele romantismo foi parar. Os filhos tem os pais como espelho e isso é um fato. Luciano sonhava em ser como Mauro, um homem honrado, honesto e principalmente, um homem dedicado a família. Tudo isso ficou no passado. Ele admirava como sua mãe era tratada por seu pai. Uma rainha. Patrícia para Mauro era uma jóia rara.

— Pai, quando eu crescer quero ser como o senhor. — dizia quando ainda era uma criança.

— Que bom meu filho. Vai querer ser um policial? — Mauro acariciava a cabeça do filho enquanto conversavam deitados na cama dele.

— Acho que não. Um astronauta talvez.

— Um astronauta? Legal. Terá que estudar muito então.

— Pode deixar comigo, paizão.

Às lembranças são boas, porém machucam bastante. Elas produzem nele diversos porquês. Por que tinha que acabar assim? Por que foi desse jeito? Aonde minha referência foi parar? O pior disso tudo, por incrível que pareça, são as boas lembranças. Elas sim deixam feridas, deixam valas profundas na alma. Quase sempre Luciano tem vontade de sumir, desaparecer, ir para um lugar onde consiga começar do zero. Constituir uma família e fazer tudo diferente.

 

*

 

Até antes da separação e do falecimento de Patrícia, Leão Silveira já exibia uma barriguinha. Daquelas nutrida por uma alimentação fora de hora e por inúmeras tulipas de cerveja. Mauro nunca foi um homem magro. Sua batalha contra a balança sempre foi acirrada desde a sua infância, mas isso nunca foi um problema para ele. Hoje, próximo dos cinquenta anos, o delegado procura se cuidar mais. Sempre quando pode ele faz caminhada, tem cuidado melhor da aparência e tem lido bastante também.  Não basta cuidar do corpo somente. Exercitar a mente é fundamental. Enquanto seu superior analisa cuidadosamente o veículo do pastor, Ana Paula perde - ou ganha - algum tempo olhando para ele e tenta decifrar o que acontece com um sujeito como Mauro. Um coroa bonito, cheio de saúde, bem empregado e com uma inteligência acima da média. O que deu errado? Mauro Leão Silveira sempre foi um cara reservado, pouco fala sobre sua vida privada e por ter esse estilo caladão, muitas teorias já rolaram nos corredores da delegacia. Uma delas é que ele tenha sido um agente especial que prestava serviço para o governo. Claro que não. Ao lembrar dessa história a assistente sorrir.

— Qual a graça? — Mauro ergueu a cabeça.

— Ah, o que? — desfez o sorriso.

— Você não tira os olhos de mim e ri. O que é tão engraçado? — segue olhando para o interior do carro.

— Relaxa, nada demais. Então, o que acha?

Leão se afastou. Respirou e depois expirou. Enterrou às mãos nos bolsos da calça e então respondeu.

— Um sequestro. O rapaz estava certo. Nada foi levado.

— Wallace Bento?

Mauro fez o sinal da cruz.

— Espero que não. Isso seria como uma sentença de morte para a família. Wallace é cruel. Mata em nome de Deus, é um louco.

— Qual o próximo passo?

Leão Silveira apertou os olhos.

— Me diz você o que faria?

Ana Paula ergueu o olhar e pela primeira vez se sentiu superior a ele.

— É cedo para se configurar um sequestro, mas, eu deixaria uma equipe na casa do pastor.

— Ótimo! Faça isso.

O celular tocou.

— Leão Silveira falando. — arqueou uma das sobrancelhas olhando para a assistente. — putz! Me passa o endereço.

O coração de Ana Paula acelerou.

— É o que eu estou pensando?

— Encontraram o corpo do pastor. Vamos nessa. — guardou o aparelho no bolso.

