sábado, 30 de junho de 2018

Nível Máximo 3


        O departamento de polícia nunca esteve tão agitado, tão movimentado, praticamente um furação devastador. Paulo Alves quase consome suas unhas com seus olhos atentos na tela do monitor. Sidnei Lessa, esse desgraçado vem lhe tirando o sono desde o seu surgimento. No início o detetive achava que ele não passava de um ladrãozinho pé de chinelo, mas com o passar do tempo, Paulo se viu lidando com um profissional. Agora ele se encontra ali, parado concentrado observando imagens de uma câmera de segurança aguardando o momento em que o gatuno agirá.
- Apareça, desgraçado.
Finalmente ele aparece com seu típico caminhar, sem se preocupar muito em ser identificado. Ele passa pela câmera e ainda faz um gesto obsceno e depois some. Paulo Alves se vê segurando com força o controle da TV. Momentos depois Sidnei passa mais uma vez segurando sua sacola pesada e desaparecendo em seguida. Dessa vez foi muito rápido. Muito nervoso o detetive congela a imagem e vai até seu armário pegar um mapa. Ele o abre em sua mesa e começa a fazer círculos com um piloto vermelho. Nessa hora um outro policial invade a sala mastigando amendoins.
- Qual a boa, Paulo?
- Sidnei Lessa, dessa vez eu pego ele, tracei alguns pontos onde ele gosta de agir, resta agora nos anteciparmos, o que acha?
O policial volta a colocar alguns amendoins na boca e depois observa o mapa.
- Tudo certo, pelos cálculos o próximo assalto será nessa região.
- Dessa vez eu pego ele.
*

Sapatos caros e bem engraxados, camisa de ceda cor vinho e calça. Bem barbeado e perfumado. Sidnei entra na sala do todo poderoso Barbosa Neto segurando sua sacola com as joias do último roubo. O escritório é sujo, empoeirado, Barbosa Neto faz questão ficar ali quase que o dia inteiro fechando negócios com seus “fornecedores”. Ao lado do chefão um segurança gordo segurando uma pistola. Sidnei faz um gesto de cabeça para o segurança e depois abre um sorriso falso para o mafioso.
- Grande Barbosa Neto, tenho novidades.
- Sem muita enrolação hoje, Sidnei, tenho muito o que fazer. - diz com a mão espalmada.
- Tudo bem. - abre a sacola e a mostra para o bandido.
  Os olhos escurecidos do velho se abrem ao ver o conteúdo da bolsa.
- Onde arrumou isso?
- É uma história muito longa. - dá ênfase no muito. - então, posso dar o meu preço?
- Por favor. - aponta para uma cadeira.
Lessa sai do escritório satisfeito em ter feito negócios com o chefão do crime. Ele sai na rua e seu coração vem a boca ao ver uma viatura passando. Ele entra em uma lanchonete e olha pelo vidro o carro diminuindo a velocidade e parando. De dentro do carro descem dois policias que entram no escritório de Babosa Neto. Certamente vieram pegar a mensalidade da semana. Cambada de corruptos. Uma simpática atendente o aborda.
- Quer experimentar um dos nossos lanches, senhor? - lhe oferece o menu.
Até que um sanduíche de frango com salada cairia bem.
- Sim, claro.

*

Sidnei aguarda a chegada de seu pai no portão. No estômago somente o café da manhã. Seu pai havia prometido trazer pão doce, só de lembrar o estômago do menino de nove anos se retorce. Quanta fome. Já são quatro da tarde e lá vem seu Dirceu Lessa arrastando seu chinelo segurando uma sacola de supermercado e olhar soturno.
- Pai, pai, trouxe?
- Vixi, filho, hoje o patrão não deu vale.
- Mas pai a mamãe e eu não almoçamos. - cruza os braços aborrecido.
- Filho, o papai também não comeu e mesmo assim tive que trabalhar.
- O que vamos comer?
Sidnei corre para rua limpando as lágrimas com seu estômago ainda reclamando e a boca amargando. O menino só para de correr ao ver uma frangueira assando alguns galetos. O valor é exposto e Sidnei enfia a mão nos bolsos do short e só sente as coxas. Que droga de vida. Por que alguns tem muito e outros simplesmente não tem nada? Por que preciso passar por essa situação? Não, tem algo de errado nisso. Mudarei minha história.
O garoto Sidnei se aproxima da frangueira observando cada movimento do proprietário. Não será tarefa fácil. De repente o dono dos galetos se vira para ele.
- Vai levar um garoto?
- Si, sim. - arregala os olhos.
- Vou tirar pra você. - abre a assadeira. - quer escolher?
- Aquele ali. - escolhe o mais parrudo.
Gentilmente o homem coloca o frango inteiro na bandeja e se vira para pegar a embalagem. Quando se volta para o garoto ele já não está mais lá e nem o frango.
- Mas que moleque sem vergonha.
Lessa corre segurando o frango que queima sua mão. Ele sorrir. Correndo ainda mais ele consegue chegar num terreno baldio. Salivando e sentado numa pedra não muito confortável ele devora o frango. Um pequeno cachorro vem ao seu encontro.
- Já sei, você vai querer um ossinho. - retira a asa. - toma.
A vida agora é outra. Sidnei ainda não é um homem realizado, porém fome ele não passa mais. Naquele quarto de hotel ele vislumbra um futuro diferente de seus pais, um futuro próspero, glorioso. Hoje ele tem dinheiro, pode dormir numa cama confortável, anda de táxi pra cima e para baixo, come nos melhores restaurantes sem se preocupar se a grana vai faltar. Sim, esse império ele vem conquistando e construindo vivendo do perigo.

*

A polícia vem fechando o cerco sob as ordens de Paulo Alves. De acordo com o mapa Lessa atacará outra vez na região onde sua mancha criminal é mais intensa. Se tudo dar certo a prisão de Sidnei é questão de tempo. As viaturas circulam dia e noite nos pontos mais críticos. Dentro da viatura Alves observa no mapa cada casa roubada. Ele se sente desafiado, ele se vê na responsabilidade de dar uma resposta a sociedade e também as vítimas que tiveram seus pertences roubados. O trabalho de um policial consiste em ter paciência, expertise, inteligência. Tudo isso ele usará. Hora de colocar Lessa atrás das grades. Fim           



 
                    




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