sábado, 31 de dezembro de 2022

Rumo a 2023

 


Fala meu povo leitor, tudo bem? Pois é, mais um ano findando-se e outro com 365 dias de oportunidades se iniciando. O manual dos contos manteve a regularidade ao postar praticamente um conto por mês e isso não será diferente em 2023.

Quero agradecer ao meu público leitor pelas leituras e comentários aqui em meu blog. Para o próximo ano seguirei alimentando minha página com obras primorosas.

Agradeço em primeiro lugar ao Senhor Deus, Pai de nosso Senhor e salvador Jesus por me inspirar e me proporcionar vida e saúde para seguir escrevendo. Valeu Deus!!!

sexta-feira, 2 de dezembro de 2022

LINHA POLICIAL | Bárbara Castro

 


Linha Policial

Bárbara Castro

Capítulo 1

 

A mãe de Milena Duarte já havia lhe pedido pelo menos uma dúzia de vezes que ela desligasse o celular e fosse dormir, porém, mais uma vez a ordem da dona de casa não foi aceita. Assim que houve silêncio na residência, a adolescente abriu sua rede social e viu que o seu mais novo amigo virtual estava online.

Oi, ainda acordado?

Olá, boa noite. Eu é quem pergunto. Não é um pouco tarde para você estar acordada?

Milena está digitando.

Não consigo dormir. O que você está fazendo?

Assistindo alguns vídeos.

Milena olhou para a porta do seu quarto e começou a digitar.

Que tipo de vídeos?

GP está digitando.

Vídeos adultos. Criança não pode assistir kkkkkk.

Como assim, criança não pode assistir? Eu não sou mais criança. Tenho 15 anos.

GP demorou para responder. Milena começou a ficar impaciente.

Lembra quando me pediu uma foto dos meus seios?

Sim!

A jovem mordeu o lábio inferior e sorriu. Começou a digitar o mais rápido possível.

Posso te mandar uma agora, se quiser.

Claro que eu quero.

Milena digitou.

Espera ai!

Para garantir que ninguém a surpreenda com os seios a mostra, antes a menina se certificou de averiguar se não havia ninguém no corredor. Tudo limpo. Voltou para o quarto. Fechou bem devagar a porta. Posicionou bem o telefone e pronto. Foto batida. GP recebeu a imagem e a retribuiu com um convite.

Está na hora de nos encontrarmos. O que acha?

Milena voltou para a cama ainda pensativa. Não. Ela não era tão desenformada assim. Ela, com certeza, já havia ouvido falar de meninas desaparecidas depois de um encontro com alguém que conheceu pela internet. Mas... Milena estava apaixonada por GP.

Só consigo a tarde. Depois da escola.

Está ótimo. Anote o endereço.

 

*

 

A mão enorme do treinador de futebol escorregou das costas até a coxa direita de Bárbara que abriu os olhos interrompendo o beijo.

- Mas que fogo é esse, senhor Robson Mota?

- Putz. Foi mal. Quem mandou ter pernas suculentas iguais da Ivete Sangalo. – riu.

Bárbara cruzou os braços. Todos falam de sua semelhança com a cantora. Ela só não esperava ouvir isso do novo namorado com apenas um mês de relacionamento.

- O que foi? – Robson ficou sério.

Bárbara abriu um largo sorriso e depois o beijou.

- Eu curto ser parecida com ela. Aliás. Ela é parecida comigo.

- Você é top demais.

Voltaram a se beijar dentro do veículo do técnico. Da janela, Max observa o movimento dentro do Duster branco parado na calçada. Uma lágrima escorre de seu olho esquerdo. Ele pensa em seu pai, Alex. Se lembra de quando ele ainda era morador daquela casa. Dos dias felizes ao redor da mesa cheia de caixas de pizza aos finais de semana. Aonde tudo isso foi parar? Max voltou para o quarto e agora a tristeza deu lugar a revolta. O menino até pensou em ligar para o pai, mas isso só ajudaria a piorar as coisas. Claro que Alex a essa altura já sabe que a mãe de seu filho já tem outro. E dai? Mesmo aos 16 anos, ele tem a consciência de que não deve se envolver na vida amorosa de ambos, mas é difícil. Quando pensou novamente em ligar, Bárbara entrou.

- E ai, gatão da mamãe. Vamos dormir?

- Estou sem sono.

- O que está rolando? – Bárbara sentou-se na ponta da cama.

Max olhou para um ponto do rosto da mãe. Arqueou uma das sobrancelhas.

- A senhora está borrada de batom perto do nariz.

Constrangida, a investigadora limpou-se com o polegar.

- Acho que sua boca é menor do que a dele. – brincou Max. Isso não agradou nem um pouco sua mãe.

- Qual o seu problema com negros?

Silêncio incomodo.

- Não quero ouvir mais esse tipo de comentário sobre o Robson. Você entendeu?

- Eu só fiz uma brincadeira...

Ela se levantou.

- Chega. Vá dormir.

- Você era mais paciente quando meu pai morava aqui.

Bárbara parou no meio do caminho e girou nos calcanhares. Max engoliu seco, falou besteira novamente.

- Pois é. Mas seu pai não mora mais aqui e graças a Deus por isso. E realmente. Minha paciência já se esgotou faz tempo. Boa noite. – saiu.

 

*

 

A mão minúscula típica de uma menina adolescente empurrou a porta mal acabada, com sua pintura desbotada e descascada daquele lugar escuro e mal cheiroso. Milena estava arrependida em ter aceito o convite de GP para esse encontro. Não foi desse jeito que ela sonhou. Qual o problema em marcar um encontro num shopping?

- Olá. GP. Você está ai?

Não houve resposta de imediato e isso travou às pernas da garota. A mochila agora é o seu escudo. Não importa o peso ou tamanho, tudo o que ela quer é proteção. Do que Milena acha ser uma cozinha surgiu um vulto. Um homem. Não tão grande, mas ainda assim um homem.

- Oi!

A voz do sujeito não era ameaçadora. Pelo contrário, era dócil como a de um sacerdote. Milena deu dois passos para trás.

- Não precisa ter medo.

- Por que não me disse que usava esses óculos? – Milena praticamente cochichou.

- E isso é problema?

- Não. – apertou ainda mais a mochila contra o busto.

- Venha. Tenho algo pra você. – ao dizer isso ele sentiu o instrumento pontiagudo em seu bolso.

- Você mora aqui?

- As vezes. Venha.

A garota queria correr, mas seus músculos estavam todos travados. Congelados. O rapaz desapareceu de sua vista e Milena seguia parada sentindo seus batimentos aumentarem sem controle. Quero minha mãe. Ela deu o primeiro passo.  E depois o segundo, terceiro e pronto, já estava na cozinha.

