quarta-feira, 27 de junho de 2018

Nível Máximo 2


1


Como ele adora a noite, para Sidnei ela é o melhor período do dia, ela jamais deveria dar lugar a luz do sol. Lessa agora está parado olhando para aquela mansão. Em sua mão direita a máscara, na outra sua inseparável sacola. Ele consulta o horário.
               - Hora de trabalhar.
           A mansão pertence ao um famoso político. Os muros altos com câmeras de segurança em pontos estratégicos demonstram que lá dentro deve haver uma bela soma em dinheiro vivo e é claro joias. Ele atravessa a rua daquele condomínio. Com habilidade de poucos ele sobe no muro. Claro que além das câmeras há também uma cerca com sisteme elétrico. Sidnei olha ao redor e não percebe a existência de cachorros. A barra está limpa. O ladrão pula no jardim e rola para junto de uma pequena árvore. Começando a transpirar, Sidnei abre a sacola e saca sua arma, um trinta e oito. O bandido coloca sua máscara e se rasteja até perto da garagem. Aparentemente nenhum movimento dentro da mansão. Bom sinal.
          Sidnei só pensa nas joias, ou na grana, essa é a sua ambição, sua motivação. Antes de ser um ladrão ele era apenas um repositor de supermercado, um pobre miserável que tinha que esperar todo um mês para ganhar um salário de fome. Ele cansou, cansou das broncas, do patrão, do chefe, de todos. Agora ele é bem sucedido, o dinheiro é ilícito, mas para ele tá valendo.
           A garagem está fechada, péssimo sinal. Ele faz a volta e encontra uma pequena janela perto da piscina. Com cuidado e agilidade de um gato e chega até a tal janela e a força. Ela cede. Ele força mais um pouco e ela abre. Legal. Sidnei olha para trás, parece ter ouvido um barulho. Rapidamente ele passa pela janela. Lá dentro parece ser um quartinho onde colocam as coisas já sem uso como computador, vassouras, cadeiras e outras tralhas. Muita poeira e isso é péssimo para um alérgico. Sidnei segura o máximo os espirros.
            - Nossa!

2

Agora Lessa está na cozinha da mansão. O silêncio é sepulcral. O cômodo é gigante, tudo em aço inox, realmente uma beleza. Sidnei escorre até a sala. Aonde deve estar o cofre com a grana e as joias? Na sala há uma enorme estante com livros e enciclopédias. Uma TV de quase cinquenta polegadas, sofá de forro branco, tudo maravilhoso. Cadê o cofre? De repente as luzes se acendem. Sidnei só teve tempo de se esconder atrás das cortinas. Seu coração vem a boca. Lá está ela, a mulher do político, linda, um encanto de mulher. O que ela veio fazer na sala a essa hora?
           Realmente a esposa do deputado é um espetáculo. Claro, ela é mais jovem que ele alguns anos. Sidnei saliva ao vê-la naqueles trajeis de dormir. Ela volta da cozinha com um copo de água. A menina boceja e bebe. Linda. Para a surpresa do ladrão, um sujeito coberto de músculos vestindo apenas uma cueca box também aparece na sala. Ele a segura por trás.
                - O que foi, não consegue dormir? - questiona o rapaz.
                - Só vim pegar água.
                - Vamos subir. - a beija na nuca.
                - Só vou terminar de beber minha água.
           O casal começa a trocar beijos molhados e barulhentos. O musculoso começa a despir a mulher do deputado ali mesmo na sala. Que cena. Ela tem os seios apalpados.
                - Vamos subir. - por fim ela não resiste.
            O caminho mais uma vez está livre para o ladrão. De volta a escuridão Sidnei continua a procurar o cofre. Nada foi encontrado na sala. Ele sobe as escadas e já é possível ouvir o ruido da cama e os gemidos da mulher do deputado. Nada como uma bela transa numa bela mansão. Bem a frente um corredor e nesse corredor um quadro pendurado. Com certeza o cofre está atrás do quadro. O ladrão afasta a moldura e lá está. Muito bom.
             Sidnei anda até a porta do quarto que se encontra entreaberta e contempla uma clássica cena de sexo explícito. O clima é tão gostoso que o casal não percebe a presença de Sidnei ali.
              - Muito bonito hein? - diz o ladrão apontando seu trinta e oito.
              Muito apavorado o rapaz desengata da mulher e ela solta um gritinho.
              - O que você quer? - pergunta ela.
              - Adivinha?
              - Por favor cara, não me mate. - implora o rapaz.
              - Cale a boca, se fizerem exatamente o que eu mandar, ninguém sairá ferido ou morto.
              - Leve tudo o que precisar. - fala a mulher.
              - Quero o segredo do cofre, agora.
              - Eu, eu não sei.
             Sidnei enterra o cano da arma na nuca do rapaz e inicia uma contagem.
             - Um, dois, três.
             - Calma, por favor. - grita a mulher. - posso me vestir?
             - Não, eu quero o segredo do cofre, já.
             - Por favor. - começa a chorar.
             - Quatro, cinco…
             - Tá bom, tá bom, vamos lá.
          A esposa do político na frente. Logo atrás dela o sujeito que treme dos pés a cabeça. Os dois estão nus. Sidnei continua apontando seu trinta e oito para a cabeça do amante. Agora eles estão frente a frente com o cofre. O ladrão olha para a mulher e com um gesto rápido de cabeça ele ordena que ela comece a abri-lo. Não é tarefa fácil lembrar de combinações de um cofre, ainda mais quando se tem uma arma apontada para você. Com as mãos suando e trêmulas, a mulher do deputado vai girando e voltado até que um estalo indica sua abertura.
             - Pronto, está tudo ai, dinheiro, documentos e joias, minhas joias. - diz chorando.
             - Fique quieta sua vagabunda.
            O amante não esboça reação.
             - Vamos, coloquem tudo dentro da sacola, vamos.

