O
avião mal pousou e o celular de doutor Ricardo vibrou em seu bolso
da camisa. Sua voz grave e impaciente atente depois da sexta chamada.
-
Oi! - diz secamente.
-
Nossa, é assim que
você me atende depois de passar uma semana fora?
- indaga Laís sua esposa.
-
Laís, desde quando pisei em Hong Kong, você não parou de me ligar.
-
Estou com
saudade meu amor, não vejo a hora de te encontrar.
-
Já estou no aeroporto, devo está chegando em casa em meia hora.
-
Legal, vou
preparar um jantar delicioso em homenagem a sua volta.
-
Ótimo, vou chamar um táxi.
Ricardo
chama o táxi e Sabrina, uma morena sensual o abraça por trás o
beijando a nuca.
-
Era a chata da sua mulher?
-
Opa, veja lá como fala, ela pode ser um porre, mas ainda é a minha
mulher.
-
Sim, mas, ela faz o que eu faço? - disfarça e segura nas partes
íntimas do médico.
-
Sossega menina levada. - a beija.
-
Você falou que em meia hora estaria em casa, não foi? - lambe a
orelha do doutor.
-
Sim, por um acaso tem outra proposta? - acaricia o rosto bonito da
morena.
-
Que tal passarmos naquele motelzinho perto do meu prédio, estou
excitada.
-
Ótimo.
2
Os
movimentos
de Sabrina deixam o médico
sem
ar. Na cama a mulher é uma amante como poucas. O casamento de
Ricardo e Laís já teve dias melhores. Depois de um certo tempo, o
relacionamento
caiu na rotina e Laís ganhou alguns quilinhos a mais. Sem contar que
a mesma já o fez passar vergonha por causa de seus ataques de ciúme.
Tudo isso foi deixando o jovem doutor saturado de conviver com Laís.
O sexo termina e Ricardo está transpirando. Rapidamente ele se
levanta e vai para o chuveiro enquanto Sabrina permanece nua
deitada na cama.
-
Quando vamos nos encontrar?
-
Quem sabe no final de semana, eu posso inventar que estarei num
congresso. - fecha o chuveiro.
-
Vamos passar um final de semana
inteiro transando?
-
Será que eu aguento? - se seca.
-
Vou aprender novas posições. - sorrir.
-
Menina levada.
3
Ricardo
mal colocou as malas no chão e Laís o metralha com perguntas do
tipo; como foi a conferência? Como era o hotel onde ficou hospedado?
O que comeu? Com quem comeu? Ricardo tenta de todas as maneiras se
controlar para não explodir.
-
Tudo bem, tudo bem. Durante o jantar conversamos, estou cheio de
fome.
Realmente
conversaram. Laís quis saber nos mínimos detalhes como foram os
sete dias em Hong Kong. Depois do jantar, mesmo cansado e sem vontade
ele transou com sua esposa e ambos foram dormir. Durante a madrugada
Ricardo não parou de tossir. Ele se levanta e vai até o banheiro.
Abre o armário e pega o xarope. Tosse mais uma vez e cospe na pia.
Seu coração vem a boca ao ver sangue na saliva.
-
Meu Deus!
Pela
manhã Laís foi a primeira a acordar. Antes de se levantar ela beija
o ombro do marido e se assusta.
-
Nossa, Ricardo, sua pele está queimando, está com febre?
Ainda
sonolento ele abre os olhos.
-
O que?
-
Você está ardendo com febre, quer que eu peça ajuda?
-
Passei mal a noite inteira. Preciso ir ao consultório resolver
algumas questões. - joga o lençol para o lado.
-
Mas, como você vai dirigir nessas condições, você mal se aguenta
de pé, melhor voltar para cama, vou preparar um chá, sei lá.
Ricardo
volta a ter outra crise de tosse e dessa vez mais intensa. No lençol
branco ficam alguns respingos de sangue e isso deixa Lais
desesperada.