 

*

 

Bárbara Castro conversava com uma das vítimas de seu último caso em uma sala reservada no departamento de polícia de Pinheirópolis. O chamado DPP. A moça conseguiu sair viva do ataque de um meliante que é conhecido como o ladrão do Pix. Seu modus operandi é; aproximação, ameaça utilizando uma faca comum, o roubo e em seguida o assassinato. Felizmente a mulher foi mais esperta conseguindo fugir da ação.

- Então foi assim. – Bárbara organizou a papelada.

- Desse jeito. – a mulher tinha os olhos inchados.

- Lembra da fisionomia dele?

A vítima apertou os olhos.

- Moreno, olhos negros e tinha uma cicatriz entre o nariz e a boca.

- Cirurgia de lábio leporino. – guardou os papeis na pasta.

- Isso. Eu tinha esquecido o nome.

- Ok, senhora Kátia. Você nos ajudou bastante. Agora temos uma pista.

Nesse momento o celular da policial tocou. Rapidamente ela o tirou do bolso. Alex, mas que merda!

- Encerramos por aqui, senhora Kátia. Qualquer nova informação nós a avisaremos.

- Obrigada. - levantou-se.

A porta se fechou. Irritada Bárbara retornou a ligação.

- Eu estou trabalhando. O que você quer?

- Max me ligou. Quer dizer que agora você fica de agarramento com o namoradinho na frente dele?

O sangue de Castro ferveu subindo até  a cabeça.

- Alex, por favor. Diga logo o que você quer. – andou até a janela.

- Qual o nome dele mesmo? Ah sim, Robson. Treinador de futebol. Acertei?

Bárbara estava apertando o aparelho.

- Vou desligar.

- Claro, mas antes escute isso. O Max quer vir morar comigo. Vou buscá-lo hoje a noite.

- Se você aparecer lá, lhe dou voz de prisão, seu canalha. – vociferou.

- Veremos. – desligou.

Bárbara guardou o celular tremendo e com os olhos marejados de ódio.

 

Capítulo 2

 

A viatura parou e antes de desembarcar, Bárbara enviou uma mensagem para Robson que estava online. Sua cabeça girava a mil por hora e se ela pudesse, correria para o apartamento do namorado e ficaria ali por horas, até a poeira baixar. Não é nada fácil. Seu casamento com Alex começou mal e como não podia ser diferente, terminou mal. Bem que sua mãe a avisava, filha, esse rapaz não presta. Claro que a jovem e apaixonada Bárbara Castro não deu ouvidos. O casamento começou errado porque faltando poucos meses para a cerimônia, a policial descobriu que estava gravida e isso piorou tudo. Seus pais sempre foram cristãos fervorosos, seu pai principalmente. Ele não aceitava que uma filha dele fosse para o altar “buchuda” como ele costumava dizer, filha minha só engravida depois do casamento. Seu Agenor sofreu a pior decepção de sua vida ao saber da notícia e a odiou por isso durante um bom tempo. Graças a Deus tudo terminou bem entre eles. Antes de morrer doente o velho mecânico teve a doce oportunidade de segurar o neto no colo e consagrá-lo ao Criador. Foi lindo demais.

Alex foi um erro. Bárbara tem consciência disso e agora está tentando juntar seus cacos ao lado de Robson.

Passando para lhe dar um oi. – digitou Bárbara.

Que surpresa boa.

Como está o treino dos meninos?

Robson está digitando.

Estamos no meio do processo.

Ok. Não quero atrapalhar.

Vamos nos ver mais tarde?

Castro olhou para o lado de fora onde havia uma dezena de outras viaturas.

Eu te ligo.

 ficarei no aguardo. Beijos.

Hora de encarar a realidade de uma investigadora da polícia civil. Ela saiu da viatura caminhando rápido pelo meio do caminho de cascalho. Passou pelos policiais já mostrando seu distintivo preso ao cinto. O local é um lugar remoto da cidade, coberto por uma grande área verde. Tênis, calça jeans, camisa da corporação e uma outra xadrez por cima. Cabelos longos soltos e uma maquiagem sem muito exagero. Essa é a inesquecível Bárbara Castro.

- Olá. – disse. – o que temos aqui?

A perita, uma mocinha simpática recém formada tremeu nas bases ao olhar para a investigadora.

- Uma garota branca, julgo ter no máximo 15 anos, morta por golpes de um instrumento contundente na região do pescoço e peito.

Bárbara se aproximou um pouco mais do corpo.

- Uniforme escolar – murmurou - . Sinais de violência sexual?

- A olho nu, não, mas é bem provável.

Não será nada fácil. Casos como esse não são raros de acontecer. O desaparecimento de crianças e adolescentes nessa idade vem tomando proporções gigantescas. Na maioria das vezes, a situação se resume numa paixão avassaladora a qual fez com que a menina ou menino deixe o lar para curtir uma aventura com o grande “amor” de sua vida. Nesse caso, a pobre menina pagou com a vida e isso é revoltante.

- Temos uma identificação? – Bárbara olhou ao redor do corpo.

- Estamos procurando o material escolar dela, senhora. – respondeu a perita.

Do meio do mato alto um PM extremamente suado e aborrecido apareceu segurando uma mochila pela alça. Castro sentiu seu coração derreter ao ver o objeto. Meu Deus, ela era só uma criança.

- Está tudo ai? – perguntou a perita.

- Sim. Milena Duarte. O canalha nem se preocupou em se livrar do material escolar da garota. – resmungou o PM.

- A família precisa ser avisada. Vocês fizeram um bom trabalho. Obrigado. – Bárbara já não aguentava mais ficar naquele lugar.

Pois é, o trabalho só estava começando e a policial já sentia seus efeitos circulando a todo vapor em seu corpo. Dar a notícia da morte de um ente querido nunca será algo fácil. Não há um jeito adequado para isso e mais uma vez Bárbara terá que fazer esse papel. Anunciante da morte. Ela precisava beber alguma coisa antes.

 

*

 

O banho deveria ser algo refrescante, prazeroso e principalmente higiênico. Não para ele. GP se esfrega com força usando a esponja de lavar louças. Dói. Queima a pele, mas ele não para. Ele não esperava que de uma garotinha pudesse jorrar tanto sangue. GP é do tipo que vive um problema de cada vez. Ele sabe que a essa altura a polícia ou alguém já encontrou o corpo de Milena, e que ele precisa dar o fora o quanto antes, mas isso pode ficar para outra hora. No momento ele quer se livrar do sangue em seu rosto e corpo. Ele olhou para os óculos em cima da pia e neles há respingos. GP esticou o braço e os pegou. Enquanto o lava em baixo do chuveiro, ele se recorda de Milena Duarte. Coitadinha. No primeiro golpe que perfurou seu pescoço ela não esboçou qualquer reação, apenas sentiu o chafariz rosado subir e espalhar seu precioso sangue por toda parte. Foi fácil. O que restou foi seguir com o trabalho de continuar com as estocadas.

