Com truculência o investigador Lopes bate na porta que dá acesso ao laboratório do doutor Camargo:
- Camargo, Camargo, não seja tolo, abra a porta.
Junto com o investigador estão alguns agentes apontando suas armas na direção da porta. Mais uma vez Lopes bate:
- Camargo, vamos, facilite as coisas pra você.
Bastante impaciente, mas sem perder a postura elegante, Lopes ordena que seus homens arrombem a porta. Apenas um forte chute foi o suficiente para que a porta batesse com força na parede do lado de dentro do laboratório. O ar frio irrita as narinas sem falar do forte odor de material de assepsia. O laboratório é algo fascinante, uma bancada feita de aço inox acomoda alguns frascos com líquidos de diversas cores. Lopes é o ultimo a entrar, os outros policias vasculham o lugar sem nada encontrar:
- Investigador ele conseguiu fugir.
Olhando ao redor Lopes não vê nada que possa ir de encontro ao doutor Camargo, não há provas contra ele.
- Aquele sujeito é esperto, temos que olhar cada canto desse laboratório, tenho certeza que é aqui que ele vem fazendo as inseminações.
Os homens da lei reviram o lugar. Durante meia hora eles permaneceram buscando uma porta ou uma passagem secreta. Lopes já estava pensando em voltar para a delegacia quando algo chamou sua atenção. A bancada.
- Vamos retirar esse tampo. – Lopes aponta.
- Isso deve pesar pacas. – diz um agente.
Depois de muita força em fim eles conseguem afastar o tampo. Pronto, confirmada a suspeita do investigador. Uma passagem secreta que leva ao um outro nível. Lopes saca sua arma, um 38 de estimação.
- Venham comigo!
Enquanto o esbelto investigador desce lentamente a estreita escada, ele parece ouvir o som de tosses. Sussurrando ele informa que o suspeito se encontra no local. Os batimentos aumentam consideravelmente. Lopes chega ao final da escada e o frio faz seus lábios baterem. Alguém tosse e o trinta e oito é apontado para uma porta. Os policias se entreolham. Lopes prende a respiração. É hora de por fim nessa história.
- Camargo, abra a porta, é a policia.
Lopes fica a esquerda da porta e outro policial à direita e um no meio. Mais uma vez Lopes chama pelo doutor. Nada, o silêncio é sepulcral. O policial do meio abaixa sua arma. Um disparo perfura a porta e esfacela a cabeça do agente. Lopes se abriga ficando acocorado.
- Droga, ele tem uma arma. – grita o outro agente.
- Fica frio! – a voz de Lopes sai tremula.
- Investigador Lopes, ele tem uma calibre doze.
Os disparos vão acontecendo deixando os policias acuados. As paredes são feitas de madeira fina, a qualquer momento um deles poderá ser atingido pela potente arma de Camargo. O ultimo disparo acertou a perna do outro agente. Ao ver seu homem caído e gritando horrores Lopes se sente um irresponsável. Ele decide entrar na guerra. Lopes deduz mais ou menos onde será o próximo disparo e atira primeiro. O grito de Camargo anuncia que mais uma vez o investigador deu sorte. Camargo foi atingido, mas ainda está armado. Lopes com cuidado sai de onde está e arromba a porta. Ao ver o velho doutor caído segurando o ferimento longe da arma, o investigador respira aliviado.
- Você está preso Camargo. – Lopes saca seu celular e chama uma ambulância. Ele se volta para o doutor e depois olha ao redor. – quantas mulheres você atendeu hoje aqui, vamos fale?
- Me ajude, estou morrendo.- diz Camargo com a voz sumida.
- A ambulância já está chegando, agora me diga, quantas mulheres você atendeu?
- Só hoje foram mais de quinze.
O número faz Lopes engolir em seco.
- O que serão dessas crianças, o que elas serão?
A mão suja de sangue retira do bolso do jaleco uma foto e ele a joga no chão.
- Veja você mesmo. – diz Camargo quase desmaiando.
Lentamente Lopes pega a foto. Ao fixar seus olhos na imagem ele sente sua espinha gelar e tudo que ele consegue dizer é:
- Pai Eterno!
