quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

Bala Negra - Capítulo 1

 


BALA NEGRA

 

Um ano. Há um ano Marli Porto investigadora da polícia vem numa verdadeira caçada a Nilton Lins e hoje, finalmente hoje, ela terá o prazer de algema-lo. Dá uma resposta a sociedade é pouco para ela. O ato criminoso de Lins custou a vida do casal de idosos e também o casamento da detetive. Desde quando foi escalada e assumiu o caso, Marli mergulhou fundo deixando sua família em segundo plano. Pedro, seu marido há dez anos, não conseguia entender tal dedicação da esposa. Para ele foi apenas mais um crime. Basta fazer os procedimentos corretamente e pronto, Nilton estaria atrás das grades. Para um leigo como Pedro às coisas funcionam dessa maneira, porém Nilton não é qualquer fora da lei. Ele não é um bandidinho formado na esquina. Lins matou o casal de idosos a machadadas. Roubo seguido de morte e não foi só uma vez. Nilton é violento, temido até por outros criminosos. O assassino do machado precisa ser tirado de circulação imediatamente.

Marli também quer por às mãos em Lins porque ele, de forma indireta destruiu seu casamento com o homem que ela ama. Pedro não suportou o fato de ter sido jogado para escanteio por causa de uma investigação. Marli não quer admitir nem mesmo para ela, mas verdade seja dita, ela ficou paranoica. Sua mente vivia em constante ebulição devido as pressões sofridas.

- A sociedade, a imprensa e o que é pior, o governo precisa de uma resposta. – falou o delegado.

- Nilton é escorregadio demais. Ele está sempre a um passo a nossa frente.

- Marli, confiamos esse caso a você. Você já provou que é eficiente e que não está aqui para brincadeira. Se Lins está sempre a um passo a nossa frente é porque você vem dando esse espaço a ele. – entrelaçou os dedos. - lembre-se, Marli Porto, só avança que acha espaço.

Porto se lembra desse dia como sendo o pior de sua vida. Delegado Cardoso estava coberto de razão, mas ele não sabia o que sua melhor agente estava passando dentro de casa. Ela é uma agente da lei cumpridora de seu dever, mas por trás daquela negra alta imponente existe uma mulher como todas às outras. Marli estava a ponto de explodir e cada vez que uma operação falhava ela sentia vontade de chorar trancada em seu quarto, ou recostar a cabeça no peito de Pedro e ficar ali. Mas ela não pode se dar a esse luxo. Demonstrar fraqueza está fora de cogitação.

A prisão do inimigo público número um agora é questão de tempo. Durante um ano Marli e sua equipe montou um esquema infalível que certamente terminará com Nilton enjaulado. Não há como sair errado. Assim ela espera. Essa manhã foi ainda mais atípica. Além de ter que se acostumar a viver uma nova vida de mulher separada, acordar sem Pedro a seu lado na cama, Marli foi notificada sobre a presença de Lins nas imediações de seu bairro.  Foi preciso deixar a preguiça e o desânimo de lado e partir. A primeira fase do plano, digamos, seria a pior. Identificação. Encontrar Nilton seria como tentar encontrar uma agulha num palheiro. Todos da equipe tinham plena convicção de que seria difícil, quase impossível, porém não sabiam que seria tanto. Pra começar, Nilton Lins estava totalmente diferente desde sua última aparição. Os longos cabelos e barba já não existem mais. Ele agora posa de galã com cabelos bem cortados e sem barba arrancando suspiros das desavisadas. Foi preciso um olhar microscópico  para identificá-lo.

Equipe alertada. Equipe focada. Cada um em suas posições e pronto. Resta somente esperar e aborda-lo. A segunda fase do plano foi um pouco mais fácil. Seguir os passos do assassino, entrar em sua rotina. Foi um trabalho fácil? Sim, foi, porém cansativo, chato e enfadonho. Lins não é um cidadão comum, vale lembrar que ele é um foragido da polícia e rotina para um fugitivo é sinônimo de prisão certa. Demorou, por fim conseguiram saber o que o matador fazia todas às manhãs. Restou apenas organizar a operação para um minucioso mapeamento de seus passos e aguardar que a fera morda a isca.

