Um
Desafio para André Cruz
Como em todas às manhãs, após seu desjejum a base de
frutas, torradas e chá, Roberta Manhãs caminha pelo jardim a passos curtos auxiliados
por uma bengala. Ah às flores, como a matriarca da família Manhãs as ama.
Roberta se lembra bem do dia em que o jardim foi construído, ela escolheu uma a
uma das flores e exigiu que todas fossem bem cuidadas até depois de sua morte. A
idosa é do tipo que conversa com plantas, ela sempre fez isso desde muito nova.
- Olá queridas, como estão essa manhã? – disse com sua
voz grave e arrastada.
Roberta ainda falava com as flores quando um sujeito alto,
esbelto e bastante bonito se aproximou.
- Bom dia, tia. Sabia que a encontraria aqui.
- Diga o que quer, Carlos. – a velha se inclinou para
acariciar uma margarida.
- Nada de especial. Acho que vou viajar.
Roberta ergueu-se.
- Sério, e pra onde?
Carlos colocou as mãos nos bolsos e hesitante
respondeu.
- Itália.
A matriarca tem o costume de arquear uma das
sobrancelhas quando está irritada ou desconfiada de algo.
- Para Itália? Mas nós não temos parentes lá.
- Negócios. Descobri uma megaempresa que vem
oferecendo ricas oportunidades de crescimento. Não posso perder essa chance.
Roberta deu de ombros e voltou a cuidar das flores.
- Se já está decidido... só me resta lhe desejar boa
sorte.
Carlos respirou aliviado.
- Obrigado, tia.
Roberta Manhãs voltou para os seus aposentos. Estava
cansada e suas pernas doíam demais. Ao sentar-se na beira da cama e olhar para
o quadro onde o busto de Jair, seu finado esposo se encontra desenhado, a idosa
lembrou-se do presente dado por ele quando completaram cinquenta anos de
matrimônio.
- Sim, Jairzinho, sim.
Mesmo com dificuldade Roberta se levantou e andou até
seu armário dispensando sua bengala. Ela o esconde muito bem a anos num lugar
secreto no fundo do armário. Sempre quando quer conversar com seu saudoso
marido ela o coloca no dedo anelar da mão esquerda e passa horas declarando seu
amor por ele.
- Meu Jair. – balbuciou.
Não. O anel de brilhante não estava lá. Desesperada, a
idosa se esqueceu das dores nos braços e jogou todas as roupas que estavam
dobradas no chão.
- Não. Meu Jesus. – disse chorosa.
Apesar dos oitenta anos a memória de Roberta ainda
está ativa. Para se ter uma ideia é ela quem faz os cálculos de todos os
impostos e contas da casa. Roberta é praticamente uma calculadora ambulante.
- Meu Deus, roubaram meu anel. – falou ofegante.
*
Enquanto sente o calor que emana de Juliana sentada em
seu colo, cavalgando feito uma verdadeira amazona, André Cruz se dá o luxo de
pensar no que ele fez para merecer tudo isso. Juliana não é só um rosto bonito
ela é também boa de cama. Prova disso é o fato deles estarem a quase três horas
transando e ela não se cansa. Sou um privilegiado. A balconista chegou
mais uma vez ao orgasmo e só depois da quinta vez ela resolveu sair de cima do
parceiro.
- Uau, minha gatinha é uma máquina de sexo.
Juliana sorriu e o beijou.
- Pronto para o segundo tempo?
Cruz teve que admitir, ele estava diante de uma super mulher,
sou mesmo um sortudo. Ele a envolveu nos braços e a beijou com paixão.
Claro que André está apaixonado, louco pela loira de corpo perfeito.
- Acho que podemos recomeçar, mas dessa vez eu fico
por cima. – falou o detetive.
- Já sei, gosta de me ver gemendo. Safadinho.
- É isso aí garotinha. – deu um tapinha nas nádegas.