 

*

 

Não! Nada estava acontecendo como Leão Silveira gostaria que fosse. No caminho para o local onde o corpo foi encontrado, o delegado fez até uma rápida prece para que não fosse mais uma das terríveis obras do sacerdote mortal e olha que Mauro passa longe de ser um sujeito religioso. Leão detesta sentir o que está sentindo. Da última vez em que passou por isso, ele se deparou com uma visão dos infernos. O corpo da vítima tinha os olhos esbugalhados pelo o efeito do envenenamento e também a marca da cruz no peito. O local ainda cheirava a carne queimada. Até hoje o policial ainda tenta entender como alguém pode matar e dizer que foi Deus quem o mandou fazer. Claro, somente um fanático age assim ou talvez alguém que foi instruído por outro alguém que interpretou mal os mandamentos do divino, Deus nunca foi um assassino.

— E se for obra de Wallace? – disse Ana Paula ao volante.

— Três anos correndo atrás desse maldito. Confesso que estou cansado. – passou as mãos na barba.

— Pode deixa-lo nas mãos de outro departamento, se preferir.

— Nunca. Eu tenho trinta anos de polícia e jamais abandonei um caso. Não será um maluco que assinará minha aposentadoria.

Ana Paula socou o volante.

— É assim que se fala, chefe.

 

O corpo do pastor foi deixado de qualquer maneira, enrolado por um lençol encardido as margens de um valão que corta um dos bairros mais pobres daquela região. Ana Paula xinga a cada passo dado, quem manda usar salto? Mauro olha ao redor e tudo o que vê é mato, sujeira e curiosos envolta do morto buscando o melhor ângulo. Uma dupla de PMs tenta a duras penas manter as pessoas distante da cena praticamente aos gritos.

— Olá, rapazes, fizeram um bom trabalho. — disse Mauro batendo no ombro de um deles.

— Obrigado, delegado. Essa gente é complicada. Infelizmente mais uma vítima do Sacerdote da Morte. — declarou o de bigode.

Leão Silveira mal ouviu o que o PM acabara de lhe dizer. Sua raiva o incendiou por completo e a essa altura, tudo o que ele queria era esganar Wallace Bento. Ana Paula passou por eles impressionada com o aspecto do morto. Olhos abertos, expressão de pavor, a pobre vítima não queria morrer.

— Merda! Se as cobranças já me sufocavam com vítimas comuns, imaginem agora com essa tragédia. — Leão coçou a barba e depois a nuca. — não tem jeito. Vamos esperar os peritos e avisar a família.

 

Mauro batia de leve a cabeça no volante enquanto aguardava o fim do trabalho da perícia. Realmente às coisas ainda iriam piorar muito. O governador irá cobra-lo, a família, a população e o que é pior, ele mesmo. Leão Silveira nunca admitiu uma derrota e jamais entrou numa disputa para empatar, muito menos para perder. Esse é o resultado de ser um agente da lei acima da média, a auto cobrança é algo quase palpável, serão noites e mais noites sem conseguir unir os olhos. Além dos problemas e dificuldades na área profissional, existem as situações adversas familiares. Luciano. Seu único filho a essa altura da vida já não deveria ser problema algum pra ele, mas às coisas saíram dos eixos e nada mais é como antes. Luciano foi uma criança feliz, saudável físico e mentalmente, vivia cercado de afeto e cuidado por ambos, nunca lhe faltou nada. Sua infelicidade teve início quando Patrícia e ele resolveram romper com o casamento. O calvário de Luciano o transformou no que ele é hoje, infeliz, sem perspectiva e órfã de um pai vivo. Claro que Mauro já tentou de tudo para que essa situação fosse revertida, mas ela só piorou, que lástima.

— Café? — perguntou Ana Paula segurando dois copos.

— Aceito. — abriu a porta. — entre.

— Eles estão perto de finalizar. E você, como está?

— Adiantaria mentir? — forçou um sorriso.

— Deixa-me adivinhar. Luciano. — estalou os dedos.

Leão Silveira anuiu.

— Tiveram outra briga?

— Ele só tem dezenove anos, não há necessidade dele se preocupar com o que houve entre a mãe dele e eu. Eu não a matei.

— Se coloque no lugar dele.

Mauro olhou para sua assistente de forma não muito amigável, mas no fundo ele sabe que ela está coberta de razão.

