sábado, 9 de julho de 2016

O aprimorado - Série completa


Ele passa despercebido por todos. Para os adultos ele é apenas mais um adolescente normal em busca de aventura e rebeldia. Salomão, esse é o seu nome. Enquanto caminha pela calçada, ele vai se protegendo da chuva com seu capuz cobrindo sua cabeça. Nas costas sua velha mochila de lona. A aula não foi boa, aliás, suas notas não estão lá essas coisas. Seu pai já lhe prometeu uma surra caso ele não passe de ano. Ele parece não se importar muito com isso. Em matemática ele tirou a pior nota da classe. Agora ele volta para casa com a folha do teste dobrada dentro do caderno.
          Antes de dobrar a esquina que dá acesso sua rua, Salomão para na padaria e compra chicletes. Seu hálito anda meio sinistro pra variar. Bom, agora que ele está munido de seu artifício para falar com as garotas, ele se dirige para sua casa com o estômago falando mais alto de fome. Já no portão de sua singela casa ele contempla Alice. Seu coração se desmancha como manteiga na frigideira quente. Seria a melhor imagem do dia se não fosse à pessoa de mão dada com ela, Joel, ou melhor, Fox.
          - Grande Saloma. – debocha Fox.
          - Fala, Joel.
          O garoto alto, branco e um pouco acima do peso deixa sua namoradinha de lado e se volta contra Salomão.
          - Como me chamou? – o segura pelo colarinho.
          - Gente, vocês não vão começar uma briga aqui na rua né, pelo amor de Deus. – Alice olha para os dois.
          - Mais respeito seu otário, meu nome é Fox, entendeu?
          - Tudo bem, já pode me colocar no chão.
          Fox e Alice deixam o pequeno Salomão parado no portão. Ele nada pode fazer contra o gigante ruivo. Fox é maior e mais forte. Ele é apenas um adolescente magro, moreno e baixo. Alice é seu sonho de consumo faz algum tempo. Tudo o que ele mais quer é provar de sua boca. Chega de sonhos impossíveis, hora de voltar para a realidade chamada Samuel, seu pai.

***

          Samuel está ao celular vociferando. Desde quando resolveu trabalhar em casa administrando sua empresa o cotidiano da família Braga mudou muito. Salomão tenta passar sem que ele perceba. Em vão.
           - Salomão, espere. – a voz de seu pai fez sua espinha congelar. – sente-se, por favor.
           - Oi, pai. – se joga na cadeira acolchoada.
           - Quero ver seu caderno.
           - Qual foi pai?
           - Que vocabulário é esse Salomão? – retira os óculos. – me passa o caderno, fez algum teste hoje?
           A vontade era de mentir, porém seria pior, seu pai acabaria descobrindo de uma forma ou de outra.
           - Ta legal, fiz e tomei pau. – confessa abrindo a mochila.
           - Poxa, Salomão, o que anda acontecendo com você? – vocifera.
           - Dei mole mesmo, pai, me perdoa. – entrega a folha do teste.
           - Eu não tenho que lhe perdoar, você é quem deve se perdoar. – analisa o teste. – veja só, coisa mole de se resolver.
           - O senhor saca de matemática? – coloca as pernas cruzadas como chinês.
           - Sou administrador, preciso entender de números.
           - Duvido o senhor fazer esse teste.
           Samuel estreita o olhar para o filho e topa o desafio.
           - Ótimo, isso será melhor que o castigo que lhe prometi. – pega no porta canetas um lápis e começa a rabiscar a folha. Cinco minutos depois ele entrega a folha para o filho. – mais alguma coisa?
           Boquiaberto e ao mesmo tempo orgulhoso, Salomão olha fixamente para o teste e para seu pai que disfarça o sorriso.
           - Vou falar e espero que seja a ultima vez, para ser alguém na vida tem que cair pra dentro dos livros, consegue entender isso? – Salomão meneia a cabeça.
           - Estou de castigo?
           - Acho que tudo isso já bastou. – volta ao celular. – vá almoçar.

