BALA
NEGRA
Um
mês um conto
O crime foi sem dúvida alguma horrendo,
terrível, notório. Até a imprensa internacional ficou chocada com o ocorrido.
Para se ter uma ideia, no dia do sepultamento um dos maiores jornais americano cobriu
o acontecimento e ainda conseguiu uma exclusiva com a policial responsável pelo
caso. Marli não estava afim de falar, o momento não pedia esse tipo de
exposição, porém foi vencida pelo cansaço. Quando a jornalista posicionou o
microfone e disparou a primeira pergunta, Porto agradeceu por ter feito, mesmo
contra sua vontade, o curso básico de inglês.
- O que a senhora tem a dizer sobre o
caso?
Marli pigarreou antes de responder.
- Bom! A polícia vem fazendo o
trabalho dela. O que eu posso dizer é que, um crime brutal como esse não pode e
não ficará impune.
- E quanto ao assassino do Machado,
Nilton Lins, segundo me foi passado, não é a primeira vez que ele comete um
crime bárbaro como esse. A senhora confirma essa informação?
Se Marli fosse uma mulher branca
estaria ruborizada de vergonha. A repórter tinha razão. Lins possui uma ficha
quilométrica e mesmo assim a polícia ainda não conseguiu detê-lo. A experiente
investigadora precisou ser rápida.
- Sim, confirmo. Nilton nos vem
tirando o sono a muito tempo. A minha polícia trabalha com inteligência. Não
estamos lidando com um criminoso comum mas, lhe garanto que a prisão desse,
assassino do machado, será prioridade.
Assim que a jornalista agradeceu a
oportunidade, Marli pode voltar a respirar. O tempo passou e ela nem sentiu. Quando
saiu da capela o cortejo já seguia rumo ao jazigo perpétuo da família Batista.
Foi comovente demais, pesado demais, houve desmaios e até um curto, mas
agressivo discurso por parte de um membro da família. Marli estava a uma certa
distância e só o que conseguiu ouvir foi um ruidoso pedido de justiça que ecoou
nos murros pichados daquele cemitério. Para a policial já deu. Hora de voltar
para o departamento e cuidar do caso.
*
A tensão aumenta a cada segundo. A
qualquer momento Nilton entrará naquela lanchonete. Porto precisa se manter
calma, fria, como sempre foi. Sua sorte precisa mudar. Sua equipe a informou
que ele adora os pães de queijo que são feitos naquele estabelecimento e que
toda manhã Lins compra dois ou três para viagem. Olhando de longe até que a
iguaria é realmente atrativa. Marli se viu tentada em pedir um, mas se conteve
em ficar só na água com gás. Por falar em água, Pedro mais uma vez lhe veio a
mente. Pra falar a verdade ele nunca sai de sua cabeça. A água é a sua bebida predileta,
depois disso só o café. Quanta falta ele tem feito, principalmente nessa fase.
Marli sente falta do cheiro dele. Ela se recorda das brincadeiras de seu Ogro
amado, como costumava chamá-lo.
- Você cheira a manteiga de cacau. –
dizia ele a beijando no pescoço.
- E você a loção pós barba.
Claro que essas trocas de carinho terminavam
sempre na cama ou ali mesmo, na mesa da copa. Marli pode dizer tranquilamente que
se separou do marido fazendo sexo. Três vezes por semana. Era fantástico. Essas
lembranças só fazem o ódio por Nilton crescer, “ele me afastou de você”. A
história de Pedro com ela começou engraçada. Marli percebia os olhares dele, só
não entendia por que ele não se aproximava dela. Foram seis meses até o
professor universitário criar coragem para o primeiro contato. Marli estava
parada no primeiro degrau da escada que a levaria até sua sala de aula no
segundo andar. Pedro estava descendo e quando a viu ali, sozinha, tratou logo
de lhe chamar atenção.
- Com licença, sua bolsa está aberta.
– falou rápido.
- Ah, sim, obrigada, eu estou respondendo
algumas mensagens. Já guardo o telefone.