GP saiu do box e parou ainda nu e molhado diante do espelho. Permaneceu se olhando por um bom tempo até por seus óculos de graus fortíssimos e sorrir com a imagem que viu. Que cara de doido eu tenho.

 

*

 

GP deixou sua residência que fica num dos bairros mais pobres de Pinheirópolis. Na verdade trata-se de um conjunto de vilas que foram construídas assim que a cidade foi fundada. O lugar era para ser um dos pontos turísticos mais visitados da região, mas, devido ao descaso e má administração por parte das autoridades políticas a “Convip” como é conhecida, foi sendo deixada de lado até cair no esquecimento. GP desceu os cinco lances de escadas segurando sua pasta preta. Vestido socialmente e cabelos partidos ao meio bem penteados com gel, GP é praticamente invisível ao olhos daquela sociedade. Quem o olha pensa em tratar-se de um jovem que sofreu terríveis traumas na infância e só.

Ao chegar na parada de ônibus onde já havia algumas outras pessoas aguardando o coletivo, havia também uma garota. Bonitinha, corpo que não condiz com a idade que aparenta ter. GP salivou e se excitou. Sentiu vontade de matá-la também e depois possuí-la. O ônibus chegou e GP engoliu seco diversas vezes ao lembrar-se de seu furador de gelo que se encontra dentro da pasta. Todos entraram e ocuparam os poucos lugares vazios. A menina se acomodou ao lado de uma senhora de idade que mastigava sem parar. GP odiou aquela velha. Eu poderia mata-la também. Tudo o que ele queria era arrancar a idosa dali e conseguir o Instagram ou Whatsapp dela. O tempo vai passando. O coletivo lotando e GP se sentindo agoniado. O assassino de Milena passou a transpirar e isso deixou seus óculos embaçados. Ele os tirou. Respirou profundamente. Ele é minha. De repente alguém apertou o botão de parada. Sim, foi ela, a menina mulher. Ela passou por GP e como um lobo faminto ele pode sentir o seu cheiro. Ele pensou em descer junto com ela, mas hesitou. Não posso me atrasar. Restou a GP acompanhá-la pela janela se juntando aos colegas de escola.

 

*

 

A casa de Milena Duarte é pequena, mas bastante arejada. Os pais da menina são ainda jovens, 43 e 44 anos. Ambos estão sem chão. Inconsoláveis. A mãe desde quando recebeu a notícia da morte da filha vem tomando calmantes em doses cavalares sendo amparada pelo marido que na verdade também precisaria fazer uso do medicamento. Ele é uma bomba preste a explodir. Bárbara Castro estava sentada de frente para eles conversando e anotando tudo.

- Eu sei que vocês estão muito abalados, mas, eu preciso lhes fazer algumas perguntas.

- Tudo bem. – disse o pai.

- Ela costumava passar muitas horas nas redes sociais?

- Sim. Esse era o principal motivo das brigas aqui em casa. – começou o pai. – Milena sempre foi uma menina nota dez na escola, mas de uns tempos pra cá a média dela caiu consideravelmente.

- Ela estava namorando?

A mãe olhou para o pai.

- Não. Quero dizer. Não sabemos. – a mãe cruzou as pernas.

- Ela costumava se trancar no quarto? – Bárbara não ficou confortável ao fazer essa pergunta.

- Sim. Algumas vezes. – a mãe estava ficando vermelha.

- O celular da Milena desapareceu. É bem provável que o assassino o tenha destruído. Ela usava outro ou o computador?

O pai apertou os olhos como se puxasse da memória algo relevante.

- Ela usou durante alguns minutos o meu notebook. Disse que o telefone estava descarregado e que precisava responder uma amiguinha da escola.

- Terei que levar seu aparelho, senhor Duarte.

Bárbara deixou a casa dos pais de Milena um pouco mais otimista. Se realmente a menina fez uso do computador do pai, com certeza ela deixou rastros importantíssimos ali. A policial também estava mexida emocionalmente falando. A dor da perda de um filho é algo que ela não consegue mensurar. Por mais que Max às vezes a faça perder a cabeça e ter vontade de liberá-lo para morar com o pai, ela não se imagina ficar sem ele. Milena Duarte era e é, sem sombra de dúvidas, a princesa que foi tão aguardada. O resultado do amor entre duas pessoas que se adoravam. Ela foi morta e estuprada brutalmente. Alguém precisa dar um fim a isso.

 

*

 

Sílvia Lima quase sempre faz questão de mostrar sua imponência aos seus comandados. Delegada titular do DPP a alguns anos, a “Loirão” como é chamada nas conversas dentro e fora do departamento, tem lá seus momentos de doçura, principalmente quando está ao telefone com seu pretendente misterioso.

- Hoje não vai dar, tenho uma pilha de roupa para lavar.

Todos do departamento sabe que ela anda se envolvendo com um sujeito mais novo que ela e que se encontram com frequência em lugares mais discretos.

- E além do mais, ele vai estar em casa. Não posso me ausentar assim no meio da noite.

Bárbara bateu na porta. Na mesma hora Sílvia desfez o sorriso.

- Tenho que desligar. Mais tarde te ligo. Beijos.

Sinalizou autorizando a entrada da policial.

- Boa tarde, doutora Sílvia. Novidades sobre o caso Milena Duarte.

- Ufa! Até que enfim uma coisa boa. Diz ai.

Castro mostrou o notebook para Sílvia e o deixou sobre a mesa.

- Tudo leva a crer que Milena estava se relacionando via internet com alguém.

- Certo. – entrelaçou os dedos.

- O assassino foi esperto se desfazendo do celular da vítima, mas nem tanto. – apontou para o aparelho.

- Ótimo trabalho, agente Castro. Assim que descobrir algo, o mínimo que seja eu quero ficar sabendo.

- Sim, senhora.

Bárbara recolheu o computador e deu às costas para sua chefe sabendo que era observada por ela. Bárbara sabia que a conversa não iria terminar ali.

- Como vão as coisas?

Bingo!

- Caminhando. E com a senhora?

- Caminhando também. Esposa, mãe e delegada de polícia. Somos as melhores mesmo, não acha? – Sílvia não sorriu.

- É verdade. – Bárbara não estava afim de esticar o papo.

- Esse trabalho nos afasta uma da outra. Quem sabe um dia não podemos conversar mais a vontade. Fora desse ambiente de trabalho.

- Seria muito bom.

- Certo! Estou atrapalhando. Vá lá e me traga notícias.

- Sim, senhora.

