terça-feira, 23 de agosto de 2016

As Cem Ovelhas



Prólogo

Inverno, um rigoroso inverno em Jerusalém. Pela manhã é costume do velho Tobias fazer a contagem de suas ovelhas, porém não suportando o vento cortante ele enviou seu ajudante Baasa a fazer o serviço. Mesmo resmungando o jovem de rosto marcado pelo trabalho deixou a casa enrolado num tipo de cobertor. Olhou para o céu e depois para o campo.
- Desse jeito irei congelar aqui fora.
Baasa caminha com dificuldade devido o vento que bate com força em seu rosto. Até chegar onde as ovelhas estão ele levou um certo tempo. A pequena cabana fica a alguns metros da casa de Tobias. O jovem ajudante retira a tranca que emite um ruido de dar nervoso. Ainda reclamando Baasa abre a porta sentindo o odor forte que vem lá de dentro.
- Argh! - coloca a mão na boca para evitar o vômito. - Deus!
O menino é tralhador, mas gosta de se divertir também. Ao ver uma vara apoiada nas madeiras ela a pega e começa a lutar com um adversário invisível como se fosse um guerreiro.
- Venham seus Romanos covardes, vou livrar o meu povo de suas garras.
Baasa foi deixado por seu pai na casa do velho Tobias para que o garoto aprendesse o trabalho de cuidador de ovelhas. Claro que o jovem magrelo odiou a ideia, tudo o que ele queria ser era um aventureiro ou músico. Agora a realidade é outra, Baasa precisa contar as ovelhas. Ele deixa a vara de lado e se dirige aos animais.
- Vamos lá!

Tobias mexe na barba branca como neve quando Baasa entra desesperado junto com o vento frio.
- Mestre Tobias, uma sumiu.
- O que? - o velho se ergue.
- Estou falando, uma de suas ovelhas sumiu, só há noventa e nove. - diz ofegante.
- Você contou direito?
- Está duvidando meu senhor, claro que contei, duas vezes até.
Tobias se levanta, pega seu cobertor.
- Vamos procurá-la.

1

Todos estão em silêncio, menos Pedro que aperta os dentes de raiva.
- Pedro, pare com isso! - diz Jesus.
- Mas, Senhor, quase foi apedrejado, como posso me acalmar?
- Estamos correndo perigo aqui rabino. - pondera Judas. - realmente os Judeus não acreditam no senhor.
- Sei disso, eles não acreditam por que não são minhas ovelhas, foi o que eu disse a eles lá no templo, minhas ovelhas ouvem minha voz.
- Bom, o que iremos fazer agora? - pergunta João.
Jesus se adianta.
- Vamos para além do Jordão, estão lembrados de onde João batizava?
- Sim ,senhor! - responde Tiago.
- Peguem suas coisas e vamos para lá. - ordena Jesus.

Tobias e Baasa procuram pela ovelha perdida com preocupação. O velho fazendeiro olha para a montanha e fecha os olhos.
- Será que ela fugiu para as montanhas?
- Se o senhor quiser posso ir até lá.- Baasa esfrega as mãos.
- Com certeza morreras congelado antes de achá-la. - anda até o cercado. - fora os animais selvagens que existam lá
- Posso levar uma faca ou…
- Nada disso, você é muito novo para mexer com armas.
- Sei sim, ando praticando lutas de espadas.
Tobias sorrir e olha para seu ajudante.
- Então você queria ser aventureiro? - mexe na barba.
- Sim, ou talvez um rebelde para matar os romanos.
- Tire isso da cabeça Baasa, qual o futuro de um rebelde?
- Fama, imagine o povo falando, Baasa, o libertador de nosso povo. - aumenta o tom da voz.
Tobias meneia a cabeça.
- O futuro de um revolucionário é prisão ou morte, essas pessoas não são bem-vindas aqui, os romanos são implacáveis com esse tipo de gente. Seu pai confiou seu futuro a mim.
- Criador de ovelhas?
- Isso mesmo, é uma profissão promissora você não acha?
- Não sei. - coça a cabeça. - vamos procurar.

