A SOMBRA DO VINGADOR
Lobo caçando Lobo
Sentados numa mesma mesa, com as calças borradas estão o prefeito e o governador ouvindo atentamente o que Montanari tem a dizer sobre os novos rumos que possivelmente a cidade deverá tomar. Agora não adianta mais tentar reverter o quadro. Gabrielle Montanari assumiu de vez o controle e poderá agir livremente.
- Eu estou para receber ainda hoje um carregamento de cocaína pura, se os senhores abrirem espaço e permitir que meu negócio seja feito sem a intervenção da polícia tenho certeza de que os maiores beneficiados serão vocês.
- Valerá a pena essa vista grossa? – falou o governador.
- E o que o senhor governador julga valer a pena? – cruzou as pernas.
- Penso eu que não estamos lidando com um amador, eu tomei a liberdade de conhecer o histórico da família Montanari, seu pai foi sem dúvida um baita negociador.
- Senhor governador, não preciso que ninguém e principalmente o senhor bajule meu pai, preciso apenas que diga quanto vai querer?
- Que tal dois milhões?
- Em sua conta pessoal? – sorriu.
- Não. Anote.
*
Carol o surpreendeu por trás quando Bruno terminava de polir o carro na garagem. Ele se assustou, ficou irritado, mas ao receber o carinho da namorada o agente relevou a brincadeira irresponsável.
- Não se assusta um policial, ainda mais sendo esse cana Bruno Junior.
- Não atiraria em mim, atiraria? – segue abraçada e beijando as costas nuas de Júnior.
- Tiros de beijos. – se virou e a beijou.
O beijo foi longo, gostoso, coberto de sentimentos. Júnior fechou os olhos e quando os abriu Carol estava num estado cadavérico, com um corte profundo na região do pescoço.
- Você está demorando muito. Meu espírito não encontrará sossego enquanto você não matar aquele maldito. – disse a zumbi.
Bruno abriu os olhos e olhou para o para-brisa. Dormiu no carro mais uma vez e agora seu corpo pagará caro por ficar numa mesma posição durante horas. Bocejou e conferiu o relógio. Seis e meia, melhor dá as caras no DP, mas antes um café cairia muito bem.
Um sujeito passa de moto e assalta a todos que estão no ponto de ônibus. Dinheiro e celulares foram recolhidos e colocados na mochila. Assim que terminou a ação o marginal deu meia volta e pegou uma rua secundária se chocando com a Fiat uno de Júnior. O tombo foi feio.
- Nada como um dia após o outro, não é Fabinho. – desceu do carro apontando sua Glock. – o que houve, machucou a perninha?
- Me deixe em paz. – falou gemendo.
- Vamos, eu te levo para o hospital.
- Sem essa cara.
- Joga pra mim a sua arminha de brinquedo.
- Ah, como assim? – disse segurando a perna ferida.
- Fabinho, eu te conheço, já te prendi algumas vezes e sei que você pratica assaltos usando arma de brinquedo.
- Ah é, vai me prender de novo?
- Claro que não. Tive uma ideia melhor. – guardou a arma. – vamos, entre no carro.
- Eu não vou.
Bruno Junior deu a volta e olhou para o final da rua. Ninguém no momento estava passando. Olhou para as janelas das casas e prédios. Pegou o assaltante pela perna machucada e o arrastou até o carro. Aos berrou Fabinho foi socado dentro do veículo sob ameaças.
- Vamos passear no bosque e colher morangos juntos.
- Você vai me matar, não vai? – perguntou chorando.
- Fica quieto vagabundo. – socou o peito. – aperte o cinto.
*
Três caminhões lotados com drogas que serão distribuídas nos guetos, favelas e por que não dizer mansões. De dentro do carro Gabi faz as devidas conferências antes de terminar os trabalhos.
- O acesso está livre, podem seguir. – falou ao celular. – eu já fiz a transferência para as empresas do governador e do prefeito, eles são nossos, aliás, a cidade é nossa. Vamos avançar.
Foi um processo brutal e sem interrupções. Cocaína pura. A cidade ficará um pouco mais perigosa, cada vez mais carregada por viciados capazes de tudo por qualquer grama do pó da morte. Uma cidade fora de controle e tudo com a conivência dos governos estadual e municipal. Para evitar qualquer tipo de ação contra sua vida, Gabrielle Montanari preferiu ficar dentro do carro acompanhado por alguns seguranças armados. O serviço foi finalizado e agora resta o mais novo chefe da cidade aguardar o resultado, ou seja, o caos.
- Me tirem logo daqui. – falou ao motorista.
*
Fabinho o assaltante de meia tigela. Fabinho, um merda que leva o terror a quem aguarda a condução num ponto de ônibus as quatro da manhã para ir trabalhar. Uma pobre alma que não conseguiu agarrar as oportunidades que a vida dá a todos e que preferiu tomar de quem não tem. Foi preso algumas vezes e por cargas d'água conseguiu sair antes de cumprir sua pena. A justiça é assim mesmo, coloca na rua quem deveria estar trancafiado numa jaula. Do que adiantaria levá-lo para o DP? Antes do anoitecer ele já estaria nas ruas cometendo novos roubos e perturbando a ordem. A melhor coisa a se fazer é dá cabo a essa vida miserável. Um tiro no peito. Tudo acabado. Um vagabundo a menos nas ruas. Adeus Fabinho.
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