Rodrigues ainda insistia com seu parceiro sobre a possibilidade
de pedido de apoio quando Gilberto viu uma movimentação na parte da frente da
casa. Carolina fez uso dos binóculos.
— Confirme se ele está portando uma arma. — orientou Pedrosa.
— Positivo! Uma Glock. — se virou para o colega. — eu falei
que teríamos que solicitar apoio.
— Não será necessário. — sacou do coldre sua 45. — nós dois
daremos conta desse bunda mole.
Nesse momento ouviu-se um grito. Rodrigues mais uma vez conferiu
com o auxílio dos binóculos a situação logo a frente. Toni caído segurando suas
partes íntimas e uma moça morena disparando em direção a saída.
— Fique com a garota e deixe ele comigo.
— Tenha cuidado.
Sentindo uma dor lancinante o aliciador ficou de pé ainda em
tempo de ver sua presa correndo igual a uma louca pelo caminho de volta para a
estrada. Nutrido por uma raiva infernal ele ignorou todo o incomodo que ainda sentia
partindo atrás com sua arma em punho. Ela não pode escapar tão fácil assim, pensou
correndo e tropeçando nas pedras soltas.
— Volte aqui! — gritou.
Gil o surpreendeu saindo de trás de uma árvore já lhe dando
voz de prisão.
— Nem mais um passo, Toni.
— Mas, quem é você?
— Polícia de Cabo Verde, você está preso. — lhe mostrou o
distintivo preso no cinto.
Com a adrenalina circulando a mil por hora nas veias, Toni
Silva tomou a pior decisão de sua vida. Ele ignorou por completa a ordem dada
pelo agente e atirou. A bala passou raspando o ombro direito de Gilberto que o
acertou no braço da mão que segura a arma. Com o impacto o rapaz perdeu o
equilíbrio indo ao chão.
— Solte a arma, seu merda.
Esvaindo em sangue o cabeludo esboçou uma reação, porém o
detetive foi mais rápido e ágil lhe aplicando um forte chute no rosto. Toni
perdeu a força no braço alvejado deixando a arma cair. Pedrosa a chutou para longe.
— Vamos, me leve até a casa. — Gil estava ofegante.
Rodrigues e Bruna voltavam apressadamente para junto do
agente que empurrava Toni que tinha às mãos algemadas para trás.
— Gil, segundo a Bruna, lá dentro ainda há outros comparsas.
— Armados? — Pedrosa interrompeu o caminhada. Toni riu. —
qual a piada?
— Vocês não podem prender a rainha.
Rodrigues e Bruna deixaram o investigador atualizado de tudo
que acontece dentro da casa, tudo isso sob o sarcasmo incessante do aliciador
de Sabrina. Gil autorizou a solicitação de reforço exigida por Rodrigues.
— Algo muito grave está acontecendo lá dentro, precisamos
entrar lá já. — declarou Pedrosa.
*
Sabrina Fialho era pura excitação e mal conseguia manter suas
mãos quietas. Bem a sua frente a dupla de sequestrados ainda hesitavam em começar
de fato o show erótico.
— Como é que é? Eu quero sexo. E se você for bem, vou querer
você pra mim, garota. — vociferou a rainha.
Sérgio tocou nos ombros de Michele sentindo todo o tremor de
seu corpo. Logo ela que sempre sonhou em curtir sua lua de mel com o homem de
sua vida a qual ela vem se guardando até o dia de hoje. Chorando, com um gesto
de cabeça ela autorizou que Ornelas se aproximasse um pouco mais e a tocasse até
que um barulho vindo da cozinha chamou mais a atenção de Sabrina.
— Vá ver. — estalou os dedos para outro súdito. — deve ser o
Toni precisando de ajuda com a fujona.
— Sim, senhora minha rainha.
Ao deixar a sala e cruzar a porta da cozinha o jovem negro
deu de frente com outro negro, porém este estava armado e tinha um distintivo
da polícia civil fixado no cinto. Gil o pegou desprevenido e lhe aplicou um
murro no rosto que o deixou fora de si.
— Saia da minha frente, vagabundo.
O cheiro de carne podre foi a primeira coisa que deixou o
policial em alerta ao invadir a casa. A segunda, como não poderia ser
diferente, foi a escuridão. Impossível não se revoltar com certas atitudes de
maus feitores e viciados.
— Polícia de Cabo Verde, vocês estão cercados. — gritou.
Um dos comparsas numa tentativa de proteção ao reinado de Sabrina,
partiu pra cima do agente segurando um estilete desferindo golpes a ermos sem
sucesso. Pedrosa mesmo com dificuldade para enxergar aguardou o melhor momento
para ataca-lo. O soco o fez cair sobre outros viciados. Sabrina ficou de pé em
cima da poltrona.
— Vamos seus idiotas. Acabem com esse verme.
Para evitar um confronto ainda maior, Gilberto disparou para
o alto afastando-os.
— Quero que todos vocês encostem naquela parede ali, agora.
Você também. — disse a Sabrina.
— O que fez com o Toni? — questionou ainda de pé na poltrona.
— Ele está sob custódia lá fora, agora chega de papo, desça
daí já.