Desde muito nova na profissão Bárbara nunca gostou de misturar as coisas. Amizade e chefia são coisas que se devem andar juntas. Ainda mais sendo Sílvia Lima a chefe. Isso não daria certo em tempo algum. A delegada já demonstrou ser uma pessoa de génio difícil e em algumas oportunidades bastante intragável. Bárbara prefere manter somente a relação profissional entre elas. Assim que se viu sozinha, Sílvia ligou para seu Boy.

- Oi. Sou eu. Acho que vou dar um jeito aqui. Eu te pego às 21 horas.

 

*

 

Castro pegou um café na máquina antes de iniciar os trabalhos no notebook. Na verdade, tudo o que ela queria era estar nos braços de seu negro preferido. Robson Mota. Ela deve admitir. A policial está a cada dia mais apaixonada pelo técnico de futebol e isso ela ainda tenta reprimir. Desde quando se divorciou de Alex, Bárbara prometeu não se iludir com o primeiro que a cantasse. Pois bem. Robson foi o primeiro e simplesmente a encantou. Ainda não rolou nada intimamente falando entre eles, mas bem que poderia rolar. Faz tempo que Bárbara não sente um homem nela. A última vez foi com Alex e diga-se de passagem foi horrível. Já não existia amor por parte dela. E nem dele, ela pensa.

Ela ligou o computador. Havia o aplicativo de mensagens no histórico. Foi fácil. Sim! Milena havia conversado com alguém alguns dias antes. Um perfil estranho. GP, o que será? Bárbara clicou e leu o conteúdo da conversa.

Olá. Então. O lance está de pé? – perguntou GP.

Acho melhor não. Pode dar confusão. – respondeu Milena.

Ok. Não vou insistir. A gente se fala mais tarde.

Espera. Hoje a noite então. Mas só uma. Tá bom?

Está ótimo.

Conversa encerrada. Milena Duarte foi morta e o assassino atende pelo perfil de GP. Primeiro ele conquista a confiança da vítima, a faz ficar perdidamente louca por ele. Muito fácil tratando-se de uma garotinha, desgraçado.

- Eu vou te pegar, GP.

 

Capítulo 3

 

Sempre que pode, GP caminha depois do almoço ao redor de uma pequena praça que fica em frente ao seu local de trabalho. Diferente dos outros funcionários que preferem tirar o restante do horário dormindo, o esquisitão gosta de caminhar a passos lentos sentindo o vento tocar em seu rosto. E também porque GP ama admirar o que há de mais belo nesse mundo catastrófico. As mulheres. Principalmente às que acabaram de deixar a infância. Essas meninas as deixam fascinado, de queixo caído. Na verdade, GP está louco para experimentar mais uma vez o sabor do pânico que elas proporcionam quando são estocadas pelo seu furador de gelo. Ele adora ver o horror no olhar delas a beira da morte. A primeira vez que cometeu um homicídio GP não esperava ser possuído por esse espírito da morte. Ele tinha onze anos e a experiência com o gato de sua vizinha o marcou para sempre. O pobre bichano estava amarrado, não havia como ele escapar. GP fez uso da serra que seu pai usava para corta os vergalhões. Cada patinha do felino foi serrada lentamente ao som estridente dos miados do animal. GP não parava de serrar até poder ver o membro separado do corpo. Desde então ele passou a desejar mais e mais se alimentar da agonia alheia. Claro que o pequeno GP precisava de ajuda e urgente, mas não foi o que aconteceu. Seus pais preferiram gastar dinheiro com outras coisas deixando o assassino ganhar força dentro dele.

GP avistou uma menina comprando um pacote de biscoitos na barraca ao lado do chafariz. Lindinha, branca de cabelos lisos. A garota deve ter no máximo 14 anos. Prato cheio para um sujeito feito ele. GP parou a caminhada e disfarçou passando a olhar para o outro lado. Ela passou por ela e na mesma hora sua excitação foi do zero ao mil.

- Oi! Posso falar com você um minuto?

 

*

 

Assim que dobrou a esquina Bárbara sentiu o coração gelar e às pernas ficarem bambas ao ver o carro de Alex parado na calçada, em frente sua casa. O dia foi puxado e tudo que ela menos queria nesse momento era confusão. Fazer o que? O jeito é enfrentar as feras. Ela desceu do veículo ainda respirando fundo. Entrou. Alex estava sentado no mesmo lugar onde tomava seu café da manhã todas as manhãs. Curiosamente ele estava mais bonito que antes.

- Boa noite! – disse ele olhando para ela um pouco desconcertado.

- Boa noite, Alex. Onde está o Max? – deixou sua bolsa em cima da mesa.

- Lá em cima. Arrumando às coisas.

Castro precisou se controlar para não expulsa-lo dali.

- Satisfeito agora que conseguiu tirá-lo de mim?

- A decisão foi dele, Bárbara. Eu não tive participação alguma nisso.

- O que ele disse? – Bárbara estava furiosa.

Alex se ajeitou no banco de madeira e depois olhou para baixo.

- Esse seu namorado...

- Robson. O nome dele é Robson.

Alex tentou não esboçar qualquer expressão.

- Então. – pigarreou. – Max não está pronto para dividir o mesmo ambiente que ele. Ele não gostou do cara.

    Max descia às escadas com suas coisas. Bárbara aproveitou para explodir de vez.

- O problema é dele se ele não gosta do Robson. Quem ele pensa que é para mandar em meus relacionamentos? Quer ir vai. Estou cheia de ouvir reclamações de um rapaz mimado. – se voltou para ele. - Meu filho, eu te amo. Vou sentir sua falta, mas na minha vida mando eu. Vá. Às portas estarão sempre abertas pra você.

A casa permaneceu em silêncio. Max terminou de descer as escadas. Alex pegou suas bolsas e saiu da cozinha. Max abraçou a mãe e se foi. Sozinha a policial desabou a chorar inclinada na pia, droga de vida. Ela lavou o rosto e ligou para Robson.

 

*

 

Enquanto tem o corpo invadido com uma certa dose de violência, Sílvia se esquece do prazer que seu amante está lhe proporcionando e passou a pensar em seu marido. Isso a fez derramar apenas uma lágrima. Não, ela não está arrependida, mas sabe muito bem aonde isso vai acabar. Não tem como uma traição terminar bem. É sempre muito trágico o fim de uma relação extraconjugal. A delegada embarcou nessa louca aventura mesmo ciente disso. Seu amante é jovem, cheio de gás, saudável e a faz enlouquecer entre quatro paredes. Sílvia Lima gosta do que ele faz e também do ele fala para ela durante o ato sexual. Ele a segura pelos cabelos como se fosse um peão domando uma fera.

- Duvido que ele faça isso, não é?

- Não, ele não faz. – disse gemendo.

Naquela noite a policial saiu daquele quarto de motel ainda com vontade de senti-lo dentro dela, mas o horário já era avançado e seu marido já havia ligado.

- Podemos nos ver amanhã? – sugeriu o rapaz sorrindo.

