domingo, 22 de março de 2020

Vingança Cor de Rosa - Por Abril Rocha


Vingança cor de rosa
Por: Abril Rocha


- Gisele, você poderia parar de falar só por um minuto? – implorou Davi tirando o pé do acelerador.
    - Só me faltava essa, não bastasse tudo o que fez, agora você vai mandar eu ficar quieta, não ferra, Davi.
    - Não ferra você, eu não fiz nada. – voltou a pisar no acelerador. – nós já conversamos sobre esse assunto.
    - E você acha que eu engoli aquele seu papo? Me poupe. – cruzou os braços e se virou para a janela.
     Pela primeira vez em horas de estrada houve silêncio dentro do Sandero branco do motorista de aplicativo. Feriado prolongado acontecendo e Davi aproveitou para ir até sua casa de praia. Talvez a água salgada do mar, ou também o ar fresco ajude a diminuir a pressão entre Gisele e ele.
     - Nós mulheres sabemos quando estamos sendo enganadas.
     Davi revirou os olhos e bufou.
     - E nem adianta bufar não, você mudou muito.
     - Como assim eu mudei, Gisele?
     - Claro que mudou. A Rê. – se virou para ele.
     - O que tem a Rê? – deu de ombros.
     - Ela vive pedindo corrida pra você, eu gostaria de saber como ela as paga.
     Davi soltou uma gargalhada irritante aos ouvidos de Gisele.
     - Você está ficando paranóica, não tem nada a ver.
     - Paranóica? Eu? Vai me dizer que ela não te enche os olhos. – Gisele voltou a cruzar os braços.
     Rê é sim uma mulher bonita. Corpo bem cuidado, pele tratada e bastante inteligente.
      - Você é melhor do que ela. – Davi avistou um posto de gasolina. – vou parar pra mijar, vai comprar alguma coisa?
      - Água com gás e Cheetos. – respondeu pegando o celular.
      Dez minutos depois Davi voltava da loja de conveniências do posto carregando um pouco a mais do que água e Cheetos.
       - Demorou hein, estava fazendo o que além de mijar, ligando para Rê?
      Davi sorriu.
      - Aproveitei e deixei um presentinho no vaso sanitário deles. – abriu a porta do motorista.
      - Que nojo. – terminou de digitar e colocou o celular em cima do painel. – meu biscoito e minha água, por favor.

*
Apesar de estar indo curtir alguns dias na praia, Davi não estava confortável, o tempo todo Gisele o alfinetava forçando uma DR e ele, é claro, se esquivava como podia. O carro segue cortando a autoestrada rumo a região praiana e dentro dele o clima só piorava a cada quilômetro rodado.
   - Você não me respondeu. – falou com a boca cheia.
   - Não respondi o que, Gisele?
   - Sobre a Rê. – colocou mais Cheetos na boca.
   - Ah, essa mulher de novo? Vira o disco.
   - Fala a verdade, senhor Davi Silva, ela paga as corridas com sexo, assuma.
    - Quanta imaginação meu Deus. – falou olhando para o alto. – a Rê só me chamou duas vezes e as corridas não foram para longe. A primeira fomos para o centro e a segunda...
    - Para o motel, garanto que foi.
    Davi meneou o cabeça.
    - Quem mais já pagou as corridas com sexo? Quem você já comeu ali atrás? – Gisele aumentou o tom de voz.
    - Além de você? Mais ninguém.
    Socos, tapas e beliscos no braço, foi o que Davi precisou aguentar para não perder o controle do veículo. Gisele seguiu falando, e falando muito até que Davi jogou o Sandero no recuo e o desligou.
     - O que vai fazer, me bater? – disse Gisele engolindo seco.
     - Se liga, eu não tenho mulher na rua, nunca lhe trai com ninguém, sou um homem de 43 anos, trabalhador, quero construir uma vida com você, eu estou realmente gostando de você Gisele, pode confiar em mim, caramba.
     Eles se olharam durante um tempo e depois Gisele o acariciou na coxa.
     - Nunca, nenhum homem falou isso para mim. – os olhos cheios de lágrimas. – vem aqui.
    O beijo foi demorado e se não fosse uma viatura da polícia passando o casal faria amor ali mesmo no acostamento da estrada.
     - Vamos curtir nosso feriadão? – perguntou Davi.
     - Bora!

