sábado, 1 de maio de 2021

Alta Pressão - Capítulo 2

 


Alta

Pressão

Capítulo 2

 

Um verdadeiro comboio organizado por Sueco deixou o “ quartel general” rumo a autoestrada conduzindo dezenas de homens fortemente armados. Dutra dessa vez resolveu ousar com três caminhões. A ordem é lota-los seja com produtos eletrônicos ou alimentos. Nos últimos meses, o rei do crime de Viva Paz vem tendo prejuízos enormes com às apreensões da polícia. No último mês, a investigadora Lídia Toledo de uma só vez, apreendeu cerca de duas toneladas de maconha que estavam vindo do Paraguai direto para o QG de Gilmar. Claro que houve resistência e a polícia precisou revidar executando dois dos homens de Dutra. Do lado da polícia apenas um foi atingido durante o tiroteio. De raspão, sem gravidade. A operação foi um sucesso e repercutiu não só ali, mas em outras regiões vizinhas. Lídia e sua equipe foi recebida com aplausos no gabinete do governador que durante a coletiva de imprensa fez questão de enaltecer o trabalho dos agentes.

— Que fique registrado que a nossa polícia fará de tudo para desarticular a Liga Vermelha. Parabéns ao doutor Álvaro, parabéns investigadora Lídia Toledo e equipe. Viva Paz confia no trabalho dos senhores. Obrigado.

O que resta para o líder da Liga Vermelha é correr atrás do prejuízo e deixar bem claro para o estado quem manda nessa cidade. Do outro lado se encontra Toledo, a mulher que tem polícia correndo nas veias. Defender toda uma cidade não é nada fácil, desde sempre ela soube disso. O crime é algo que começa e não tem fim. Às vezes Lídia tem a sensação de estar enxugando gelo. Os bandidos são parecidos com ratos de esgoto. De onde sai um, sai um milhão. Lídia acredita que a violência se combate com educação, porém, quando já não há mais controle o jeito é o combate e de preferência com um fuzil nas mãos.

 

*

 

As câmeras de segurança de um posto de gasolina registraram a passagem de cinco carros de passeio, motos e três caminhões. O gerente do posto achou bastante estranho e alertou a polícia. Álvaro ligou para Toledo.

— Nossa, tudo isso? — desacelerou a viatura. — é a Liga Vermelha, o que o senhor recomenda?

Álvaro andava de um lado para outro no corredor estreito com o celular apertando sua orelha direita.

— Chame o restante do pessoal, às coisas vão ficar bastante ruins por aí, vou enviar um helicóptero.

A viatura voltou a queimar o asfalto.

— Eles devem estar seguindo sentido a ponte. — comentou o policial ao lado de Lídia.

— Ótimo. Chefe, seguiremos para a ponte, envie o apoio aéreo pra lá. — encerrou-se a ligação. — vamos nessa.

 

*

 

Às motos bloquearam o outro sentido. Os carros seguiram pela ponte enquanto que os caminhões permaneceram no acostamento. Um caminhão de uma empresa varejista foi parado aos berros e com armas de grosso calibre apontadas para os ocupantes.

— Eu mandei parar essa merda.

Assustado o motorista pisou no acelerador ao invés do freio e pagou caro por isso.

— Vai morrer, seu merda. — gritou Sueco abrindo a porta e puxando o pobre coitado.

O homem bateu com força no asfalto e em seguida foi morto com um tiro na cabeça. Os outros dois ajudantes entraram em pânico ao verem a cabeça do colega se transformar em um monte de massa misturada com sangue.

— Não tenho o dia todo. — Sueco os puxou com truculência.

Os funcionários foram obrigados a se juntar aos bandidos.

— Está demorando muito.

Em poucos minutos o baú do caminhão ficou vazio. Sueco orquestrou a fuga fazendo o que é de costume, deixar às vítimas amarradas no canto da via. Assim que deram as partidas nos veículos o líder em questão percebeu a chegada da polícia e alarmou.