-
Ai meu Deus, você está tuberculoso. Vou buscar ajuda.
-
Laís, não viaja não, eu sou o médico aqui.
Com
o passar das horas as forças do médico foram se esvaindo. A febre
aumentou e as tosses tiveram seu intervalo reduzido. O tom de pele de
Ricardo passou do branco para o acinzentado. Todo o corpo treme e ele
sente frio. Quando Laís voltou ao quarto seu marido estava no meio
de uma nova crise de tosse e espasmos. Todo o lençol está sujo de
sangue.
-
Ricardo, por favor, o que houve em Hong kong?
Doutor
Ricardo já não consegue mais falar. Tudo o que sai de sua boca são
gemidos. Ele se agarra ao travesseiro. Laís corre e pega o celular.
Tremendo ela disca o número da emergência. Ela volta a olhar para o
marido que revira os olhos. Chorando ela volta para a cama e se
abraça ao jovem médico que rosna.
-
Não, Ricardo, o que está havendo com você? Não.
4
Foi
preciso amarrar o doutor na maca. Mesmo preso por gazes ele se debate
e rosna salivando.
-
Eu nunca vi uma coisa dessas, será raiva? - diz o socorrista.
Com
muita dificuldade é aplicado um medicamento em seu braço. Lais
volta a chorar quando as duas portas da ambulância são fechadas.
Mesmo desarrumada ela faz questão de acompanhar o marido até o
hospital. Durante o percurso ele se debateu bastante. A enfermeira
tenta a duras penas mantê-lo calmo. Em choque Laís fala com o
marido e acaricia seus cabelos. De repente aquele homem bonito e
atraente se transformou num horrendo animal que rosna e grunhe.
Finalmente o hospital. O médico é levado as pressas para o centro
médico ainda em estado crítico. O doutor que o atende se espanta em
ver o aspecto de seu colega e agora paciente.
-
Meu Deus, mas, o que ele tem?
Todos
estão em choque e ninguém sabe direito o que fazer. O estado de
Ricardo piora a cada instante e por fim, seus olhos se tornaram
grandes esferas brancas sem vida. Ele olha para as pessoas ao redor e
tenta atacá-las. Uma das amarras se rompe e doutor Ricardo segura
com força a enfermeira que o tratou dentro da ambulância. Ela é
puxada e mordida. O reflexo da mordida foi tão forte que houve
laceração.
-
Nossa, você está bem?
-
Não. A mordida está ardendo muito, parece brasa.
-
Vamos aplicar mais sedativos. - ordena o médico.
Com
muito esforço Ricardo é novamente amarrado na maca. Os sedativos
não causaram efeito algum e ele continua tentando atacar as pessoas.
A enfermeira foi socorrida e não passa nada bem. Muita febre e mal
estar. Aos poucos ela vai perdendo os sentidos e desmaia. Sozinha,
Débora cai no vestiário sem ninguém para ajudar.
Doutor
Walter conversa soturnamente com Lais que ainda chora.
-
A senhora sabe exatamente o que aconteceu com o seu marido?
-
O Ricardo é médico e ele passou uma semana num congresso na China.
Lá ele participou de experimentos, viu testes e tudo mais, é só o
que sei.
-
Experimentos? - coloca a mão no queixo.
-
Sim, por que? - funga o nariz.
-
Seu marido não está nada bem, ele mordeu minha enfermeira a ponto
de arrancar pedaço e a menina está muito mal. Ele está muito
agressivo, não consigo fazer exame algum nele.
-
O que o senhor pensa em fazer?
-
Pra ser sincero. - olha para a loira a sua frente. - não sei,
lamento.
5
Doutor
Walter conversava com Lais quando um corre corre deixa a todos
apavorados. Os guardas de plantão são acionados.
-
O que está havendo? - Walter pergunta.
-
A enfermeira Débora está atacando todo mundo. - responde um
segurança.
