segunda-feira, 27 de novembro de 2023

Paredes | Capítulo quatro

 


O que é o poder? Dependendo de quem o tenha nas mãos, o poder pode ser algo altamente destrutivo não só para quem o detém, como para quem se encontra ao redor e dependa direta ou indiretamente dele. Sabrina Fialho é uma dessas pessoas as quais foram agraciadas com o poder e agora ninguém ousa tirá-lo dela. Ela se satisfaz ao ver gente fazendo das tropas coração só por um momento a seu lado. Isso a faz ter explosões de egos que minam seu ser.

Mas alguém pode perguntar: de onde veio essa “rainha”, quem a corou? E o seu reino, por um acaso encontra-se situado entre essas paredes apodrecidas? Sim! É exatamente isso. Sabrina governa nesse mundo onde às drogas, e o sexo livre estão sempre em pauta. Toni, seu principal súdito é o responsável por proporcionar todo o conforto e prazeres possíveis a ela e Sabrina confia muito nele.

— E às garotas? — perguntou enrolando um cigarro de maconha.

— Às colocamos no quarto e muito em breve elas estarão prontas.

Ela terminou de enrolar e o apertou. Toni sacou com agilidade o isqueiro do bolso da calça e o acendeu.

— E o garoto, qual é o nome dele mesmo? — sorveu uma boa quantidade de fumaça.

— Sérgio! Esse já está pronto. Houve uma resistência no início, mas agora ele está mais do que familiarizado.

— Ótimo! Quero que uma dessas garotas seja o prato dele. E quero que seja um show para todos.

— Como queira. — abaixou a cabeça.

Ao redor do “trono”, do lado direito, há uma dupla de meninas se agarrando, trocando beijos e carícias. Do lado esquerdo, aos pés de Toni, há um jovem caído com suas narinas sujas de cocaína. Seus olhos estão bem abertos, brilhantes e ele está praticamente imóvel. Seu estado inspira cuidados. Sabrina Fialho segue sentada assistindo a tudo como se nada estivesse acontecendo. Tudo normal entre aquelas paredes.

*

A não prática de exercícios físicos em conjunto com uma alimentação inadequada e fora de hora estão aos poucos matando Gilberto e agora mais do que nunca ele consegue sentir isso na pele. Caminhar por uma estrada onde boa parte do percurso é feito de cascalhos soltos e mato cortante por todos os lados faz com que o detetive dê razão a tudo que sua ex mulher falava durante o tempo em que ficaram casados. “Beto, você precisa sair desse sedentarismo, ele vai acabar te matando”. Elisabete estava coberta de razão.

Bem a sua frente, Carolina Rodrigues, diferente de seu parceiro, abre caminho por dentro do mato sem reclamar ou parar para buscar fôlego. Isso tem deixado Gil bem irritado.

— Aqui está bom! — falou Pedrosa se apoiando nos joelhos. — não vamos nos aproximar muito. Aqui será nosso ponto de observação.

Rodrigues, devidamente uniformizada zombou do estado do companheiro e depois decidiu embarcar de vez na operação.

— Esse tal de Toni Silva deve ser o contato direto, um tipo de aliciador. Deve rolar outras coisas além de drogas e bebidas lá dentro. Não acha?

— É bem provável. Algo me diz que, Sérgio Ornelas e Michele não estão lá dentro porque querem.

Rodrigues apertou os olhos.

— Estamos lidando mesmo com um caso de sequestro então? — ela voltou a olhar em direção a casa. — e o que estamos esperando?

— Eles nos darão uma brecha e é aí que entraremos com tudo. Eles não sabem que estamos aqui.

*

Michele estava agitada. Mais agitada do que o normal. A todo instante ela tentava saber o que se passava do outro lado olhando pelo buraco da fechadura e isso irrita demais aos outros encarcerados. Principalmente às recém chegadas.

— Eu preciso sair daqui. — falou olhando mais uma vez pela fechadura.

— Você pode até tentar sair do quarto, mas não passará da sala. — disse Sérgio.

