FRENTE
FRIA
Central de meteorologia. Duas da manhã. Uma
movimentação atípica entre os técnicos. Depois que o satélite identificou uma
anormalidade vinda do oceano, o entra e sai da sala onde ficam os monitores se
tornou algo comum para a maioria dos funcionários. O chefe dos monitores anda
de um lado para outro com as duas orelhas ocupadas pelos aparelhos celulares
tentando explicar algo que ele mesmo não sabe.
— Governador,
nós ainda estamos colhendo dados, não posso lhe adiantar nada, infelizmente.
Um dos
técnicos com pinta de nerd, digita e analisa as informações que chegaram a
poucas horas. Seus olhos azuis por trás dos óculos fundo de garrafa vão aos
poucos ficando cada vez maiores. Ele engole seco e olha para o seu superior
ainda de pé conversando com o governador.
— William.
— Tudo
bem, senhor governador, assim que soubermos o que está acontecendo o
informamos. – desligou. – diga. – se inclinou.
— Essa
massa de ar polar é algo que está fora das dimensões, veja. – girou o monitor.
— Céus!
— Ela é
maior que as convencionais, quase mil vezes, o nosso país não suportará todo
esse frio.
— O que
você está dizendo garoto? – perguntou ainda olhando para a tela do computador.
— Não se
trata de uma frente fria comum. O que eu estou querendo dizer é que o que estar
por vir foge do nosso controle e também do nosso entendimento.
— Meu pai
do céu. – se ergueu e enterrou as mãos nos bolsos. – saberia me dizer em quanto
tempo esse fenômeno poderá chegar? Precisamos alertar as autoridades.
O nerd
girou a cadeira ficando de frente para o computador. Enquanto o funcionário fazia
a análise completa quanto a estimativa da velocidade da frente fria, os
murmúrios e sons de telefones tocando formavam a trilha sonora dentro daquele
ambiente. Depois de vários cliques, finalmente uma posição.
— Segundo
os cálculos, a frente fria deve estar chegando dentro de uma semana.
William
xingou alto alarmando toda equipe. Se em dias normais o líder costuma ser temperamental,
intragável, um idiota para a maioria de seus liderados, em dias em que os
ânimos estão todos aflorados onde ninguém sabe o que está acontecendo, ele costuma
ser uma figura indesejável dentro daquele metro quadrado.
— Não é
tempo suficiente para preparar a população.
Se todos
dentro daquela central pensavam que não poderia piorar, erraram gravemente.
William esbravejou e agitou seus subalternos que se acotovelaram buscando uma
solução. Cansado, apavorado e com sono, William deixou a estação dos monitores
e entrou em sua sala. Se jogando em sua cadeira ele se permitiu relaxar um
pouco, mas isso não durou muito tempo, em seguida sua assistente bateu na porta.
— Telefone
para o senhor na linha um.
— Na linha
um? – abriu os olhos.
Sua
assistente, uma mulher alta, magra, fora dos padrões das mulheres do país, uma
pessoa totalmente diferente de William. Suelen é o outro lado da moeda, costuma
ser a pacificadora em momentos de crise.
— É
exatamente quem você está pensando.
William se levantou num salto de sua
cadeira. Passou por Suelen balbuciando algo parecido como, deseja-me sorte. Chuva
forte, chuva fina, chuvisco, sol, calor, tempestade, tromba d’água, William
está acostumado a lidar com esse tipo de fenômeno e não com essa coisa que se
aproxima rapidamente do país. Ele passou pela central esbarrando nas pessoas
sem pedir licença ou desculpas, típico dele mesmo. Atravessou salas e salas e
entrou em outra um pouco mais silenciosa. O telefone estava fora do gancho.
Respirou fundo duas vezes e atendeu.
— Bom dia,
senhora presidente.
*
Trabalhar pesado durante o dia numa lanchonete e a
noite ainda ter que encarar quatro horas de aula na faculdade, essa é a árdua
realidade de muitos jovens no país. É claro que nem todos estão dispostos a
fazer tal sacrifício, mas garotos como Marcelo Garcia que querem mudar o curso
de sua vida, se entregam sem medir esforços. Por isso que as oito da manhã ele
já se encontra atrás do balcão, esbanjando simpatia anotando os pedidos dos
clientes.
— Dois pães
na chapa e um café com leite?
