1
O desespero bate
forte quando a linda morena de olhos verdes, Suzana, consulta o
relógio e vê que já passa das 18h e ela ainda não preparou o
jantar. A cicatriz na testa a faz lembrar da última vez em atrasou o
almoço. Suzana corre até a cozinha e verifica na geladeira os
ingredientes para a arte que ela sabe fazer muito bem, cozinhar. Um
pouco mais das sete o jantar está praticamente pronto, restando
apenas à salada. Alguém bate na porta e seu coração dispara mais
uma vez. Ela atende, se trata de seu filho Pedro voltando da pelada.
- Boa noite mãe.
– a beija na testa. – o que temos pro jantar?
Pedro tem pouca
idade mais já passou a mãe na altura.
- Antes você vai
tomar um banho né filho?
- Pô mãe, to
cheio de fome, a pelada foi rocha.
- Nada disso, vá
tomar um banho, o cheiro de suor está impregnando a cozinha.
- Ta bom.
Suzana continua a
cortar o tomate quando Dias chega sem ser percebido por ela.
- Cheguei. – dá
um tapa nas nádegas da mulher que quase se corta com o susto.
- Pô amor, quase
me cortei, boa noite. – Dias coloca sua pasta no sofá.
- Se vai começar
a reclamar é melhor que eu volte para o bar. – Suzana não
responde. Da sala, Dias, fica a contemplar a deusa de ébano que tem
em casa. Como ela é bonita, como é gostosa, corpo na medida certa.
Ele vai até a cozinha e escuta o barulho do chuveiro. Pedro está
no banho. Dias agarra sua esposa por trás e inicia os carinhos
calientes. De início Suzana não aceita, Dias está com hálito de
cerveja e isso faz o estômago da bela morena embrulhar. Enquanto se
escuta o barulho do chuveiro, os beijos continuam cada vez mais
quentes. O vestido estampado é levantado deixando amostra as coxas
roliças.
- O Pedro vai
terminar o banho a qualquer momento. – sussurra Suzana.
- Então você vai
me prometer que depois do jantar vamos continuar o que começamos.
- Promessa.
- Muito bem.
***
Na fila do caixa
Suzana e sua amiga Márcia outra morena bonita, comentam sobre os
preços exorbitantes dos alimentos e Márcia observa as manchas roxas
no braço da amiga.
- Outras manchas? O
que houve dessa vez? O armário caiu no seu braço? – usa de
sarcasmo.
- O armário me
machucaria menos. – Suzana passa os produtos.
- Mais o que houve
dessa vez?
- Eu prometi
namorar com ele e simplesmente dormi. – Márcia franze a testa.
- Conhecendo o
marido que tenho eu vou me atrever a dormir. Justamente quando
prometi uma noite de amor, você também, mais isso não justifica a
violência, por mim você deveria denunciá-lo.
- Tenho medo do que
ele possa fazer.
- Do que ele possa
fazer ou do que ele já vem fazendo?
- Dos dois.
Suzana entra no carro
de Márcia e bate com o braço machucado na porta. Márcia só
assiste à amiga alisando o local.
- Bom, a vida é sua.
***
Dias termina de
mostrar o apartamento para uma cliente extravagante na maneira de se
vestir e se prepara para fechar negócio.
- Então dona França,
vai ficar com um de nossos apartamentos?
- Sim, vamos assinar
as papeladas aqui mesmo.
Enquanto a mulher
assina, Dias a come com os olhos principalmente o decote abusado da
perua. Ao final de tudo ela lhe entrega os telefones de contatos e
depois mais um antes de sair.
- Esse é o meu número
particular, me liga assim que puder. – Dias sente o clima e faz uma
proposta.
- Porque esperar se
podemos começar agora mesmo? – França solta uma risada e aceita a
proposta.
***
Pedro observa sua mãe
na cozinha e também às manchas roxas pelos braços.
- Mãe? O que é isso
no seu braço? – Suzana tenta disfarça.
- Sei lá, acho que
foram mosquitos.
- Mosquitos? De que
tamanho? – Suzana rir sem graça. – Mãe, você parou de
trabalhar por quê? – a mulher se mostrando impaciente em
responder.