— Sujou rapaziada.

Lídia precisou fazer manobras nunca antes tentada por ela. Acelerando e cortando. Ela sabe dos riscos que seus companheiros correm nesse tipo de abordagem, por isso ela torceu para que o apoio aéreo chegasse logo. O conflito será inevitável.

— Prontos para entrarem na guerra?

— Eu já nasci pronto, detetive. — falou o agente na parte de trás da viatura conferindo sua munição.

Os marginais que estavam nas motocicletas foram os primeiros a abrirem fogo contra o comboio policial e nesse momento os carros que passavam na hora frearam, outros saíram da via, houve até engavetamentos.

— O show começou, pessoal. — Lídia pisou fundo. — vamos sentar fogo nesses merdas.

Os dois agentes que ocupavam a parte de trás da viatura posicionaram os fuzis nas janelas e abriram fogo. Aos berros Sueco pediu que tirassem o caminhão com os produtos roubados da linha de fogo. Imediatamente o motorista arrancou empurrando até seus próprios veículos. A polícia voltou a atirar e um dos disparos acertou o para-brisas de um carros matando seu condutor.

— Atenção rapaziada das motos nos dêem cobertura, agora.

Mesmo vendo que se trata de uma péssima ideia os soldados do crime obedeceram e é claro caíram numa enrascada. Outra viatura abriu fogo derrubando três.

— Cadê o apoio aéreo, caramba, às pessoas estão correndo risco aqui.

— Eles vão fugir. — alertou outro agente.

— Não podemos perder essa. — jogou o carro para o canto e parou. — temos que recuperar pelo menos o material roubado.

Correndo impondo seu fuzil juntamente com seus companheiros, Lídia alcançou os rapazes amarrados.

— Matos e Silva, fiquem com eles.

Outra forte rajada de balas passou muito perto dos agentes que foram obrigados a se jogarem no chão. Lídia rolou para perto da mureta que divide a pista e atirou. Apenas um tiro de alerta. Os motoqueiros, ainda seguindo as ordens, levam os civis ao desespero circulando com suas armas com grande poder de fogo. Sueco já estava saindo com o caminhão quando o helicóptero chegou.

— Agora já era. — bateu na porta do veículo. — recuar, deixem tudo pra trás.

Mesmo em fuga desastrosa os criminosos não deixaram barato, mandaram bala na aeronave que nada pode fazer devido a presença de civis no local. Toledo Ainda tentou efetuar uma prisão, porém o bandido foi mais rápido, correu para dentro do mato cortante.

— Atenção, temos um fugitivo a leste. — se comunicou com o helicóptero.

Com a situação um pouco mais controlada, Lídia conseguiu chegar ao caminhão com o material roubado e vibrou de forma contida junto com seus companheiros. A apreensão pode ser pequena, mas o que importa na verdade é o recado que foi dado a Liga. Agora Gilmar Dutra sabe que a polícia não está alheia ao caos, há sim um grupo de homens e de mulheres que querem fazer o trabalho, honrar a farda que veste. A policial abriu o baú.

— É isso aí pessoal, é só apertar que eles soltam. Bom trabalho.

Nessa hora o rádio chamou.

— Toledo na escuta.

O fugitivo foi abatido, ele disparou contra a aeronave e tivemos que revidar.

— Fizeram o certo. E o restante do grupo?

— Perdemos de vista, senhora.

Lídia socou a lateral do baú.

— Ok, agora não adianta chorar o leite derramado. Vamos embora.

 

*

 

Gustavo chegou em casa conferindo suas redes sociais. Até agora sua última postagem se encontra com quase um milhão de visualizações sem falar do número de comentários. Durante a tarde quando ensinava, ele fez uma transmissão ao vivo pelo Instagram mostrando todo o seu processo de ensinamentos do boxe, além, é claro de promover sua volta aos ringues. Um dos comentários lhe chamou atenção.

