Alta
Pressão
Capítulo 4
No que me tornei? Logo eu, criado com todo o
rigor por minha vó materna que exigia de mim disciplina e uma boa dose de
espiritualidade. No que me tornei? Do que valeu todo o esforço de minha vó que
só queria que o único neto tivesse um destino diferente dos pais que se foram
cedo demais. Meus pais se deixaram levar pela vida desregrada, sem limites,
empapada por doses e mais doses de álcool e droga pesada. Graças a minha vovó
eu fui resgatado a tempo, antes de ser consumido também e tudo pra que? Hoje
tenho minha cabeça a prêmio por um valor alto. Me desculpe, vó, não estou
fazendo valer o seu esforço.
Dutra abriu bem devagar a janela do apartamento
onde se encontra escondido desde quando soube que toda Viva Paz está a sua
procura. Seu coração bateu um pouco mais aliviado ao ver os dois seguranças
posicionados do outro lado da calçada. Enquanto os dois estiverem ali, suas
noites de sono estarão garantidas — pelo menos é o que ele pensa. Tudo em paz
lá fora, agora é hora de sentar- se com seu braço direito e traçar novos rumos.
Viver escondido não é vida pra ninguém. Ele precisa admitir, dessa vez a polícia
fez um golaço jogando a população contra ele. Porém ele precisa reagir.
— Posso entrar? — perguntou Sueco parado na
porta.
— Está atrasado, hein! — lhe apontou uma das
cadeiras.
— Ué? Acordou de ovo virado? É a vida meu
brother.
— Já chega, eu não tenho o dia inteiro, preciso
de uma solução e rápido.
Sueco olhou para Gilmar um pouco mais demorado. O
companheirismo dos dois é de longa data, teve seu início no reformatório quando
ambos tocavam o terror nos corredores estreitos e escuros da instituição. Dutra
era o mais ousado. Certa ocasião ele invadiu a sala da direção e destruiu tudo
o que estava a sua frente. Isso lhe custou quinze dias de detenção, sem falar nas
intermináveis surras dadas pelo próprio diretor. Gilmar sofria por agir por ímpeto,
por isso ele se juntou a Sueco para pensar por ele.
— Eu te avisei. Atacar a polícia é assinar atestado
de burrice.
— Eu precisava dar uma resposta. — vociferou.
— Pois é e agora tem uma cidade inteira atrás de
você.
Gilmar voltou a abrir de leve a janela.
— Você é a cabeça pensante do grupo. Me tire
dessa enrascada.
*
Um trinta e oito na cintura. Uma jaqueta suja
para cobrir a droga da arma e agora e só ir lá e pegar o sujeito. Simples. Assim
sobrevive um caçador de recompensas. Ele é conhecido pelo vulgo Cacau, devido ao
seu tom de pele. Cacau leva a vida matando bandidos por soma em dinheiro vivo.
Assim que soube da recompensa a Gilmar Dutra, ele adiou os outros compromissos
para tentar a sorte com o maior malfeitor de Viva Paz.
— Matar Gilmar Dutra? Você está louco, Cacau? A
polícia também está a sua procura. — alertou um cidadão em situação de rua.
— Prometo que, seu conseguir pegar o merda do
Dutra, irei lhe tirar dessa vida. Combinado?
O homem encardido cuspiu o pedaço de pão e sorriu
mostrando uma arcada dentária apodrecida.
— Agora eu dou valor.
Cacau subiu em sua motocicleta barulhenta e
disparou rua afora deixando poeira para trás.
*
O treinador propôs um curto treino ao ex campeão,
coisa que Gustavo aceitou de imediato. A bola da vez foi um dos alunos da
própria academia onde o marido de Lídia e dono. Enquanto Gustavo se prepara para
o combate, ele observa seu o voluntário se aquecendo espancando o saco de
bater.
— Ele tem um cruzado de esquerda potente. — falou.
— Pois é, fique distante, ele não é qualquer
aluno, Júnior tem futuro, ouviu?
— Pode deixar. — colocou o protetor de cabeça. —
vamos nessa.
A luta treino começou lenta com ambos se
estudando. Gustavo segue a risca às orientações de seu treinador sem mantendo
distante de júnior. Ao contrário do ex campeão, o jovem precisa mostrar
serviço, por isso ele decidiu ser mais agressivo. Com um bom jogo de pernas
Júnior disparou o cruzado que explodiu no rosto de Gustavo que desabou.