- Fui demitida filho,
foi isso. – na verdade Dias a proibiu de trabalhar. Ele achava que
ela estava ganhando mais do que ele, por isso ele deu uma surra nela
e exigiu que ela pedisse demissão. Suzana estava realmente ganhando
mais e estava crescendo na profissão. Tudo isso deixou Dias
enciumado e furioso.
Suzana olha na dispensa
que o alho está em falta e pede para que Pedro vá a venda comprar.
Típico adolescente preguiçoso, Pedro se nega obrigando sua mãe ir
ao mercadinho próximo de casa. Na rua, Suzana chama atenção por
onde passa principalmente de Rogério o dono do mercado.
- Dona Suzana, linda
como sempre, o que deseja? – Suzana adorou o elogio.
- Alho?
- Só? Tem certeza? –
um homem tomando cerveja confere à traseira da mulher e observa a
tudo.
- Por enquanto é só
seu Rogério.
- Rogério, pra você.
Rogério volta com o
alho e Suzana não precisou pagar por nada.
- Sua beleza já paga
tudo. – Rogério a beija na mão.
- Obrigada, Rogério.
- Volte sempre.
***
É de lei Dias parar no
mercado para tomar a saideira. Ele e Rogério são amigos de longa
data.
- Fala ai Roger, manda
uma bem gelada. – o mesmo homem que tomava cerveja quando Suzana
foi comprar alho, se encontra ainda bebendo sua cerva.
- E ai Dias, vendendo
muito imóveis? – pergunta soluçando.
- Alguns, por quê?
- Queria comprar um
apartamento. Ra,ra,ra, até parece que eu tenho dinheiro. – Rogério
se serve da bebida e volta para os fundos da mercearia. – se liga,
sua mulher veio aqui e Rogério a cantou. – Dias quase engasga.
- O que?
- Fale baixo cara, é
isso mesmo, e sua mulher gostou dos elogios. – Dias espuma de ódio.
- Hoje eu acabo com
ela.
2
Pedro foi para o
futebol e Suzana faz o jantar quando Dias entra com sangue nos olhos.
- Que negócio é esse
de você se insinuar para o lado do Rogério?
- Do que está
falando?
- Não vem com esse
papo não sua safada, eu já sei de tudo.
- Calma, amor, quem
falou isso?
- Não interessa, vai
apanhar. – Suzana começa a chorar.
Quando Suzana viu Dias
pela primeira vez, ela achou que havia encontrado o homem de sua
vida, o príncipe encantado. Alto, bonito e bem empregado, Dias era
tudo o que Suzana queria para compartilhar seus dias.
Sem defesa a mulher
recebe um soco cruzado que a deixa sem norte. Antes que ela possa se
recuperar, recebe outro soco que a faz cair. Uma covardia. Mulheres
são espancadas por seus maridos a cada minuto no país. Suzana
infelizmente está ajudando a engordar essa triste estatística. Dias
continua a bater de maneira brutal em sua esposa, a mulher que um dia
ele jurou no altar que a protegeria e daria a vida se preciso fosse.
Quase perdendo os sentidos, Suzana é jogada contra a parede com um
forte golpe no rosto. Ela cai e as agressões continuam com chutes e
pisões.
Suzana perde os
sentidos. Ao ver que sua mulher se encontra desacordada, o covarde
para com os chutes e vai até a sala. Ainda respirando ameaça, Dias
fala alguns palavrões e volta para cozinha e verifica se Suzana
ainda respira. Ao se aproximar ele vê os dedos da mulher se mexendo.
Graças a Deus! Vendo que sua esposa se encontra viva, ele
volta para rua. Sai de casa como se não houvesse acontecido nada.
Dias sempre foi um
homem mal, rebelde com os pais e traidor com os amigos. Sempre
ostentou seu poderio por ter um porte físico forte de um boxeador.
Na época de solteiro ele saia com várias garotas e ainda nos tempos
de hoje ele continua com essa fama de pegador. Ao sair de casa ele
vai direto a venda de Rogério tirar satisfações.
- Rogério! –
vocifera. – quero falar com você. – o dono da venda sai de trás
do balcão.
- Fala Dias? – o
soco que Rogério recebe o deixa desacordado e caído na frente do
estabelecimento.
- Isso é para você
aprender a não dar em cima da mulher dos outros. – cospe.
