sexta-feira, 17 de junho de 2016

12 de Junho (série completa)


As horas passaram devagar. Roberta trabalhou o dia inteiro pensando no encontro com Mario mais tarde. Logo Roberta que sempre foi ansiosa, sempre sofreu antecipadamente. Quando adolescente ela viveu de um terrível mal chamado complexo de inferioridade. Para Roberta, todas as meninas de sua idade em seu bairro ou escola eram melhores do que ela. Talvez por que seus pais sempre foram religiosos conservadores e a criaram dessa forma até ela chegar a idade adulta. Hoje tudo é diferente, porém e o complexo diminuiu só um pouco. Roberta continua não gostando muito de maquiagem e ainda prefere o coque como forma de penteado. Tirando a cafonice, Roberta até que é bonitinha.

Fim de expediente, finalmente falta pouco para o encontro de sua vida. Será que hoje rola? Roberta corre para casa onde sua velha mãe a aguarda para a reza das seis. A moça de cabelos longos e loiros chega na humilde casa ofegante e louca por um banho.
- Betinha. - diz dona Helena. - mais uma vez você se atrasou para a oração, o que está havendo com você?
- Mãe, infelizmente hoje também não ficarei para o jantar, tenho um compromisso. - disse jogando as bolsas no sofá.
- Mas, Betinha, para onde você vai?
- Mãe, depois lhe explico.

Na porta do shopping Mario olha mais uma vez para o relógio em seu pulso. Olha também para a rua e nada de Roberta até agora. Mario é um jovem simpático com jeito de esportista, mas só no jeito mesmo. Estudante de direito, Mario pretende seguir a carreira de sucesso do pai como advogado. Na escola ele era disputado quase que a tapa pelas meninas. Quando conheceu Roberta, inicialmente eles eram amigos, Mario jamais imaginou se apaixonar por aquela garota sem graça com pinta de freira. Algo aconteceu e seu coração de repente se viu envolvido por ela. O que realmente incomoda Mario é justamente o estilo de Roberta. O coque é algo que ele não perdoará se ela vier com ele. Coque não.

Com muito sacrifício e depois de várias explicações, Roberta está na rua, com o habitual coque pra lá de perfeito. Graças a Deus o ônibus chegou logo. Meio atrapalhada ele sobe e com muita sorte havia um lugar vago. Vinte minutos depois ela desce no ponto a 500 metros do shopping e se encontra com Ana, uma colega da época de escola.
- Betinha, que surpresa, como você está?
- Bem, e você? - mal olha para Ana.
- Estou muito bem, e você sempre com esse jeito quietinho não é, está namorando?
Roberta ruboriza.
- Ainda não, estou indo para um encontro.
Ana aplaude empolgada.
- Que legal, mas você vai desse jeito?
Roberta torce a cara.
- Desse jeito como?
- Assim, sem nenhuma produção, e esse coque horrível!
- Bom, se ele realmente gosta de mim, terá que me aceitar do jeito que sou. - Betinha mexe nas unhas.
- Venha, vou dar um jeito rapidinho em você.

Ana leva Roberta para um canto vazio da rua. Saca da bolsa espelho, batom, algumas bases e maquiagem. Cinco minutos depois Roberta já está irreconhecível.
- Vamos soltar esse cabelo?
- Bom, tem certeza. - diz acanhada.
- Leoa, pronta para caçar. - ambas dão risadas.
Rapidamente Ana solta as madeixas e Roberta de repente se torna uma mulher linda, atraente e iluminada. Ela se olha no espelho e não se reconhece. As lágrimas desce.
- Não borre a maquiagem. - diz Ana sorridente. - agora você é uma nova mulher, vá lá e agarre seu gato.

Mario prende a respiração. Ele não acredita que Roberta lhe deu um bolo. Olha o relógio e começa a caminhar. À sua frente Roberta sorrir para ele desconfiada.
- Mario?
- Roberta? - engole seco.
- Estava indo embora? - abaixa a cabeça.
- Não, quero dizer, sim, sei lá. - segura no queixo da diva. - você está linda.
- Obrigado!
- Vamos entrar?
- Sim!

Foi um encontro maravilhoso, principalmente para Roberta que graças a Ana ela descobriu uma outra mulher dentro dela. Mario ficou satisfeito. Se ela viesse com o coque, com certeza esse encontro seria o primeiro e o último. No final da noite, no portão da casa de Roberta o encontro foi selado com um beijo apaixonado. FIM

Eternos namorados

Depois de vinte minutos procurando a chave do carro, finalmente Marcos a encontra embaixo das roupas jogadas no sofá. A casa é uma desorganização total, se Glória estivesse ali as condições da casa seriam outras. Logo no primeiro encontro Marcos se apaixonou pela mulher radiante de grandes olhos claros e cabelos incrivelmente negros. Conversaram um pouco antes do pedido chegar no restaurante e em seguida, após a sobremesa, o gerente de banco a pediu em namoro, coisa que Glória aceitou de cara. Se beijaram ao som de Elton John no volume médio.