— Pouco
café, por favor. – alertou a senhora.
— Pode
deixar. – destacou a folha do bloco e a pendurou onde ficam as comandas. –
próximo.
Marcelo
Garcia quer ser jornalista e isso não é negociável. Ele adora jornalismo,
principalmente o investigativo, por isso Roberto Cabrini é a sua inspiração. Sua
mãe está desaparecida desde quando Marcelo ainda era uma criança. Seu pai
Rodolfo o abandonou desde quando tudo isso aconteceu. Marcelo mora sozinho num
apartamento tão pequeno que mal cabe suas coisas. Infelizmente não há harmonia
entre pai e filho, Rodolfo Garcia é sim um homem difícil de se conviver, depois
do desaparecimento de Fátima a situação só piorou. Marcelo evita ao máximo
entrar em discussões com o pai, isso lhe causa um desgaste desnecessário e não
o leva a lugar algum. Rodolfo Garcia não mudará nunca.
Quando as
coisas acalmaram na lanchonete, Marcelo deu uma rápida olhada na sala do
gerente que se encontrava falando ao telefone. Andou até os fundos perto da
saída da cozinha. Sacou seu celular e ligou pra seu amigo e parceiro.
— Bom dia,
João, alguma novidade?
— Fala
meu mano, veja bem, não há registro em nenhum hospital da cidade. Está
aliviado?
— Pelo
contrário.
— Essa
sua busca pela verdade está tomando dimensões gigantescas, daqui a pouco
teremos que interrogar seus parentes ou até mesmo o seu pai.
— João,
ninguém desaparece sem deixar rastro. Do jeito que meu pai fala parece que
minha mãe sumiu do mapa e eu sei que ele está mentindo. Temos que continuar com
as investigações. – olhou para o balcão onde havia uma cliente. – vou desligar,
segue aí, qualquer coisa me chama no WhatsApp.
— Você
manda chefe.
Marcelo
nunca vai engolir o fato de simplesmente seu pai falar que sua mãe sumiu e que
nunca mais foi vista por ninguém. As pessoas não somem assim. Já se passaram
anos sem notícias de dona Fátima. Marcelo só quer a verdade, nada mais que a
verdade nem que para isso ele tenha que desenterrar coisas obscuras que ficaram
no passado.
*
William se enfiou dentro de um paletó, ajeitou os
poucos cabelos que lhe restaram, tirou uma sujeira no canto do olho direito e
correu para a central. Conferiu o horário e assim que passou pelo corredor
principal ele pode ver a comitiva presidencial chegando. O nervosismo o fez
sentir um ligeiro mal estar. Suelen veio ao seu encontro.
— Você está
bem?
— E por que
não deveria estar?
O jeito
William de ser, Suelen já está mais do que acostumada. A porta se abriu e meia
dúzia de homens engravatados, com suas expressões fechadas entraram se
colocando em posição. Em seguida uma mulher mediana, morena, bem vestida num
terninho formal, sem muito exagero na maquiagem entrou desejando bom dia a
todos os presentes. William se impressionou com o fato de Glória Teles ser mais
bonita pessoalmente.
— Bom dia,
senhora presidente.
— William
Freitas, acertei?
— Isso.
— Que bom,
eu sempre erro os nomes. Bom, vamos aos trabalhos, me diga, que ameaça é essa?
Uma hora
depois a presidente saiu da central de meteorologia marcando uma reunião de
caráter emergencial com todos os ministros e principalmente, repassando mentalmente
seu pronunciamento.
— O caso é
gravíssimo. – falou com o ministro da defesa pelo celular. – e se não agirmos
logo o país inteiro será devastado.
*
Ser um jornalista investigador, auxiliar a polícia nos
casos mais complexos, ser uma referência para outros que virão depois dele,
esse é o objetivo de Marcelo Garcia. Sentado naquela cadeira universitária ele
já imagina o seu nome escrito nas páginas dos maiores jornais do mundo, Marcelo
Garcia, repórter investigador acumula prêmios e é disputado pelos maiores meios
de comunicação. Sonhar não custa nada não é mesmo? Porém Marcelo só estará
realizado quando em fim puder jogar o capelo pro alto e gritar.
— Formado!
Este é um
dos problemas em sonhar acordado, Marcelo soltou um grito na hora da explicação
fazendo todos saltarem de suas cadeiras.