3
O tempo passou e as
surras continuaram e as traições também. Suzana coleciona em seu
jovial rosto cicatrizes. Ela se tornou uma mulher amarga, infeliz.
Quando Dias chega em casa começa seu inferno. Ela o teme. Tem nojo.
O odeia. Logo ele que seria seu príncipe encantado.
Pela manhã ele é
o primeiro a acordar e a acordar Suzana para preparar seu café da
manhã.
- Hoje terei que ir
para o trabalho de trem. – fala enquanto lê o jornal. Suzana não
responde. – esses motoristas resolveram fazer greve justo agora.
Ele termina de
tomar café e sem se despedir da esposa ele pega sua pasta e dispara
pela porta rumo á estação. No caminho ele topa com Rogério que o
encara feio mais nada faz. Chegando a estação ele se depara com uma
multidão. O terminal ferroviário está lotado e isso irrita Dias
que acende outro cigarro. Vários palavrões ele solta quando a
composição chega com pessoas até nas janelas.
- Jesus! – mesmo
reclamando ele entra e com muito empurra, empurra ele consegue um
lugar em pé num canto abafado. A viajem a princípio é tranquila e
ele mesmo em pé consegue tirar uma soneca encostado no canto do
vagão. Realmente ele pega no sono sem se preocupar com quem está em
volta. Algumas vezes ele abre os olhos e confere a paisagem e olhando
mais ao fundo ele consegue ver o túnel e escuta quando a buzina do
trem ecoa ao entrar no escuro. O vagão fica um breu só, Dias não
consegue ver seus sapatos e nem sua mão. Depois de alguns segundos a
claridade volta e o que Dias vê é um vagão quase vazio com algumas
pessoas sentadas. Ele pisca várias vezes e senta num lugar vago ao
lado de uma senhora.
- Licença!
- Toda! – o rosto
da mulher é magro, pálido, cadavérico. Dias sente o coração
bater na boca e se levanta. A mulher sorrir e seus dentes negros
apodrecidos exalam um hálito nauseante. Ao lado da velha um jovem
negro balbucia palavras sem nexo. Suas mãos tremem sem controle. Ele
olha para Dias que se apavora. O negro não tem os dois olhos,
somente os orifícios sangrando.
- Mais que droga é
essa? – o rapaz negro tenta se levantar andando na direção de
Dias. – o que quer de mim? – o ameaça com sua pasta. – o que
está havendo aqui? – Dias se afasta e vai para próximo do outro
vagão onde há pessoas perambulando de um lado para outro. – oi,
alguém sabe me dizer o que houve? – uma garotinha o olha com seu
rosto chupado e olhos escurecidos. Dias quase cai com a figura
andando apressada em sua direção. A menina salta e o morde no
antebraço. Seus dentes afiados arrancam um bom pedaço do membro
musculoso do homem. O corretor de imóveis luta com a pequena zumbi
até conseguir socá-la. A menina cai e numa velocidade incrível ela
volta atacá-lo. A pasta de Dias entra em ação acertando o rosto
apodrecido da infante. Dias corre e é detido por outro zumbi, dessa
vez um gordo obeso. – me solte! – Dias o acerta com um soco no
rosto que se desfaz como papel molhado. Os restos apodrecidos da
cabeça do zumbi sujaram a mão e parte do rosto de Dias. Suando
bastante o esposo de Suzana corre até o outro vagão vazio e o
fecha. Os dois zumbis fazem força mais não conseguem abri-lo. A
respiração de Dias é ofegante e irregular. Olhando pela janela ele
vê uma paisagem funesta. Onde estou? Alguém o toca nos
ombros.
4
Com muito medo de
se virar, Dias hesita. O toque dessa vez é mais forte. A
transpiração molha sua camisa e suas pernas fraquejam. Dias resolve
olhar. A figura que segura em seus ombros é alta e vestida de preto
com capuz. O chicote com tiras triplas na outra mão mostram o
tamanho de seu poderio. Dias se afasta e a figura sinistra continua a
encará-lo com seus olhos em chamas. O carrasco ergue seu chicote o
ameaçando.
- Me deixe
passar. – balbucia. O carrasco não responde e volta a ameaçá-lo.
