quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Nível Máximo 4


     Silêncio. Tudo se resume num silêncio estranho e quase incomodo. Para um homem como Sidnei o silêncio faz parte do jogo. Como um espírito que brota da escuridão ele aparece para mais uma noite de trabalho. Sacola na mão, máscara na outra. Há sua frente uma vistosa mansão protegida por câmeras de segurança, cercas elétricas e até cães. Não será nada fácil invadir essa fortaleza. Ele pensa em desistir, porém Sidnei é do tipo de ladrão que foi forjado no perigo, nada será capaz de pará-lo. Hora de trabalhar.
Sidnei coloca a máscara e também as luvas. Pendura a sacola no ombro e atravessa a rua sem fazer barulho. Perto do muro ele olha para uma câmera e faz um sinal obsceno. Abre a sacola e retira de lá sua arma. Para os cães ele trouxe algo especial. Como um felino ele sobe no muro. Temendo ele pula a cerca elétrica e depois para o jardim. O nervosismo é sufocante o obrigando a parar por alguns segundos.
- Meu Deus. - diz ofegante.
Sua paz momentânea está preste a ter fim. Uma verdadeira fera vem correndo com seus olhos ameaçadores. Imediatamente Sidnei pega na sacola a comida especial e a joga para o cachorro. O cheiro forte de carne desvia o foco da fera. Aliviado, Lessa começa a andar apressado para próximo da janela. Olhando para trás ele observa que o veneno já começa a fazer efeito no organismo do bicho que sem sofrimento vai perdendo as forças.
- Tchau, tchau, totó. - zomba.
Feito uma serpente, Sidnei rasteja imprensado entre a parede da casa e a grade do jardim. Tudo cheira a ameaça, tudo mesmo. Ele para por alguns instantes desconfiado de algo muito mal disfarçado no meio do jardim, seria uma câmera? Os donos da casa já o teriam visto e a polícia estaria a caminho? Estreitando os olhos ele consegue perceber que não se trata de uma câmera, mas sim de um suporte de luz quebrado. Alivio imediato. Siga enfrente.
Agora ele está mais próximo do que seria sua entrada. A garagem. Com certeza há um sistema de alarme ali. Determinado, Sidnei se levanta e olha atentamente todos os cantos, todos mesmo, nada passa despercebido pelo ladrão. A confirmação vem. Logo acima da porta há um detector de presença de última geração. Aquilo começaria a berrar e em questão de minutos Lessa seria flagrado. Porcaria. Mudança de plano.

*

Nos fundos da mansão Lessa consegue ver uma janela sem grade e de fácil acesso, pelo menos para ele. Rapidamente ele escala a casa pela tubulação feita para escoar a água da chuva. Com cuidado ele alcança o beiral. Sidnei olha para baixo, uma queda significaria alguns ossos partidos ou algo pior. Ele toca na janela e ela cede. Outra vez o ladrão a força e com um curto ruido vindo das dobradiças o faz gelar.
- Eu ainda vou morrer disso.
Dentro do cômodo Lessa pode relaxar. Vamos lá, hora de procurar o tesouro escondido. Escura e silenciosa, esse é o estado em que se encontra a mansão. Ele desce a escada, passa por um quarto e escuta vozes. Sidnei faz uma meia parada e se esconde entre uma estante e outra. Alguém sai do quarto e anda até a cozinha, uma mulher. Sidnei Lessa a xinga em pensamento. Ela passa por ele bocejando. Em seguida mais alguém sai do quarto, um homem. Realmente o cara é grande com músculos sobrando por todo o corpo.
- Amor, vamos conversar com calma. - diz o sujeito. - as coisas vão se acertar.
- Como vão se acertar Ricardo, você acabou de me dizer que vai precisar fechar uma das empresas. - a mulher se desespera. - se as coisas continuarem nesse ritmo iremos a falência antes do fim do ano.
- Alexia, claro que não vamos falir, esqueceu que temos grana o suficiente para mais cinco gerações? - a abraça por trás.
- Tem certeza, Ricardo?
- Sim, claro, agora preciso dormir, amanhã tenho reunião cedo, vem.
Como um fantasma Sidnei aparece apontando sua arma para a cabeça de Ricardo.
- Opa, mas antes disso, me leva até o cofre.
- Como entrou aqui? - o homem pergunta com as mãos para cima.
- Isso não interessa, agora me leve até o cofre.
- Não temos cofre aqui.- afirma a mulher de Ricardo.
- Sério? Conta outra.
- Por favor, não atire. - Alexia começa a chorar
Sidnei chuta a parte de trás do joelho de Ricardo que cai ajoelhado.
- Escute bem o que eu vou falar, Alexia, vou iniciar uma contagem agora e se eu chegar no dez e você não me falar onde está o cofre, você infelizmente ficará viúva.
- Mas…
- Um…
- Por favor, nós não temos dinheiro aqui.
- Dois…
- Você ouviu a nossa conversa, estamos falindo…
- Pois é, e eu ouvi também que vocês tem grana o suficiente para sustentar cinco gerações. Três…
- Tá bom, tá bom, me acompanhe.
- Boa garota.

*

O cofre se encontra no fundo de um armário de quarto. Ricardo permanece com as mãos na cabeça e Lessa com sua arma apontada para ele.
- Vamos lá Ricardo, abra o cofre e coloque a grana toda na sacola, isso precisa ser rápido. E nada de gracinha, eu sei quando vocês estão mentindo.
- Como assim? - Ricardo se vira para Lessa.
- Você digitará os números que assim que apertar enter acionará a polícia e se isso acontecer, vou matar sua esposa.
O casal se olha por alguns instantes.
- Esse sistema não funciona aqui. - afirma Ricardo.
- Sério? - Sidnei abre a sacola e pega seu silenciador. - vamos ver se isso resolve. - atira acertando a coxa de Alexia que cai gritando.
- Seu canalha. - o empresário parte pra cima de Sidnei.
O murro foi tão forte que Lessa sente que perderá os sentidos. Ele volta a se equilibrar e mais uma vez atira, mas não acerta Ricardo. Alexia se desespera gritando e segurando seu ferimento.
- Ricardo, pelo amor de Deus, dê o dinheiro a ele.
- Ouça sua mulher, Ricardo.
A situação volta a sua normalidade. Ricardo respira fundo e digita os números. A porta do cofre abre e lá estão os maços de cem e de cinquenta. Os olhos de Lessa brilham, no mínimo há uns cem mil ali. Ricardo vai colocando a grana com violência dentro da sacola.
- Por que tanta raiva, Ricardo? - usa de sarcasmo.
Serviço acabado. Agora Sidnei está um pouco mais rico.
- Tenham todos uma boa noite, mas antes, deite-se Ricardo.
- O que? Você já tem a grana, vá embora.
- É só por precaução, deite-se.
Ricardo se deita e Sidnei atira nas duas pernas. O homem geme e o xinga. Alexia chora e Lessa desaparece. O ladrão ganha a rua quando uma viatura descaracterizada freia bem a sua frente.
- Sidnei Lessa você está preso. - vocifera Paulo Alves.                   

          



 





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