terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Em Decomposição - Vida de ferro




1

            Transpirando, sujo, cansado e com algumas feridas, essas são as condições do ex policial militar Alberto que vasculha o terreno em busca de abrigo. Já é quase noite, seu estômago reclama de fome e ele se quer conseguiu um roedor que seja. Suas roupas estão pegajosas e sua barba crescida lhe dão aspecto de mais velho, porém sua idade não passa dos 40.
           agente Alberto Tavares, policial durão. Com ele vagabundo não tinha vez. Hoje, diante dessa epidemia que destruiu o mundo inteiro ele não passa de um sobrevivente. A mochila em suas costas está cheia de frutas podres e uma garrafa pelo meio de água. Ele perdeu noção do tempo. Não sabe qual dia da semana é. Seu relógio de pulso parou desde quando o apocalipse aconteceu. Sua esposa, a professora de educação infantil Dora foi devorada por zumbis dentro do colégio. Foi uma cena dura de se ver. O grande amor de sua vida com as vísceras expostas. Alberto teve que atirar em sua cabeça para não ver Dora se transformar numa morta viva. Ali seu mundo havia ruido. Quando tudo ficou ainda pior, ele resolveu seguir sozinho, sem grupo, apenas sua arma, um trinta e oito e um facão, eliminando zumbis a sua frente.
          O terreno está vazio. Alberto olha para o céu alaranjado e depois para o monte de ferro velho entulhado no canto. Ele pensa em fazer do terreno baldio uma pequena fortaleza com restos de carros. Isso levaria dias, mas ele conseguiria. Alberto puxa a arma do coldre e começa a caminhar. No tambor do trinta e oito três balas. Ele segue. O coração acelerado ele sente bater na garganta. A testa molha mais uma vez e com as costas da mão ele limpa o suor. Chegando mais para o meio do terreno ele escuta grunhidos vindos dos carros enferrujados. Ele se prepara para o confronto. Dois zumbis enfurecidos aparecem loucos por cérebro fresco. A mira perfeita de Alberto esfacela o primeiro na cabeça. O outro rosna e tem o mesmo destino.
           - Malditos! - balbucia.

2

        Alberto sobe até atingir o último carro empilhado. Da li ele consegue ver os arredores.
            - Aqui será o ponto de observação. - fala para ele mesmo.
         Saindo do canto esquerdo uma zumbi caindo aos pedaços rosna e baba um líquido denso preto. Ela avista Alberto que puxa o facão e espera sua subida.
            - Vem, desgraçada.
           O ex policial divide a cabeça da morta em metades. O sangue podre suja ainda mais suas roupas, coisa que ele odeia. Ele se recompõe quando escuta o motor de uma moto. A arma é sacada e ele se esconde. O motoqueiro para em frente ao terreno e retira o capacete.
            - Já lhe vi, pode aparecer, sou do bem.
            Alberto permanece escondido prendendo a respiração.
            - Sou gente boa, me chamo José Carlos, mas pode me chamar de Juca.
          Ele entra no terreno. Suas roupas típicas de motociclista já estão empoeiradas e a águia bordada atrás da jaqueta perdeu a cabeça e uma das asas.
             - Vamos lá cara, aqui está cheio de zumbis, eu posso ajudar.
             - Parado, fique onde está.
        Alberto aparece ao lado do estranho com o cano da arma enterrado em sua têmpora. O motoqueiro paralisa diante da habilidade do ex policial.
             - Uau, como fez isso?
             - Cala a boca e me entregue sua arma.
             - Não tenho arma. - diz com os braços erguidos.
             - Não tem. - chuta a canela de Juca de leve. - levante a perna da calça, devagar.
             Um trinta e dois, bem escondido na meia.
             - Nossa, pelo visto você era policial, acertei?
             - Cale-se e vamos entrando.
             - Cara, relaxa, sou do bem, só quero…
             - Quantos zumbis já matou?
             Juca dá de ombros.
             - Um bom número, perdi as contas.
             - O que você era antes de tudo acabar? - Alberto continua apontando sua arma.
           - Cara, já pode parar com essas ameaças, sou um cara do bem, eu era dono de uma banca de jornais e motociclista nas horas de folga.
             Alberto consegue ver verdade nos olhos de Juca e baixa o trinta e oito.
             - Certo, mas por enquanto sua arma ficará comigo, certo?
           - Certo! - coloca as mãos na cintura. - bom, vai me contar o que faz aqui ou não?
            - Cansei de fugir, por isso vou construir aqui o meu espaço, farei uma fortaleza usando a lataria desses carros.
           - Bom, creio eu que vá precisar de ajuda, bom, aqui estou eu, serei seu ajudante.
       Em meses Alberto consegue sorrir do homem com pinta de nordestino a sua frente. O ex policial limpa o suor da testa e olha para ele.
            - Tem comida? - pergunta o agente.
            - Na moto tenho dois ratos, vamos assá-los?
            - Feito!

3

          No dia seguinte debaixo de um sol forte os dois dão início a construção. Juca e Alberto vão aos poucos dando formas a fortaleza e depois de uma semana ela já tem uma torre de observação e dois alojamentos.
        - Alberto, você ainda não falou qual será o nome da fortaleza. - pergunta cavando.
        - Eu estava pensando em algo como Iron Life, o que acha?
        - Hum, vida de ferro, gostei, Iron Life, sob a liderança de Alberto Tavares.
     Mais uma semana se passou e a Iron Life já está quase pronta com dezenas de abrigos. Alberto está sentado dentro de seu escritório enquanto Juca monta guarda na torre. Ele olha para a rua ao lado quando duas moças se aproximam.
         - Auto lá. - anuncia Juca apontando o trinta dois.
     - Calma, somos pessoas de bem, essa é minha irmã Amanda e eu me chamo Mônica.
         - Mônica e Amanda, o que querem?
         - Abrigo, comida, água. - responde Amanda.
         - Tudo bem, vou falar com meu líder, vou abrir o portão.
      Minutos depois Mônica e Amanda estão diante de Alberto numa conversa de negócios.
       - Bom, aqui em Iron Life tentaremos recomeçar esse mundo, vocês estão dispostas?
        - Sim, claro que sim. - diz Mônica.

        - Bom, sejam bem-vindas a Iron Life. 

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