A chegada ao departamento
de polícia não poderia ser pior. É incrível como os veículos de comunicação são
rápidos nos assuntos polêmicos ou naqueles que possam gerar visibilidade e
venda. A aglomeração não era somente na entrada do DP, mas ao redor dele também.
Para onde quer que se olhe, lá está um profissional de imprensa se virando como
pode para tentar cobrir o fato. Há também pessoas comuns fazendo seus registros
com seus celulares. Tudo por visualização, tudo por um like. É isso que move
essa nova geração. Foi preciso cautela por parte das viaturas ao acessar a rua
de trás ao entrar na garagem.
-
Vai falar com a imprensa,
senhor? – Paulo Alves olhava atentamente pela janela do carona.
Damião esfregou o rosto.
-
E se eu disser que não quero?
-
Se o senhor quiser, eu posso...
-
Não! Deixe isso comigo. Eu
quero que você entre e comece a colher informações. Dependendo do que conseguir
voltaremos lá ainda hoje.
Alves anuiu.
*
Antes de encarar os
microfones o chefe de polícia de Luzia correu até o banheiro. Lavou o rosto.
Retirou o colete a prova de balas. Ajustou a gravata e acertou os cabelos.
Dentro do bolso o telefone vibrou. Shirley.
-
Parabéns, xerifão!
Ouvir a voz da mulher
amada foi como um bálsamo. De repente tudo se tornou mais leve.
-
Ah, obrigado. Estamos apenas no
começo. E as meninas?
-
Karina segue enrolada com os estudos e Maiara...
Ramos encostou na porta.
-
O que tem, Maiara?
-
Acho que ela anda conversando com o tal de Rogério.
Damião respirou fundo e
depois soltou o ar, Shirley já conhece bem esse tipo de reação.
-
Caramba! Ela vai acabar grávida
desse sujeito. Mais tarde eu passo ai.
Shirley se sentiu
culpada. Ela não queria encher ainda mais a cabeça do ex marido com isso.
-
Damião, eu posso cuidar de tudo por aqui. E você, trate de pegar logo
esses marginais.
O delegado teve que rir da intimação.
- Copiado, senhora capitã.
- Mas, eu gostei da ideia de
você passar aqui mais tarde.
*
Um dos atiradores de Urso
foi conduzido até a sala reservada para interrogatório nos fundos do
departamento sob os olhares furiosos de dois agentes uniformizados. Ele tem às
mãos algemadas para trás e mantém o tempo todo a cabeça baixa.
- Entre ai, vagabundo. – disse um deles.
- Só irei falar na presença do meu advogado. – empacou.
Paulo Alves já
encontrava-se sentado, dedos entrelaçados e com uma expressão pouco amistosa.
- Vai mesmo fazer isso, não conversar?
O marginal encarou o
policial por alguns segundos e depois deixou os ombros caírem.
-
O que vou conseguir com isso? –
terminou de entrar.
-
Não sei! Vai depender muito. No
caso, se você disser exatamente onde seu chefe se esconde, eu posso tentar uma
redução, ou...
-
Ou?
-
Posso conseguir que cumpra sua
pena fora da cidade. Seria uma boa não cruzar com rivais na cadeia, não é?
O sujeito foi algemado na mesa de tampo de
aço inoxidável.
- O senhor dá a sua palavra?
- Vamos lá, jogador, sou sua melhor chance.
- Ah! Dane-se. Vou falar.
*
A cadeira espatifou em
milhares de pedaços o espelho do bar perto do freezer vertical de uma marca
famosa de cerveja. Fabiana assiste sem poder fazer nada o ataque de fúria do
marido e tudo isso por causa de Dinho. Ela nunca desejou tanto a morte do rival
de seu esposo.
-
Como assim, ele pegou todo o
dinheiro?
-
Temos que descobrir quem
facilitou para ele. – criou coragem para falar.
-
Eu não acredito que fui traído.
– pegou outra cadeira e a arremessou contra às garrafas que restaram em
exposição no bar. – em memória do meu sobrinho, Bruno. Eu vou destruir de uma
só vez Dinho McLaren, o traidor e...
-
Damião Ramos. – completou
Fabiana o abraçando por trás.
*
Enquanto seu inimigo
mortal se descabela e espuma de ódio, McLaren comemora com direito a champanhe
a fortuna que acabara de cair em seu cofre. Claro que para essa grande festa
ele contou com as meninas, pelo menos meia dúzia delas. Música de péssima
qualidade e em volume alto. Comida japonesa e massas encobrem a mesa, bebidas e
para não perder o costume: drogas.
-
Vamos lá garotas, tirem as
roupas e vamos dançar coladinhos.
Para que nada
atrapalhasse sua festinha, Dinho reforçou sua segurança nos arredores de sua
casa e escritório.
*
A paixão por si só já é
algo perigoso. Porém, quando ela se torna cega o problema toma proporções
muitas vezes difíceis e quase sempre irreversíveis. É exatamente esse tipo de
paixão que Maiara vem permitindo que seu coração seja facilmente dominado. Sua
cegueira é algo grave. Mais uma vez ela se encontra ali, no mesmo lugar de onde
saiu ferida e magoada. Rogério a prometeu Deus e o mundo e jurou por esse mesmo
Deus que nunca mais a magoaria.
-
Então! Estou perdoado? –
perguntou acariciando seu rosto.
Maiara bem que tentou
fazer jogo duro, se fazer de difícil, mas não resistiu a forte investida do
tatuado a sua frente.
-
Não sei! Acho que vou precisar
de mais provas.
Eles estão conversando a
horas no portão da casa dele. Ambos se desejam. Ambos se querem. Rogério só
estava aguardando o momento certo para levá-la para dentro do seu quarto.
-
Vamos subir?
