quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

Um Desafio para André Cruz - Capítulo 1

 


Um Desafio para André Cruz

 

Como em todas às manhãs, após seu desjejum a base de frutas, torradas e chá, Roberta Manhãs caminha pelo jardim a passos curtos auxiliados por uma bengala. Ah às flores, como a matriarca da família Manhãs as ama. Roberta se lembra bem do dia em que o jardim foi construído, ela escolheu uma a uma das flores e exigiu que todas fossem bem cuidadas até depois de sua morte. A idosa é do tipo que conversa com plantas, ela sempre fez isso desde muito nova.

- Olá queridas, como estão essa manhã? – disse com sua voz grave e arrastada.

Roberta ainda falava com as flores quando um sujeito alto, esbelto e bastante bonito se aproximou.

- Bom dia, tia. Sabia que a encontraria aqui.

- Diga o que quer, Carlos. – a velha se inclinou para acariciar uma margarida.

- Nada de especial. Acho que vou viajar.

Roberta ergueu-se.

- Sério, e pra onde?

Carlos colocou as mãos nos bolsos e hesitante respondeu.

- Itália.

A matriarca tem o costume de arquear uma das sobrancelhas quando está irritada ou desconfiada de algo.

- Para Itália? Mas nós não temos parentes lá.

- Negócios. Descobri uma megaempresa que vem oferecendo ricas oportunidades de crescimento. Não posso perder essa chance.

Roberta deu de ombros e voltou a cuidar das flores.

- Se já está decidido... só me resta lhe desejar boa sorte.

Carlos respirou aliviado.

- Obrigado, tia.

Roberta Manhãs voltou para os seus aposentos. Estava cansada e suas pernas doíam demais. Ao sentar-se na beira da cama e olhar para o quadro onde o busto de Jair, seu finado esposo se encontra desenhado, a idosa lembrou-se do presente dado por ele quando completaram cinquenta anos de matrimônio.

- Sim, Jairzinho, sim.

Mesmo com dificuldade Roberta se levantou e andou até seu armário dispensando sua bengala. Ela o esconde muito bem a anos num lugar secreto no fundo do armário. Sempre quando quer conversar com seu saudoso marido ela o coloca no dedo anelar da mão esquerda e passa horas declarando seu amor por ele.

- Meu Jair. – balbuciou.

Não. O anel de brilhante não estava lá. Desesperada, a idosa se esqueceu das dores nos braços e jogou todas as roupas que estavam dobradas no chão.

- Não. Meu Jesus. – disse chorosa.

Apesar dos oitenta anos a memória de Roberta ainda está ativa. Para se ter uma ideia é ela quem faz os cálculos de todos os impostos e contas da casa. Roberta é praticamente uma calculadora ambulante.

- Meu Deus, roubaram meu anel. – falou ofegante.

 

*

 

Enquanto sente o calor que emana de Juliana sentada em seu colo, cavalgando feito uma verdadeira amazona, André Cruz se dá o luxo de pensar no que ele fez para merecer tudo isso. Juliana não é só um rosto bonito ela é também boa de cama. Prova disso é o fato deles estarem a quase três horas transando e ela não se cansa. Sou um privilegiado. A balconista chegou mais uma vez ao orgasmo e só depois da quinta vez ela resolveu sair de cima do parceiro.

- Uau, minha gatinha é uma máquina de sexo.

Juliana sorriu e o beijou.

- Pronto para o segundo tempo?

Cruz teve que admitir, ele estava diante de uma super mulher, sou mesmo um sortudo. Ele a envolveu nos braços e a beijou com paixão. Claro que André está apaixonado, louco pela loira de corpo perfeito.

- Acho que podemos recomeçar, mas dessa vez eu fico por cima. – falou o detetive.

- Já sei, gosta de me ver gemendo. Safadinho.

- É isso aí garotinha. – deu um tapinha nas nádegas.

André e Juliana resolveram tirar esse dia para se curtirem depois de um tempo de espera. Nas últimas semanas o detetive ficou com sua agenda lotada de trabalho e devido a isso o casal ficou impedido de se encontrar. Os contatos limitaram-se a troca de mensagens pelo Whatsapp. No momento a dupla de jovens só pensa em tirar o atraso de duas semanas sem sexo.

André Cruz chegou ao seu clímax assim que sua namorada o deixou respirar.

- Eita gatinha. Você é sensacional. – rolou para o lado.

Menos cansada, Juliana sentou-se e encostou na cabeceira. Ela vem de um relacionamento ruim, desagradável e também violento. Seu ex, apesar de bem sucedido, era um sujeito grosso e confuso, sem falar dos ataques constantes de ciúmes. Juliana era proibida de olhar para os lados quando estavam em lugares públicos onde haviam outros rapazes. As cobranças eram todos os dias. Por fim, ele era uma cara controlador.

- E ai, meu detetive particular. Estou com fome, vamos pedir alguma coisa ou eu terei que ir para a cozinha?

- Nem pensar. Que tal pizza?

- Pode ser. – deu de ombros.  – vou pro banho. Você vem?

André ao pegar o celular, viu que havia uma mensagem de Amanda. Na mesma hora seu coração disparou.

- Vai indo. – disse abrindo o aplicativo.

Oi. Você anda sumido. O que houve?

Cruz não estava nem um pouco afim de responder. O lance entre Juliana e ele está realmente valendo a pena.

Ando meio atarefado. Respondeu.

Amanda está online e começou a digitar.

Podemos nos ver hoje a noite. Acho que consigo sair mais cedo da clínica.

Juliana é uma gatinha, linda e gostosa pra caramba, mas Amanda também não fica atrás. Esse é o mal de todo homem, nunca está satisfeito com nada.

Claro que podemos. Te pego ai mais tarde. Vibrou.

Legal. Ansiosa. Beijos.

Aonde isso pode dar? Claro que André sabe onde isso pode acabar. Sem nenhuma das duas, com certeza. Mas o que vale para um jovem como ele é o momento. O presente é o que vale. Juliana e Amanda. Duas mulheres que de repente é o sonho de muitos homens. Assim que encerrou a conversa com Amanda o celular tocou o assustando.

- André Cruz investigador particular. Em que posso ajudar?

- Bom dia, investigador. Sou Roberta Manhãs. Gostaria de lhe contratar. Quando e onde podemos nos encontrar para acertarmos os detalhes?

 

*

 

Carlos Manhãs cresceu distante de seus pais biológicos. Quando ainda era um recém nascido, Roberta o pegou para criar visto que não havia condições alguma de sobrevivência no local onde seus pais viviam. Porém, desde sempre Roberta fez questão de lhe dizer que não era sua mãe e também nunca o proibiu de visitá-los. Carlos cresceu em lar estruturado, com fartura, estudou nos melhores colégios e  pode se formar em engenharia numa das maiores universidades do país, tudo custeado por tia Roberta, a poderosa senhora Manhãs como ele a costuma chamar. Agora Carlos que alçar voos mais altos. Europa. Esse é o seu destino. Sair de baixo das asas da matriarca e construir sua própria história. Esse sonho foi adiado diversas vezes por falta de grana e agora que ele a tem, nada e ninguém vai impedi-lo de sair do país.

- Por favor. Gostaria de comprar uma passagem para Roma, Itália. – fez uma pausa. – Não. Só de ida. – outra pausa. – ótimo. Finalizo pelo site. Obrigado.

Carlos deixou o celular no canto da escrivaninha e abriu o notebook. Agora ninguém te segura Carlão.

 

 


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