— Me desculpa, mas, para algumas pessoas, digerir certas coisas é algo quase impossível, ainda mais um garoto que cresceu achando que o mundo é igual ao mundo que ele assistia nos desenhos. Pense. Num dia ele tem tudo aos seus pés e no outro, isso tudo vira pó. E agora? Como processar isso tudo sendo ainda uma criança? Complicado, não acha?

Mauro tirou os olhos dela e riu de cabeça baixa.

— O que seria de mim sem a sua assistência.

— Ah, me poupe! — riu.

 

*

 

Wallace abriu os olhos depois de meia hora de oração de joelhos aos pés de sua cama. A conversa com o Criador não aconteceu com ele queria. Às palavras não saíram com fluidez devido as fortes ondas de choro compulsivo. Ele tem estranhado esse comportamento, isso vem acontecendo com uma certa frequência desde sua penúltima ação que resultou na morte de uma bela jovem. Sim, ela, sua vítima, despertou nele a virilidade que a muito tempo se encontrava adormecida. Não era para ser daquele jeito, mas fora algo mais forte do que ele. Ela estava amarrada, indefesa e pedia por ajuda. Isso o deixou excitado. Uma jovem bela, seminua, deitada com os seios firmes  amostra apontando pra cima. Ele pirou. Explodiu em tesão. Para ele não houve violência sexual, eu apenas a toquei, beijei e lancei meu prazer sobre ela. Serei punido por isso? Wallace Bento entende que sua vinda a esse mundo foi para conduzir as almas ao Altíssimo, marca-las com a imagem do sacrifício do filho do Criador, fui separado para essa finalidade e no entanto falhei acrescentando algo do meu desejo como homem a essa missão. Perdoe-me, Senhor. Após finalizar sua prece ele limpou as lágrimas e andou até seu armário. Para remissão de pecados, somente com sacrifício, somente com derramamento de sangue.

Um chicote com lâminas fixadas nas pontas. O Sacerdote da Morte se despiu de sua batina exibindo um corpo negro que é simplesmente uma aula de anatomia.

— Ok, vamos começar com dez.

A primeira chibatada não lhe causou tantos danos, mas a partir da segunda sim. Às lâminas fizeram algumas incisões não muito profundas, mas significativas.

— Derramamento de sangue para purificação dos pecados.

Na décima chibatada já havia no piso algumas gotas de sangue, assim como na porta do armário.

— Mais dez, assim diz o Senhor.

Fim da segunda série. O suor que escorre se mistura ao sangue. A ardência provoca ainda mais sua estranha ereção.

— Sou um louco, um pervertido, mereço o inferno. Mais dez.

No silêncio de seu quarto, tudo o que se ouve é o som das tiras cortando o ar e as lâminas atingindo suas costas já bastante ferida. Oh, Deus, sou teu filho, não me abandone.

 

*

 

Assim que chegou em casa, Ana Paula ainda sentia os efeitos incômodos da conversa que teve com seu chefe. Receio e medo. Leão Silveira pode muito bem transferi-la para outro departamento caso ela tenha sido muito evasiva. Será? O que ela falou dentro daquela viatura foi a mais pura verdade. Verdade a qual Mauro sabia, mas por um motivo ou por outro não lhe dava a devida importância. Como faz falta a presença de uma mulher na vida de um homem, principalmente quando a fase não é boa. Ana Paula no caso fez esse papel e muito bem diga-se de passagem. Ela foi para seu quarto e tudo o que ela mais queria era tomar um banho e se jogar na cama, ou quem sabe enviar uma mensagem para o chefe lhe pedindo desculpas. Não, claro que não, o que fiz de errado? A negra se livrou das roupas e das peças íntimas que lhe apertavam e invadiu seu banheiro. Nada como um banho. Por que estou excitada? Ao se tocar ela se lembrou do cheiro amadeirado de Mauro, de suas mãos  grandes e grosseiras e seu do jeito de olhar. Até a barriga saliente lhe provoca.

— Ah! — inclinou o cabeça para trás e deixou a água bater no rosto.

Ao sair do banho o celular na cama anunciava a chegada de uma nova mensagem. Mauro Leão Silveira. O coração gelou.

Obrigado pelas palavras. Foi muito bom para mim.