*
Davi voltava com as marmitas do restaurante de beira de estrada. Gisele pediu arroz, feijão, salada e peito de frango grelhado. Já Davi preferiu lasanha. Ao entrar no carro ele já sentiu que o clima havia mudado, a cara de Gisele estampava o ódio.
    - Algum problema? Sua comida. – ergueu a quentinha.
    - Perdi a fome. – colocou o telefone no bolso do shortinho.
     - Calma aí, isso me custou trinta reais e você falou que estava morta de fome.
     - Pois é, não estou mais. – cruzou os braços.
     - Tá bom. – deixou a marmita no banco de trás. – eu vou comer minha lasanha.
     - Não vai comer porcaria nenhuma. Vamos conversar um pouco.
     Definitivamente as palavras paz e trégua não fazem parte do vocabulário de Gisele. Davi precisou deixar seu almoço de lado para dar atenção aos questionamentos repetitivos da morena. Vendo que a discussão se estenderia até a casa de praia, o motorista de Uber resolveu seguir viagem batendo boca com Gisele que continuava incisiva. Lavagem de roupa dentro de um Sandero voando no asfalto irregular da via. O que fazer para contê-la? Como parar uma metralhadora giratória que é a boca dela? Sim, a melhor coisa a se fazer e usar o recurso do bloqueio. Davi bloqueou Gisele ao ponto dele não mais ouvi-la.

*
Finalmente o destino. Casa de praia. Feriadão prolongado só começando. Davi desceu do veículo e olhou o mar, azul, calmo, muito diferente do relacionamento entre Gisele e ele ultimamente. Por falar em Gisele, a morena cor de jambo não se ofereceu para ajudar a levar as coisas para dentro. Assim que o carro parou ela desceu, sacou as chaves e correu até a varanda da residência.
     - Mulher maluca. – resmungou.
     Ele foi colocando as bolsas no sofá da sala. Gisele se trancou no quarto, deve estar chorando. Tudo terminado, hora de voltar encarar a fera.
     - Gisa, abra a porta, vamos lá, amor. – silêncio. – do que adiantou virmos pra cá então se vamos ficar sem nós falar. Abra a porta. – bateu mais forte. – caramba, Gisele, deixa de criancice, vamos lá na praia.
    A porta abriu, mas não foi Gisele quem apareceu.
     - Rê? – Davi quase infartou.
     - Oi, Davi. – Regina segurava o porta com as mãos na cintura.
     - O que faz aqui? – falou com voz trêmula.
     - Aqui é a minha casa de praia, lembra?
     De trás de Rê surgiu Lilian.
     - E minha também, lembra quando você me falou isso deitado na cama.
     Davi olhava para as duas mulheres não acreditando no que seus olhos estavam vendo. Seu estômago deu sinal de vida. A situação só piorou. De trás de Lilian apareceu Valeria com sangue nos olhos e faca nos dentes.
      - Esse cachorro também falou isso pra mim também.
     Quatro mulheres, todas olhando do mesmo jeito para Davi, todas querendo ver seu sangue sendo derramado. Gisele saiu de trás de Valeria.
     - Davi, você não vale uma titica. Todas nós caímos na sua conversa de que você queria começar uma vida conosco, que estava realmente gostando da gente. Durante a vinda para cá elas foram me passando as orientações.
     - Calma aí gente, eu...
     - Cala a boca cara. – disse Rê. – nada do que você falar vai adiantar, a casa caiu seu canalha.
     - Todas nós estamos tristes, desapontadas, mas, garanto que ninguém mais nessa casa está sofrendo do que ela. – Valeria apontou para sala.
     Davi foi girando nos calcanhares lentamente já imaginado quem estaria na sala logo atrás dele.
     - Oi, Davi?
     - Gabi. – som inaudível.
     - Em vinte anos de casamento você me chifrou quatro vezes. Você seria capaz de me dizer quem foi a segunda a se deitar naquela cama? – Davi hesitou. – vamos gostosão, mostre.
     Davi abriu a boca, mas demorou para responder que Valeria foi sua primeira amante.
      - Ótimo. – Gabi bateu palmas. – e a segunda a trepar com você naquela cama?
      - Gabriela, sério mesmo, você vai fazer isso?
      - Quem foi a segunda? – fechou a cara.
      - A Lilian e depois a Rê e em seguida a Gisele. Satisfeita? – engoliu seco.
      - Vinte anos juntos, de amor, dedicação, dois filhos, vinte anos acreditando que eu havia encontrado o homem ideal. – andou até perto dele. – você me dá asco, sabia? – ficou olhando para ele. – diferente do que a Valéria falou, eu não estou triste e nem desapontada, tão pouco deprimida. Sabe o que eu estou sentindo agora gostosão?
     Davi abaixou a cabeça.
     - Raiva, ódio, vontade de matar. Mas, eu não irei fazer isso.
     O motorista ergueu a cabeça.
      - Nós iremos fazer isso. Não é meninas?
     Sim, disseram todas.
      - Eu não vou ficar aqui e deixar que façam isso comigo e...
      Gisele saiu do quarto segurando uma arma.
       - Vai fazer justamente o que mandarmos você fazer.
       Ao ver a arma Davi empalideceu.
       - Pois é, Davi. – riu Gabi. – você não gosta de mulher, não gosto de trepar? Então. Você fará sexo com todas nós até ter um infarto e morrer.
       - O que? – arregalou os olhos.
       - Já chega de conversa. – Gabi bateu palmas. – vamos lá meninas, temos um feriadão pela frente. Valéria você será a primeira.
       - Deixa comigo chefe. – puxou-o pelo braço. FIM

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