***

           Fox beija Alice encostado no muro. O clima já passa dos cem graus quando o garoto tenta tocar os seios de sua namorada.
           - Você precisa realmente fazer isso? – diz a Alice.
           - O que? – Fox cora as bochechas.
           - Isso mesmo, você precisa realmente pegar nos meus seios?
           - Que mico Alice. – abaixa a cabeça.
           - Veja bem, Joel...
           - Não me chame de Joel, eu odeio esse nome. – a empurra.
           - Tudo bem, Fox. Se quiser ficar comigo terá que controlar essas suas mãozinhas.
           - Droga. – chuta uma minúscula pedra. – certo.

***

           O inverno sempre foi à estação preferida de Salomão. O calor o deixa de mau humor além de outros problemas. Salomão nunca foi chegado num desodorante. Ele ama sentir o vento gelado no rosto e de tomar chocolate quente debaixo das cobertas. O verão é seu inimigo número dois, pois o número um chama-se Fox. Salomão odeia praia, odeia aglomerações, odeia sol. Depois do almoço ele vai para o quarto e faz o que seu pai falou. Pela primeira vez ele vai repassar toda aula para o caderno de rascunho. Seu Samuel lhe deu uma surra realmente, uma surra psicológica. O medo que ele tinha do pai se transformou em admiração. Mais do que nunca ele quer ser igual ao coroa ou melhor.
          Faz frio, mas o quarto está abafado. Deitado e lendo, Salomão não quer se levantar. Ele deixa o livro de lado. Olha para a janela. Estende seu braço e abre a mão. Com truculência e fazendo um barulho surdo a janela se abre.

CONTINUA

O APRIMORADO – “MAIS PRÓXIMO”


          Antes de chegar à escola Salomão confere se tudo está em ordem em sua mochila. Canetas, lápis, borrachas, cadernos e é claro os chicletes. Passa por uma lanchonete e sente seu estômago pedir um sanduíche recheado. Saca a carteira. O dinheiro não será suficiente nem para um pastel. Fazer o que?  É o preço que se paga por ser um adolescente de 17 anos que não trabalha ainda. Passando pelo estabelecimento ele topa com Alice.
         - Salomão, não é?
         - Alice! – gagueja.
         - Pelo visto não sou só eu que estou atrasada não é?
         - Pra você vê. – o garoto olha para todos os lados. – onde está o Joel?
         - Brigamos ontem, ele ficou com raivinha e não quis me pegar em casa.
         - Sinto muito. – ajeita a mochila nas costas. – vamos indo?
         - Vamos.
         Enquanto caminha ao lado da menina que tira o seu sono, Salomão tenta imaginar o que Fox faria com ele se visse os dois lado a lado. Falta pouco para chegarem ao colégio e até agora ele não disse nada de interessante. Alice tem a mesma idade, porém está na frente um ano. Ainda na portaria eles se despedem. O beijo tão esperado não veio e sim um frio “até logo”.