 

*

 

Nilton já havia sondado aquela casa fazia alguns dias. Descobriu que o casal de idosos moravam sozinhos e que dificilmente recebiam visita de filhos ou amigos. Lins também percebeu que o velho demorava alguns longos minutos para fechar o portão depois do passeio com o cachorro. Dai pra frente foi fácil. Certo final de tarde ele aguardou o aposentado passar em frente a uma construção inacabada puxando o vira-lata.

- Vamos andando Pipoca.

A vítima passou. Lins se apossou do machado recém comprado. Esperou até que seu Batista se aproximasse de seu portão e foi atrás. Como era de se esperar, Batista demorou para fechar o portão devido as dores nas mãos.  Foi abordado.

- Cala a boca e entre. Vamos!

- O que, como assim?

Nilton o empurrou. O idoso perdeu o equilíbrio e caiu batendo as costas no chão. A cadela começou a latir e foi a primeira a estrear o fio do machado.

- Santo Deus. – gemeu Batista.

- Levanta, vamos e nem tente alarmar. – Lins o puxou pelo braço com truculência.

Lá dentro é uma típica casa de classe média. Os móveis são poucos, porém valiosos, sem falar nos eletrodomésticos. Mas o que realmente interessava Nilton era o dinheiro. Sim, apesar do charme, da boa aparência, Nilton Lins não passa de um ladrão de residência barato. Aos empurrões o dono da casa é conduzido até onde sua esposa se encontra, na cozinha adiantando o jantar.

- Fale para ela o que está acontecendo. – jogou o velho contra a mesa.

- Por favor, não nos faça mal, leve o que quiser. – implorou o aposentado.

- Batista, meu Deus, o que está acontecendo aqui? – Dora soltou a faca.

- O dinheiro, eu quero o dinheiro e não adianta dizer que não tem porque eu sei que tem. – vociferou ameaçando-os com o machado.

Dora olhou para o esposo que tinha no rosto a face do pavor. Depois se voltou para Nilton que transpirava e respirava perigo. Ele está falando sério, pensou a ex professora.

- Promete nos deixar em paz? – perguntou Dora.

- Não posso prometer nada. – bateu no cabo da ferramenta.

As coisas não acabaram bem para o casal Dora e Batista. O crime repercutiu e sensibilizou a todos. O sentimento de revolta também foi generalizado. Nilton saiu da casa dos idosos naquele início de noite carregando a arma do crime – limpa é claro e como uma boa soma em dinheiro. Os corpos foram encontrados três dias depois por familiares que acionaram a polícia. Como não há crime perfeito e nem mal que dure para sempre, Lins pecou ao não averiguar se havia câmeras de segurança na casa. Poderia não haver na casa de Dora e Batista, mas do outro lado da rua, exatamente na calçada do vizinho da frente existia uma e registrou tudo, inclusive a saída ligeira do assassino. Marli Porto enquanto analisava às imagens trancava as mandíbulas e socava a mesa sem parar.

- Eu te pego desgraçado.


12 comentários:

  1. Uau! Que assassino bárbaro!
    Parabéns Julio pela primeira parte com conto.

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  2. A construção dos personagens é envolvente e me fez querer saber mais, especialmente sobre o assassino, que usa métodos tão macabros. Acho que ele ainda vai dar um trabalho, viu hahahaha Aguardo as próximas partes!

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  3. Adoro assassinos do Machado...kkkkk
    Iniciou a história muito bem.
    Parabéns!

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  4. Bem interessante. Q frieza que esse Lins tem, até o pobre Pipoca! Aguardando a resolução.

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  5. Ficou ótima a primeira parte do seu texto. Adorei uma mulher como investigadora. Muito bem construido.

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  6. Muito bom gostei ,ótimo pois colocou uma mulher como investigadora muito bom texto.

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  7. Bem intrigante esse conto. Parabéns!!!!

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  8. Muito bom o conto! Parabéns! Aguardando o próximo capítulo!

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  9. A segunda parte? Sigo aguardando . Você é ótimo 👏👏👏

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