Glória realmente era uma mulher a beira da perfeição, bem humorada, gostava do que fazia como dona de buffet. Como empresária gostava das coisas muito bem organizadas. Era independente e mesmo com a vida estabilizada, fazia planos para o futuro até que uma doença grave fez com que Glória parasse um pouco no tempo. Foi terrível. Ela não aceitou essa situação e precisou Marcos interferir.
- Vá se cuidar!
- Mais meu bem, e o nosso casamento?
- Ele vai acontecer fique tranquila. - a beija na testa.

Glória precisou ser internada. Viva chateada e só melhorava o humor quando seu grande amor a visitava. Ali, no quarto gelado do hospital eles faziam planos, organizaram as coisas para o casamento como, convidados, padrinhos, o buffet por que não o vestido. Glória sorria, brincava e beijava seu amado.

Marcos está pronto para mais uma visita. Seu carro passa pelos portões. Dessa vez ele trouxe flores, Margaridas, as preferidas de Glória. O dia é nublado, mas não importa. Dia doze de Junho, dia especial. Depois de alguns minutos andando lá está ela. Marcos passa o dedo na foto empoeirada de Glória em cima do túmulo.
- Bom dia meu anjo, feliz dia dos namorados, trouxe flores. - as deixa perto da cruz. - pois é, cinco anos sem você, cinco dias dos namorados sem sentir seu cheiro. Passamos pouco tempo juntos, mas valeu a pena cada minutos. Sinto sua falta, mas estou bem, queria que soubesse disso. - limpa as lágrimas. - eu já vou indo. Fique em paz.

Marcos deixa o cemitério e antes de entrar no carro ele alisa a aliança que reflete a luz fraca do sol. FIM

Meu ex

Um ano, apenas um ano sem ele. O motivo do nosso rompimento eu já nem lembro mais. Por mais que eu me esforce, não consigo me lembrar. Tudo o que sei é que a saudade bate forte machucando minha alma. As tardes de Sábado nunca mais foram as mesmas. Quando passo em frente ao shopping, me recordo dos momentos felizes que passamos ali. Compras, cinema e lanches. As noites de Domingo estão vazias e sem graça sem as piadas dele. O meu quarto se tornou um deserto sem a presença do meu Nando. Como esquecer tudo isso? Como deixar morrer momentos primorosos. O gosto do beijo já não sinto mais. Um ano sem ver aquele rosto cumprido de barba rala. 365 dias sem ouvir o “eu te amo” toda vez que nos despedíamos pelo telefone. Preciso me acostumar com a ideia de que Nando é uma página virada em minha vida. Infelizmente.

Doze de junho, dia dos namorados e eu aqui sem o abraço de Nando. Saio de casa e ando de pressa mesmo sem pressa. De cabeça baixa tudo que ouço é o som dos meus sapatos em contato com o asfalto. De repente levanto minha cabeça e dobrado a esquina vejo Nando vindo trazendo na mão esquerda meia dúzia de flores. Meu coração vem a boca e minha cabeça gira como um tornado. Diminuo o passo e sinto meu rosto queimar. Um ano depois. Nossa, ele cortou os cabelos e acho que tirou o aparelho dos dentes também. Está muito bonito. Faltando alguns metros para o impacto, ele dobra e entra em outra rua, mas antes disso ele acena rapidamente para mim. O que fazer? As flores não eram minhas.

Eu tento, juro que tento resistir em parar para ver quem é a nova namorada de Nando. Não resisto. Paro na esquina e vejo Fernando entregando as flores para uma menina que veio morar no bairro a pouco tempo. Chega, é muito torturante para mim assistir ao beijo. Antes que ele aconteça vou andando. Não chego a dar vinte passos quando escuto um “psiu”. Olho e é Nando atrás de mim com aquele mesmo sorriso safado de sempre.
- Oi? - digo.
- Como tem passado?
- Bem, e você? - pergunto entre os dentes.
- Ralando bastante. Você está indo para o curso não é?
- Sim, e por falar nisso estou em cima da hora. - nos olhamos. Encho os pulmões de ar e pergunto. - como vai o namoro? - Nando franze o cenho para mim.
- Namoro?
- Isso, namoro!
- Não estou namorando.
- Ué, e aquelas flores na sua mão, você as deu para a Gabi da outra rua, não foi? - Nando sorrir.
- Eu só as entreguei, estou fazendo um bico na floricultura como entregador hoje.

Sem graça me despeço de Nando. Que vergonha! FIM




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