Ana Paula sentiu às pernas tremerem de uma forma incontrolável. A última vez em que seu corpo foi possuído desse jeito foi quando seu ex a puxou para dentro de um banheiro de restaurante e a beijou inteira. Não há como negar, Mauro mexe com ela. Bonito, mais velho, charmoso e principalmente, ele tem o que falta nos homens de hoje em dia, uma masculinidade bem acentuada, canalizada e ajustada. Ana respondeu.

Que bom que eu pude ajudar de uma certa forma.

Na verdade, a assistente de delegado queria muito que ele se auto convidasse para uma cerveja e uma boa conversa ali em sua casa, mas Leão Silveira já não estava mais online.

 

Em outro ponto da cidade, o delegado recebia um comunicado do filho que soou como uma bomba nuclear aos seus ouvidos.

— Como assim, ir embora? — cruzou os braços.

— Isso mesmo, pai. Está insustentável viver aqui. Já conversei com o vovô e a vovó e eles aceitaram, mas que eu deveria lhe comunicar.

— Mas, Luciano, filho...

— Pai, por favor, me entenda pelo menos uma vez na sua vida. Não estou feliz aqui. Será bom para nós dois. — fechou a mala.

Um curto mal estar passou pelo policial que foi obrigado a sentar-se. Mauro não sentia mais o chão embaixo dos pés.

— O senhor pode ir me visitar, se quiser. — colocou a mochila nas costas.

— Eu te levo...

— Não precisa, eu chamei um Uber.

Leão esfregou o rosto.

— Eu já vou indo, pai.

Mauro se levantou e abriu os braços. Luciano ficou hesitante.

— Pode ser? — o delegado já não aguentava mais segurar o choro.

— Fique bem, pai. — o abraçou.

Como?

Luciano se foi. Abandonado, foi como Mauro Leão Silveira se sentiu. Sem mulher, sem o filho, sem família e sem forças para reagir. Assim que ouviu a porta se fechar ele se deitou no chão e desabou num choro que a muito tempo vinha se acumulando.

 


sábado, 13 de novembro de 2021

O Maldito da Cruz - Capítulo 1

 


O Maldito da Cruz

Capítulo 1

 

 

Se eu tenho orgulho em fazer o que faço? Claro que sim e ainda digo mais; estou prestando um belo serviço ao Criador do universo e Ele, no tempo devido me recompensará. A morte nunca me causou medo. Eu não a tenho como inimiga. Ela é minha aliada. Gosto dela. Quem não entende o meu propósito, me condena ao inferno, me julgam, dizem que sou fruto da escuridão. Eu não sou nada disso. Eu apenas cumpro uma determinação divina. Sou quase um anjo da morte. Digo “quase” porque ainda não cheguei a minha plenitude, mas esse dia há de chegar. Enquanto esse glorioso dia não chega, sigo executando meu trabalho sem hesitar, sem questionar. Não sou louco como ouço por aí e tão pouco um psicopata, sou somente um enviado do ser maior a essa terra para cumprir suas ordens. Tudo que o nosso Senhor quer é compromisso, pessoas fiéis e íntegras e não um bando de covardes descumpridores de sua lei. Por isso estou aqui, por isso voltei e ainda mais forte.

 

O culto já havia começado quando um negro alto, de terno e gravata ocupou um dos últimos bancos da congregação e permaneceu ali sem esboçar qualquer reação ao que estava acontecendo. Duas das chamadas obreiras disputavam quem iria lhe dar as boas vindas.

— O seu mal é que você só quer atender homens bonitos.

— Sou uma mulher solteira, quem sabe não foi o Senhor quem enviou o meu varão aqui hoje?

— Ele é um gato mesmo. Olha como ele se porta. Parece um príncipe.

Elas riram juntas.

— Vou lá falar com ele.

— Boa sorte.

O pastor assumiu o púlpito e iniciou o sermão. O jovem negro aguçou ainda mais os seus ouvidos.

— Oi, com licença.

Ele segue preso a mensagem.

— É a primeira vez em nossa igreja?

Depois de uma breve introdução, o pastor recita o versículo bíblico. O negro tem sua total atenção às santas palavras.