***

          O intervalo finalmente acontece. Sozinho, Salomão aguarda a chegada de seu misto quente que será pago no fim do mês. De repente ele sente sua cabeça arder. Ele gira o pescoço e dá de cara com a barriga de Fox.
          - Quer dizer que o seu negócio é cantar a mulher dos outros?
          - Como é que é?
          - Não se faça de idiota. – começa a alisar o punho. – por falar nisso, sua cabeça é dura em meu chapa.
          - Eu não cantei a mulher de ninguém.
          - Está chamando o Bil de mentiroso?
          - Bil?
          Do meio de uma roda de jovens sai um garoto negro idêntico a Mike Tyson. Salomão sente sua alma o abandonar.
          - Se liga Bil, esse pirralho te chamou de mentiroso.
          Como um touro furioso Bil olha para Salomão que só vê a montanha negra crescer a sua frente.
          - Mentiroso? Eu? Tem certeza?
          - Cara, veja bem, eu...
          - Chega de papo furado meu irmão, vou treinar meu boxe em você, hoje, depois da saída, pode ser?
          Pra lá de animado Fox anuncia a plenos pulmões o confronto desigual.
          - Vai ter briga! – a galera fica ovacionada. – e depois do Bil é a minha vez de encher esse rostinho cheio de espinhas de soco, tudo bem?
          A fome passou. O misto quente tão esperado foi guardado na mochila. Ao voltar para a classe Salomão não para de olhar para o relógio. Realmente a hora não passou. Por mais que ele quisesse se concentrar na aula ele não conseguiria. A imagem de Bil o socando até a morte martelava sua cabeça. Duas horas depois o sinal toca. O corredor da morte. Salomão se arrasta até o portão principal. Lá fora dois brutamontes o aguarda. Bil não para de socar a palma da mão e Fox sorrir exibindo seu aparelho dentário.
          - Fala, vida louca. – começa Bil. – chegou à hora.
          - Cara, por favor...
          - Ninguém vai te salvar. – diz Fox.
          Alice aparece gritando por Fox que não lhe dá ouvidos.
          - Preparado? – pergunta Bil.
          - Calma cara.
          Como um pugilista profissional, Bil desfere um cruzado. Salomão vê seu golpe em câmera lenta e consegue se esquivar.
           - Duvido segurar essa. – aplica um gancho que passa em branco. A galera grita o nome de Bil.
           - Qual foi Bil, vai dar mole para esse moleque?
           Um cruzado e logo em seguida um direto que passam no vento. Bil começa a ficar cansado.
           - Mais que droga, não consigo acertá-lo.
           Mais uma vez o gigante musculoso tenta encaixar um gancho e nada. Salomão desvia de todos os golpes com uma rapidez fantástica. Infelizmente ele se distrai com Alice falando o nome dele. Bil aplica um direto que acerta em cheio o nariz do garoto que vai ao chão. A galera vibra. Salomão não levanta.
           - Vamos. – fala gingando. – levante para morrer.
           - Agora é a minha vez. – diz Fox.
           - Se você encostar a mão nele eu termino com você de vez. – grita Alice do meio da galera. Fox olha para Salomão nocauteado no chão e depois para sua namorada.
           - Que se dane. – chuta o pé de Salomão.

***

           Depois que todos se foram Salomão se levanta. Não há sangue ou hematoma. Ele olha para os lados e sorrir. Ajeita a mochila nas costas e vai embora.

            Na lanchonete sentados na mesa estão Fox, Alice e Bil que não para de sacudir a mão. Fox se irrita.
            - Pare com isso cara.
            - Minha mão não para de doer. – fala com voz de choro.
            - Quer ir ao hospital? – pergunta Alice.
            - Ah, não foi nada, pior deve estar à cara daquele idiota. – debocha Fox.
            Bil levanta a mão e ela está totalmente inchada assustando ao casal.
            - Bil, vamos ao pronto socorro agora. – ordena Alice.

“Descobrindo”

            Salomão passa pelo escritório do pai com um sorriso que vai de uma orelha a outra. Estranhando o comportamento do filho, Samuel o chama para uma conversa.
            - Sim, pai?
            - Como foi hoje?
            - Foi maneiro! – joga a mochila na cadeira.
            - Quer conversar um pouco, quer dizer, faz tempo que a gente não faz isso. – diz constrangido.
            - Tem de ser agora?
            - Não necessariamente, podemos marcar um cinema, o que você acha?
            - Pode ser.

***

            A doutora examina a mão de Bil que faz altas caretas a cada movimento.
           - Você disse que é um boxeador?
           - Sim, e dos bons. – mais careta.
           - E por ser bom, você acha que é necessário socar concreto?
           - Como assim? – Bil arregala os olhos.
           - Há uma fissura no dedo médio e outras lesões.
           - Quer dizer que vou ter que ficar sem treinar?
           - Um bom tempo. – diz séria, igual a uma pedra de gelo.

***

           Marina e Samuel almoçam juntos pela primeira vez em duas semanas. Isso por que a demanda da empresa tem ocupado todo o tempo do chefe da família Braga a ponto de impedir que ele se reúna com seus familiares. Salomão já havia subido quando Samuel contou a novidade para sua esposa.
           - O convidei para sair. – fala limpando a boca.
           - Nossa, que bom, e vocês vão aonde?
           - Ao cinema.
           - Poxa, queria ir, mas entendo que você quer ficar mais próximo dele, parabéns meu amor. – segura na mão do marido.
           - Pois é, em breve ele será maior de idade, preciso que ele saiba que ele tem um pai amigo e não um sargento dentro de casa.
           - Se todos os pais fizessem isso, não haveria tantos filhos revoltados e fugindo de casa. – enrola a salada com o garfo.
           - Agora, quanto a você, pensei em um jantar naquele restaurante da nossa lua de mel, lembra?
           - Te amo!

