Alta
Pressão
Capítulo
3
Lídia chegou em casa e tudo o que ela mais queria era tomar
um banho demorado e depois saborear uma refeição bem diferente, quem sabe uma
massa? O fato de seu chefe direto ter entrado em sua sala e lhe convidar para
sair foi algo que realmente ela não esperava acontecer nunca na vida. Ela ficou
mexida, agora está que claro que de ambas as partes existe uma forte atração.
Quando isso começou? Por que ela deixou isso crescer? Sim, claro, essas coisas
fazem bem. Qual mulher que não gosta de se sentir desejada, mesmo sendo ela
casada? O que a deixa de fato preocupada é, aonde isso vai parar? O que poderá
acontecer depois de um possível jantar com Álvaro?
— Oi, amor, nem vi você chegar.
A voz de Gustavo a arrancou dos pensamentos.
— Eu estava louca por um banho.
— Quer companhia? — abriu de leve a porta do box.
— Hum, se você me pedir mais uma vez e desse jeito, acho que
vou querer sim.
— Hum, sério? — a beijou. — a Queren está na sala te
esperando, pedimos comida japonesa. Que tal?
— Ok, mais tarde então.
*
Dutra não quer se acostumar a perder sempre para a polícia.
Na verdade ele não quer mais perder pra ninguém. Já chega. Muitos foram os
investimentos e poucos os retornos. O plano que vem fazendo sua mente explodir é
ousado e ele tem plena convicção de que estará acendendo o pavio de um barril
de pólvora. Sueco não está nem um pouco contente com o plano, para ele, Gilmar
estará dando um tiro no próprio pé.
— É isso mesmo que você quer, iniciar uma guerra contra a
polícia? — falou guardando às granadas.
— Eu só estarei mostrando minha ira. A polícia simplesmente
não pode achar que pode chegar e me causar prejuízo e sair sem resistência ou retaliação.
Viva Paz será minha meu caro Sueco e quando isso acontecer, todos saberão quem
eu sou de fato.
— Tudo bem, você quem manda.
A viatura está parada no acostamento de uma das avenidas mais
movimentadas da cidade. Um PM está do lado de fora observando a movimentação e
o outro digita com uma certa dificuldade no teclado do computador do carro.
— Droga, eu nunca vou conseguir ser mais rápido nesse
negócio.
— Você precisa parar de beber, só isso, você treme demais. —
brincou olhando para um carro diminuindo a velocidade.
— Muito engraçado.
O agente colocou a mão na arma, mas não deu tempo de saca-la.
Quatro homens portando fuzis atiraram executando ambos os PMs. Em seguida Sueco
lançou uma granada embaixo da viatura que praticamente levantou vôo.
— A primeira da noite já foi. Vamos.
Em outro ponto da cidade uma patamo parada em frente a um
restaurante de luxo faz a segurança daquela localidade com pelo menos quatro PMs.
Um motoqueiro passou e lançou um artefato. A granada explodiu causando pânico.
Em seguida Sueco e sua turma passaram lançando outra e atirando.
— Aqui é o bonde do Dutra seus vermes. — berraram todos
enquanto executavam sumariamente os policiais.
Clientes do restaurante deixavam o lugar aterrorizados com a
situação. Uns ligavam pedindo ajuda. Outros filmavam. Em questão de minutos
Viva Paz se tornou um campo de guerra. Em seu esconderijo, ao receber às
notificações dos ataques, Gilmar vibrava como um futebolista que acabara de
marcar um gol. Agora sim às coisas estão do jeito que ele gosta. Caos, medo,
pânico, uma cidade sitiada. Deixar de ser um simples traficante ou ladrão de
carga para se tornar um terrorista foi sua melhor decisão. Todos saberão quem é
o autor dos ataques, eles terão sua assinatura. A cidade está em chamas.
