segunda-feira, 16 de setembro de 2019

Ainda Existia Amor


Escrito por Abril Rocha


Ainda Existia Amor

Foi complicado, eu sei que foi. Quase um ano, eu acho. Depois daquele dia eu fui um outro José Marcos, um outro homem. Fiquei anestesiado, fazendo tudo no automático, não sentia prazer e nem satisfação. Logo eu que amava o meu trabalho, amava produzir e de repente tudo se tornou um fardo difícil de carregar e suportar. Quando Mônica falou na minha cara que tudo havia terminado eu achei que ela estivesse brincando, ou talvez no calor da discussão ela tenha blefado, mas não, ela falou sério.
     Jamais imaginei que um dia aquela mulher chamaria a polícia só para me tirar de dentro de minha casa. Eu não estava aceitando toda aquela situação, Mônica aos berros me expulsou de casa. Eu saí antes da chegada dos policiais. Foi complicado.
      - Posso pelo menos pegar algumas peças de roupa? – eu perguntei parado na porta.
      - Não, pelo amor de Deus, José Marcos, vá embora. – falou entre os dentes e com o rosto ruborizado.
      Foi o que fiz. Entrei no carro e sem saber direito para onde ir dei a partida. Deixei a minha casa, ou melhor, a nossa casa, tudo o que conquistamos juntos em anos de trabalho duro. Claro que naquela mesma noite eu tentei ligar para o celular dela, mas como era de se esperar Mônica não me atendia. Passei aquela noite em claro, chorando e tentando encontrar uma solução.

*

Como eu falei, foram dias, meses onde vivi um verdadeiro inferno emocional. Eu não conseguia render no emprego, minha vida se resumia do trabalho para casa, da casa para o trabalho. Nós finais de semana eu não tinha ânimo para tomar umas com a rapaziada. Fiquei muito mal mesmo. Nesse ínterim pintaram algumas mulheres, porém eu as dispensei, eu não queria outra coisa se não fosse Mônica. Quatro meses depois de eu ter ido pegar minhas coisas eu tomei coragem e liguei e ela me atendeu.
     - Oi?
     - Como estão as coisas por aí?
     - Normal.
     - Você já conseguiu um advogado?
     - Ainda não, tá difícil encontrar um que agilize logo isso. E você?
     - A mesma coisa. Se você quiser podemos resolver isso amigavelmente, na boa, entendeu, prometo não falhar com o nosso filho.
      - Zé Marcos, acho melhor cada um arrumar seu advogado e fazermos isso em juízo.
       - Ok, Tudo bem então.
      Nossa, foi como se alguém tivesse enfiado uma faca em meu peito. Deixei o celular de lado e chorei muito. Mônica estava irredutível querendo o divórcio o mais rápido possível. Quatro meses sem falar com ela e nada havia mudado.

*

Eu estava fazendo minha corrida noturna depois de um dia estressante de trabalho quando a música que eu ouvia parou e o telefone tocou. Parei e vi o nome de Mônica no identificador. Na mesma hora tive vontade de chorar. Seria ela com a novidade de um advogado? Ou o Marquinhos adoeceu, sei lá, atendi.
     - Oi, Mônica, boa noite, aconteceu alguma coisa? – falei ofegante.
     - Aí, me desculpa, você estava correndo não é? Posso ligar outra hora.
     - Eu já terminei. – menti.
     - Andei pensando, você estava certo, acho melhor resolvermos isso amigavelmente, você poderia continuar pagando o colégio do Marquinhos e também uma pequena mesada, o que acha?
     - Por mim tudo beleza, o casamento acabou, mas continuarei honrando os dois, vamos marcar uma conversa?
     - Pode ser hoje? Ainda é cedo, quero resolver logo isso.
     - Ótimo, vou tomar um banho e chego aí em meia hora.
*

Lá estava eu, em minha casa, diante da mulher que amava acertando as coisas da separação. Mônica me recebeu muito bem. Ao entrar senti o cheiro da comida fresca, quase chorei. Me sentei na mesa da cozinha e a aguardei terminar o jantar. Era estrogonofe de frango. Salivei.
      Perto das 22h terminamos tudo. Fiquei um pouco com Marquinhos que logo dormiu no sofá. Fui ao banheiro, joguei água fria no rosto e sai.
     - Bom, Mônica eu já vou indo, irei depositar o valor amanhã, certo?
     - Certo. – ela olhou para baixo. – vai jantar?
     Com fome eu estava, mas juro por Deus que eu não contava com esse convite.
     - O cheiro está bom.
     - Sente-se, vou por na mesa.
     Foi maravilhoso. Mônica e eu, comemos, bebemos e conversamos como bons amigos. Não houve lavagem de roupas e nem acusações, jantamos em harmonia e quando vi já passava da meia noite.
     - Meu Deus, amanhã tenho que acordar cedo. – falei bebendo o que restava da Coca-Cola. – Mônica obrigado pelo jantar.
     - Pode dormir aqui, se quiser, é claro.
     - Ah, eu não quero ser um incômodo.
     - Nada! Além do mais está perigoso. Vou preparar o quarto.
     Por fora eu me segurava para não explodir de felicidade. Pela primeira vez em quase um ano vou dormir em minha casa, com minha família. Tomei um banho enquanto Mônica preparava o quarto de hóspedes. Tudo pronto. Entrei no quarto e me deitei. Com a porta somente encostada vi quando Mônica saiu do banho. Fiquei pensando, será que ainda existe amor no coração dela? Será? Nessa hora me lembrei de quando nos conhecemos, tocava uma canção no rádio, “ Still loving you” do Scorpions e essa ficou sendo nossa trilha sonora toda vez que queríamos fazer amor. Nervoso, não sabendo qual seria a reação de Mônica comecei a assoviar. Fechei os olhos e assoviei. Passados alguns segundos, ainda com os olhos fechados, morrendo de vergonha pelo mico, abri os olhos e Mônica estava em pé na porta. FIM.

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