Jesus se apoia numa pedra e a seu lado Pedro junta alguns gravetos.
- O que acha de uma fogueira?
- Muito bom, o frio só vai piorar daqui pra frente, estão com fome? - Jesus aperta os braços contra o corpo.
- Temos alguma coisa aqui, mas não vai durar muito. - Filipe abre uma das bolsas.
Passos são ouvidos e Tomé coloca a mão em uma pedra solta. A tensão aumenta e os corações aceleram quando um homem maltrapilho segurando seu braço esquerdo aparece no meio do mato alto.
- Sou de paz, sou de paz, preciso falar com ele. - aponta para Jesus.
- Está armado? - grita Pedro.
- Não. Mal posso aguentar meu braço. - faz uma careta.
Jesus se levanta batendo a terra do manto.
- Se aproxime, o que deseja?
O homem olha para os doze e depois para Jesus.
- Mestre, sou trabalhador do campo, preciso dos meus braços perfeitos para conseguir levar o sustento para minha família, porém desde a semana passada fui a cometido de um mal nesse braço que me impede de trabalhar, minha esposa e filhos estão passando fome em casa, me ajude por favor.
Jesus olha para o braço esquerdo do estranho.
- O que aconteceu com ele?
- Não consigo pegar uma pedra sequer. - diz o homem massageando o membro.
Cristo anda até próximo de Tomé.
- Pegue essa pedra. - mostra.
Sem hesitação o sujeito a pega e se emociona.
- Senhor!
- Vá para sua família e mostre que já consegue trabalhar. - se volta para Filipe. - dê a ele alguns pães.
- Sim senhor! - o discípulo retira da bolsa dois pães. - tome.
- O brigado, muito obrigado, Jesus, obrigado a todos vocês. - se afasta.
Quando o estranho se afasta de vez Judas faz um comentário com Bartolomeu.
- Tirou o nosso pão e deu a um estranho, as vezes não o entendo.
- E o que você faria no lugar dele?
- Só o milagre bastaria. - Judas se escora na rocha.

Pedro em fim consegue acender a fogueira. Os doze se esquentam e comem ao redor das chamas quando Jesus começa a cantar. Os apóstolos se olham e depois de alguns minutos eles também e bem alto.

2

Baasa e Tobias continuam com as buscas. O velho, bastante cansado respira com dificuldade e se abaixa para descansar. Ao ver seu mestre passando mal de cansaço, o garoto volta.
- Mestre, o senhor está bem?
- Só um pouco cansado, não podemos parar agora, preciso daquela ovelha.
- Admiro sua disposição senhor.
- Acho que devemos ir até o Jordão, quem sabe ela não foi beber água. - o velho se ergue.
- Sim, vamos. - passa o braço de velho mestre por seu pescoço.

