1
Como
foi combinado, Raimundo Centelha chega montado em seu cavalo malhado
ao local do encontro. Seu desafiante pelo visto ainda não chegou,
algo normal para um fora da lei destemido como ele. JP, a pedra no
sapato de Raimundo, o homem que vem lhe tirando o sono e se ele não
agir logo é capaz do vaqueiro chegar a loucura. JP é um bandido, um
vagabundo que merece ser aniquilado e isso se fará hoje, nesse local
aberto onde o sol parece está a centímetros de sua cabeça. Um
verdadeiro deserto. Raimundo desce do animal olhando ao redor e tudo
que vê o deixa ainda mais desanimado. A vegetação que ainda
resiste ao calor brota do chão rachado dando uma sombria sensação
ao vaqueiro. Ele confere a munição em seu revólver e depois cospe
uma boa quantidade de saliva. O cheiro forte de bosta de boi vez por
outra impregna seu nariz fino. Raimundo centelha amarra seu cavalo no
que um dia foi uma goiabeira. O suor começa a descer pelas costas
molhando sua camisa xadrez vermelha. Seu chapéu preto surrado ajuda
a proteger sua cabeça do sol forte. Será que JP vem?
2
Raimundo
Centelha
Raimundo
é um típico sujeito que resolve tudo na cidade onde mora. Até
mesmo o xerife Gomes confia em sua vocação de ser o cara. Forte,
possui um rosto marcante quadrado e uma barba grossa sempre por
fazer. O vulgo Centelha veio quando ele eliminou sozinho uma turma de
índios usando apenas seu revólver. O confronto foi a noite,
Raimundo estava escondido, os índios não sabiam de onde vinham os
disparos, eles viam apenas as centelhas. Naquela noite Raimundo matou
cerca de 15 índios e foi consagrado.
Raimundo
se encantou por Rosa, a mulher dos seios mais fartos da cidade. Rosa
é sonho de consumo até mesmo do padre Chiba. Sempre que vai
confessar, Rosa é assediada pelo sacerdote. Certa vez, cansada de se
cantada, ela marcou um encontro com o pároco num lugar reservado.
Achando que teria uma noite de prazer, padre Chiba se perfumou e
partiu para o encontro. Chegando lá ele teve uma surpresa. Ao invés
da morena de lábios grossos e pele macia, ele encontrou Raimundo
espumando de ódio.
-
Boa noite, padre Chiba.
A
surra que o padre tomou o deixou sem os dentes da frente. Centelha
ainda lhe quebrou um braço e ordenou que o mesmo fosse embora da
cidade naquela mesma noite.
-
Não quero ver essa sua cara amarela nunca mais, certo?
Raimundo
Centelha, o homem que conquistou o coração da mulher mais
maravilhosa do velho oeste. Em todos os encontros o vaqueiro se
fartava fazendo dos seios de Rosa o seu parque de diversão. Nenhum
homem se quer ousava em olhar para Rosa, todos sabem que ela era
exclusividade de Raimundo.
3
JP
o forasteiro
Certa
manhã chega na cidade um misterioso homem que tem o rosto coberto
por uma máscara ninja e um chapéu marrom. Nas costas uma espada
samurai. Seu cavalo-branco o qual ele o chama de avalanche o conduz
até o salão mais frequentado do vilarejo. Ele desce do animal e
adentra ao estabelecimento. Lá dentro a conversa alta e as risadas
cessam com a chegada do ninja. Ele se dirige até o balcão e faz seu
pedido.
-
Uma cerveja, por favor.
O
dono do salão enxuga suas mãos no avental e olha para o estranho.
-
O senhor tem a bondade de tirar a máscara, por favor.
-
Por que devo tirar minha máscara?
-
Não é educado entrar num local fechado usando máscara. - volta a
enxugar as mãos no avental.
-
Quer dizer que se eu não tirar minha máscara, não serei servido?
-
Justamente.
-
Onde está escrito isso, me mostra.
Houve
um silêncio incomodo. Um homem que fuma seu charuto no canto do
salão se levanta e caminha na direção do ninja.
-
Qual o seu nome?