— Me chamo Vanessa, prazer em tê-lo conosco e...

O negro voltou seu olhar para a jovem obreira. Um olhar um tanto quanto misterioso.

— Qual o nome do pastor?

A jovem, temerosa, pigarreou antes de responder.

— Rogério, pastor Rogério. — ela estendeu a mão para cumprimentá-lo. — e o seu?

— E isso importa?

O rosto da bela serva se ruborizou.

— Peço desculpas pela minha intromissão. — se afastou.

O sermão durou um pouco mais de quarenta minutos, mas foi o suficiente para deixar não só o visitante inusitado impressionado, mas a todos os demais presentes, enriquecidos com o poder da palavra. Ao término da celebração ele saiu antes de todos, porém ficou por perto, do outro lado da calçada, observando a movimentação dos fiéis e também admirando a construção moderna do templo.

— Fantástico!

Uma hora depois pastor Rogério conseguiu sair da igreja e pelo jeito sua pressa era gigantesca. Assim que deu a partida no veículo e ganhou a rua uma motocicleta partiu atrás a uma velocidade moderada. O líder da congregação parou no portão do prédio onde mora com a família e aguardou o portão do estacionamento ser aberto e enquanto isso acontecia alguém tocou no vidro da janela.

— Pastor Rogério, por favor, abra.

O coração do sacerdote bateu de tal forma que ele o sentiu na garganta.

— Pois não? — abaixou o vidro. Seus olhos se chocaram com os olhos do negro imponente.

— Hora de dormir.

O golpe foi forte e preciso. Rogério apagou ali mesmo sentado ao volante.

 

*

 

Luciano entrou em seu quarto correndo e trancou a porta. Rosto vermelho, transtornado e com uma respiração pesada. O jovem precisou se segurar para não esmurrar às paredes.

— Luciano, abra a porta, eu estou mandando. — exigiu Mauro.

— Aqui não é a sua delegacia, pai, pare dar ordens aqui. — vociferou.

— Cara, você já tem 19 anos e está se comportando como um moleque de sete. Abra a porta.

— Pai, preciso esfriar a cabeça, por favor. Mais tarde conversamos.

Mauro esfregou o rosto com às mãos e se afastou da porta.

— Filho. Quero que entenda. Sua mãe foi sim uma mulher maravilhosa, eu a amei de verdade, mas não deu certo. Se eu pudesse, faria tudo diferente.

A porta se abriu.

— Minha mãe morreu de desgosto, pai e o senhor sabe disso. — voltou para o interior do quarto. — a depressão foi tão severa que ela não viu e nem ouviu o carro se aproximar. — deitou-se na cama.

— Pois é... — ajeitou a barba.

— O senhor deveria a ter ajudado e não ter dado um pé na bunda dela.

— Lu, a situação estava insustentável. Sua mãe e eu já não tínhamos nada a ver um com o outro. Foi o jeito.

Luciano levantou-se abruptamente e ficou cara a cara com o pai.

— Minha mãe morreu te amando ainda, pai. Por que não foi atrás dela, por que? — voz embargada.

— Filho...

— Me deixe sozinho, pai, por favor. — sentou-se na ponta da cama.

A vontade de Mauro era de tomá-lo pelos braços e abraça-lo até deixá-lo sem fôlego.

— Tudo bem, filho. Tudo bem.

O delegado desceu às escadas se esforçando para não chorar. De repente ele parou e olhou para o restante da casa e sentiu forte a presença de Patrícia ali. Até para um policial linha dura como ele é impossível segurar essa avalanche de emoção.

— Patrícia. Por que? — falou olhando para o alto.

O celular tocou.

— Leão Silveira falando. — fungou o nariz.

O senhor está bem, delegado?

— É, estou. Eu estava mexendo com alguns papéis empoeirados aqui em casa. O que houve?

A família do pastor Rogério está aqui e querem relatar o sumiço dele.

— Sumiço? Ana Paula, crente não some, eles são arrebatados. — terminou de descer às escadas.

Eles estão achando que o pastor foi sequestrado.

— Tudo bem. Avise-os que chegarei aí em meia hora.