— Nossa, que coice. — resmungou o treinador
baixinho. — campeão, você está bem?
— Estou sim, eu só perdi o equilíbrio.
De volta ao combate Gustavo agora levará o treino
um pouco mais a sério e encarar Júnior de igual para igual. De repente a luta
ficou violenta demais com os lutadores trocando golpes fortes. Junior mandou
outra vez seu cruzado de esquerda. Gustavo se esquivou. A guarda ficou imperfeita.
O campeão aplicou um direto na ponta do queixo deixando o aluno sem rumo certo.
Outra vez Gustavo o acertou e pronto, Júnior beijou a lona.
— É isso aí, Gustavo. — vibrou Baixinho. —
Júnior, como você está?
— Apagado. — respondeu o treinador auxiliar.
Junior acordou e foi levado para a enfermaria. A
autoconfiança de Gustavo ultrapassou o teto, mas ainda assim ele não consegue relaxar,
isso porque ele conhece muito bem o potencial de seu adversário. Junior não é
Jorge Touro, nem chega aos pés dele. Junior tem tudo para ser um ótimo
pugilista, tem força, técnica, é rápido, mas Touro é o Touro. Depois das
orientações de Baixinho, Gustavo tomou uma chuveirada para seguir com o
trabalho na academia.
*
Além de bonita ela é extremamente inteligente,
porém tem um único defeito; não é minha. Álvaro permitiu que
pensamentos como esse lhe invadisse atrapalhando sua linha de raciocínio. Sua
sala se transformou num verdadeiro auditório onde sua melhor policial discursa
e estuda a melhor forma de se combater o crime organizado. Logo atrás dela está
o mapa da cidade projetado com alguns pontos em vermelho. As regiões mais
afetadas pela violência infelizmente são onde o estado de uma certa forma
negligenciou.
— Vejam, senhores, são crianças, jovens e adultos
que não são assistidos pelo estado os que mais estão inclinados ao crime. O
crime os adota e eles aceitam porque? Alguém se habilita?
Álvaro pediu a palavra.
— Eles aceitam porque não há outra coisa a ser
feita. Dinheiro fácil, dinheiro vivo. Imagine um menino de dez, quinze anos,
louco por um tênis de marca ou videogame. A mãe e pai sequer conseguem
alimenta-lo. A saída é o crime.
Lídia estalou os dedos.
— Certo! E, pessoas como Gilmar Dutra, se
aproveitam do fato de serem pessoas pobres e necessitadas para alicia-las.
— A Liga Vermelha! — balbuciou o delegado. — o
câncer de Viva Paz. — fechou o punho.
A reunião terminou. Álvaro voltou para sua mesa
ainda embasbacado com a agente que simplesmente se encontra irresistível usado
uma calça jeans justa, camisa preta, rabo de cavalo e com o distintivo
pendurado. Lídia terminou de juntar suas coisas e olhou para o chefe.
— Sei que você quer dizer alguma coisa, Delegado
Álvaro, pode dizer.
— Você foi perfeita. Pronto disse.
— Tem certeza? — pegou às pastas.
— Não. Gilmar declarou guerra ao estado. E agora
que ele é o homem mais procurado da cidade, temos que levar em consideração que
ele vai usar todo o seu poder de fogo contra nós. Não podemos só ficar nos
defendendo.
— Então, o que o senhor está me propondo é...
— Isso mesmo. Uma ostensiva.
*
O último chute acertou com força a boca de Cacau
lhe arrancando a sangue frio um canino. Sueco recolheu o dente do caçador de
recompensas do chão e elogiou Dutra pelo feito.
— Rapaz, que bicuda foi essa. Desse jeito você
vai ser convocado para a seleção hein.
— Vou arrancar todos os dentes desse otário. —
outro chute no rosto.
Cacau se encontra amarrado com os braços para
trás e deitado no chão e sofrendo os mais terríveis golpes pelo sapato de bico
fino do rei do crime. A cada chute novos respingos de sangue. Seu rosto está
desfigurado e ele já desmaiou algumas vezes.
— Legal. Mate esse imbecil e depois o coloque na
porta do DPVP. Vamos dar um recado para os vermes.
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