— Como tem tanta certeza? — retrucou.

— Eu já tentei fugir e fui apanhado ainda na sala pelo Toni. Paguei caro por isso. — abaixou a cabeça.

A porta do quarto foi aberta. Toni e mais dois rapazes entraram com seus olhares fixos em Michele.

— A nossa rainha nos pediu um show e ela escolheu você, peitudinha.

Michele se encolheu no canto sendo protegida pelas duas recém chegadas.

— E você, meu rapaz. — se dirigiu a Sérgio Ornelas. — irá desvirgina-la. Fique feliz, você é o escolhido.

Meneando a cabeça o garoto se manteve calado. Toni e seus comparsas avançaram para mais próximo dele. Sérgio tremia dos pés a cabeça.

— Quer mesmo ter o fim que outros tiveram? — segurou em seu queixo. — está sentindo esse cheiro? São eles.

Sérgio chorou.

— Ótimo! Isso é um bom sinal. Agora vamos, todos vocês.

*

Sabrina trocava beijos suculentos com um de seus servos mais antigos visivelmente alucinados quando Toni se apresentou. Sem muito jeito para chamá-la o cabeludo resolveu esperar e apreciar aquela cena quente. A rainha abriu os olhos.

— Estão todos prontos? — deu o último selinho no rapaz que dizia coisas sem sentido.

— Sim, senhora.

Ela limpou os cantos da boca retirando a saliva. Se acomodou na poltrona. Ajeitou os cabelos e piscou para Toni autorizando o início do espetáculo. Como um verdadeiro arauto o cabeludo anunciou o início do show.

— E com vocês, Sérgio Ornelas e Michele. Façam um círculo bem aqui.

Aos prantos a dupla de jovens foi conduzida ao centro do círculo sob os olhares sombrios de todos ao redor. Sabrina aplaudia e sorria em silêncio, uma imagem bem assustadora. Bruna e Letícia, às recém chegadas, não estavam acreditando no que estavam prestes a vislumbrar.

— Isso não pode acontecer. — falou Bruna a morena ao pé do ouvido da amiga.

— Por favor, amiga, não faça nada.

— Vou aproveitar que estão todos concentrados e cair fora, voltarei com ajuda.

Letícia a apertou no braço.

— Tá maluca, vai fugir por onde?

Bruna girou sutilmente o pescoço em direção a cozinha de onde vinha uma luz.

— Confie em mim, voltarei com ajuda. Agora solte meu braço.

Sérgio e Michele se abraçaram chorando juntos. Desde quando chegaram aquele lugar eles desenvolveram uma certa amizade e um prometeu proteger o outro. Lógico que tal aproximação foi notória até mesmo aos olhos do principal súdito de Sabrina que a deixou por dentro do que estava acontecendo. A rainha adorou a ideia de um show de sexo com amigos entre aquelas paredes.

— Não precisam ter pressa. — colocou Toni. — temos o dia todo.

Bruna havia dito bem. Todos estavam atentos ao que se desenrolava no centro da sala e sua saída do ambiente não foi percebida. Assim que alcançou o corredor que dá acesso a cozinha ela acelerou os passos. Como havia imaginado, existia sim uma porta e ela se encontrava entre aberta. Ao tocá-la a mesma rangeu fazendo o coração da morena bombear ainda mais sangue. Já do lado de fora, sentindo a brisa fresca acariciar seu rosto, Bruna, ao olhar para seu lado direito onde há uma casinha supostamente onde são guardadas às ferramentas e material para limpeza, seu coração bateu ainda mais forte ao ver um sujeito sentado na raiz de uma mangueira dormindo. Imediatamente ela deu a volta seguindo para a frente da casa. Bastante ofegante e vislumbrando o lugar que dará no caminho por onde chegou com Letícia e Toni, o mesmo a surpreendeu lhe apontando uma pistola.

— Saindo assim sem avisar?

 

 

 


Um comentário:

  1. Meu Deus! Jamais imaginaria que Sérgio estava num lugar desse. Agora estou aflita por essas meninas.

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