-
Quem quer saber? - o ninja se afasta do balcão.
-
Meu nome é Tiago e quero saber o seu nome antes de lhe matar. - toca
com o dedo no peito do estranho.
-
Bom, sendo assim, me chamem apenas de JP, tudo bem?
-
Muito bem, JP, agora caia fora do salão, melhor, vá embora da
cidade.
-
E a minha cerveja?
-
Ele não vende bebida alcoólica aqui, se manda seu ninja desgraçado.
-
Opa, cuidado com as ofensas.
Tiago
se prepara para sacar sua arma quando JP o acerta no rosto com um
forte soco. Tiago cai em cima da mesa segurando seu nariz que foi
quebrado.
-
Matem esse desgraçado. - grita Tiago.
Um
homem alto e magro quebra uma garrafa e tenta acertar o estranho, mas
é atingido no rosto por um chute. Em seguida todos os frequentadores
do salão estão atrás de JP que vai derrubando um por um de seus
adversários. O dono do salão vendo que um só homem liquidou cerca
de vinte, resolveu lhe servir a cerveja.
-
É por conta da casa. - diz tremendo.
4
JP
e Rosa
Já
havia se passado uma semana do acontecido no salão e JP se tornou
uma lenda naquela cidade. Ele estava dando banho em seu cavalo
Avalanche quando seus olhos negros contemplaram os seios de uma
morena que descia de uma carruagem. O banho do animal teve que
esperar. Rosa por sua vez gostou de ser paquerada pelo mascarado
misterioso. Ela foi passando e jogando toda sua sensualidade.
-
Tire os olhos dessa mulher, se quiser continuar vivo. - disse um
menino negro e raquítico.
-
O que?
-
Ela pertence a Raimundo Centelha. Toma, tá aqui sua comida, são 13
reais.
-
Trouxe o que eu lhe pedi, da última vez você me trouxe frango com
quiabo, eu odeio quiabo.
-
Tá tudo certo, contrafilé e fritas, pode ver.
O
ninja confere.
-
Beleza. - enterra a mão no bolso de trás e puxa um monte de moedas.
- dez, onze, doze, treze, certinho, agora vaza.
-
Siga meu conselho seu JP, esqueça a dona Rosa.
-
Ah, então o nome dela é Rosa, obrigado Mandela, você me prestou um
favorzão.
-
Eu avisei. - Mandela vai embora.
Rosa
ficou na mente e no coração do vaqueiro ninja. Depois de um certo
tempo ele foi até a casa da donzela e tocou em sua janela. Rosa
apareceu vestindo uma roupa de dormir tentadora que valorizou seu
busto chamativo.
-
Boa noite cavalheiro.
-
Boa noite, Rosa, vim lhe convidar para um passeio noturno em meu
cavalo Avalanche.
-
Creio que já passa da meia-noite, e eu sou comprometida.
-
Eu não tenho ciúmes.
Rosa
sorrir gostando da piadinha do mascarado.
-
E além do mais, como vou sair com um homem que não mostra o rosto.
-
Se eu lhe mostrar o meu rosto, promete sair comigo?
-
Posso pensar.
-
Sim ou não?
Rosa
pensa e olha para dentro de seu quarto.
-
Certo.
JP
retira devagar sua máscara ninja revelando seu rosto. Mais que
rápido ele volta cobri-lo.
-
Então, posso entrar em seu quarto?
-
Claro que não, como falei, sou comprometida e você não faz o meu
tipo.
JP
abaixa a cabeça e antes que Rosa pudesse fecha a janela ele a acerta
com uma estrela que crava em sua testa. A mulher cai, parte do seu
corpo fica pra fora da casa.
-
Ninguém vê o rosto de JP e fica vivo, nem mesmo uma gostosa como
Rosa.
5
O
funeral
Choro,
lamento e muitos desmaios, assim ficou marcado o sepultamento da
mulher mais bela da cidade. Segurando uma flor, Raimundo observa o
caixão levando sua amada para apodrecer. Ele joga a flor na cova e
promete vingança. O pastor toca em seu ombro.
-
Raimundo, a palavra diz que a vingança pertence a Deus.