Uma família se apresenta a Jesus com uma criança de colo que não consegue respirar direito.
- Ela está assim desde ontem, fomos procurar o senhor, mas não o achamos – diz o pai.
- Deixe que eu a segure. - Jesus estende os braços e sua mãe a coloca no colo do mestre. - ela é linda não acham? - pergunta aos seus discípulos. - quer segurar pai? - o pai a segura e a menina está respirando.
- Glória a Deus. - diz o pai.
- Nós conhecemos João o que batizava. - comenta a mãe. - ele não fez sinal algum, mas tudo o que ele disse sobre o senhor é verdade, nos aceite como seus seguidores, por favor.
- Prazer em recebê-los, sejam salvos.
- Obrigado mestre. - o pai aperta o ombro de Jesus.
Quando terminou de despedir a família Jesus pediu para que colocassem mais lenha na fogueira.
- Temos que ficar aqui, muitos ainda viram, aproveitem para ajudar também, vocês conseguem.
- O próximo serei eu rabino. - se adianta João.
- Nada disso. - se acomoda em uma pedra. - Judas, você vai ajudar o próximo que vir. - Judas olha para Jesus com espanto.
- Eu?
- Sim, sei o que se passa em seu coração, você acha que só o milagre é o suficiente, então se se acha capaz de operar maravilhas sinta-se à vontade. Veja, vem vindo mais ali, vá lá. - os outros riem.
Judas sorrir e anda na direção da pessoa. O homem conversa, gesticula e se derrama. O discípulo o ajuda a se levantar. Todos acompanham com atenção o desenrolar da conversa. Depois disso o homem vai embora e Judas volta com uma expressão séria.
- O que houve? - pergunta André.
- Ele tinha asma.
- E ai? - quis saber Mateus.
Judas olha para o mestre que o fita também.
- Ele está bem agora. - todos comemoram.
- Quem diria, o nosso amigo mal humorado fazendo maravilhas. - brinca Filipe.
- Viu, todos podem ajudar. - Jesus se levanta para aquecer as mãos na fogueira. - então, quem será o próximo? - todos levantam a mão começando uma pequena confusão. - tudo bem, tudo bem, João estava na fila, vá você João.
- Obrigado, mestre.

Tobias e Baasa se aproximam do Jordão e avistam o grupo de homens. O velho faz uma meia parada e olha para seu aluno.
- Serão salteadores? - pergunta Baasa.
- Acho que não, eles estão muito a vista de todos, vamos perguntar se viram a nossa ovelha.
Tobias chega perto e é recepcionado por outro jovem, João.
- Como tem passado senhor, em que o mestre pode ajudar?
- Sou Tobias e esse é meu aluno Baasa, estamos procurando uma ovelha, vocês a viram?
- Não, não vimos nada.
- Quem é seu mestre? - pergunta Baasa.
- Jesus, aquele ali sentado.
- Já ouvi falar nele, por um acaso é o mesmo que deu peixe e pão para uma multidão? - Tobias mexe na barba.
- Ele mesmo.
- Posso falar com ele? - Tobias continua mexendo na barda.
- Sim claro.
Jesus termina de contar um caso e todos riem quando João chega com os estranhos
- Mestre, esses são Tobias e seu aluno Baasa, querem falar com o senhor.
Jesus se levanta se ajeitando.
- Como tem passado?
- Não muito bem. - Tobias admira a Jesus. - sempre achei que você seria um pouco mais velho.
- O que o traz aqui?
- Perdi uma de minhas ovelhas, estamos loucos a sua procura, por um acaso não a viu?
- Não, mas podemos ajudar a procurar. - Cristo olha para seus discípulos.
- Não quero atrapalhar, você deve ser um homem bastante ocupado creio eu.
- Que nada, será uma boa aventura. - nesse momento todos ficam atentos.
- Seus homens são obedientes, quem dera todos os meus fossem assim. - olha para Baasa. - não é?

