sexta-feira, 10 de junho de 2016

A viagem do Medo

O terminal ferroviário costuma ficar deserto aquela hora da noite, ainda mais no inverno gélido da Europa. É possível contar nos dedos de uma mão as pessoas que ali esperam a chegada da composição. Enfiado em seu sobretudo preto está Antony, um cidadão pálido de cabelos lisos e bem cortados. Sem barba e sem bigode, Tony como é conhecido, faz o coração de qualquer donzela derreter. A cada respiração vapores saem de suas narinas e boca. O frio é infernal às quatro da manhã.

Os grandes olhos verdes e boca bem desenhada o deixam mais semelhante à pintura de um grande artista. Bonito, essa é a definição de Antony. Finalmente a composição chega quebrando o silêncio sepulcral da estação. As portas se abrem e Antony entra. Ele ocupa um acento preferencial para idosos, obesos e mulheres grávidas ou com crianças de colo. As portas se fecham. O trem dá a partida. Ainda está escuro, só é possível ver as luzes passando como borrões. Mesmo estando de luvas, Antony sente frio nas mãos. Uma senhora de aproximadamente 70 anos senta no banco a sua frente e começa a fazer crochê chamando a atenção do belo homem.

A velha continua a fazer sua arte quando uma crise de tosse a tira a concentração. Em seu pescoço cria-se uma veia grossa. Os olhos de Antony de verde se tornam vermelhos. Suas unhas crescem e ele saliva. Sim, Antony é um vampiro. Ele precisa se controlar para não voar no pescoço da senhora e sugar todo o seu sangue. Finalmente a velha para de tossir dando paz ao noturno.

Antony precisa chegar ao seu destino antes do amanhecer. Só de pensar na luz do dia ele se arrepia dos pés a cabeça. Novamente ele volta a se distrair com a paisagem. Uma menina de feições delicadas curiosamente se senta ao lado do vampiro. Antony se mostra impaciente e tenta não dar importância.
      - Oi! – a voz da menina é baixa e rouca.
      - Oi! – assim mesmo, seco.
      - Bastante frio não acha?
      - Um pouco. – continua com os olhos fixos na janela.
      - Pra onde está indo? – essa pergunta faz Antony bufar.
      - Quem quer saber?
      - Joana, prazer.
      - Antony.
      - Bonito nome, assim como você.
      - O que você quer menina? – Antony altera o tom de voz.
      - Que você coloque a mão aqui. – aponta para os seios. Antony fez o que você leitor fez agora, franziu a testa.
      - Isso é alguma brincadeira?
      - Não, falo sério, eu apostei com algumas amigas que eu convenceria você de colocar a mão nos meus seios, todas elas te acham um gato. – finalmente Antony sorrir.
      - Essas coisas só acontecem comigo, é só isso mesmo?
      - Só isso.
Antony sente que seu café da manhã será antecipado, Joana além de muito apetitosa é muito nova, isso indica sangue novo na parada.
      - Tudo bem então.
 A velha para de fazer crochê e contempla um homem apalpar os seios de uma menina, e na frente de todos. Que falta de respeito.

Antony sente em sua mão enorme os seios pequenos e duros. Seus caninos começam a crescer dentro da boca. De repente o vampiro solta um grito agudo e atormentador. Rapidamente ele retira a mão dos peitos da menina. Joana rir. Ele olha para sua mão e ela está queimada. A queimadura tem uma forma de cruz. A menina abre a blusa e além de mostrar o par de seios médios, ela mostra também o crucifixo com a imagem de Cristo nela.
        - Me ajude! – Antony solta grunhidos e sua mão começa a derreter.
A senhora fica apavorada ao ver tal cena. Joana rir e seu rosto toma feições de uma anciã de quase mil anos.
        - Vanuzzia, sua bruxa ordinária, como me encontrou?
        - Lembra, quando me colocaram na fogueira e eu jurei voltar para me vingar de você seu miserável, muito bem, se passaram 600 anos mais eu te encontrei, agora você vai para o inferno se juntar aos seus.

O corpo de Antony vai se deteriorando aos poucos assustando a pobre velha que não acredita no que seus olhos estão vendo. O cheiro é nauseante. A composição para na plataforma e Vanuzzia desce sorrindo, feliz por completar sua vingança. Ela olha para trás e só o que vê são as roupas pretas do vampiro fumegante. FIM      

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