- Não. Temos que dar um intervalo de pelo menos dois dias. – Falou saindo com o carro.

- Será que eu aguento ficar sem você esse tempo todo? – a beijou no ombro.

Sílvia jogou o carro no acostamento e olhou para o garoto. Ele estava assustado.

- Veja bem, que fique bem claro o que vou dizer. O que está rolando entre a gente é só tesão, sexo. Entendeu? Eu não te amo e nem estou apaixonada por você. Consegue entender isso?

- Então, quer dizer que eu não passo de um passatempo pra você?

Sílvia o segurou pela bochecha e o beijou.

- Um passatempo muito gostoso.

Eles seguiram viagem e Sílvia sentiu seu coração bater mais aliviado ao abrir o jogo com seu garoto. Hora de voltar para casa. Hora de encarar a realidade com seu esposo.

 

*

 

Bárbara Castro a princípio não estava confortável ao lado de Robson mesmo estando ela acomodada no sofá de sua casa. Apesar de estar ao lado do homem que vem aos poucos mudando o seu mundo, Bárbara não está tão a vontade. Robson a conduz muito bem e com bastante carinho. Os beijos são demorados e dizem muitas coisas. Ele sabe que ela acabara de passar por uma situação cheia de sentimentos que a destruíram por completo e que, cabe e ele juntar o que sobrou. Robson Mota sabe exatamente o que sua presença ali representa. Por isso ele evita seguir adiante.

Bárbara quer esquecer o que houve. Pelo menos por alguns minutos ela precisa aliviar essa tensão. De maneira consciente ela escorregou subindo para o colo do treinador. Aos poucos ela foi levantando sua blusa deixando amostra um belo par de seios médios sustentados por um sutiã preto. Robson viu o sinal verde e a tocou com delicadeza nos seios. Não houve resistência por parte dela. O que aconteceu depois disso foi ótimo para ambos, principalmente para Bárbara que não conseguia esconder sua satisfação.

- Uau! Que pegada, hein.

Robson estava exausto e transpirando.

- Acho que ganhei na loteria.

Caíram na gargalhada. Namoro oficializado finalmente. Quando começou a se relacionar com Robson, Bárbara pensava consigo mesma sobre o fato de se entregar para ele. Ela imaginava esse dia, mas não criou expectativa em cima disso. Lógico que ela fazia questão que fosse num dia especial onde ambos estivessem loucamente desejosos um pelo outro e foi isso que aconteceu de uma certa maneira.

- Quer dizer que Max se foi com o pai? – comentou Robson fechando o zíper da calça.

- Pois é. Aproveitei para dizer algumas verdades também. Chega. Sou uma mulher adulta dona do meu próprio nariz. Não vou ficar vivendo em função do que meu filho adolescente pensa.

- Decisão difícil essa sua, não foi? – colocou a camisa.

- Sim, foi. Mas foi necessário. – ela olhou para o físico do seu homem e passou a língua nos lábios. – você tem mesmo que ir embora?

Robson se virou para ela sorrindo.

- Infelizmente, gata. Amanhã tenho treino às 7 horas. Que tal marcarmos para o fim de semana?

- Não vejo a hora.

 

Capítulo 4

 

GP mal conseguia introduzir a chave na fechadura tamanha era a tremedeira nas mãos. Na testa as gotas de suor ajudavam a deixar seus óculos embaçados fazendo sua irritação chegar ao nível máximo. Por fim ele consegue.

- Diabos! – vociferou.

Ao olhar para o lado, sua vizinha idosa o observava espantada se apoiando em uma vassoura.

- O que está olhando?

Furioso, a beira de um ataque cardíaco, GP entrou em sua residência louco para acessar a internet e se deliciar com as fotos de menininhas colegiais. Como ele pode deixar sua pressa escapar. A essa hora ele a estaria violentando sem piedade e depois a sufocaria até sua morte. Ela escapou e o erro foi cometido. Um erro gravíssimo. GP se despiu ainda na sala. Ligou o computador. Esperou sem paciência alguma o site pornô abrir.

- Merda de internet.

Pronto. Lá estão as garotas. Hora de aliviar a tensão acumulada. A sala é abafada e todos os seus poros estão  abertos e ele transpira em demasia. Como ela pode escapar?

 

Distante dali, Dandara entra em alta velocidade no quarto da mãe buscando por ajuda.

- O que foi, menina?

- Mãe, um sujeito esquisito me abordou naquela praça perto da escola.

- Meu Jesus. Ele tentou fazer alguma coisa com você, filha?

- Sim, mas eu consegui escapar. – chorou.

- Vamos na polícia agora mesmo.

 

*

 

Foi uma noite inesquecível em todos os sentidos. Logo de cara Bárbara recebeu um forte golpe ao se deparar com seu ex marido dentro de sua casa. Em seguida a partida de seu filho. Ela achou que não fosse sobreviver tamanho foi a ofensiva. Foi quando Robson atravessou Pinheirópolis e como um bálsamo ele protegeu e curou a ferida aberta. Foi maravilhoso. No DPP ela está terminando de juntar a papelada quando um policial acompanhado de uma mulher e sua filha são apresentadas por ele.

- Investigadora, essas são dona Débora e sua filha Dandara. Acho que tem a ver com o assassino de Milena Duarte.

Outra forte emoção.

- Obrigado Sales. Sentem-se. Querem alguma coisa, café, chá ou água?

- Estamos bem, senhora. – disse a mãe.

- Ok. Digam o que aconteceu.

- Minha filha foi abordada por um sujeito. Conte pra ela filha.

O relato de Dandara foi incrível. A menina foi precisa e bastante detalhista, Bárbara Castro ficou impressionada com a capacidade da adolescente.

- Ótimo, Dandara. Agora me diga; você o reconheceria se o visse na rua?

- Sim!

- Muito bem. Fizeram bem em vir ao departamento de polícia. Foi de extrema importância para as investigações. Obrigada.

Castro às acompanhou até a saída e depois se dirigiu a sala de Silvia Lima. A mesma digitava uma mensagem no aplicativo.

- Diga, agente Castro.

- Acho que já temos o assassino de Milena Duarte, senhora.

Lima abandonou o celular e passou a prestar atenção em Bárbara que naquela manhã estava simplesmente radiante.

- Uma adolescente por nome Dandara foi abordada por um cara esquisito na praça do chafariz. Ela conseguiu escapar.

- Praça do chafariz. É um lugar cercado por lojas, empresas e algumas poucas casas. O que pensa em fazer?

- Irei até a praça. Darei uma sondada por lá.

Sílvia levantou-se e andou até próximo de sua agente. Bárbara pode notar o surgimento de olheiras e também uma ligeira tristeza no olhar da chefe.

- Ótimo. Faça isso, mas não vá sozinha. Leve Rodrigo com você.