-
Deus não tinha uma mulher feito Rosa, pastor, se tivesse a conversa
seria outra. Eu vou matar JP, um tiro e nada mais.
Rosa
é sepultada. Raimundo se lembra dos beijos, das risadas, dos
carinhos e principalmente dos seios. Tudo acabado. Fim de história.
Rosa agora faz parte do passado. Raimundo Centelha sai do cemitério
disposto a se vingar. Ele vai até o salão e pede além de um copo
duplo de cana, um papel e uma caneta. Ele escreve rapidamente, seu
merda, te espero no deserto ao meio dia de amanhã para acertarmos
nossas contas. Ele toma de uma
vez a cachaça.
-
Bigode, entregue esse bilhete ao miserável do JP.
6
O
acerto de contas
Realmente
JP está demorando e isso causa uma certa irritação ao vaqueiro.
Ele cospe e retira o chapéu para limpar o suor da testa. Se abana
quando vê o ninja vindo em
seu cavalo. Raimundo coloca a mão no coldre e tranca os dentes. JP
desce de Avalanche.
-
Me desculpe o atraso, permita-me dizer algo antes de nos matarmos?
-
O que? - rosna.
-
Sei que errei, acabei com o grande amor de sua vida, mas pense, te
livrei de um terrível mal.
-
Que conversa é essa?
-
Veja bem, sei que você pretendia se casar com Rosa, não é mesmo? -
JP para de andar.
-
Sim. - volta a rosnar.
-
Cara, Rosa seria um pé no saco, todas as mulheres são assim, no
início elas são demais, fazem sexo todos os dias, mas depois já
era, ela não ira permitir que você se encontrasse com seus amigos
para uma cerveja, ou seja, o grande Raimundo centelha se tornaria um
chefe de família arruinado, você deveria me agradecer.
-
Por que a matou? - diz com os
olhos marejados.
-
Ela me prometeu algo, algo que ela não cumpriria e…
-
E? - tranca os dentes.
-
Ela viu o meu rosto, ninguém vê o rosto de JP e vive.
-
Vou ver o seu rosto e garanto que vou viver, quer apostar.
-
Como quiser.
Raimundo
saca o revólver e atira e não acerta. JP retira a espada e corre na
direção do vaqueiro. Mais um tiro que passa em branco. JP corta o
braço do homem que ao ver o ferimento enlouquece de raiva. Raimundo
parte pra cima do adversário e recebe outro corte. O sangue já
começa a manchar o chão rachado e as forças do caubói parece
querer abandoná-lo. Mais uma tentativa de acertar o ninja e tudo que
Centelha encontra é um corte nas costas.
-
Ai, meu Deus. - cai gritando.
-
Já basta pra você? - JP ergue a espada.
Um
escorpião sobe pela pata traseira de Avalanche que tenta espantá-lo
com seu rabo. O bicho crava sua pressa no lombo
do animal que relincha. Ao ouvir seu cavalo relinchando JP se distrai
e Raimundo vê uma rica oportunidade de atacá-lo. Raimundo se
levanta, passa uma rasteira e retira a espada do ninja. JP ainda
tenta reagir, mas o vaqueiro é mais forte. O soco de Centelha faz o
ninja rodopiar. A espada entra no abdome até aparecer do outro lado
nas costas. Eles se olham. Raimundo retira o chapéu e logo em
seguida a máscara de seu
oponente.
-
Padre Chiba?
-
Eu mesmo, desgraçado. - diz cuspindo sangue. - você venceu outra
vez. E eu, na tentativa de me vingar, acabei perdendo. Me mate, senão
voltarei.
Raimundo
puxa a espada e o esguicho de sangue suja sua roupa. Padre Chiba cai
e sem pensar muito Centelha dá, um, dois, três, quatro, cinco, seis
tiros, todos no rosto do antigo ninja.
-
Morre miserável. - cospe.
Avalanche
o cavalo já sente os efeitos da picada e se deita. Raimundo caminha
até o pobre animal.
-
Pode deixar, eu cuidarei de você, agora fique tranquilo. - alisa o
focinho do bicho.
Fim
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