— Qual foi
mano. – disse João Batista. – dando mole aí?
— Eu, eu
estava viajando.
— Na hora
da aula? O professor explicando uma matéria complicada e você viajando?
— Foi mal.
– olhou para o professor. – desculpa aí, mestre.
As vinte
duas horas todos foram liberados, final de mais um dia de faculdade. Marcelo e
João Batista descem juntos falando sobre o caso do desaparecimento de dona
Fátima.
— Precisamos
de mais informações, quando seu pai virá te ver?
— Ele
ainda não me ligou.
— Quando
isso acontecer, tente arrancar dele coisas como, o último lugar onde eles
estiveram, qual roupa ela usava, quem estava com eles, saca?
— Deixa
comigo.
Conseguir
conversar com o pai já é por si só um milagre, imagina tirar dele qualquer
informação sobre o dia do desaparecimento de sua mãe, seria quase que desvendar
segredos da CIA. Infelizmente Rodolfo não é uma pessoa fácil de se lidar, ainda
mais depois do que aconteceu, ele se fechou por completo.
—
Precisamos refazer o caminho deles. – retomaram a caminhada. – para isso eu
tenho que saber o ponto de partida, entende? – João estalou os dedos.
— Entendi.
Vamos comer alguma coisa?
*
Durante sua campanha eleitoral, Glória Teles adotou um
discurso um tanto quanto materno. Cada vez que subia num palanque ela fala como
se fosse uma mãe dedicada a criação dos filhos. Hoje, eleita e empossada
presidente do maior país da América do Sul, Glória precisa de fato fazer valer
o seu discurso. Desde quando soube a fundo do que está para acontecer ela não
parou sequer um minuto e no momento ela está reunida com seu vice e também com
o ministro da defesa.
— Essas
frentes frias normalmente se formam no oceano, porém nada sabemos sobre onde e
quando se formou. – relatou o ministro.
— De
qualquer forma precisamos deixar a população em alerta. – emendou o vice
presidente.
— Calma. –
falou por fim Glória. – farei um pronunciamento hoje. Preciso que a defesa
inicie o plano de evacuação.
— Evacuação?
A senhora tem ideia do que está falando? Esse país tem dimensões continentais,
não será tão simples.
— Obrigado
por me lembrar. – jogou a caneta em cima da mesa. – o diretor do centro
meteorológico me disse que o fenômeno levará alguns dias para chegar. Se
começarmos a evacuação o quanto antes, creio eu que daria para salvar muitas
vidas.
— Senhora
presidente, me desculpe, mas quais os países estão dispostos a receber em massa
o nosso povo? – questionou o ministro.
— Graças a
Deus o nosso país é amigo. Farei contato com os líderes, assim que eu tiver o
sinal verde faremos os deslocamentos.
A reunião
terminou, mas é claro que a preocupação é nítida em cada rosto. Nessas horas
não há cargos e nem títulos, somente o ser humano puro e frágil aparece. Glória
se permitiu ficar sozinha, porém tudo que ela mais queria era poder subir no
avião presidencial e voar até a casa de sua mãe, passar a noite no colo dela.
— Pare com
isso, Glória, você tem uma nação para salvar.
*
Rodolfo Garcia, um homem atormenta pelos fantasmas do
passado, um sujeito frio, nada é capaz de penetra em seu coração, nada lhe
comove. Nem sempre foi assim. Quando Rodolfo conheceu Fátima ele era um rapaz
adorável, tranquilo, tinha a paz como seu lema. Ele mesmo não sabe o que
ocasionou para que sua vida se transformasse nesse inferno que é hoje. Morando
sozinho, distante do único filho que insiste com a história de desvendar o
sumiço da mãe, Rodolfo vem vivendo dias onde sua reputação diante de Marcelo é
colocada em cheque, não é fácil conviver com ele em meio essa hostilidade.
No fundo
todo ser humano precisa de uma estrutura sólida e a família é essa estrutura.
Rodolfo sente falta dos tempos onde Fátima e ele junto com o pequeno Marcelo
formavam uma. Eles eram felizes dentro do possível, Rodolfo se esforçava para
mantê-los bem e confortáveis. Com o desaparecimento da dona de casa, a família
Garcia se fragmentou, não há amizade entre pai e filho, o que rege o que restou
da família é a desconfiança.