***

          Alice, Fox e Bil conversam sobre a briga. O rapaz está com sua mão imobilizada e lamentando não poder treinar por alguns dias. E com certeza terá que fazer fisioterapia.
          - Nossa, queria ver o rosto do Salomão. – Alice balança a cabeça.
          - Pô, - diz Bil. – e eu acho que não bati tão forte assim.
          - Bil, você nocauteou o cara, você venceu a briga, você é o melhor. – o exalta Fox.
          - Bom galera, eu já vou indo, vejo vocês amanhã. – com apertos de mão um tanto quanto estranho Bil se despede do casal.
          Fox percebe que sua namorada está estranha, já não o abraça mais como antes e quase não o olha no olho.
          - Alice. – começa. – sei que ultimamente eu tenho sido grosso com você e que tenho preferido andar com meus amigos, mas, saiba que sou louco por você. – Alice continua a andar. – você está me ouvindo?
          - Estou!
          Alice está cada vez distante, cada vez mais fria, o que estaria acontecendo? Fox falou durante meia hora até chegarem ao prédio onde sua namorada mora. Para a triste surpresa do garoto ela não o convidou para entrar.
          - Até amanhã, Fox!
          - Como assim, não vai me convidar para entrar? – abre os braços.
          - Tenho que ajudar minha mãe com a arrumação da casa. Amanhã a gente se ver.
         - Não vai me dar um beijo?
         Mesmo contra a vontade a menina foi obrigada a beijá-lo.
         - Thau, Fox.

***

         Duas horas depois, lá estão pai e filho saindo do shopping sorridentes. O filme foi legal, porém a companhia do pai foi melhor ainda. Salomão está encantado com o papo cabeça de seu coroa. Samuel quer ser o melhor amigo de seu filho. Vale a pena “perder” um tempinho para investir no filho. Nada é mais importante do que esse momento. Na realidade quem está aprendendo uma lição é Samuel.
         - E ai carinha, gostou do passeio? – passa a mão na cabeça do filho.
         - Adorei!
         - Se você quiser podemos fazer isso todo mês, o que você acha?
         - Legal!

         A mãe se distrai e solta a mão da menina. A garota passa pela calçada e ganha a rua. Os carros passam em alta velocidade deixando poeira para trás. Sem a menor consciência do perigo a menina caminha em direção a morte certa. A mãe ao ver seu bebê no meio da estrada, grita chamando atenção de todos, inclusive de Salomão e Samuel. No ímpeto Salomão abandona seu pai.
         - Salomão. – vocifera.
         Samuel apenas ver um rastro de luz deixado por seu filho quando ele ganha a rua numa velocidade incrível. O carro que iria atropelar a pequena, passa buzinando loucamente. Do outro lado da calçada Salomão acalma a menina em seu colo.
          - Está á salvo agora criança.
          A mãe da menina quando abre os olhos e vê seu bebê são e salva, chora compulsivamente e agradece ao mesmo tempo. Todos aplaudem a atitude heroica do adolescente, menos Samuel que está boquiaberto com o que viu.
          - Salomão, meu filho. – retira os óculos.

“Quem sou eu?”

          Samuel e Marina conversam tomando café na mesa da copa. Ainda impressionado com o ato do filho na noite passada, o administrador adoça o líquido fumegante sem ao menos olhar para a xícara.
          - Tinha que vê, Marina, era como se fosse um raio.
          - Tem certeza, Samuel, você achou que viu.
          - Eu estava a centímetros dele, mulher, vi quando ele saiu correndo e deixando para trás um rastro luminoso. – assopra o café e o toma. – o carro com certeza iria atropelar a pobre bebezinha e o nosso filho a salvou.
          - Quem mais viu isso?
          - Só eu, acho!
          Marina se serve mais do café.
          - Vamos observá-lo.