Dentro
da unidade hospitalar o caos está instaurado. Algumas pessoas foram
mordidas e estão caídas gemendo. Débora morde no pescoço uma
funcionária. O sangue jorra manchando a parede. Os guardas cercam o
corredor e tentam dialogar.
-
Enfermeira, somos nós, lembra. - saca o cassetete.
Os
olhos de Débora estão brancos e ela rosna salivando. A enfermeira
corre pra cima do homem uniformizado e o morde no braço. Sem ter
muito o que fazer ele bate com o cassetete em sua nuca. Ela não cai.
-
Ai, meu Deus.
Um
outro chega e aplica outro forte golpe, dessa vez no rosto. Débora
cai e imediatamente se levanta grunhindo. Fora de controle, tudo fora
de controle. Um PM chega sacando sua arma. Walter tenta impedi-lo.
-
Você não pode executá-la.
-
Doutor, será apenas um tiro para parar a ação dela.
Débora
morde outro guarda quando é alvejada com um tiro na perna. Ela
manca, mas não cessa com os ataques.
-
Que diabos é isso. - diz o PM.
Outro
tiro na outra perna e a enfermeira continua ameaçando. Apavorado o
agente a acerta no peito e ela continua de pé. Walter sente todos os
pelos do corpo ficarem arrepiados. Mais disparos no peito, abdome e
pulmão. Nada. O hospital aos poucos vai sendo evacuado e reforços
policiais vão chegando. Mais pessoas com os olhos brancos e que
rosnam vão surgindo. A imprensa já se posicionou na frente do
hospital e faz cobertura ao vivo dos fatos.
-
Ninguém sabe ao certo o que aconteceu com essas pessoas. - diz o
jornalista freneticamente ao microfone. - tudo o que se sabe é que
um paciente deu entrada hoje pela manhã apresentando um quadro
crítico que deixou a todos apavorados.
Enquanto
rolava a matéria mas tiros foram ouvidos. Gritos de pavor e muito
corre corre. Lá dentro o inferno acontece nos corredores frios. A PM
cerca o local sem ter muito o que fazer.
-
Vamos recuar, senhor?
-
Nada disso, vamos manter a resistência. - grita o sargento.
Um
dos policias é atacado e morto. Ao ver o colega de farda ser
devorado ele não tem alternativa. Ele atira acertando a cabeça. A
pessoa cai.
-
Veja, é só acertar a cabeça.
-
Vamos atirar então. - vocifera um soldado.
-
NÃO! - grita doutor Walter. - meu hospital não será palco de
execuções sumárias.
-
Doutor, com todo o respeito, isso aqui é o inferno e eles são os
demônios. - diz o sargento da PM. - atirem na cabeça desses bicho.
Enquanto
os pacientes são executados um a um, Walter tampa os ouvidos e
chora.
-
Não são bichos, são pessoas doentes, meus Deus, por que?
Ricardo
ainda se debate na maca. Seu rosto está mudado e não lembra nem de
longe aquele homem exuberante que era. Um PM acompanhado por um outro
médico entra na sala.
-
Faça o seu trabalho policial.
-
Deixa comigo, doutor.
Um
único tiro na testa e Ricardo em fim cessa os rosnados. Fim de
história. Muito sangue e massa encefálica nos corredores. Walter
chora compulsivamente em seu escritório. Realmente houve uma
carnificina generalizada. O país todo está em alerta. A todo
instante a chamadas nas emissoras de TV. O governador veio a publico
pela primeira vez.
-
Não há motivo para pânico, estamos de olho. Deixe conosco, tudo
está sob controle.
Longe
do local onde o governador fala, num corredor de um prédio singelo
alguém tem as vísceras devoradas por uma morena sensual. Ela escuta
o barulho que as crianças fazem no playglound e corre na direção
do som. Sabrina ganha a parte externa do prédio com seus olhos
brancos e o rosto transformado. FIM
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