- Ah, não, fique a vontade, não é
permitido o uso do celular em sala de aula, mas nos corredores sim, ainda mais
sendo você uma policial. – o “ policial” saiu sussurrado.
Marli franziu o cenho.
- Me desculpa. – gaguejou empurrando
os óculos pra cima. – na biblioteca, outro dia, você deixou sua pasta
semiaberta e, vi seu distintivo.
Marli ficou surpresa e assustada ao
mesmo tempo. Outro mole desse e a faculdade inteira ficará sabendo da
existência de uma policial na instituição.
- Professor Pedro Oliveira. –
estendeu a mão.
- Marli Porto. – apertou firme aquela
mão enorme e peluda.
Dali pra frente os encontros e
esbarrões se tornaram frequentes até o dia em que Pedro a convidou para sair e
ainda dentro do restaurante o professor se declarou para ela que aceitou sem
hesitação. O beijo não aconteceu ali, naquela mesa, mas sim dentro do carro.
- Eu já estava afim de você também,
por que demorou tanto? – declarou Marli segurando o rosto do namorado.
- Já lhe disseram que você é uma
mulher imponente?
- Ah, sim, muitas vezes. – bufou.
- É, isso assusta, um pouco. Mas,
agora quero mais um beijo.
Mais uma lembrança que entornou
gasolina na chama de seu ódio por Nilton. Pedro agora está distante dela. O que
pesa nisso tudo é saber que ainda existia amor verdadeiro entre os dois. Como
todo e bom casal, eles discutiam, mas nunca foi cogitado a possibilidade de separação.
Nem quando houve um certo desconforto por parte da família de Pedro que não
aceitavam o fato dele estar se relacionado com uma mulher negra. Marli bateu de
frente com a sogra e as duas quase chegam as vias de fato. Foi uma noite a qual
a policial deveria, mas não consegue esquecer. Pedro ficou contra sua família e
resolveu apostar no relacionamento com ele. Esse era e é o homem que ela ama.
Uma lágrima teimosa surgiu e ela a deixou escapar. O celular vibrou no bolso da
calça. Sinceramente ela desejou que fosse Pedro, mas não era o seu amado.
“Ele acabou de sair e está indo nessa
direção”
*
Sabe quando você acorda e aquele
pressentimento de que tudo não sairá como o planejado te assola e mesmo assim
você resolve arriscar por que não tem outro jeito te assola? Pois é, isso
também acontece com pessoas da estirpe de Nilton Lins. Ele não teve uma boa
noite de sono. Sonhou várias vezes que estava sendo preso e tortura. Se
levantou no meio da madrugada para tomar banho, se livrando do suor denso. Em
determinados momentos ele se perguntou o que ele fez com a vida daquele garoto
que só queria curtir e brincar? Daquele menino que todos achavam que seria
modelo fotográfico ou ator de novelas. O que ele fez de sua vida. Vida? Que
vida? Ela acabou quando ele cometeu seu primeiro homicídio. Quando ele afogou
sua namorada na banheira daquele motel cinco estrelas. Foi complicado no
início, mas com o passar do tempo Lins acabou tomando gosto pela morte. Ele não
dormiu mais depois da quinta tentativa. Preferiu ficar vendo fotos de mulheres
nuas na internet até o dia clarear e por fim tomar um café e comer pão de
queijo na lanchonete.
Muito interessante! Gosto muito da personagem principal, Marli, que é uma mulher forte. Mas ao mesmo tempo gosto da vulnerabilidade dela e seus sentimentos por Pedro... E por mais que o Lins seja muito inteligente e intrigante, eu espero muito que Marli consiga prendê-lo!
ResponderExcluirGostei bastante da história e da Marli
ResponderExcluirGostei bastante...dois personagens marcantes...torcendo muito pela Marli.
ResponderExcluirAmando a Marli, personagem incrível! Ansiosa para a terceira parte!
ResponderExcluirMuito bom. Aguardando o final
ResponderExcluirBom! :) Agora quero ver como acaba hehe
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