***

          Fox espera a chegada de sua namorada na praça da cidade. Bastante preocupado com os últimos acontecimentos quanto ao seu namoro, ele trouxe uma caixa de bombons caros. Alice aparece no meio dos balanços com uma expressão séria, quase gélida. Notando que o clima não é nada favorável, Fox resolve manter a seriedade do momento.
        - Trouxe chocolate. – estende a caixa muito bem embalada.
        - Obrigado, estou de dieta. – agora o clima pesou de vez.
        - Poxa, Alice, até quando você vai ficar me dando gelo?
        - E até quando você será esse cara bruto e grosso? – ele não responde, apenas abaixa a cabeça. – cara, você viu o que você fez com aquele pobre garoto, promoveu uma briga desleal.
        - Ele mereceu, quem manda dar em cima da mulher dos outros.
        - Eu não sou tua mulher, pra começar. – se senta no banco de concreto. – eu não quero ficar conhecida como a namorada do Fox, o cara mais durão do bairro.
        - Tudo bem, tudo bem, o que devo fazer para me redimir e ter minha gatinha de volta?
        - Prometa que não vai mais implicar com o Salomão?
        - Prometo!
        - Ótimo. – se levanta. – me passe essa caixa de bombons pra cá. – Fox sorrir. – quer me ajudar a comer?
        - Achei que não iria me convidar.

***

        Salomão está deitado na cama observando o céu com suas nuvens pela janela. Como será lá em cima? Como vivem os anjos? E Deus, onde estaria nesse momento.Um vento fresco entra pela janela balançando as cortinas chegando até seu rosto com acnes. Ainda lembrando de seu gesto da noite passada, Salomão tem na cabeça uma interrogação enorme, quase do seu tamanho. Quem sou eu? De onde vim? Do que sou capaz de fazer? Seria isso um dom dado pelo Senhor do universo? Ele se levante e se olha no espelho. Perde algum tempo se olhando e não gosta nada do que vê. Claro que Alice não tem olhos para ele. Fox é bem mais bonito e forte.
        Debruçado na janela ele visualiza um pássaro sobrevoando na altura das nuvens e se imagina lá, junto ao pássaro. Como seria ver o mundo lá de cima? Seu coração acelera. Ele abre os braços e fecha os olhos. Sente novamente o vento fresco minar seu rosto quando seu pai invade o quarto.
        - Salomão, tudo bem com você?
        - Oi coroa!
        - Podemos conversar? Posso voltar mais tarde se tiver muito ocupado. – coça a cabeça.
        - Que nada pai, senta ai.
        - Filho, acho até que você já sabe qual o assunto, não é mesmo?
        - É, acho que sei. – se acomoda ao lado do pai.
        - Desde quando você faz essas coisas?
        - Não sei, certo dia acordei e tudo começou.
        - E o que você sente quando está em ação? – Samuel apóia os cotovelos no joelho e entrelaça os dedos.
        - Sinto que sou invencível, que eu posso fazer tudo, até...
        - Até?
        - Voar, quem sabe.
        - E você já tentou?
        Salomão não responde de imediato. As palavras de seu pai ainda pairam no cômodo. Voar. Que absurdo. Deus não daria tal poder a um ser humano, ou daria?
        - Ainda não.
        - Quer tentar?
        - Pai. – o garoto se levanta. – o senhor faria isso mesmo, por mim?
        - Filho, o que eu vi você fazer, foi muito forte. – se levanta e coloca a mão no ombro do filho. – saiba que eu estou do seu lado.

***

         Mesmo incrédula marina topou ir com seu marido e filho até no alto de um monte perto da casa. Salomão vai à frente com seu olhar perdido. Atrás, seu pai e sua mãe de mãos dadas esperam algo surpreendente do único filho. Ele olha para trás e sorrir. O céu é de um azul extraordinário.
          - Acho que aqui ninguém nos verá. – diz Salomão.
          - Pois é. – Samuel olha para Marida que dá de ombros.
          - Bom, lá vou eu.
          - Isso é loucura, vamos sair daqui. – Marina dá as costas.
          - Veja com seus próprios olhos meu amor. – Fala Samuel apontando para o alto com um olhar profundo. Marina olha ainda a tempo de ver seu filho subindo cortando as nuvens. Ela abre a boca e deixa uma lágrima escorrer. Eles se abraçam e choram juntos. Salomão some entre as nuvens. FIM



 


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