– me deixe passar seu desgraçado, senão... – o demônio não
deixa Dias completara frase e o acerta no ombro com o chicote
cortante. O mesmo cai e já se protege do próximo golpe. A dor é
lancinante mais ele resiste. O carrasco ergue o braço e desce o
chicote acertando as costas de Dias, seu grito sai agudo e ele se
joga no banco da composição que não para de andar. O sangue começa
a escorrer e o ódio a brotar.
- Vou encarar
esse cara de frente. – deixa sua pasta de lado e se coloca de pé
na frente do demônio. – vem! – o chama para briga. Claro que ele
está com medo, claro que ele não sabe o que está acontecendo.
Mesmo passando por uma situação inusitada, Dias mantém sua fama,
fama de se dar bem em tudo, em tudo ele gosta de tirar vantagem. Mais
dessa vez ele está muito enganado. O chicote avança contra seu
rosto e num ato de puro reflexo Dias consegue segurá-lo. – viu
seu, mane! – imediatamente o chicote se incinera queimando a mão
do corretor de imóveis. Outra vez ele grita enquanto sacode a mão
fumegante. O demônio não se cansa e desfere outro golpe queimando o
peito do homem. Sua camisa barata é cortada com o golpe do chicote
em chamas. Dias consegue rolar e sair do anglo de visão do bicho
correndo até o outro vagão. Ele entra e fecha a porta. O vagão
está vazio e ele aproveita para sentar e descansar. A dor no ombro e
no peito é forte, ele se encolhe, tenta entender o que está
havendo. Olha novamente pela janela, o trem continua a andar a uma
velocidade incrível. A paisagem agora é alaranjada, sem vida.
Ainda sentado
tentando entender o que houve, Dias se sente sozinho, abandonado.
Sente falta de Suzana e daria de tudo para que ela estivesse ali.
Pedro vem em seus pensamentos como um furacão. Minha família,
onde está? As lembranças doem. Para Dias que nunca foi
um sujeito que nunca deu prioridade a ela, a dor é dobrada.
Certa vez quando
estava fechando negócio com um cliente, Dias recebeu um MSN de
Suzana o lembrando do futebol de Pedro na escolinha. Dias
simplesmente o ignorou e ao chegar em casa mentiu, dizendo que não
recebeu a mensagem. Foi ao quarto onde o filho chorava e em vez de se
desculpar, passou um sermão no garoto dizendo que choro é coisa de
mulherzinha. Dias sempre foi um pai ausente, um marido violento e um
filho rebelde.
Um estrondo o faz
voltar de seu devaneio e ao olhar na direção do barulho o que ele
vê o faz quase urinar em si mesmo. Três figuras mascaradas
esqueléticas que rosnam para ele como cães raivosos. Dias tenta
abrir a porta para voltar para o outro vagão. O carrasco aparece do
nada do outro lado fazendo Dias mudar de ideia. As figuras continuam
lá em tom ameaçador e o corretor se vê sem saída. Uma das figuras
dá um passo á frente e ergue seus braços magros e de pele cinza.
As unhas das mãos e dos pés são longas e afiadas. A segunda figura
retira a máscara e revela um rosto diabólico com veias negras
pulsando sangue vivo.
- O que vão
fazer comigo? – pergunta choramingando. Mais uma vez, Dias, fica
sem resposta. A terceira criatura também retira sua máscara
mostrando seu rosto infernal com dentes pontiagudos. O desespero bate
mais forte quando um dos demônios solta um urro alto, ensurdecedor.
A primeira criatura salta atacando Dias com suas unhas grandes. Dias
recebe um ataque preciso no rosto. O ferimento arde. Dias pede
socorro. Em vão. Outro ataque e Dias tem o braço ferido pelas unhas
afiadas do ser das trevas. Vendo que será morto ele chora. O ser de
dentes pontiagudos o morde no ombro. A reação de Dias o deixa
desequilibrado. Dias reage com socos que acertam mais o ar do que o
próprio bicho.
- Não vão
conseguir me matar seus monstros. – a situação de Dias só piorou
depois disso. Os três seres resolveram atacar de uma vez só
deixando o homem totalmente indefeso. São mordidas, arranhões e
gritos de pavor misturado aos de dor. Por mais que ele tente Dias não
consegue fugir dos ataques violentos dos bichos. Realmente uma
covardia. Enquanto é espancado, sua mente o faz voltar quando deu
uma surra em Suzana sem motivo. Tinha bebido demais e chegou em casa
furioso. Ele ainda lembra que naquela noite ela gemeu toda a
madrugada o obrigando a levá-la ao pronto socorro pela manhã.