3

O grupo estava saindo do Jordão quando um homem num cavalo para perto deles. O cavalheiro olha para Jesus e desce do animal.
- Estava a sua procura, fui enviado por Marta e Maria, Lázaro, seu amigo está muito doente e eu acho que é para morrer.
Os apóstolos e os outros ficam atônitos.
- Essa doença não para matar a Lázaro, mas sim para que o poder de Deus se manifeste. Vá e diga isso a elas.
- O senhor não vem? - se espanta o homem.
- Tenho coisas a fazer por aqui. - olha para Tobias. - diga a Marta e Maria que está tudo bem.
O sujeito sobe no cavalo e os deixa. Tobias em seu coração o admira ainda mais. O vento frio continua a castigar e a passos largos os homens andam a beira do rio. Baasa vez por outra olha para Jesus e depois para seus seguidores “será ele um revolucionário?”
Ao chegarem a um certo ponto do Jordão Jesus para e diz.
- Temos que nos dividir. Pedro, vá com Tiago e João por ali.
- Sim senhor. - responde Simão.
- Judas, Filipe e André, vocês darão a volta. - Tobias mexe na barba encantado com o líder. - Bartolomeu, Tiago e Tiago, você ficarão na cidade, Mateus, Tomé, Tadeu e Simão fiquem aqui, certo?
- Entendido senhor. - respondem todos.
- Vou seguir com Tobias e Baasa até a fazenda, nos encontraremos lá ao anoitecer.
O grupo se divide. Jesus anda lado a lado com o velho fazendeiro. Enquanto caminham a conversa segue. Tobias gostou do jovem líder, da maneira como conduz seus seguidores.
- Sabe, Jesus, eu sempre fui um homem de autoridade e de palavra, o pai de Baasa confiou o filho dele a mim, tudo isso por que sempre gostei das coisas certas, nunca deixei faltar nada aos meus trabalhadores, os trato como filhos e filhas, sou influente no meio do comércio, religião e ricos, eles gostam de me ouvir.
- Lhe admiro por isso. - Jesus caminha com suas mãos para trás.
- Jesus. - começa Baasa. - o senhor pretende destruir os romanos?
- Baasa, por favor.
- Deixe-o Tobias, ele é apenas um garoto. Os romanos vêm causando dor e desgraça a todos, mas chegará um dia em que tudo isso se tornará uma antiga história.
Tobias olha ao redor observando o movimento das pessoas envolvidas em seus agasalhos. As palavras de Jesus entram em seus ouvidos com suavidade e transparência. Tudo o que o mestre diz soa com verdade e sabedoria.
- Posso lhe fazer uma pergunta, Jesus? - Tobias para a caminhada.
- Até duas.
- Como fez tudo aquilo em Tiberíades?
Jesus sorrir.
- As pessoas estavam com fome, eu apenas as alimentei.
Baasa solta uma gargalhada.
- Com sobra de pão e peixe!
- Baasa, que comportamento é esse? - o puxa com truculência.
- Calma, velho amigo, o garoto disse a verdade, era só o que tinha.
Tobias aperta os olhos.
- Mas, havia uma multidão e até crianças.
- Sim. - Cristo recomeça a caminhada. - meu Pai se manifestou naquele momento, através de mim.
- Seu pai? - volta a mexer a barba.
- Fui enviado a esse mundo para trazer a luz de meu Pai que está no céu.
Tobias fica constrangido.
- Não está dizendo que é o Messias enviado, está?
Jesus apoia a mão no ombro do fazendeiro.
- Vamos procurar sua ovelha.

4

Judas é o que mais reclama e questiona a decisão de Jesus. Para ele, o mestre deveria partir imediatamente para Betânia e socorrer o amigo que tanto ama.
- Estamos perdendo tempo. - resmunga mais uma vez. - essa ovelha já deve ter sido pega por outro.
- Judas. - diz Filipe. - tem como você ser mais otimista?
- O mestre nos deu essa missão e devemos cumpri-la.
- Bela missão, procurar uma ovelha de um rico soberbo. - arremessa uma pedra no rio. - sabem de uma coisa, eu as vezes acho que estamos seguindo o homem errado.
Todos param de andar. André segura Judas pelos ombros.
- Irmão, você está duvidando do homem que já provou que é o enviado da parte de Deus, que curou um cego de nascença e alimentou uma multidão,
- Que andou sobre as águas, você estava lá, Judas. - completa Filipe. Judas abaixa a cabeça.
- Se ele realmente é o Messias, só o tempo dirá.

