sexta-feira, 10 de março de 2017

Em Decomposição - Capturados



        Andar pelo pântano a noite foi uma péssima ideia. Ainda mais com pouca munição. Os sapatos estão cobertos pelo lodo e o cheiro do gás entope o nariz. O trio caminha a passos regulares mata a dentro a mais ou menos uma hora. A frente do grupo está Matias segurando seu facão afiado.
            - Tenho sede. - resmunga Carlos.
            - Temos pouca água, aguente firme. - rebate Matias.
            - Matias, onde vamos acampar essa noite? - Jorge pergunta.
          Pergunta difícil. Matias não consegue ver um bom lugar para que todos possam dormir em segurança. Ele olha ao redor e só vê árvores.
            - Vamos em frente, acharemos um lugar.

           Mais à frente, onde passa um pequeno fio de água entre as pedras o grupo vê um baú de caminha abandonado. Matias, Jorge e Carlos comemoram o achado. Resta saber se é realmente seguro. O líder organiza o pequeno grupo. Cada uma pega uma ponta do baú. Jorge saca sua pistola e Carlos seu rifle de atirador. Matias permanece com o facão erguido. Eles circundam o baú e tudo está limpo.
            - Ufa, graças a Deus hoje podemos dormir sossegados. - diz Jorge.
          - Temos mais um trabalho a fazer. - completa Matias. - abrir o baú e ver o que tem dentro, em suas posições.

         Carlos aponta seu rifle para as portas do baú enquanto que Matias e Jorge as abrem. Quando Jorge terminou a contagem de um a três as portas foram abertas emitindo um forte ruído.
             - Droga, isso pode ter atraído os zumbis. - lamentou Matias.
         A caixa de metal está vazia. Matias saca sua pequena lanterna para olhar o interior e tudo o que ele vê são baratas. Carlos se coloca em posição de guarda olhando para a floresta escura.
             - Estão ouvindo isso?
             - O que? - pergunta Jorge.
             - Rosnados.
          - Deve ser um ou dois, a gente dá conta. - diz matias retirando a mochila das costas. - eu vou ficar de guarda durante duas horas, depois o Carlos e em seguida você, Jorge, tudo bem?
             - Certo! - Jorge confere a munição da pistola.
           Nesse momento cerca de 60 zumbis aparecem. Carlos anuncia a chegadas dos mortos-vivos gritando. Matias engole seco e pega seu facão. A briga é feia. Três contra um exército de mordedores. Jorge sempre foi bom atirador. Aos poucos ele vai eliminando os mortos acertando as cabeças. Carlos atira e se abriga entre as árvores. Matias vai fatiando com violência todos os monstros que estão a frente. Suas roupas já estão sujas pelo sangue negro e o cansaço começa a bater.

              O confronto desigual segue. A munição de Jorge acabou, resta apenas ele usar suas habilidades como lutador para destruir os mortos. Fazendo uso do karatê ele vai derrubando, socando e quebrando. Num pequeno intervalo entre um zumbi e outro ele consegue ver uma madeira solta perto do baú.
              - Opa, vamos lá.
            As balas do rifle de Carlos estão perto de acabar, por isso ele utiliza um pequeno punhal que achou. O homem é um pouco lento, mas vai dando conta do recado.
               - Venham, seus desgraçados. - vocifera.
             Matias está visivelmente destruído, mas não se entrega. Ele precisa sobreviver, ele precisa encontrar um abrigo melhor para ele e seus companheiros de labuta. Matias luta com três mortos ao mesmo tempo. Sem perceber ele vai se afastando do ponto de partida e quando se dá conta, está perto do rio cercado por mortos-vivos furiosos. O facão gruda no crânio do zumbi desarmando o ex gerente de banco que cai indefeso.
              - Merda! - grita.

              Sem ter muito o que fazer, Carlos e Jorge se juntam na luta.
              - Cadê o Matias? - indaga Carlos furando o olho do morto.
             - Cara, esquece o Matias, ele já era. - responde afundando a madeira no alto da cabeça do zumbi que desaba.
            - Vamos sair daqui, e rápido, estamos cercados. - Carlos corre em direção as bananeiras quando um grupo de zumbis o cerca.
Sem ter como ajudar o amigo, Jorge continua lutando. Enquanto chuta o rosto já destruído do zumbi ele olha para ver se Carlos conseguiu se salvar, mas, tudo o que consegue ver é o movimento das folhas das bananeiras.

             Amanheceu. Aos poucos a porta do baú vai se abrindo e Jorge aparece olhando ao redor da mata. O cheiro de corpos podres é insuportável. Ele cospe duas vezes e sai com a madeira nas mãos. Sozinho, sem água, sem comida e sem seus amigos. O sujeito vai pulando os cadáveres até chegar nas bananeiras. O que Jorge vê é um monte de pedaços de corpos e vísceras espalhadas. Ele limpa as lágrimas quando escuta um grunhido. A seu lado um zumbi pela metade caído. O homem chuta com ódio várias vezes a cara do bicho que insiste em mordê-lo no pé.
             - Vai pagar pelo que fez com meus amigos. - o último golpe explodiu o crânio do morto.

            Depois de algum tempo Jorge consegue achar a estrada. Muito exausto ele cai no acostamento. Ele permanece ali quase que inconsciente quando escuta o barulho de motor. Seus olhos estão quase fechando e uma picape preta empoeirada para e dois homens descem.
              - Esse aqui está quase morto, vamos matá-lo logo.
            - Não. - diz o rapaz que está no volante. - coloque ele junto com os outros na carroceria.
             Jorge é praticamente arremessado e cai em cima de outro. Criando forças para abrir os olhos, Jorge consegue identificar Matias a seu lado balbuciando algo. Ele olha para a parte de trás da carroceria e vê Carlos amarrado, ferido e desmaiado.
             - Quem são esses caras? - Jorge pergunta.
             - Seremos mortos, amigo.           

Nenhum comentário:

Postar um comentário