*
Os cabelos estão soltos e a maquiagem não chama muito
atenção. Melhor assim, o momento não é favorável para exibir sua beleza diante
das câmeras de TV. Tudo o que Glória Teles quer é salvar vidas o quanto antes.
Fazer um pronunciamento a nação nunca foi tarefa fácil para ela e olha que nem
quando apresentava programas matinais ela ficava tão nervosa. Claro, hoje a
situação é bem diferente. Ao invés de entrevistas com celebridades, culinária,
denuncia, hoje a jornalista tem sob seu comando um país e não três horas dentro
de um estúdio de televisão. Glória foi eleita por se auto declarar mãe do povo,
o dedo na ferida, a pedra no sapato dos corruptos. Porém a presidente não
contava com esse fenômeno arrebatador que ameaça sua gente. Toda a sala
reservada para o pronunciamento se encontra lotada de jornalistas com suas
câmeras e microfones, gravadores aguardando a entrada da líder do país.
— Senhora
presidente, podemos ir? – perguntou um dos assessores.
— Sim,
claro, vamos terminar logo com isso.
Do outro
lado da tela os amigos Marcelo e João Batista assistem ao pronunciamento e além
disso tecem elogios a beleza natural da chefe do executivo.
— Que
gata, não é mesmo? – disse João.
— Olha só
quem fala, logo você que nunca gostou dos programas que ela apresentava. –
Marcelo colocou os pés em cima da mesa de centro.
— Uma
coisa não tem nada a ver com a outra, posso não gostar dos programas, mas que
Glória Teles é linda isso é inegável.
— Ainda
bem que eu votei nela, e você?
— Eu?
Claro que não. – riu.
Glória
assumiu o púlpito com a sala em silêncio. Tomou um curto gole da água e depois
pigarreou sob uma enxurrada de flash. Antes de começar a falar ela deu uma conferida
no papel, porém resolveu de última hora dispensa-lo. Nada do previamente
pronto, vamos ao natural.
— Irmãos e
irmãs, o momento é delicado. O nosso país se encontra diante de um fenômeno
jamais visto. Essa frente frio como os jornais já vem noticiando não se trata
de uma coisa passageira, ela não irá simplesmente fazer com que a temperatura
diminua. Não. Essa frente fria irá causar danos talvez irreversíveis, por isso,
como líder dessa nação, devo alertá-los quanto ao tamanho do nosso inimigo.
Marcelo e
João Batista aguçaram os ouvidos não acreditando no que a presidente estava
falando. Um apocalipse preste a destruir tudo que respira nesse país. Os amigos
se olharam e engoliram seco. Para Marcelo Garcia a situação é ainda pior, ele
precisa se encontrar com seu pai e tentar desvendar o sumiço de sua mãe antes
que tudo chegue ao fim. Na TV Glória Teles finaliza seu pronunciamento dando
uma palavra de esperança.
— Não
permita que o pânico tome conta. Desde já estamos tomando medidas emergenciais
de evacuação para países vizinhos.
João
Batista coçou a cabeça.
— Isso é
loucura. Nosso país tem cerca de 280 milhões de habitantes, como será essa
evacuação?
— Não sei,
só sei que algo precisa ser feito e ela... – apontou para Glória descendo do
púlpito. – está fazendo.
— E aí, vai
ligar para o seu pai? – desligou a TV.
— Lógico
que vou. – se levantou. – agora mais do que tudo preciso saber da verdade.
— E você
pode contar comigo sempre.
— Valeu meu
brother. – o abraçou.
*
Depois que a presidente fez seu discurso, as coisas só
pioraram para William dentro do centro de meteorologia. Ele e toda sua equipe
estão de mãos e pés atados, todos querem ao mesmo tempo respostas, prefeito,
governador, governo federal. Um rápido estudo foi feito por Felipe, seu
funcionário nerd e assim que foi concluído ele o levou até sua sala. Suelen
também aguardava sentada tomando café junto com William.
— Com
licença. – falou Felipe abrindo a porta.
— O que
foi? – William fechou os olhos.
— Quero que
os senhores vejam isso. – colocou os gráficos em cima da mesa.
— O que é
isso, vídeo game? – riu.
