1
Transpirando,
sujo, cansado e com algumas feridas, essas são as condições do ex
policial militar Alberto que vasculha o terreno em busca de abrigo.
Já é quase noite, seu estômago reclama de fome e ele se quer
conseguiu um roedor que seja. Suas roupas estão pegajosas e sua
barba crescida lhe dão aspecto de mais velho, porém sua idade não
passa dos 40.
agente
Alberto Tavares, policial durão. Com ele vagabundo não tinha vez.
Hoje, diante dessa epidemia que destruiu o mundo inteiro ele não
passa de um sobrevivente. A mochila em suas costas está cheia de
frutas podres e uma garrafa pelo meio de água. Ele perdeu noção do
tempo. Não sabe qual dia da semana é. Seu relógio de pulso parou
desde quando o apocalipse aconteceu. Sua esposa, a professora de
educação infantil Dora foi devorada por zumbis dentro do colégio.
Foi uma cena dura de se ver. O grande amor de sua vida com as
vísceras expostas. Alberto teve que atirar em sua cabeça para não
ver Dora se transformar numa morta viva. Ali seu mundo havia ruido.
Quando tudo ficou ainda pior, ele resolveu seguir sozinho, sem grupo,
apenas sua arma, um trinta e oito e um facão, eliminando zumbis a
sua frente.
O
terreno está vazio. Alberto olha para o céu alaranjado e depois
para o monte de ferro velho entulhado no canto. Ele pensa em fazer do
terreno baldio uma pequena fortaleza com restos de carros. Isso
levaria dias, mas ele conseguiria. Alberto puxa a arma do coldre e
começa a caminhar. No tambor do trinta e oito três balas. Ele
segue. O coração acelerado ele sente bater na garganta. A testa
molha mais uma vez e com as costas da mão ele limpa o suor. Chegando
mais para o meio do terreno ele escuta grunhidos vindos dos carros
enferrujados. Ele se prepara para o confronto. Dois zumbis
enfurecidos aparecem loucos por cérebro fresco. A mira perfeita de
Alberto esfacela o primeiro na cabeça. O outro rosna e tem o mesmo
destino.
-
Malditos! - balbucia.
2
Alberto
sobe até atingir o último carro empilhado. Da li ele consegue ver
os arredores.
-
Aqui será o ponto de observação. - fala para ele mesmo.
Saindo
do canto esquerdo uma zumbi caindo aos pedaços rosna e baba um
líquido denso preto. Ela avista Alberto que puxa o facão e espera
sua subida.
-
Vem, desgraçada.
O
ex policial divide a cabeça da morta em metades. O sangue podre suja
ainda mais suas roupas, coisa que ele odeia. Ele se recompõe quando
escuta o motor de uma moto. A arma é sacada e ele se esconde. O
motoqueiro para em frente ao terreno e retira o capacete.
-
Já lhe vi, pode aparecer, sou do bem.
Alberto
permanece escondido prendendo a respiração.
-
Sou gente boa, me chamo José Carlos, mas pode me chamar de Juca.
Ele
entra no terreno. Suas roupas típicas de motociclista já estão
empoeiradas e a águia bordada atrás da jaqueta perdeu a cabeça e
uma das asas.
-
Vamos lá cara, aqui está cheio de zumbis, eu posso ajudar.
- Parado, fique onde está.
Alberto
aparece ao lado do estranho com o cano da arma enterrado em sua
têmpora. O motoqueiro paralisa diante da habilidade do ex policial.
-
Uau, como fez isso?
-
Cala a boca e me entregue sua arma.
-
Não tenho arma. - diz com os braços erguidos.
-
Não tem. - chuta a canela de Juca de leve. - levante a perna da
calça, devagar.
Um
trinta e dois, bem escondido na meia.
-
Nossa, pelo visto você era policial, acertei?
-
Cale-se e vamos entrando.
-
Cara, relaxa, sou do bem, só quero…
-
Quantos zumbis já matou?
Juca
dá de ombros.
-
Um bom número, perdi as contas.
-
O que você era antes de tudo acabar? - Alberto continua apontando
sua arma.
-
Cara, já pode parar com essas ameaças, sou um cara do bem, eu era
dono de uma banca de jornais e motociclista nas horas de folga.
Alberto
consegue ver verdade nos olhos de Juca e baixa o trinta e oito.
-
Certo, mas por enquanto sua arma ficará comigo, certo?
-
Certo! - coloca as mãos na cintura. - bom, vai me contar o que faz
aqui ou não?
-
Cansei de fugir, por isso vou construir aqui o meu espaço, farei uma
fortaleza usando a lataria desses carros.
-
Bom, creio eu que vá precisar de ajuda, bom, aqui estou eu, serei
seu ajudante.
Em
meses Alberto consegue sorrir do homem com pinta de nordestino a sua
frente. O ex policial limpa o suor da testa e olha para ele.
-
Tem comida? - pergunta o agente.
-
Na moto tenho dois ratos, vamos assá-los?
-
Feito!
3
No
dia seguinte debaixo de um sol forte os dois dão início a
construção. Juca e Alberto vão aos poucos dando formas a fortaleza
e depois de uma semana ela já tem uma torre de observação e dois
alojamentos.
-
Alberto, você ainda não falou qual será o nome da fortaleza. -
pergunta cavando.
-
Eu estava pensando em algo como Iron Life, o que acha?
-
Hum, vida de ferro, gostei, Iron Life, sob a liderança de Alberto
Tavares.
Mais
uma semana se passou e a Iron Life já está quase pronta com dezenas
de abrigos. Alberto está sentado dentro de seu escritório enquanto
Juca monta guarda na torre. Ele olha para a rua ao lado quando duas
moças se aproximam.
-
Auto lá. - anuncia Juca apontando o trinta dois.
-
Calma, somos pessoas de bem, essa é minha irmã Amanda e eu me chamo
Mônica.
-
Mônica e Amanda, o que querem?
-
Abrigo, comida, água. - responde Amanda.
-
Tudo bem, vou falar com meu líder, vou abrir o portão.
Minutos
depois Mônica e Amanda estão diante de Alberto numa conversa de
negócios.
-
Bom, aqui em Iron Life tentaremos recomeçar esse mundo, vocês estão
dispostas?
-
Sim, claro que sim. - diz Mônica.
- Bom, sejam bem-vindas a Iron Life.
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