- Sim, senhora.

Sílvia colocou às mãos na cintura e sorriu.

- O que usa para deixar sua pele linda desse jeito?

Não é uma boa hora para tricotar, senhora Lima.

- Nada. Eu bebo bastante água.

- Hum! Só isso mesmo?

- Sim! – Bárbara sorriu.

- Conheço bem quando uma mulher está feliz e satisfeita com seu relacionamento. Você pode se abrir comigo. Se quiser, é claro.

Está bem, dona Sílvia. Já que insiste.

- Sim. Estou apaixonada de verdade. Muito louco isso.

- E seu ex e filho?

- Isso não mais um problema. Estou adentrando em uma nova fase em minha vida e tudo o que eu mais quero é curtir. – Bárbara a olhou nos olhos. A tristeza em Sílvia parece ter aumentado.

- Será que podemos conversar fora daqui, algum dia?

Ela está pedindo socorro.

- Vamos sim.

- Ótimo. Ao trabalho.

 

*

 

Bárbara e Rodrigo chegaram a tal praça do chafariz ainda com movimento de pessoas fazendo seus exercícios, caminhando com animais de estimação ou simples transeuntes passando por ali. Ela foi a primeira a desembarcar e olhar ao redor. Rodrigo, por ordem dela, permaneceu ao volante da viatura descaracterizada. Castro avistou o chafariz, um pequeno elefante cujo da tromba jorra água que alimenta a piscina redonda logo abaixo dele.

- Segundo a menina descreveu, o cara é meio esquisito. Cabelos dividido ao meio e óculos de graus fortíssimos. – comentou Rodrigo. – Não será difícil de encontrá-lo.

- Verdade. Vamos nos dividir. Você dá uma olhada no comércio e eu fico por aqui. Certo?

- Certo.

Rodrigo foi com o carro para a direita e Bárbara a pé pela esquerda. O agente estava a uma velocidade bem a baixo da permitida e assim que passou por uma micro empresa de tecnologia ele resolveu descer e olhar mais de perto. Ele subiu os lances de escadas e empurrou a porta de vidro onde há a logo da empresa. PTec. Leu.

- Olá. – disse um jovem uniformizado e usando um crachá pendurado no pescoço. – em que posso ajudar?

- Ah, sim. – Rodrigo lhe mostrou o distintivo. – sou da polícia. Quantos funcionários trabalham aqui?

- Deixe-me ver. – puxou da memória. – vinte no total.

- Ok! Vou querer os nomes. Por favor.

- Posso saber o que está acontecendo senhor?

- Rodrigo, agente Rodrigo. Estamos no meio de uma investigação e há relatos de que o suspeito anda por essas bandas.

O garoto engoliu seco.

- Certo. Vou pegar a lista de funcionários.

- Agradeço.

Dois minutos depois o rapaz voltou  com duas folhas grampeadas e as deu para o policial.

- Estão todos aqui hoje? Ninguém faltou?

O funcionário olhou para a lista e depois perguntou para a outra colega que estava atrás do balcão.

- O George Paulo veio hoje?

- Não. Ele ligou hoje cedo dizendo que estava passando mal e que não viria.

Rodrigo sentiu um frio na barriga.

- George Paulo. Tem foto dele?

O rapaz pegou seu aparelho celular do bolso. Abriu a galeria de fotos e clicou numa onde havia todos reunidos.

- Foi durante a confraternização de fim de ano. O George Paulo não é muito de aparecer, mas conseguimos bater essa. Aqui está ele. – abriu um pouco mais a imagem.

Sim. Era ele. Esquisitão. Óculos fundo de garrafa e cabelos partidos bem ao meio. Na mesma hora Rodrigo sacou o celular e ligou para Bárbara.

- Venha para a PTec agora.

 

*

 

Desde quando seu filho colocou os pés em sua casa, Alex o tem percebido distante e em boa parte do tempo pensativo. Ele também percebeu que o apetite do filho reduziu bastante e nem as famosas rodadas de pizza ele exige mais. Max tem se limitado e sair do quarto para escola e da escola direto para o quarto.

- Quer conversar, filhão? – cruzou os braços encostado na porta.

Max jogava no celular deitado na cama ainda com o uniforme do colégio.

- Não! – respondeu jogando.

- Tem certeza? Tenho notado uma tristeza em você. O que houve, se arrependeu em ter vindo morar aqui?

Max pausou o jogo. Deixou o celular de lado. Sentou-se e respirou fundo. Alex ficou aguardando.

- Arrependimento não seria a palavra ideal. Digamos que... eu acho que atropelei às coisas. A saída da casa da minha mãe foi ruidosa. Eu não esperava por isso.

Alex se sentiu culpado nesse momento, porém, por outro lado ele estava orgulhoso em ver o quanto o seu menino havia crescido e amadurecido. Ele se acomodou ao lado do filho e passou seu braço por cima dos ombros de Max.

- Quer voltar e acertar às coisas com sua mãe?

Max assentiu.

- Legal. Sua mãe e eu nunca seremos amigos, mas você é o fruto do que um dia fomos um para o outro. – o puxou para mais perto. – que tal uma pizza no almoço?

- Joia!

- Vou pedir agora.

 

*

 

Bárbara sentia seu corpo inteiro reagindo enquanto ela olhava para a imagem de George Paulo. Ela imaginou a pobre Milena sendo violentada, sem chance de defesa pelas mãos de um sujeito sem alma. Quem vê cara, não vê coração. Esse ditado se aplica perfeitamente aqui. Quem olha para George Paulo, a princípio, pensa em se tratar de um cara acima de qualquer suspeita, um nerd viciado em tecnologia ou seriados e filmes de fantasia. Um indivíduo invisível, sem expressão. Talvez seja esse o seu trunfo, seu escudo. Enquanto todos pensam que ele é apenas mais um “miolo mole” circulando por ai, ele age armando e matando. Desgraçado.

- Quero o endereço desse cara.

Bárbara e Rodrigo acompanharam o funcionário da loja até o balcão onde uma outra funcionária já se encontrava providenciando os dados de GP. A adrenalina alimentava a investigadora quando o telefone tocou em seu bolso. Era Alex. Castro passou da forte emoção e pressão para a raiva incontrolável em questão de décimos.

- Estou ocupada agora, Alex...

- Calma, minha jovem. Boas notícias pra você.

Bárbara se afastou gesticulando para seu parceiro.

- Sem rodeios, Alex, diga logo.

- O Max vai voltar a morar com você. Certo?

Outra forte e repentina troca de emoções. Bárbara Castro agora estava a ponto de explodir de alegria.

- Mas, o que houve para mudar de ideia assim tão rápido?

Alex riu.

- Nosso garoto cresceu e apareceu, minha querida. Estarei o levando mais tarde, combinado?

- Certo!