***
Ainda se recuperando de tudo que aconteceu o investigador abre a porta da viatura tendo como sonoplastia as sirenes das ambulâncias. Lopes acompanha a retirada do agente morto e se culpa por isso. Em seguida o outro policial ferido é socorrido. Lopes pega no bolso do paletó a foto e mesmo com o coração palpitando ele consegue ver a imagem. Distraído ele não percebe a chegada do inspetor Alencar.
- Lopes, você está bem?
- Sim, estou, veja isso. – estende mostrando a foto.
- Meu Deus, Camargo é louco, o que ele pretende fazendo isso?
- Temos que fazer uma busca e encontrar as quinze famílias que passaram por aqui imediatamente. – Lopes gesticula.
- Montarei uma força tarefa. – Alencar cruza os braços.
- Se o senhor quiser eu posso liderar essa força tarefa.
- Ótimo, faremos isso então.
A casa é luxuosa. No quarto a mulher se revira na cama sentindo fortes dores. Sua barriga mexe quase a ponto de estourar. O bebê em seu ventre parece querer vir a esse mundo antes da hora. No canto com o telefone celular colado no ouvido o marido ligar para o médico obstetra:
- Doutor, minha mulher está passando mal, muito mal.
- Calma, mantenha ela respirando fundo, eu já estou saindo daqui.
A mulher solta um grunhido e começa a sangrar. O esposo se desespera ao ver a mancha vermelha se formando no lençol. A barriga mexe loucamente causando dores terríveis.
- Amor, eu vou morrer.
- Calma amor, vai dar tudo certo.
O marido volta para o celular quando uma cachoeira de sangue sai da boca da grávida. Os olhos se reviram. As mãos se agarram nos lençóis.
- Doutor, pelo amor de Deus a Sandra está sangrando pela boca.
- Pela boca?
Infelizmente quando finalmente o médico chegou Sandra já havia ido a óbito. O marido desesperado olha o corpo da mulher. A barriga ainda mexe. O doutor também assuntado tenta fazer algo.
- Vou tentar salvar a criança.
Lopes analisa os papéis ainda intrigado com tudo que aconteceu. Seu telefone toca, sem presa ele atende.
- Investigador Lopes. – a voz do outro lado da linha vocifera quase gritando.
- Investigador, por favor, venha rápido para o consultório do doutor Jarbas, algo terrível aconteceu.
***
Não imaginando o que lhe espera dentro do moderníssimo consultório do doutor Jarbas, Lopes para a viatura abruptamente na calçada violando a lei. Ao sair do automóvel ele abotoa o paletó e cruza a entrada do lugar a passos rápidos. Ao entrar na sala onde são feitos os partos a cena é de causar espanto. Uma mulher morta esvaindo em sangue por todos os cantos do corpo. Jarbas ao lado do inspetor Alencar observa a situação:
- Impressionante! – Lopes pisca várias vezes.
- Eu diria assombroso.- Alencar se aproxima do colega.
- Essa mulher foi devorada de dentro para fora. – diz o médico.
- Devorada? Por quem? – indaga Lopes.
- Pelo seu próprio bebê. – Alencar retira o lençol mostrando a parte intima da mulher totalmente dilacerada. – veja isso.
Lopes sente uma leve tontura e se apóia no ombro do amigo.
- Investigador, o senhor está bem? – Jarbas saca o estetoscópio.
- Relaxa, foi apenas um mal estar, já vai passar. – ele olha para Alencar. – podemos conversar em particular.
- Sim!
Lopes e Alencar conversam na saída do consultório. O inspetor por várias vezes passa a mão na careca e enterra as mãos no bolso da calça. Lopes abre os braços.
- Estamos diante de uma situação delicada, Camargo criou monstros naquele maldito laboratório.
- Eu sinceramente não sei o que fazer.
- Temos que eliminar um por um, não sabemos ao certo quantas mulheres estão grávidas de seres devoradores.
Alencar coça o queixo. Gira os calcanhares e saca seu rádio.
- Atenção todo o departamento de policia, estamos numa emergência, solicito uma busca pela cidade, missão: caça a pequenos canibais.
FIM
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