Jesus, Tobias e Baasa chegam a fazenda. O dono do lugar convida o mestre para que entre e se abrigue do frio que aumentou.
- Obrigado pela hospitalidade Tobias.
- Mestre Jesus, e seus seguidores? - pergunta Baasa.
- Eles acharão o caminho.
A fazenda de Tobias é de médio porte, além da criação de ovelhas, ele também cria cabras e conta com ajuda de cinco funcionários. O trio anda até os fundos da casa de onde há uma bela vista do Jordão.
- Meu pai e eu costumávamos observar o pôr do sol daqui. - Tobias se debruça na cerca.
- Realmente é lindo. - Jesus sorrir.
Baasa se afasta para procurar a ovelha perdida e Tobias aproveita para ir mais fundo nas perguntas.
- Jesus, sendo você o Messias, como você mesmo diz que é, por que ainda não destruiu os romanos?
Cristo hesita um pouco em responder. Sem olhar para o velho de rosto coberto por rugas, o filho de Maria se apoia na cerca de madeira.
- Minha missão aqui não é destruir, meu caro Tobias e sim salvar.
- Sim, claro, salvar aqueles que são oprimidos pelos malditos romanos.
- Eu vim a esse mundo para libertar a todos de um mal maior que o império romano. - finalmente Jesus olha para o fazendeiro. - a morte.
- A morte? - volta mexer na barba.
- A morte espiritual.
O vento bate no rosto do velho deixando seus cabelos esvoaçantes.
- Explique isso melhor!
- Se me permite, gostaria muito pousar em sua casa, ai poderíamos usar o tempo para que eu explique isso melhor, o que acha?
- Adoraria!

Em outra parte, Pedro, Tiago e João se empenham em procurar a ovelha. O lugar é cercado por pequenas casas e a pouco comércio por ali. Tiago e João já reclamam de fome, Pedro olha para os dois com sinal de reprovação.
- Acho melhor pararmos para comer alguma coisa, Pedro. - sugere Tiago
- Jesus nos deu uma missão, você se esqueceu?
- Pedro. - começa João. - você viu e ouviu, o mestre tem uma missão ainda maior, ir até Betânia e curar a Lázaro.
- Jesus deve saber o que está fazendo. Cabe a nós obedecê-lo. - olha para um minúsculo beco. - vamos por ali.

5

A noite chega e todos estão reunidos ouvindo o mestre falar, inclusive Baasa que presta bastante atenção a cada palavra.
- A verdade é a única coisa capaz de libertar alguém, ela também é responsável por escândalos, dependendo do momento, a verdade pode causar danos, mas. - fala com o indicador em riste. - jamais podemos deixá-la de lado.
Baasa levanta o dedo pedindo a palavra.
- Mestre, e se estivermos com medo, temos que dizê-la mesmo assim?
- Sim! - Jesus é bastante categórico.
- Jesus. - Tobias pede a palavra desse vez. - fala sobre sua missão.
Durante algumas horas o mestre explicou sua missão a qual prendeu atenção de todos. Ele falou sobre a fundação do mundo, qual era o propósito inicial de Deus, falou sobre Adão e Eva, os reis, juízes e também sobre o rei Davi.
- Foi ai que meu Pai, que mora no céu me enviou a esse mundo para salvá-lo.
Houve um silêncio naquela parte da casa. Tobias olha para Jesus e sente seu coração acelerar, “seria ele o messias?”. Ele também olha para seus apóstolos e consegue ver nos olhos de cada um deles a devoção.
- Jesus, vamos descansar, venha, vou lhe mostrar seus aposentos.
Pedro se levanta.
- Mestre, temos que partir logo cedo para Betânia.
- Ainda não encontramos a ovelha.