Rodrigo a chamou balançando o papel com o endereço.

- Ok. Preciso desligar agora. Mais tarde conversamos.

Ao ocuparem o veículo Rodrigo assumiu a direção da viatura e enquanto sua companheira trazia no rosto um brilho ofuscante, o mesmo tomou a liberdade de lhe perguntar o motivo da alegria.

- A nossa vida é feita de altos e baixos e eu acho que no momento estou vislumbrando a paisagem lá de cima.

- Que bom. – Rodrigo a tocou no ombro. – fico feliz por você.

- Obrigada. – secou às  lágrimas. – toca para o DPP.

 

*

GP não entendia porque estava tão tenso ao conversar com uma menina pelo direct. Tudo estava acontecendo exatamente como ele queria, a presa já havia mordido a isca e mesmo assim George Paulo sentia uma inquietação estranha dentro de si. A menina digitou.

Qual a sua idade?

A hesitação o fez ficar paralisado. E agora meu Deus?

Estou esperando. Digitou a menina impaciente.

Calma sua merdinha.

Trinta.

Nossa... como assim?

Isso é problema?

GP estava ruborizado de raiva.

E como você pede fotos dos meus peitos. Você é pedófilo?

Agora às coisas começaram a sair dos trilhos. Estaria George Paulo conversando mesmo com uma garota de 15 anos?

Lógico que não.

Se quiser ver meus peitos você terá que pagar.

Quanto?

100 reais.

GP pensou um pouco. Vale a pena investir cem reais para ver um par de seios de apenas 15 anos de idade?

Há alguma conta onde eu possa fazer a transferência?

Seu porco, imundo, você não tem vergonha de ficar pedindo essas coisas para crianças não? Eu vou te denunciar para a polícia, seu tarado. Vagabundo.

George Paulo soltou um grito gutural e fechou o aplicativo. De uma hora para outra às coisas fugiram de seu controle e isso não é nada fácil de administrar. De repente sua cabeça começa a doer e sua visão se torna turva ao ponto dele não conseguir ficar sentado. GP cai e é assombrado por um demônio que não existe e que não está ali.

- Suma daqui, seu monstro. – gritou se arrastando.

Sem seus óculos. Suado. Descabelado e só de cueca George Paulo alcançou seu quarto e se trancou lá. O pranto é tão forte que ele perde o controle da saliva que escorre por ambos os cantos da boca. Um choro infantilizado para um homem já feito.

- Você não vai entrar aqui. – falou aos berros.

 

*

 

As peles estão pegajosas mesmo eles estando num ambiente climatizado. Sílvia Lima consegue ouvir os batimentos de seu amante ao beijá-lo enquanto ele a penetra. Ele parece uma máquina. A faz chegar ao prazer com uma facilidade de poucos. Arrumar um namorado fora do casamento foi uma boa ideia? Sim! Quando ela está na cama com ele, a delegada titular do DPP se sente a ganhadora de um prêmio milionário. Seu garoto a faz mulher como seu marido nunca a fez se sentir. Porém, quando ela está deitada ao lado de Luís, Sílvia precisa reprimir o choro e se fazer de forte. Não. Sílvia Lima não é uma mulher forte. A imagem que ela passa de mulher empoderada só fica mesmo na imagem e naquilo que os outros pensam sobre ela.

Ele a faz chegar ao clímax mais uma vez. Ela o morde no ombro e crava suas unhas em sua costas. O rapaz não se incomoda com isso seguindo com seus movimentos fortíssimos.

- Isso. – disse ela ofegante.

Minutos depois a policial está sentada na ponta da cama cabisbaixa aguardando seu garoto desocupar o banheiro. Ele havia insistido para que ela tomasse banho junto com ele, mas Sílvia acabou com sua insistência o colocando em seu lugar.

- Não quero que você se apaixone por mim. Entre nós só há sexo e nada mais. Fui clara?

Foi mais clara que água. Seu pensamento voltou a castiga-la. Ela pensou em Luís e nas crianças. Ela olhou para a cama desarrumada e se sentiu enjoada. Alguém bateu na porta duas vezes.

- Você pediu alguma coisa? – Sílvia colocou o roupão.

- Deve ser o lanche.

- Nem me avisou.

Sílvia Lima abriu a porta. Luís estava lá.

 

Capítulo final

 

No caminha para a casa de GP, Bárbara fez algumas dezenas de ligações para Sílvia que não atendia de jeito nenhum. Irritada a investigadora bateu no teto da viatura tirando a atenção de Rodrigo do trânsito.

- Você pode se acalmar, por favor?

- Como que uma delegada some assim no meio do dia? – ajeitou os cabelos.

- Não é de agora que ela faz isso. Acho que às teorias levantadas sobre ela no DPP são reais.

- Sério?

- O casamento da nossa chefe está em ruínas e para aliviar a tensão ela arrumou um amante. – Rodrigo olhou para Bárbara rapidamente. – esse assunto morre aqui. Certo?

- Certíssimo.

O agente entrou na principal avenida da cidade. Felizmente o trânsito fluía bem.

- O que faremos agora? A Sílvia não atende.

- Vamos até lá. Eu assumo as responsabilidades.

- Você quem manda, “chefa”. – acelerou.

 

*

 

A casa de George Paulo é pequena, ela é muito mais uma quitinete do que uma casa propriamente dita. Bárbara tirou sua arma do coldre na cintura. Rodrigo fez o mesmo. O lugar estava em silêncio. O policial fez uma varredura e depois se voltou para sua parceira.

- Vamos nessa. – ela disse.

Rodrigo bateu no portão. Nada. Bateu outra vez. Bárbara sentiu palpitações quando ele, George Paulo apareceu na janela.

- Polícia de Pinheirópolis. – ela mostrou o distintivo. – queremos conversar com o senhor.

- Um momento.

A tensão só aumentava. Isso fez com que o estômago da agente ficasse embrulhado. Ela gesticulou para Rodrigo que entendeu o recado. O portão foi aberto. Lá está ele. GP olhando para Bárbara e Rodrigo por trás de seus óculos fundo de garrafa.

- Sim?

- Senhor George Paulo?

- Exatamente. – enterrou as mãos nos bolsos.

- Podemos entrar? – Bárbara observou se não havia alguma arma na cintura dele escondida.

- Só não reparem a bagunça. Venham.

 

Rodrigo entrou e realmente a casa estava um pouco bagunçada e cheirava a resto de comida estragada. Bárbara ocupou a ponta do sofá e George Paulo a cadeira bem a frente dela.

- Pois não? – disse ele sorrindo.

- Milena Duarte, você a conheceu?

GP apertou os olhos.

- Não! Deveria?

Maldito, mentiroso.

- O senhor por um acaso tem rede social?

- Não. – respondeu olhando friamente para Bárbara.