Sabrina deu uma longa olhada no terrível cenário ao seu redor
e pela primeira vez em muito tempo ela não se sentia tão impotente. Tudo havia
ruído. Lentamente ela foi descendo de seu “trono” quase que aos prantos olhando
para a quarenta e cinco de Gil Pedrosa apontada para ela. Sabrina se juntou aos
demais sentados aos pés da parede. Rodrigues e mais outros sete PMs entraram já
dando voz de comando aos detidos.
— Tudo sob controle pessoal, temos que achar os reféns. — Pedrosa
se dirigiu a Sabrina. — aonde eles estão? — vociferou.
Quando a rainha criou coragem para falar, um dos policiais
anunciou a descoberta do cativeiro.
— Eles estão aqui. — gritou.
Sérgio Ornelas e Michele foram separados dos demais e levados
para fora da casa. Imediatamente às janelas foram sendo abertas dissipando as
trevas daquele lugar. A luz natural do dia revelou um caos ainda pior.
Analisando com cuidado era possível ver ossadas de animais, sem falar em
resquícios de vômitos. Rodrigues juntou-se ao colega abismada.
— O que o vício é capaz de fazer com um ser humano. — pôs às
mãos na cintura.
— Triste verdade! Encontraram mais alguma coisa?
— Sim! A causa desse odor forte...
Gilberto não esperou que sua parceira completasse a fala.
— Homicídio! — guardou a arma no coldre.
— Acho que não. A pessoa deve ter falecido de overdose e seu
corpo foi deixado em outro cômodo da casa. Que loucura, meu Deus. — meneou a
cabeça.
Sabrina era a única que encarava os policiais sentada de
qualquer jeito no chão.
— Toni Silva e essa rastafari tem muito o que explicar. Vamos
levá-la.
Toni voltou a sentir os raios solares em seu rosto quando a
parte de trás da viatura foi aberta e sua rainha foi posta lá dentro juntamente
com ele. Assim como Toni, Sabrina tinha às mãos algemadas para trás. Só agora
ele pode perceber o quanto foi tolo ao se submeter a uma pessoa tão suja e tão
digna de pena como ela.
Sérgio Ornelas, Michele, Bruna e Letícia foram levados por
dois policiais em uma viatura descaracterizada da polícia civil para o departamento
de Cabo Verde onde seus familiares os aguardam. Gil campanha o isolamento da
casa ao lado de Carolina. Todo o espaço foi cuidadosamente isolado por fitas
amarelas.
— Belo trabalho. Parabéns. — disse Rodrigues batendo no ombro
do companheiro.
— Obrigado!
— O trabalho ainda está no início, quantas coisas aquelas
paredes esconderam, não é?
— Sexo, drogas e bebidas. Um prato cheio para uma juventude
sem estrutura. Lamento muito. Quem erra tem que pagar. Vamos.
*
Em seu depoimento, Toni Silva abriu o jogo contando tudo o
que acontecia dentro da casa e também ajudou a esclarecer sobre a permanência
de um corpo dentro do recinto. Segundo ele era uma forma de intimidação aos
novos membros do reino.
— Então foi overdose mesmo? — questionou Gilberto.
— Sim!
Já Sabrina Fialho se manteve calada durante seu depoimento,
disse que só falaria alguma coisa na presença de um advogado. A única dúvida
era: qual advogado? A polícia fez um levantamento e descobriu que nem “Caboverdense”
ela é. Sabrina saiu da casa dos pais ainda na adolescência e nem completou os
estudos. Sua situação é realmente complicada.
— Acabamos por aqui. — Gil se levantou. — agora cabe ao juiz
decidir.
A noite, depois de uma bela transa com Luana, Pedrosa voltava
do banho para o segundo tempo com sua amante quando foi pego de surpresa por
uma pergunta.
— Já conseguiu um lugar para ficar?
— Quer mesmo se livrar de mim pelo jeito.
— Não seja tão dramático agente Pedrosa. Você ficando aqui,
com o tempo vai se tornar meu marido e eu não quero perder meu namorado,
entendeu agora? — Luana se enrolou no lençol.
— Você tem razão. Amanhã estarei saindo daqui e alugando um
apartamento. Mas enquanto isso... — deitou-se. — vamos encerrar com chave de
ouro.
No outro dia, na parte da tarde, Gilberto e seus filhos
abriam juntos a porta do novo lar do papai. O policial agora possuí um novo
endereço fixo de frente para a avenida mais famosa da cidade. Claro que a
adolescente amou o lugar onde ela passará os finais de semana com seu irmão.
— Caramba, pai, gostei. — disse Gerson correndo pelo
corredor.
Pedrosa só era sorrisos ao vislumbrar a alegria dos meninos.
— É verdade, pai, isso aqui é incrível. — completou Carla.
— Que bom que gostaram. Podem vir quando quiserem, combinado?
Gerson voltou do quarto já com uma proposta.
— Que tal uma pizza gigante para comemorar?
Carla e Gil se olharam concordando.
— Vou ligar para a dona Bete e dizer que o senhor vai nos
levar depois do horário combinado, se
não ela vira uma fera. — pegou o celular na bolsa.
Elisabete faz falta, porém Gilberto terá que aprender a
conviver com isso e também com a culpa. Dívidas precisam ser pagas e erros
reparados. FIM.
Muito bom, meu amigo! Vc sempre nos surpreendendo com uma história boa de ler e que nos impacta, prendendo a atenção. Sou fã! Já quero novos lançamentos
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