sábado, 19 de novembro de 2016

A Vampira do Quarto 8


Uma mulher de poucas palavras. De andar misterioso e de olhar enigmático. Malana, esse é o seu nome. Mulher de corpo magro, cheio de curvas perigosas e acentuadas. Malana, menina mulher de pele branca como a neve. Em seu quarto a penumbra esconde os mistérios. O cheiro da noite paira entre os quadros sombrios de crânios com seus sorrisos tenebrosos. A única janela existente naquele quarto jamais fora aberta, Malana odeia a luz do sol. Deitada na cama focando o teto tendo com música o zunido do vento que bate nas fendas. Seu corpo perfeito, gelado aguarda o próximo degustador de sua sensualidade. Dois toques na porta e sua voz grave e rouca autoriza a entrada.

***

              Lourenço, seu cliente fiel adentra ao quarto mais excitado do que nunca. Ele a devora com os olhos e ela permanece na mesma posição brincando com os dedos do pé. Lourenço deixa no encosto da cadeira seu sobretudo marrom. Retira o chapéu e o coloca na mesa ainda olhando para Malana. Loiro de olhos azuis piscina, Lourenço é o amante preferido da prostituta misteriosa.
              - Boa noite meu Lorde. – Malana se insinua.
              - Boa noite minha rainha infernal, o que temos pra hoje?
              - Hoje quero ser sua escrava, me amarre e me castigue como quiser.
              - Veremos então.

***

              O dia raiou e Lourenço ainda não saiu da cama. Suas forças se foram e ele mal consegue respirar. Mais parece que alguém sugou suas energias até não poder mais. Com um esforço sobrenatural ele consegue se virar. Malana não está. Ela sempre faz isso. Desaparece antes do nascer de mais um dia. Quando finalmente o sol ilumina o quarto é que Lourenço consegue se levantar.
              - Malana?
              Lourenço anda até a janela e não consegue abri-la. Faz mais uma força e nada. Nu, ele volta para próximo da cama, olha sua carteira, percebe que não fora mexida. De dentro da carteira ele retira algumas cédulas e as deixa em cima do travesseiro. Se veste. Seu coração palpita bastante. De repente um frio o envolve o fazendo arrepiar
             - Cruz credo! – se benze.
             Lourenço deixa o quarto oito com um leve tremor nas pernas.

***

             O bar é nojento, fedido e repleto de homens bêbados falando alto. Lourenço faz o contraste. Educado, quase um rei, o dono da fabrica de sabão toma seu vinho tinto pensando em Malana. O mistério que a cerca a deixa cada dia mais linda, desejável. Quem será ela de verdade? Os rumores fazem dela uma lenda. O vinho acaba e ele pede mais uma taça. O dono do bar empoeirado o serve.
              - Como tem passado meu senhor?
              - Muito bem, a fabrica nunca vendeu tanto como nos últimos dias.
              - Muito bem, eu mesmo consumo seu produto desde quando seu pai era vivo.
              - Posso lhe fazer uma pergunta?
              - Claro. – enche a taça.
              - Você frequenta o vilarejo dos quartos?
              O dono do bar hesita em responder.
              - Sou casado.
              - Sei disso, vai dizer que nunca passou por lá.
              O dono do bar coloca a garrafa em baixo do braço e sussurra.
              - Jura que não irá espalhar isso?
              - Minha mãe mortinha. – Lourenço também sussurra.
              - Algumas vezes.
              - Você alguma vez entrou no quarto oito?
              - Malana! – o gorducho dono do bar abre um sorriso largo até as orelhas.
              - Isso, o que sabe sobre ela? – Lourenço se recosta na cadeira de madeira.
              - Eu só sei que ela é maravilhosa, diva, sobrenatural.
              - Me explica uma coisa. – o empresário cruza os braços. – onde ela se esconde durante o dia?
              - Mistério, dizem que ela pertence à família dos noturnos.
              - Noturnos? – Lourenço franze a testa.
              - Sim, diz à lenda que eles são loucos por sangue humano ou animal e que odeiam a luz do sol.
              - Sério?
              - Muito sério, quem é mordido por eles também se torna um noturno.
              - Ah, isso é historia pra boi dormir. – se levanta. – quanto deu a minha conta?
              - O vinho foi por conta da casa. – diz o dono do bar aborrecido por não darem crédito a sua historia. 

***

              À noite, depois de atender vários clientes, Malana se encontra deitada à espera de Lourenço. Para ficar a sós com ele, ela dispensou os outros programas que durariam a noite toda. Dois toques. É ele. Correndo ela se levanta com os cabelos negros esvoaçantes.
              - Boa noite! – diz ela rouca.
              - Muito boa, o que temos pra hoje?
              - Muitas cavalgadas. – o beija na face.
              - Opa, então vamos.
              A noite seguiu como Malana falou. O sexo é quase selvagem. Gemidos misturados e banhados por suor. Malana leva seu amante à beira da loucura com suas curvas. Lourenço precisa se segurar para não explodir. Numa dessas investidas sensuais da mulher ele a entope de seu líquido. Na mesma hora ela para e sua expressão muda.
              - O que você fez?
              - Me desculpe, não consegui me segurar.
              - Paramos por aqui, não estou me sentindo bem. – ela sai de cima dele.
              - Quer um remédio?
              - Não, só quero ficar sozinha, estou meio tonta.
              Lourenço se veste rápido. Deixa o dinheiro do programa sobre a mesa e desaparece. Malana se deita e fica em posição fetal com uma expressão de dor.

***
             No mesmo bar Lourenço fica a pensar em tudo o que aconteceu. Os pontos de interrogação são vários em sua mente. O gorducho se aproxima limpando as mãos num pano mais sujo que o próprio chão do lugar.
             - Diz ai chefe, como foi lá?
             - Muito bom, apenas isso.
             - Hum. Então, sobrou um pouco daquela sopa de alho que você tomou hoje à tarde, vai querer? É por conta da casa.
             - Lógico, ela estava uma delicia.

***

             Dez toques na porta oito. Impaciente o cliente a arromba. O quarto está vazio. Ele olha ao redor e tudo que vê é um monte de cinzas espalhadas na cama. Ao lado as roupas ousadas de Malana que nunca mais foi vista na face da terra.

FIM

             

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