 

*

 

A cruz de ferro foi colocada entre as brasas incandescentes cuidadosamente. Vestido com uma batina preta e uma máscara de pano de saco que mais lembra um espantalho de milharal, ele olhou para o pastor deitado e amarrado na mesa olhando para ele.

— Já acordou. Que bom. Assim que a cruz estiver pronta começamos.

— Começamos o que? Me solta. — se debateu.

— Que tal cantarmos antes do cerimonial, pastor? — andou. — eu começo. — “se às águas, do mar da vida, quiserem te afogar. Segura, nas mãos de Deus, e vai”

Não parecia um pesadelo, era um pesadelo. Rogério tentava ao máximo fazer com que às cordas afrouxassem, mas todo o esforço era em vão. Certa vez, em um de seus intermináveis sermões, ele disse que jamais deveríamos temer a morte e nem a sua causa. Foi fácil dizer isso em segurança atrás de um púlpito, mas agora, quando sua vida está exclusivamente nas mãos de um assassino cruel, o discurso mudou drasticamente.

— Por que quer me matar, que mal eu fiz a você? — perguntou chorando.

— Um minuto, pastor.

Terminou de acender às velas do castiçal.

— Gostou do meu santuário? Que cenário perfeito para uma partida tranquila para a eternidade. — apagou o fósforo. — ah, sim, o senhor havia me feito uma pergunta. Vamos lá. Eu ouvi o seu sermão e me agradei muito. Convincente, conciso e principalmente, o que vocês chamam de unção. Parabéns, pastor Rogério, ganhou uma passagem direto para o céu que pregou.

— Ei, calma, eu tenho mulher e filhos...

— Eles ficarão bem, garanto. — olhou para o braseiro. — Acho que podemos começar.

O sacerdote retirou a cruz de ferro e a mesma se encontrava vermelha. Rogério se apavorou ao ver aquilo. Ele ainda tentou convencer seu carrasco de que caso ele fosse morto, ele não duraria nem um dia escondido, ou acabaria até mesmo sendo morto pela polícia. Não! Nada disso o fez parar. Ele rasgou a camisa de seda pura do reverendo, revelando um tórax alto, definido e coberto de pelos.

— Receba a marca de seu calvário.

— Não, Deus!

O objeto incandescente foi encostado bem devagar no peito de Rogério que emitiu um grito gutural. O chiado da carne sendo frita alegrou o sacerdote da morte.

— Isso sim é música para os meus ouvidos.

A queimadura ficou profunda, muito grave e o cheiro da carne queimada circulou por todo o lugar. O pastor ainda gritava muito quando a cruz voltou para o braseiro.

— Desgraçado, você vai pagar por isso.

Em silêncio, o assassino pegou dentro de uma caixa uma garrafa com um líquido esbranquiçado. Cantando um hino que Rogério reconheceu como sendo fúnebre, o sacerdote andou até perto da cabeça de sua vítima e olhou para ele.

— A morte não é um ponto final em nossa história, pastor, o senhor lembra disso?

Rogério engoliu em seco várias vezes. Foi ele quem disse essas palavras.

— Quero que o senhor relaxe e curta a viagem. Abra a boca.

Rogério não obedeceu.

— Vamos lá, reverendo, facilite as coisas.

Rogério se manteve firme.

— Certo. Foi o senhor quem pediu.

O pároco das trevas fez uso de um sistema que é praticamente infalível. Impeça a respiração pelo nariz que o mesmo terá que abrir a boca para não morrer sem ar. Esse plano nunca o deixou na mão. Pastor Rogério engoliu a bebida que o sacerdote batizou como sendo sua “ água benta”.

— Ótimo. O senhor fez um bom trabalho, pastor. — acariciou os cabelos grisalhos do religioso. — agora, feche os olhos. Daqui a pouco estarás entrando no Reino que tanto pregou.

— Mi, mi, minha, fa, fa, família, meu Deus.

O corpo de Rogério entrou em colapso rapidamente e cinco minutos depois ele já estava morto. Após fazer uma curta prece, o sacerdote retirou a máscara de saco de pano da cabeça.

— “coisa linda é para o Senhor a partida de seus fiéis”.