-
Demorou!
*
Olhos arregalados.
Transpirações densas e continuas. Todos ali dentro daquela sala escura sentem a
mesma coisa: medo. Orlando Urso adentrou ao recinto acompanhado de sua esposa
que portava um GPS. A expressão de Orlando é de causar pânico em qualquer um.
-
Vocês já devem estar imaginando
por que o Guará é o único armado aqui dentro, não é?
Todos se entreolharam.
-
Guará é o meu homem de
confiança dentro dessa organização.
Guará traz na cintura uma pistola. Ele
também encontra-se apreensivo.
-
Fui roubado, aliás, fui traído.
Traidores não serão tolerados em minha casa. Minha mulher está aqui – apontou
para Fabiana. - e se um dia, ela cismar de me trair, eu a amo, mas, não hesitarei
em acabar com a vida dela.
Urso fez uma pausa e olhou nos olhos de
cada um comparsa.
-
Eu tenho o controle de todos os
meus veículos e esse GPS me chamou a atenção. – o tomou da mão da esposa. –
exatamente no dia do sumiço do dinheiro, horas depois, foi verificado que ele
percorreu uma rota diferente, mas conhecida. – Orlando girou nos calcanhares e
olhou para Guará. – o que foi fazer na área do McLaren?
Guará deu um passo para trás.
-
O que?
-
Foi você, não foi? – apertou as
mandíbulas.
-
Calma ai, Orlando...
-
Traidores não serão tolerados
em minha casa. Pegue sua arma e exploda seu crânio. Agora. – sibilou.
-
Ah? – abriu os braços.
-
Vou abrir a contagem e quando
eu chegar no dez, espero que você já não esteja mais nesse mundo. Um.
Guará sorria de nervoso.
-
Não pode estar falando
sério.
-
Dois.
Todos se espremiam entre si.
-
Três.
-
Qual foi, Urso, eu...
-
Quatro.
Fabiana não sabia para
onde olhar. Tudo o que ela queria era desaparecer daquela sala.
-
Cinco.
-
Merda, Orlando, vamos
conversar, só você e eu...
-
Seis.
-
Eu não farei isso. – vociferou
.
-
Sete.
-
Por favor, Orlando, eu posso
explicar...
-
Oito.
Os homens sentiam o
coração bater no cérebro. A situação piorou ainda mais quando Guará resolveu
chorar implorando pela vida.
-
Mais que merda, Orlando. –
pegou a pistola. – precisa mesmo ser assim?
-
Nove.
-
Deus! – a saliva escorria pelos
cantos da boca.
Fabiana apertou os olhos
e segundos depois ouviu-se o disparo. Ela olhou e ainda havia no ar uma nuvem
rosada pairando. Guará estava morto.
-
Dez. – murmurou.
Orlando Urso deixou a sala limpando seu
rosto.
-
Vamos, Fabiana.
*
Para uma profissional
competente como Janaína Lopes, os últimos acontecimentos em sua cidade natal é
algo a ser ainda mais valorizado, mais caprichado. Por isso, como uma boa
jornalista que é, ela faz questão de enaltecer o belo trabalho que a polícia vem
fazendo ante ao combate ao crime organizado. E por ser companheira de um desses
heróis, muitas vezes injustiçados, ela precisa e quer desenvolver um belo feito
na redação do jornal onde é colunista. Sentada a frente do computador Janaína
procura no Google às melhores imagens de Paulo Alves e do delegado Damião
Ramos.
-
Essas estão boas.
Seu supervisor parou bem ao lado de sua
mesa colocando os óculos de leitura.
-
“Os guardiões da Luzia"
interessante.
-
E ai, gostou da chamada,
chefão?
-
Está preparada para receber as
pedradas que virão?
Janaína girou a cadeira.
-
O povo precisa entender que, só
não estamos pior porque homens como Damião Ramos e Paulo Alves ainda lutam
bravamente, quase sempre sem apoio, sem reconhecimento ou recursos algum.
O homem alto, magro e de poucos cabelos
pôs às mãos na cintura.
-
Verdade. Imagina ter que sair
de madrugada ou voltando para casa tarde da noite e ser abordado por bandidos?
Tudo o que eu mais vou querer nesse momento é uma viatura dobrando a esquina.
Janaína encolheu os ombros.
-
Então! Com base nisso é que
farei sim um baita artigo homenageando esses caras.
-
Vá em frente. – bateu em seu
ombro.
*
O atirador permaneceu
detido no DPL mesmo depois da longa conversa com Alves e em seguida com Ramos.
Não se pode confiar cegamente nas palavras de um bandido, ele pode muito bem
estar armando uma arapuca, por isso Damião Ramos voltou a se reunir com o grupo
para discutir e traçar novos rumos para a operação Rolo compressor.
-
Seguinte, rapazes. Temos o
local onde Urso provavelmente mora e coordena toda a organização. Temos também
nomes como Guará e Fabiana.
-
Essa é a esposa. – Paulo
mostrou-lhes uma foto. – uma gata por sinal.
Todos concordaram.
-
Segundo o rapaz que prendemos,
partiu dela a ideia do roubo ao carro-forte. – Ramos sentou-se na ponta da
mesa. – e essa carga já não se encontra mais com Orlando Urso. Foi roubada por
Dinho McLaren, ou seja, o negócio é feio minha gente.
-
E chefe, como será nossa
atuação daqui pra frente? – perguntou um dos agentes.
-
Pra mim já chega. A Rolo
compressor atuará do jeito antigo. Vamos meter o pé na porta e arrancar esses
vagabundos dos buracos.
Eu tenho lido muitas coisas mais esta série Linha Policial crime em Guerra | Capítulo 5
ResponderExcluirÉ netflix puro parabéns muito boa parabéns!