domingo, 3 de maio de 2020

Maria Fernanda


Maria Fernanda

Finalmente uma vaga. Uma rica oportunidade de viajar sentada até a estação de seu bairro. O assento do trem, o metrô quadrado mais disputado às seis horas da tarde dentro de uma composição lotada. Maria Fernanda foi contemplada. Mais sete estações, tempo o suficiente para adiantar sua leitura do romance que comprou mês retrasado. Assim que a senhora gorda se levantou, ela se preparou para ocupar o lugar antes que o sujeito mal cheiroso a seu lado sentasse. Maria Fernanda conseguiu e ficou aliviada por isso. Suas lindas pernas agradeceram e muito. De vestido rodado de estampa florida, a jovem secretária tirou de sua bolsa o tal livro e o abriu na página marcada retomando sua leitura.
      Enquanto navega pelas palavras envolventes da história, Maria se sentiu sendo observada. Relutante ela marcou a página com o dedo indicador e fechou o livro. Seus olhos verdes foram direto num rapaz magro, de barba rala usando touca olhando para ela se segurando na barra. Um sujeito até bonito, bem vestido, parece educado, mas no momento Maria só quer terminar de ler seu livro em paz. Foi o que fez. Mergulhou fundo na leitura, mas ela ainda sentia a energia vinda do rapaz em pé a sua frente. Maria Fernanda voltou a fechar o livro e olhou para o jovem. Tem algo de estranho com ele, pensou ela. Maria manteve o olhar nele sem piscar e o tal sujeito mordeu a isca. Maria Fernanda entrou na mente do rapaz, “oi, com quem falo?”
       De repente o rapaz sentiu como se alguém estivesse falando ao seu ouvido. Ele olhava para Maria Fernanda vendo tudo em câmera lenta. Ele piscou algumas vezes. Olhou para baixo, seus pés dentro do tênis estavam dormentes.
        - Acho que estou infartando. – murmurou.
       Maria seguia tentando entrar em contato mentalmente com ele, porém o mesmo resistia. “diga, com quem estou falando?”. Transpirando, o rapaz tirou a touca e se abanou com ela. Outra vez a voz ecoou em sua mente, “me diga o seu nome. Sou eu, a moça de vestido florido”. “não é possível, isso não pode estar acontecendo”. Maria Fernanda aproveitou a brecha e entrou de vez. “é possível sim, eu estou te ouvindo, não tenha medo, só me fale o seu nome”. Com a garganta seca o garoto sentiu uma forte dor de cabeça. “o que está fazendo comigo? Saia da minha mente” “posso saber pelo menos o seu nome?” “tá bom, meu nome é Matheus, satisfeita agora? “não, não estou satisfeita ainda. Por que me olhava tanto?” “poxa, você nunca ouviu falar em paquera?” “ah, então você estava interessado em mim?” “pois é”. Maria Fernanda guardou o livro dentro da bolsa ainda lendo a mente de Matheus. “ qual a sua idade, Matheus?” “ 23” “vinte e três anos e já levando essa vida?”
“ do que está falando?” Matheus voltou a engolir seco. “ você infelizmente não é uma pessoa do bem, Matheus, na verdade você viu em mim uma vítima em potencial. Acertei? “ é que...” o rapaz se abanou com a touca. O trem parou numa estação onde boa parte das pessoas desceram. Matheus tremeu olhando para Maria Fernanda, “ essa é minha estação, só que eu não consigo me mexer, o que fez comigo?”. Maria Fernanda sorriu para ele e depois soltou uma forte gargalhada assustando os demais passageiros. Na mesma hora ela controlou a mente de todos. “ pois é, Matheus, sua vida está prestes a tomar outro rumo” “ o que vai fazer comigo?” “te matar” FIM.

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