sexta-feira, 10 de julho de 2020

Veneno Negro - Capítulo 4




Em torno dos corpos dos agentes se transformou num verdadeiro salve-se quem puder. As pessoas ainda estão confusas, se esbarram, acotovelam-se e esperam por uma providência. Em questão de minutos um isolamento foi feito. Dois agentes no exercício de sua profissão foram barbaramente assassinados e o autor pode ser qualquer um. Sampaio Mello foi notificado e deixou sob escolta o DPNE. Ainda ajustando o colete, o capitão deu uma rápida olhada no cenário a sua frente e ordenou que seus homens estabelecessem um perímetro e o fechasse. Feito isso ele também conferiu os prédios ao redor.
    - Preciso que uma equipe ocupe os prédios vizinhos, não estamos lidando com um amador, o atirador é dos bons.
    Ronaldo acertou em cheio. Realmente a polícia de Nova Emaús não está lidando com um bandidinho revoltado que resolveu chamar atenção. O atirador é um profissional, sabe o que está fazendo e porque está fazendo. Assim que os agentes foram abatidos, em questão de minutos ele desmontou todo o seu aparato e abandonou o prédio, mas antes deixou seu cartão de apresentação. No chão, mesmo que a grosso modo ele desenhou ou tentou desenhar o seu símbolo, a marca que o acompanha desde os tempos de serviço militar.
    Vinte minutos depois de sua saída do prédio os policiais invadiram o lugar surpreendendo a todos. Em pouco tempo o edifício foi ocupado por homens tensos e armados até os dentes. Um grupo subiu os vinte andares pelas escadas o outro usou os elevadores social e também os de carga. Cada canto daquele prédio foi averiguado. Um dos agentes entrou numa das salas e aparentemente tudo se encontrava na mais perfeita ordem até que seus olhos pararam numa figura de um galo desenhado no chão. Desenhado a giz.
    - Mas que merda é essa? – acocorou-se.
   Outro policial o viu agachado e entrou.
    - Viu alguma coisa?
    - Quem desenharia um galo no chão de um prédio tão importante como esse?
    - Bata uma foto. – entrou e foi direto para a janela de onde é possível ver o tumulto enfrente ao DPNE. – o desgraçado atirou daqui. Vamos procurar o capitão.

*

O almoço não tem nada a ver com sua dieta, aliás, macarrão instantâneo não faz bem a ninguém, mas fazer o que quando só se tem isso para comer. André Cruz precisa frequentar um pouco mais o supermercado. Para combater o crime e se tornar o herói que ele tanto almeja, ele precisa ter uma alimentação digna, balanceada rica em proteína, carboidratos necessários para se manter. Diante da TV ele come o produto alimentício e acompanha o noticiário sobre a morte brutal dos policiais. Seria a hora de Veneno Negro entrar em ação e auxiliar a polícia? Claro que não. Tá na cara que esse novo capitão quer sua cabeça. Aparecer agora seria burrice de sua parte. Sampaio Mello preenche a tela da TV com sua presença e imponência durante uma entrevista.
    - Não sabemos nada até agora. Tudo que podemos informar é que se trata de um atirador que com certeza quer chamar atenção para si e conseguiu. A polícia não irá descansar enquanto não colocá-lo na cadeia.
    O jornalista aproveitou o ensejo e emendou outra pergunta.
    - Capitão, e quanto ao Veneno Negro, o que o senhor e sua equipe estão planejando?
    André se ergueu.
    - Já devo lhes adiantar que eu, enquanto for o líder da lei e da ordem de Nova Emaús, não permitirei e não irei tolerar justiceiros. Pessoas que se escondem atrás de uma máscara para fazer justiça com as próprias mãos serão consideradas fora da lei e serão presas. Para Nova Emaús basta a polícia.
    A entrevista terminou. Sampaio Mello foi bastante categórico em dizer que é contra esse tipo de ação. Mas nada do que que foi declarado pelo Capitão parece ter causado algum desânimo em André, pelo contrário, segundo ele, Ronaldo não conseguirá limpar as ruas dessa cidade se não houver um vigilante, alguém que não tem nada a perder. Esse alguém chama-se Veneno Negro. Basta saber a hora de entrar e sair de uma ação, essa é a malandragem.

*

O Galo, foi assim que ele ficou conhecido no exército. No início seus companheiros o chamavam de galo cego, devido a uma deficiência na vista esquerda. Quando criança uma travessura o cegou. Foram anos até ele se acostumar com a ideia de que agora ele teria que se virar com apenas um olho. Não foi nada fácil. Quando chegou na idade adulta precisou redobrar os cuidados para não se ferir e nem ferir os outros. Ele precisou se superar mesmo quando foi para as forças armadas. Todos zombaram dele quando declarou que gostaria de ser atirador. Foi na base de muito treinamento, muita superação, muita zombaria até que o galo cego deu lugar ao Galo, o melhor atirador de sua turma. A longa ou a curta distância, o alvo é eliminado.
    Limpando seu instrumento de crime ele acompanha os fatos. Nova Emaús se transformou num barril de pólvora e ele gosta disso. Se ele se deu por satisfeito? Lógico que não. Seu alvo chama-se Ronaldo Sampaio Mello, um tiro perfeito no meio da cabeça não há como escapar com vida. A limpeza de rifle é feita devagar, sem pressa, tudo precisa estar em ordem para o próximo trabalho. O que se passa na cabeça de alguém que poderia usar seu dom para fazer o bem, mas prefere fazer o mal? O que pretende de fato executando uma personalidade como o capitão Sampaio Mello? Quer que todos saibam quem ele é, do que é capaz? Sim, nada além disso. O Galo quer visibilidade, fama, ser o inimigo público número um. Ele irá em busca disso e com ajuda de seu rifle.

*

No interior do departamento de polícia o caos foi instaurado, todos querem uma posição do novo líder e no momento ele se encontra reunido com seu grupo traçando metas, estratégias para a captura do atirador. Enquanto analisa às imagens no aparelho celular do agente, Sampaio Mello descobre algo que o deixou ainda mais furioso.
    - O alvo era eu.
    Tal declaração deixou a sala num silêncio sepulcral.
    - O desgraçado matou meus homens para chamar atenção, mas na verdade ele me queria, foi um cartão de apresentação. Está na hora de ligarmos o detetive que há dentro de cada um de nós e descobrirmos quem é esse Galo.
    Um dos quinze agentes pediu a palavra erguendo o dedo.
    - Senhor, recomendo que fique no DP e se me permite, eu mesmo farei sua segurança.
    - Lhe agradeço muito agente Macedo, mas eu não
 consigo ficar escondido sabendo que há um rato lá fora. Irei para linha de frente junto com vocês. Iremos fechar a cidade se preciso for. Vamos pegar esse Galo.
    Imediatamente as equipes de busca deixaram o pátio do DPNE. Se todos queriam uma resposta da polícia essa foi a melhor forma de mostrar quem manda a partir de agora. E para deixar isso bastante claro, Sampaio Mello ordenou que as sirenes das viaturas estivessem ligadas e é claro, ele na condução de uma delas. Prato cheio para a imprensa.

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