— Posso
explicar? – olhou para Suelen que assentiu. – bom, tomei a liberdade de estudar
os maiores fenômenos climáticos desde os chuviscos até os piores furações e...
— E chegou
a conclusão que essa frente fria reunirá tudo isso. – zombou William sendo
repreendido por sua assistente.
— Não,
senhor William, pelo contrário, essa frente fria é algo novo. Veja o gráfico.
Isso se formou ou está se formando em nosso oceano e agora pasmem, seu eu não
estiver errado, a mais ou menos a dez anos.
— O que? –
William se inclinou.
—
Exatamente o que ouviu, esse fenômeno vem tomando força a dez anos sem ninguém
perceber e agora que chegou ao seu limite foi captado pelos satélites.
Entendeu?
Suelen
tomou a liberdade de pegar o gráfico feito por Felipe e o analisou de ponta a
ponta. De primeira veio a admiração pelo belo trabalho feito por ele e em
seguida o espanto em saber que o que estar por vir pode em tempo recorde
destruir toda nação.
— Me diga
uma coisa meu jovem, o que fazer para parar esse apocalipse? – questionou a
assistente de William.
Intimidado
pelo olhar fulminante do chefe, Felipe perdeu toda a eloquência e passou a
gaguejar.
— Bom, é,
vejamos. – empurrou o óculos para trás. – a princípio não tem como pará-lo.
— Então,
senhor espertalhão. – William se levantou abruptamente. – o que sugere então,
temos mesmo que evacuar o país inteiro como disse a presidente?
Felipe
perdeu o chão, realmente ele não esperava esse tipo de pergunta. Como parar uma
catástrofe usando recursos humanos? Uma intervenção divina seria o ideal, mas é
claro, Suelen e principalmente William o esganariam e com toda razão.
— Posso
refazer o estudo, se quiser.
— Por
favor. – William apontou a saída.
Assim que
Felipe se ausentou da sala, Suelen assumiu o papel de advogada defendendo o
empenho do garoto e é evidente que foi duramente repreendida pelo líder. O
jeito William de ser.
— Teorias e
mais teorias, precisamos de prática senhora Suelen, de prática. Essa frente
fria virá e quando esse dia chegar não restará mais hierarquia, somente seres
frágeis tentando sobreviver.
— Mais uma
vez você está certo, William, porém deixe-me lhe dizer uma coisa. Assim como
Felipe, todos nós estamos trabalhando, só o que peço é um pouco de
reconhecimento de sua parte. Nessas horas o líder precisa agregar e não o
contrário.
Silêncio.
— Já
acabou? – William apontou a saída.
— Qualquer
coisa é só chamar. – saiu batendo a porta.
*
Assim que terminou de assistir ao pronunciamento da
presidente, Rodolfo Garcia sentiu a necessidade de ligar para o filho. Morando
sozinho em um prédio antigo, com sua frente não muito atraente, Rodolfo passa
boa parte do tempo diante ou da TV ou enchendo a cara num boteco sujo e
fedorento que fica no final da rua. Ele ama seu filho, seu único filho.
— Marcelo
deve estar precisando de mim. – falou procurando o celular.
Quantas
noites ele passou em claro pensando em como se reaproximar de garoto, em como
retomar aquela harmonia entre Marcelo e ele. Finalmente o mestre de obras
aposentado encontrou o aparelho, ele estava jogando perto do raque onde fica a
TV. Demorou um pouco até Garcia encontrar o número do filho, definitivamente
ele não tem intimidade com certos aparelhos.
— Marcelo,
filho, como vão as coisas?
— Pai?
Que surpresa boa, o senhor viu o pronunciamento?
— Vi sim,
não estou acreditando até agora. Quer vir pra cá? – se sentou na poltrona.
— Pai, o
senhor sabe, a minha faculdade, se eu for morar com o senhor ficará distante,
então...
— Marcelo,
meu filho, estamos perto de um fenômeno destruidor, não sabemos se iremos
sobreviver, do que vai adiantar a universidade diante disso?
— Pai.
Preciso que me fale o que aconteceu com minha mãe de fato. Se vamos todos
morrer, então que eu morra sabendo toda verdade.
Fiquei curiosa pela continuação!
ResponderExcluirAproveitando meu tempinho livre pra dar uma lida nos demais contos. Todos muito bons!
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