André e Juliana resolveram tirar esse dia para se
curtirem depois de um tempo de espera. Nas últimas semanas o detetive ficou com
sua agenda lotada de trabalho e devido a isso o casal ficou impedido de se
encontrar. Os contatos limitaram-se a troca de mensagens pelo Whatsapp. No
momento a dupla de jovens só pensa em tirar o atraso de duas semanas sem sexo.
André Cruz chegou ao seu clímax assim que sua namorada
o deixou respirar.
- Eita gatinha. Você é sensacional. – rolou para o
lado.
Menos cansada, Juliana sentou-se e encostou na
cabeceira. Ela vem de um relacionamento ruim, desagradável e também violento.
Seu ex, apesar de bem sucedido, era um sujeito grosso e confuso, sem falar dos
ataques constantes de ciúmes. Juliana era proibida de olhar para os lados
quando estavam em lugares públicos onde haviam outros rapazes. As cobranças
eram todos os dias. Por fim, ele era uma cara controlador.
- E ai, meu detetive particular. Estou com fome, vamos
pedir alguma coisa ou eu terei que ir para a cozinha?
- Nem pensar. Que tal pizza?
- Pode ser. – deu de ombros. – vou pro banho. Você vem?
André ao pegar o celular, viu que havia uma mensagem
de Amanda. Na mesma hora seu coração disparou.
- Vai indo. – disse abrindo o aplicativo.
Oi. Você anda sumido. O que houve?
Cruz não estava nem um pouco afim de responder. O
lance entre Juliana e ele está realmente valendo a pena.
Ando meio atarefado.
Respondeu.
Amanda está online e começou a digitar.
Podemos nos ver hoje a noite. Acho que
consigo sair mais cedo da clínica.
Juliana é uma gatinha, linda e gostosa pra caramba,
mas Amanda também não fica atrás. Esse é o mal de todo homem, nunca está
satisfeito com nada.
Claro que podemos. Te pego ai mais tarde. Vibrou.
Legal. Ansiosa. Beijos.
Aonde isso pode dar? Claro que André sabe onde isso
pode acabar. Sem nenhuma das duas, com certeza. Mas o que vale para um jovem
como ele é o momento. O presente é o que vale. Juliana e Amanda. Duas mulheres
que de repente é o sonho de muitos homens. Assim que encerrou a conversa com
Amanda o celular tocou o assustando.
- André Cruz investigador particular. Em que posso
ajudar?
- Bom dia, investigador. Sou Roberta Manhãs.
Gostaria de lhe contratar. Quando e onde podemos nos encontrar para acertarmos
os detalhes?
*
Carlos Manhãs cresceu distante de seus pais
biológicos. Quando ainda era um recém nascido, Roberta o pegou para criar visto
que não havia condições alguma de sobrevivência no local onde seus pais viviam.
Porém, desde sempre Roberta fez questão de lhe dizer que não era sua mãe e
também nunca o proibiu de visitá-los. Carlos cresceu em lar estruturado, com
fartura, estudou nos melhores colégios e
pode se formar em engenharia numa das maiores universidades do país,
tudo custeado por tia Roberta, a poderosa senhora Manhãs como ele a costuma
chamar. Agora Carlos que alçar voos mais altos. Europa. Esse é o seu destino.
Sair de baixo das asas da matriarca e construir sua própria história. Esse
sonho foi adiado diversas vezes por falta de grana e agora que ele a tem, nada
e ninguém vai impedi-lo de sair do país.
- Por favor. Gostaria de comprar uma passagem para Roma,
Itália. – fez uma pausa. – Não. Só de ida. – outra pausa. – ótimo. Finalizo
pelo site. Obrigado.
Carlos deixou o celular no canto da escrivaninha e
abriu o notebook. Agora ninguém te segura Carlão.
Que isso, já estou curioso pelos próximos capítulos. Um abraço e sucesso.
ResponderExcluirVamos ver no que isso vai dar.
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