Quase perdendo os
sentidos Dias é deixado num canto do vagão sangrando bastante. Seu
corpo treme e as feridas parecem brasas. Dias rasteja e sente muita
sede. O trem não para. Sua visão se embaça e a secura na boca faz
sua língua colar no céu da boca.
- Quero água,
onde está Suzana, Pedro, por favor, eu quero água. – uma voz
rouca e alta o responde. O vagão fica escuro. Um breu.
- Não temos águas
aqui. Você não merece esse bem. – Dias tente ver quem fala com
ele naquela escuridão.
- Quem fala
comigo?
- Isso não lhe
interessa, já estamos chegando ao seu destino seu miserável, agora
fique quieto.
- Por favor, eu
estou com sede, muita sede. – Dias sente a respiração da figura e
também quando o mesmo o pisa na cabeça.
- Fique quieto. –
a composição vai perdendo velocidade e o bicho permanece com seu pé
na cabeça de Dias. – Chegamos!
5
Dias é levantado
do chão bruscamente. As portas se abrem e ele é jogado para fora
batendo com a cabeça num tipo de coluna.
- Siga aquelas
pessoas. – Finalmente a figura se revela. Dias perde o fôlego ao
ver seu aspecto. Roupa preta e cabeça de bode. Quase se arrastando,
Dias anda até a fila que segue para um abismo. Lamentos, perguntas,
choros, gritos e murmúrios. Ele fica ali parado, sentido dor. A pior
dor não é a física e sim a dor da saudade, do arrependimento.
Quando vai se sentar para descansar, um ser o castiga com chicotadas
e chutes. Dias pede água e o bicho rir. Uma mulher é incinerada por
um ser. Ela ainda tenta apagar as chamas mais o demônio gargalhando
a ataca com chicotadas.
- Onde estou? Para
onde vou? – Dias gagueja.
Depois de muito
tempo chega à vez de Dias. Ao olhar o abismo o corretor de imóveis
treme na base. E se urina.
- Eu não posso
pular ai. – o demônio o olha friamente.
- Você não pode
pular? Claro que pode, pule!
- Não, eu não
posso, preciso voltar pra casa.
- Você não tem
mais casa seu idiota. Alias, você nunca considerou aquilo como seu
lar, vivia batendo na esposa e rejeitava seu filho, agora pule, Dias,
pule.
- Mais eu estou
arrependido.
- Tarde demais Dias,
tarde demais pra você. – o empurra e Dias desaparece no meio do
abismo escuro.
6
O celular toca e
ainda sonolenta Suzana atende.
- Alô? –
silêncio. – meu Deus, não. – mais uma pausa. – NÃO!
Suzana chega à
plataforma onde há bombeiros e uma multidão de civis querendo obter
informações. Márcia de braço dado com sua amiga espera à
situação se acalmar. Um bombeiro se aproxima com atualizações.
- Houve uma colisão
entre as composições na saída do túnel, felizmente houve
sobreviventes mais o número de mortos ultrapassa o de feridos, ainda
estamos identificando os mortos mais já temos uma lista, ela está
fixada ali na parede, por favor em ordem.
Com o tumulto
formado Suzana e Márcia encontram dificuldade em chegar próximo da
lista. Suzana chora e Márcia a consola acariciando sua mão. Elas
vão chegando mais perto na medida em que as pessoas vão lendo e
saindo. Algumas aliviadas e outras se desesperam.
- Márcia, olhe
pra mim, eu não tenho coragem, por favor, amiga.
- Pode deixar. –
Márcia vai direto à letra “A”. Por mais que ela não gostasse
do marido de Suzana ela deseja não encontrar seu nome naquela lista
funesta. Mais a esperança se vai quando os olhos de Márcia
visualizam o nome. – André Dias. Morto! – Ela olha para sua
amiga aos prantos. – Suzana, você precisa ser forte. – elas se
abraçam e os soluços de Suzana são abafados.
FIM
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