Alguma coisa não deixa o chefe de polícia dormir e essa coisa
tem nome, Lídia. Ele já tentou esquecê-la, mas nada o faz afasta-la de seus
pensamentos e sonhos. Essa atração não começou de uma hora para outra. No
início Lídia não passava de uma aspirante a investigadora bonitinha dentro do
DPVP. Ele sempre soube que ela era comprometida e mesmo assim não reprimiu seus
sentimentos por ela e agora não sabe como frear isso. Não, ele não sente ciúmes
por Lídia ser casada e há porque sentir. O boxeador chegou primeiro, méritos
pra ele. Se Toledo gosta dele? Sim, disso ele sabe, porém há uma barreira entre
eles. Seu celular tocou em cima da mesa.
— Delegado Álvaro falando! — sua expressão mudou
drasticamente. — como assim? — pausa. — acione a todos, estamos numa emergência,
chego aí em meia hora.
*
Dar prazer a pessoa que se ama é bom, mas receber o prazer
dela é melhor ainda. Lídia chegou ao clímax puxando os lençóis da cama entre
espasmos. Como ela precisava disso. Combater o crime e defender o cidadão de
bem sempre foi seu objetivo, porem requer da pessoa tempo, disposição e
determinação e quanto a isso Lídia tem sobrando. O casal já estava se
preparando para a próxima etapa quando o celular de Toledo vibrou.
— Sério? — resmungou Gustavo.
— Relaxa, não deve ser nada de mais.
Antes mesmo de pegar o aparelho a detetive já tinha visto o
nome de Álvaro piscando na tela. Naturalmente duas coisas lhe vieram a mente;
ou ele quer esticar o assunto que começou lá no DPVP ou algo de muito grave
aconteceu e sinceramente ela gostaria muito que fosse a primeira situação.
— Toledo falando.
— Agente Toledo, me desculpa, sua folga terá que ser
cancelada, a cidade está em crise, a Liga Vermelha atacou. Me encontre na rua
Bosque em vinte minutos.
Lídia girou o corpo e Gustavo já se encontrava vestido com
seus short de dormir.
— Prometo continuarmos quando eu voltar. — falou correndo
para o banheiro.
— Já vi esse filme antes.
*
Viaturas, todas elas patrulhando toda aquela região. Muita
movimentação de civis curiosos querendo saber o que houve de fato. A imprensa a
todo momento tenta furar o bloqueio policial disputando quem fará a melhor foto
ou filmagem. Um repórter um pouco mais concentrado em passar a notícia
visualizou a chegada de Lídia ao local e correu junto com seu câmera para
conseguir uma exclusiva.
— Investigadora Lídia Toledo, pode nos atender por gentileza?
— Com quem estou falando? — espalmou a mão.
— Jorge Muniz do Folha Policial.
— Ah, sim, tudo bem. — abaixou o braço.
— A chamada Liga Vermelha tem envolvimento nós ataques, a
senhora pode confirmar essa informação?
— Confirmo, sim. Mais uma vez o DPVP causou um prejuízo
enorme a Liga e com certeza o que houve essa noite foi um tipo de resposta.
Nesse momento Álvaro apareceu gesticulando para ela.
— E quanto a prisão de Gilmar Dutra, já foi expedido o pedido
não foi?
— Positivo. Agora com esses acontecimentos, a polícia não irá
parar com às operações até sua captura.
Lídia andou até seu chefe que estava parado olhando a viatura
atacada ainda com focos de incêndio.
— Dutra já mostrou do que é capaz e o que estamos fazendo?
— Ele queria guerra e a conseguiu. — se afastou.
— Aonde você vai?
— Prender o Dutra. — correu e entrou no carro.
*
Passar a madrugada inteira assistindo a vídeos de câmera que
registraram o ataque. A vida de um policial mude de uma hora para outra num
estalar de dedos. Até poucas horas atrás Lídia estava se deliciando num sexo
maravilhoso com seu esposo depois de um jantar pra lá de exótico e agora ela se
vê envolvida até o pescoço num provável ataque terrorista. Todo o departamento
está em silêncio, mesmo porque já passa das uma da manhã. Antes de seguir para
a próxima fita a detetive conferiu as mensagens de Gustavo no whatsapp.