- Dandara o senhor também não conhece? – Rodrigo estava ficando irritado.

- Nem sei de quem estão falando. – segue olhando para Bárbara.

Que mulher espetacular.

- Veja bem, senhor George Paulo. Queira nos acompanhar até a delegacia, por favor.

- Do que estou sendo acusado?

Bárbara respirou profundamente e esperou seu parceiro assumir dali em diante.

- Acusado pela morte e estupro de Milena Duarte.

Nesse momento GP caiu da cadeira segurando o peito. Ele bateu com o rosto no chão machucando a testa. Rodrigo colocou sua arma de volta ao coldre para socorrê-lo.

- Ele está tendo um infarto. Chame um ambulância.

 

*

 

Sílvia terminou de expulsar o bílis para dentro do vaso sanitário do motel enquanto Luís a aguardava sentado na cama. Acabada, a delegada saiu do banheiro ainda de roupão.

- Mandei o garoto embora. Como pode fazer isso com a gente?

Sílvia não conseguia olhar para o marido.

- O que pensa em fazer? – ela perguntou.

Luís olhou para a cama desarrumada. Engoliu o nó na garganta. Esfregou o rosto.

- Como eu já estava desconfiado, eu contactei com o advogado que agilizou a papelada. - levantou-se. - Vou para casa. Te espero lá, para a assinatura. – saiu.

Sílvia voltou para dentro do banheiro. Forçou até às veias da testa e pescoço ficarem salientes, mas sem sucesso. O pior de tudo nessa história é que Sílvia tinha plena convicção de que tudo terminaria assim. Traumático. Uma família bem estruturada não é algo que acontece da noite pro dia. Ela é construída dia após dia a base de dedicação e respeito. Na verdade foi o que Luís sempre tentou e infelizmente não conseguiu. Não houve esforço da outra parte. Sílvia deixou o banheiro destruída emocionalmente, sem forças sequer para caminhar. O que você fez, sua burra?

Sem saber como, a delegada conseguiu chegar até seu veículo. Antes de virar a chave ela voltou a chorar. Esmurrou algumas vezes o volante. O celular tocou.

- Agora não. – falou chorando.

Ela rejeitou a ligação, mas Bárbara Castro insistiu.

- Lima na escuta. – tentou se recompor.

- Estamos com o assassino de Milena Duarte. Vou lhe passar o endereço.

Pelo menos uma coisa boa aconteceu nessa merda de dia.

 

*

 

George Paulo era reanimado por Rodrigo enquanto Bárbara estava na cozinha buscando algo que pudesse auxiliar seu parceiro. Não encontrou nada além de xícaras, canecas, pratos e copos jogados dentro do armário. Ao voltar ela viu seu companheiro caído, com às mãos ensanguentadas segurando o rosto.

- Ele me deu uma cabeçada e quebrou o meu nariz.

Sem pensar duas vezes a detetive disparou porta a fora sacando sua pistola. Ao pisar na calçada viu GP correndo na direção da saída para a avenida principal.

- Merda!

Até para correr o sujeito é estranho. Braços e pernas totalmente fora de sintonia e enquanto corre ou tenta correr, George Paulo resmunga, balbucia e murmura palavras indecifráveis. Ele olha para trás e Bárbara está lá, firme em sua caçada. Vagabunda. Me deixe em paz.

- Parado! – gritou Bárbara.

GP dobrou a esquina ficando na contramão quando um veículo o acertou em cheio o jogando para o alto. A cena foi pesada, Bárbara fechou os olhos por segundos e quando os abriu George Paulo já estava no asfalto, com as duas pernas quebradas. Fraturas expostas. GP se encontrava apagado, mas ainda respirava.

- Jesus! – disse Castro se aproximando.

Ela olhou e viu Rodrigo vindo correndo com o rosto inchado e manchado de sangue.

- Minha nossa. – silibou. – a ambulância já deve estar chegando.

Os curiosos já começavam a circundar por ali quando Sílvia chegou. Seu estado era o pior possível.

- Eita ferro. – olhou para os dois agentes. – então é esse nosso homem?

Rodrigo sorriu.

- Sim, senhora.

- Bom trabalho pessoal. – Lima chegou mais perto de Bárbara.

- Assim que terminar seu relatório. Gostaria de ter aquela conversa.

Outro pedido de socorro e dessa vez Bárbara sentiu que algo de muito grave estava acontecendo. Ela não pode negar. A ambulância chegou e levou GP para o hospital mais próximo onde precisou passar por algumas cirurgias de emergência. Rodrigo também foi atendido. Seu caso era menos grave, mas, um nariz quebrado é um nariz quebrado. Incomoda bastante. Na saída do hospital os agentes se despediram em clima de comemoração.

- Foi bom trabalhar com você, investigadora. Aprendi muito.

- Ah, deixa de tanta modéstia. Se não fosse esse seu faro nunca iríamos descobrir que George Paulo trabalhava naquela empresa de tecnologia. – apertou a mão do parceiro.

- Um policial precisa contar com a sorte de vez em quando.

- Até e se cuida.

 

Bárbara chegou em casa por volta das vinte horas. Estava exausta, querendo tomar um banho e se deitar. De preferência com Robson ao lado. Mas ainda havia algo para resolver. Max e Alex a aguardavam na cozinha. Eles comiam uma pizza gigante de calabresa. Bárbara agradeceu aos céus. Ela também estava faminta.

- Oi, mãe!

Ela o abraçou e o beijou diversas vezes. Alex sentiu que o momento não o cabia ali.

- Eu já vou indo.

- Espere, Alex. Preciso falar com você.

Eles caminharam lado a lado até o portão. Ele pode ver o quanto sua ex mulher estava bem, feliz e linda como sempre. Ela não pode deixar de notar mudanças nele. Mudanças não só físicas, mas internas.

- Acho que não precisamos ser inimigos. Não é?

- Claro. O casamento não foi bom, isso não quer dizer que a amizade será ruim também. Temos um filho maravilhoso, Bárbara e não podemos fazê-lo sofrer por causa dos nossos erros. Concorda?

Castro assentiu.

- Ótimo. Eu já vou indo.

Ela abriu o portão.

- Apareça sempre que quiser.

- Obrigado.

A noite foi incrível. Mãe e filho resenharam bastante. Max já não era mais aquele garoto mimado cheio de mágoa. Transformado seria a palavra certa. Ele foi para o quarto dormir e Bárbara correu para o chuveiro, mas antes conferiu as mensagens no Whatsapp. Duas conversas. Sílvia Lima e Robson Mota.

Sílvia Lima: Tire amanhã de folga. Podemos marcar no shopping Pinheirópolis às 15h?

Fechado! Respondeu Bárbara.

Ela foi na conversa com Robson.

Robson: Em cinco minutos estou chegando.

Estarei esperando. Beijos!

 

Fim.