“ Desde quando briga de galo velho é considerada a luta do século?”

Pensa que isso o afetou? Lógico que não. Pelo contrário, Gustavo até gostou. Briga de galo. Há rinhas de galos que são melhores do que certas lutas por aí. Ao entrar em casa, Queren o abraçou por trás lhe assustando.

— Oi, filha, dessa vez você conseguiu me assustar de verdade.

— Meu campeão. Assisti sua transmissão.

— É mesmo filha, o que achou?

— De verdade? — entortou a boca.

— Por favor!

— O senhor precisa melhorar seu enquadramento, hoje por exemplo, boa parte do tempo só vimos metade do seu rosto.

Gustavo foi até a geladeira.

— Você poderia me ensinar. — pegou uma garrafa de água mineral com gás. — confesso que eu não me dou bem com esse negócio de selfie.

— Beleza. Minha mãe vem hoje pra casa?

— Mais tarde. Ela me ligou dizendo que conseguiu pegar um material roubado na estrada. — bebeu da água. — estou com fome, vamos pedir alguma coisa?

— Sim, vamos de comida japonesa? Que tal? — a menina ensaiou uma dancinha.

— Por mim tudo bem.

 

*

 

Sueco consegue ver nos olhos de Dutra todo o ódio explodindo, borbulhando, quase escorrendo pelos cantos da boca, mas ele não externa isso de jeito nenhum. Outro grande prejuízo. Seus comandados aguardam uma fala, uma ordem ou até mesmo um xingamento, porém nada disso acontece. Gilmar se encontra desesperado, Sueco sabe disso, mas ele também sabe que, quando seu chefe se encontra nesse estado, uma terrível tempestade está por vir e isso é muito bom.

— Acho que chegou a hora de jogar pesado. — descruzou os braços. — roubo de carga, tráfico de drogas, assaltos, penso eu que nada disso mais vai adiantar. Se queremos que a Liga Vermelha seja realmente uma organização forte, precisamos deixar o amadorismo de lado e partir para algo mais sério.

— E o que seria esse algo mais sério? — Sueco não conseguiu esconder seu medo.

— Chegou a nossa vez de caça-los.

 

*

 

Lídia recolhia suas coisas e as jogava na bolsa quando Álvaro deu dois toques na porta.

— Opa, atrapalho?

— Imagina, entre, chefe. — o coração bateu na garganta.

— Um dia e tanto, não foi? — parou no meio da sala. — pelo visto Viva Paz tem uma heroína.

A risada foi mais pelo nervosismo do que pelo comentário.

— Heróis, vamos dizer assim.

— Conversei com alguns homens e eles disseram que sua atuação foi magnífica. Parabéns, agente Toledo.

— Obrigada, chefe.

— Bom. — abriu os braços. — achei que deveria lhe falar isso e...

Lídia quase infartou.

— Tem hora para chegar em casa?

Ele só pode estar brincando.

— Bom, é que...

— Tudo bem, tudo bem, esqueci que você tem outra missão, cuidar de uma família. Fica pra próxima então?

Lídia estava em crise, mas disse que sim.

— Ótimo, mande um abraço para o campeão e um beijo pra Queren.

— Mando sim, pode deixar.

Quando Álvaro deixou a sala Lídia precisou se sentar. Por que ele faz isso comigo? Enquanto se recupera ela se questiona. O que haveria de errado em sair para tomar um chopp com seu chefe? Ou jantar? Agora é um pouco tarde para voltar atrás. Será que ele sabe que eu tenho uma quedinha por ele? É lógico que sabe dona Lídia, todo homem sabe quando uma mulher está afim dele. Sou casada e o que é pior, sou casada com um campeão de boxe famoso. Amo Gustavo, amo Queren, mas Álvaro mexe muito comigo, isso é normal? Já recuperada ela apagou às luzes do lugar e correu para sua família.

 


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