O dia mal amanheceu e Jesus e seus discípulos junto com Baasa já estavam em busca da ovelha. A subida até o cume do monte foi exaustiva. Cristo e Pedro vão a frente conduzindo o restante. Lá de cima é possível ver toda a extensão do povoado. Jesus se sentiu inspirado e pediu para que todos se sentassem. Fechando os olhos, o filho de Deus fez uma oração por todo o povo perdido de Jerusalém. Depois disso começou a ministrar algumas palavras ao pequeno grupo de homens. Baasa ficou boquiaberto com a sabedoria do santo homem a sua frente. Seu coração se encheu de desejo de segui-lo. Ao término da palavra os aventureiros seguiram com a missão. Lá em baixo Tobias e mais alguns empregados também procuram a centésima ovelha. Ao meio dia todos estão reunidos dentro da casa do fazendeiro rico. Tobias lamenta o sumiço de seu animal. Judas inflama a todos quanto a Jesus demorar a ir até Betânia.
- A essa hora Lázaro já deve estar morto e sepultado. - resmunga perto de Pedro.
- Fique quieto, ele sabe muito bem o que está fazendo. Agora coma.
Tobias agradece a todos pela preocupação quanto a ovelha.
- Jesus, muito obrigado por ficar e me ajudar, infelizmente meu animal não apareceu.
- Não diga isso Tobias, nunca é tarde para recomeçar.
- Quando iras partir, mestre? - pergunta Tobias.
- Ainda hoje, mas antes quero conversar com seu funcionário.
Baasa arregala os olhos.
- Comigo?
- Sim, com você, pode ser agora?
O garoto engole o pão a seco.
- Tudo bem.
Jesus e Baasa se retiram deixando o restante com um ponto de interrogação.
Lá fora o vento diminuiu, mas o frio continua. Lado a lado eles andam até o celeiro.
- Diga, mestre!
- Vejo em você um seguidor fiel, sabia disso? - Cristo passa o braço pelos ombros do jovem.
- Verdade?
- Verdade, mas antes você precisa agir com a verdade, lembra quando falei em ser verdadeiro?
- Como poderia esquecer. - reponde cortando as palavras.
- Então, não importa o que irá custar, devemos agir sempre com verdade. - eles param na porta do celeiro. - me mostre onde escondeu a ovelha.
- O que? - Baasa olha para Jesus com espanto.
- Baasa, na realidade ela não sumiu, você a escondeu, agora seja homem de verdade e me mostre.
O garoto cora as bochechas e faz beicinho.
- Me perdoe, por favor, eu estava saturado dessa vida de mordomo, queria ser revolucionário assim como o senhor, quero destruir os romanos.
Jesus o segura pelo rosto.
- Baasa, Tobias te ama e quer fazer de você um homem, e tem conseguido, agora cabe a você correspondê-lo. Por isso que fiquei aqui com vocês, eu sabia desde-o início que você tinha algo a ver com a história, agora, se quer realmente me seguir, você precisa dar um jeito nisso.
O menino ergue a cabeça e olha Jesus nos olhos.
- Pode deixar mestre, vou agir com a verdade.
- Você é um bom garoto. - o abraça. - seja bem-vindo aos salvos, a partir de agora você precisa converter o coração de Tobias, tudo bem?
- Tudo bem.
- Vou embora agora junto com meus amigos, fique em paz.

Mais tarde, no portão principal da fazenda a despedida é emocionante.
- Outra vez, obrigado mestre Jesus. - Tobias aperta a mão do mestre.
- Fique na paz. - olha para os apóstolos. - vamos.
Um pouco mais a frente Jesus faz uma meia parada.
- Devemos voltar para a Judeia. Nosso amigo Lázaro dorme, mas irei para despertá-lo.
Pedro se adianta.
- Mas, se ele está dormindo, ele está salvo, não há problema.
Cristo fecha os olhos.
- Lázaro morreu!
Todos ficam em silêncio. Judas olha para todos inclusive para Pedro. Jesus abre os olhos.
- Temos que ir, ainda temos dois dias de caminhada, vamos, por aqui.

NOTA DO AUTOR: Escrever esse conto foi muito gratificante por que sempre gostei de criar situações. Eu sempre quis saber o que prendeu Jesus naquele lugar antes de ir ressuscitar a Lázaro, seu amigo. Adorei os personagens que criei, Tobias e Baasa, adorei a trama, em fim, gostei da minha história, espero que gostem.

AS CEM OVELHAS
Baseado no evangelho de João 10.40 ao 11



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