3

Cinco minutos depois Sidnei está saindo da mansão carregando sua sacola. A noite já é alta e assim que ele chega na rua o ladrão corre para uma outra rua mais escura e deserta. Ali ele troca de roupa e continua a andar apressadamente até uma via de mais movimento. Assim que ele chega no acostamento um táxi vem passando e ele sinaliza.
               - Por favor?
               - Boa noite, para onde vamos meu chefe? - pergunta o taxista um homem barbudo.
               - Vamos voltar para o centro. - abre a porta traseira.
               - Você quem manda.

*

O carro da polícia faz a curva e breca. Dele descem dois apressados agentes. Paulo Alves faz sinal para que todas as ruas sejam fechadas. Na entrada da mansão a esposa do deputado chora copiosamente ao lado esposo.
               - Boa noite senhor deputado.
               - Boa noite detetive Alves, vamos entrando.
               Paulo entra na mansão admirado com a beleza do lugar.
               - Conte-me como tudo aconteceu senhora Rafaela
            É claro que Rafaela pulou a parte em que estava transando com seu amante. Paulo Alves ouviu e anotou tudo. Depois de olhar o cofre ele se reuniu com sua equipe.
             - Sidnei Lesse agiu outra vez. Roubou cerca de vinte mil em dinheiro e quase cem mil em joias, temos que enjaular esse vagabundo, vamos.
           
Sidnei está deitado em meio a várias notas de cem. Ele sorrir e as joga para alto. Naquele quarto de hotel ele esbanja felicidade. Mais um bom trabalho realizado. Até quando isso pode durar? Isso ele não sabe, ele não é do tipo de pessoa que pensa muito no futuro, tudo que Lessa quer é vivenciar o presente dissolutamente. Dentro da sacola as joias brilham aguardando o momento de serem vendidas. Sidnei Lessa, quando você imaginaria que seria um ladrão? Que jamais passaria por necessidade outra vez. O seu mundo são as joias, o seu mundo é o risco, o nível máximo do perigo.
             Ele se levanta e anda até a janela. O dia vem despontando, quebrando o manto negro da noite. Será um dia muito agradável, dia de sol. Ele volta a sorrir e se recorda de seu pai, aquele homem cuja as mãos eram cobertas de calos e unhas apodrecidas. Trabalhava todos os dias e mesmo assim não conseguiu dar uma vida digna a família. Morreu trabalhando, não aproveitou a vida. Pobre diabo. Sidnei faz questão de espalhar os pensamentos voltando para a cama. O sono começa a bater forte, mas antes ele junta todo o dinheiro e o organiza dentro da sacola junto com as joias. Tudo pronto. Ele programa o despertador para as dez horas e se joga na cama já dormindo. Bons sonhos, ladrão. Fim        
   

  

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