Oi, ainda acordado?
Gustavo está digitando.
Eu estava vendo o que aconteceu. Parece cena de
filme, meu Deus.
Pra você ver, eles não estão de brincadeira não.
Gustavo está digitando.
O que pensa em fazer?
Bom, sabemos quem foram os responsáveis, o que
resta a fazer e encontrar Gilmar Dutra e prendê-lo.
Difícil, não?
Lídia está digitando.
Sim, quase impossível, mas eu já tenho um plano.
Essa é minha garota. Vá em frente, amor, prenda
esses vagabundos.
*
A mão parruda do delegado repousou no ombro esquerdo de Lídia
que dormia sentada diante do computador. Ela não se assustou, mas ficou
impressionada ao ver que havia passado a noite ali. Seu corpo doía por inteiro.
— Café? — disse Álvaro erguendo a caneca.
— Ah, sim, obrigada.
— Como passou a noite? — olhou para o monitor. — já temos uma
pista?
— Não, mas, tive uma ideia. — sorveu o café.
— Sim, compartilhe, por favor. — Álvaro puxou outra cadeira.
— Irei trabalhar como no velho oeste. Vamos oferecer uma
recompensa pela cabeça de Gilmar Dutra.
— Está falando sério? — colocou a mão no queixo e apertou os
olhos.
— Sim, muito sério. Fazendo isso a prisão de Dutra será
questão de tempo. Temos que fazer com que Viva Paz pressione esses ratos a
saírem dos buracos.
Álvaro arregalou os olhos.
— Siga em frente, Toledo, lhe dou total apoio.
O chefe deixou a sala e Lídia comemorou.
— Yes!
*
Assim como Gustavo, Touro também vem se empenhando nos treinos.
Num passado recente aconteceu um combate onde Jorge terminou vencedor, mas algo
além dos golpes deixaram sua cabeça confusa. Gustavo é um baita lutador, foi
pura sorte ele conseguir nocauteá-lo. Os números não mentem, Touro venceu todos
os combates contra Gustavo, mas a técnica que ele utiliza essa sim o assombra. Jorge
Touro sabe mais do que ninguém de que ele não é um lutador muito técnico, a
força é sempre a sua maior aliada, por isso venceu. Gustavo é sim um pugilista
perigoso, inteligente, por isso está onde está.
— Muito bem Jorge, chuveiro. — orientou o treinador.
— Preciso de um sparing. — guardou às cordas.
— Melhor não, fizemos um treino físico pesado, vamos deixar o
treino técnico para amanhã.
— Cara, o dia da luta está se aproximando, eu não vou subir no
ringue para lutar com qualquer um. É contra o Gustavo.
— Jorge, eu entendo sua preocupação. Assisti a luta de vocês
dois e vi que ele era melhor tecnicamente, tanto que os nocautes só vieram nos
últimos assaltos. Mas agora o assunto é outro. Vocês já não são mais os mesmos
lutadores de antes. O tempo passou. Vá com calma.
Jorge voltou a pegar às cordas.
— Só mais três de trinta, ok?
— Tudo bem. Manda ver.
*
Acordar com a sensação de ser o assunto em voga em toda
cidade é algo novo para Gilmar. Agora ele não é só um ganguester pé de chinelo
e sim um terrorista perigoso, em uma só noite executou quatro políciais de
forma sumária. Seu nome se encontra nas redes, hoje ele é mais famoso que o
presidente da república. Para seguir com às comemorações só mesmo um café fresco.
— Com licença, Dutra. — disse um dos seus guarda costas
abrindo a porta do quarto.
— Diga? — falou bocejando.
— Sueco quer falar com você urgente. Deu merda.
— O que deu merda?
Sueco apareceu de repente segurando o jornal do dia que
mostra sua foto e alguns dizeres.
Gilmar Dutra, indivíduo de altíssima
periculosidade. Recompensa por sua captura 1 milhão de reais.
— Gilmar, você está muito encrencado, meu chapa.
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