terça-feira, 10 de dezembro de 2019

A Sombra do Vingador - Parte 3


A Sombra do Vingador
Lobo caçando Lobo


Agora que Gabrielle Montanari é praticamente o senhor absoluto da cidade a missão suicida de Bruno Junior se tornou algo intangível e ele sabe disso. Mas o que importa para um sujeito como Bruno é somente o que ele tem em mente. Vingança. Normalmente pessoas nutridas por esse tipo de sentimento não conseguem enxergar o que está a sua frente e nem o que se encontra ao seu redor. Tudo que ele quer e meter uma bala na cabeça de Montanari e pronto, missão concluída com sucesso.
     Depois de matar o assaltante, Bruno se enfiou em seu Fiat uno e voltou para o DP. Pensa que rolou algum remorso por ter interrompido mais uma vida? Lógico que não. Fabinho não fará falta alguma ao mundo, pelo contrário, sua retirada do meio dos viventes foi providencial. Assim que pisou na recepção do DP o policial recebeu uma enxurrada de novas informações sobre o seu mafioso predileto.
     - Me parece que teremos bastante trabalho para os próximos dias. – jogou o jornal no peito de Bruno.
     - Bom dia pra você também Alexandre.
     - Alguém precisa frear Montanari.
     - Ou eliminá-lo de vez. – dobrou o jornal e andou até sua mesa.
     - Como assim? Gabrielle é praticamente intocável, a essa altura até mesmo o presidente da república já deve estar nas mãos dele.
     - O que houve com você Alexandre? Por um acaso você perdeu os culhões? Monte uma mega operação e vamos lá pegar o carcamano.
     Alexandre Cerqueira precisou se conter para não aplicar uma advertência em Júnior, porém ele sabe muito bem com que tipo de policial está lidando, Bruno Junior não daria a mínima para a repreensão de seu superior.
       - Essas coisas não são resolvidas assim, agente Bruno. Sei que você tem sede em vê-lo preso ou morto, mas te digo, tudo tem sua hora.
       - Tudo bem então. – passou pelo chefe.
       - Onde pensa que vai, eu ainda não acabei.
       - Enquanto você aguarda a hora certa, eu vou lá pegar o carcamano.

*

      Montanari pai estaria orgulhoso se estivesse vivo. O filho caçula da família conseguiu alcançar em pouco tempo o que seus antecessores não conseguiram em décadas. Em uma de suas mansões Gabrielle reuniu ao redor da mesa pessoas do alto escalão da cidade. Empresários, políticos e aliados. Um jantar regado a vinho, frutos do mar e garotas em pequenos trajes os servindo.
       - Um brinde a nova era. – ergueu sua taça.
       - Montanari. – chamou atenção um de seus aliados. – ouvi dizer que aquela negrinha possui uma boca de veludo. – apontou para uma garota negra de cabelo Black.
       - O que disse? – apertou os olhos.
       - Que aquela negrinha tem...
       - Talita, o nome dela é Talita, entendeu, senhor Cosme?
       - Me desculpe, eu...
       - Não peça desculpas a mim, vá até ela e se ajoelhe, vamos.
       - Aí o senhor já está exagerando.
      Gabrielle sacou sua arma e a apontou para a cabeça do sujeito engravatado deixando a todos com vontade de desaparecer daquela sala de jantar. O homem engoliu seco e se dirigiu até a menina ofendida por ele. Os convidados acompanharam o ato em total silêncio e só depois que o mafioso guardou sua arma no paletó eles puderam voltar a respirar.
      - Ótimo, Senhor Cosme, volte e termine seu jantar. Que isso sirva de exemplo para todos, na gestão Montanari não será permitido qualquer tipo de descriminação, todos entenderam?
      O sim foi unânime e sem hesitação. Eles brindaram e logo após o jantar puderam saborear as garotas. Coube ao chefe se retirar para o seu escritório e iniciar uma série de planos para seus associados. O primeiro passo a ser dado é executar os possíveis traidores e até mesmo os prováveis. O dia seguinte será intenso.

*

     Carol foi a mulher da vida de Bruno. Com certeza foi. Carinhosa, dedicada e principalmente compreensiva. Nem todas as meninas estão dispostas a dividir a vida com um sujeito linha dura e barra pesada como júnior. Se estivesse viva Carol já teria mudado o rumo do policial a muito tempo. Vê-la morta, jogada num monte de lixo podre foi complicado demais. Bruno Junior já havia visto outros cadáveres numa mesma situação, porém quando se trata de alguém próximo o coração reage de outra forma. Aquela noite ficara marcada com sangue. Dentro do carro parado num semáforo o policial reflete sobre sua vida, se realmente vale a pena remoer esse sentimento. De repente a seu lado sentada no banco do carona está Carol, linda, toda de branco mostrando seu sorriso encantador.
      - Oi, meu Ogrinho.
      - Oi, princesa, estou com saudades.
      - Eu também. – passou a mão no rosto do namorado.
      - Nós tínhamos planos, lembra? – as lágrimas descem.
      - Sim. Não fique assim. Você é o meu Ogro, meu vingador. Pare de adiar o plano e vá lá cabaré com Gabrielle Montanari. – acertou um tapa no rosto de Bruno que voltou para a realidade onde outros veículos buzinam.
     - Foi mal. – acelerou.

*

    Sangue pelo chão. Gritos de dor e pânico e um olhar vazio, desprovido de piedade. Gabrielle aguarda que seu capanga termine de arrancar o último dedo de um homem amarrado em sua cadeira.
     - Não tenha pressa Henrique, sei que o polegar e o mais difícil de ser cortado. – falou se servindo de conhaque.
      Aos berros o sujeito tem o dedo arrancado por uma faca de caça e jogado no aquário. O sangue jorra feito um chafariz e Montanari parece se divertir vendo toda aquela situação.
     - Ótimo. Só assim esse bosta não assina mais nada que possa me comprometer.
     - Gabrielle. – disse gaguejando. – não precisava fazer isso, bastava uma conversa.
     - Sério? – tomou um gole da bebida. – e quantas conversas já tivemos e nada mudou? Você é um traíra, tem sorte de eu não mandar Henrique enfiar essa faca em sua nuca.
     - Pelo amor de Deus, eu estou do seu lado. Como posso jurar lealdade?
    - Hum, vejamos, deixando Henrique cortar uma de suas orelhas.
    - O que, como? Isso seria terrível.
    - Lealdade, senhor Valmir, eu preciso de sua lealdade.
     Minutos depois Montanari pede para que seu motorista pare. Ele abaixa o vidro e chama um cachorro de rua.
      - Oi totó, está com fome? Toma aqui. – jogou uma orelha para o animal que a devorou rapidamente.


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