Capítulo 3
Parte 2
A CHD aluguel de veículos cresceu muito e com isso adquiriu relevância financeira. Só em Porto Celeste ela possui mais de quinze unidades e dias antes de ser assassinado, Carlos Henrique Dias havia se reunido com seus conselheiros a fim de chegarem a uma conclusão quanto a possibilidade de expandir o negócio para o norte e nordeste do país. Tudo ficara acertado e ajustado para que no próximo semestre a CHD estivesse presente nestas regiões do país.
Com a morte brutal de seu dono, a CHD encontra-se na direção de seu vice-presidente que conta com a experiência de seus conselheiros. Nato Pinheiro foi recebido pelo próprio vice-presidente que o levou para conhecer as dependências da empresa. Nato estava estarrecido com as instalações do lugar.
— Carlos Henrique poderia ser o que fosse: Chato, exigente, mas tudo isso faz parte do contexto. Porém dê só uma olhada ao seu redor.
— Pois é. Eu visitei o site e vi as fotos. Percebi também que é algo padrão, todas as lojas são iguais. Difícil isso não é?
— E não só neste quesito. Carlos Henrique fazia questão de treinar seus gestores pelo menos uma vez por mês.
No pátio coberto onde estão armazenados os automóveis, Nato foi mais uma vez nocauteado pela qualidade e organização.
— E o faturamento anual? — Pinheiro enterrou as mãos nos bolsos da calça.
— Varia entre dois milhões a três e meio.
Nato assoviou.
— Me diz uma coisa, você o conhecia bem, ele tinha um bom relacionamento com os funcionários, sabe da existência de algum desafeto?
O vice-presidente sorriu e abaixou a cabeça.
— Apesar da chatice, Carlos Henrique era extremamente profissional, sabia separar as coisas. Você pode perguntar a qualquer um aqui. Se ele tinha desafetos? Talvez, mas não ao ponto de lhe cortar a garganta. — sua fala era carregada de emoção. — eu quero justiça, detetive Pinheiro. Carlos Henrique não merecia isso.
— Ninguém merece. Só mais uma pergunta. O Carlos pertencia a alguma religião?
— O Carlos? — riu. — Carlos Henrique era o católico mais mundano que já vi, nunca foi a uma missão sequer. Pode perguntar para aquele vendedor ali. Eles eram bem chegados. — o chamou.
Meio receoso o jovem vendedor se aproximou mexendo bastante as mãos.
— Felipe, este é o detetive Pinheiro, veio saber um pouco mais sobre o Carlos. Nós estávamos falando sobre ele ser o católico mais mundano que já existiu, não é mesmo?
— Prazer, sou Felipe Corrêa. — estendeu a sua mão fria para o policial. — É verdade. O senhor Carlos Henrique era tudo, menos religioso.
— Pelo visto vocês eram bastante chegados mesmo. Achei legal essa relação patrão e funcionário.
Silêncio.
— É! Infelizmente alguém destruiu um futuro promissor. — declarou o vice-presidente. — Desejo sucesso em sua investigação, Pinheiro.
— Obrigado. Vamos nessa.
*
Arthur precisou deixar a difícil tarefa de química para mais tarde assim que recebeu o telefonema de Thais o que é incomum. Normalmente ela lhe envia mensagem. Pelo tom de voz, sua namorada parecia apreensiva ou que havia chorado. Pedalando sem parar e com várias coisas se passando em sua mente, o único filho de Nato e Regina partiu para o ponto de encontro onde Thais já o aguardava.
— Oi?
— Oi! — Thais seguia navegando na internet pelo celular.
— O que aconteceu?
— O que vai acontecer seria a pergunta certa. Minha menstruação ainda não veio.
Arthur deu de ombros.
— Eu sabia que esse lance de transar sem camisinha daria merda.
— E o que você tanto procura no telefone? — se aproximou.
— O que você acha? Vou pedir um teste pra tirar logo essa droga de dúvida.
— Fique calma, quanto mais ansiosa mais a menstruação atrasa.
— Falou o expert em círculo menstrual.
Arthur tomou o aparelho das mãos de Thais e depois a abraçou abafando seu choro.
— Eu estou falando pra você se acalmar, tudo ficará resolvido. Não é o fim do mundo.
— Arthur, nós só temos dezesseis anos, uma criança agora seria péssimo…
— Eu sei, só que nós pagamos pra ver. Pode deixar, se você realmente estiver grávida eu me comprometo a ir lá e falar com seus pais.
Thais limpou as lágrimas. Um homem de verdade!
*
Nato Pinheiro começou como sendo um incômodo para Ana Paula Figueira. Mesmo sabendo que o mesmo só está no exercício de sua função, como dizia os mais antigos, o meu santo não bateu com o dele. Com o passar dos dias e os encontros sendo mais frequentes ela já o começa ver com outros olhos, prova disso foi ter aceitado voltar ao apartamento do falecido namorado.
— Meu Deus, nunca pensei que sentiria isso aqui. — sentou-se na ponta do sofá.
— Quer água?
— Não, estou bem. Eu era e ainda sou apaixonada por ele.
— Eu sinto muito. Prometo ser rápido.
Nato aguardou que ela se recuperasse da onda de choro.
— Qual o plano, detetive?
— Se não era você no vídeo e se o que eu vi era um homem vestido de mulher, quero que veja se não há alguma roupa sua faltando.
— Vai ser fácil. Eu nunca deixei mais do que três peças de roupa aqui. — correu até o quarto.
Nato verificava outras coisas quando recebeu um telefonema de Fagundes.
— Pode passar aqui ainda hoje, acho que chegamos a uma conclusão.
O coração do policial gelou.
— Ótimo! Assim que eu terminar aqui vou direto pra aí.
— Meu querido, tenha a cabeça no lugar. Eu sei que é difícil, mas…
— Valeu.
Ana Paula voltou do quarto já alarmando.
— Meu vestido azul, minhas sandálias e o meu chapéu de praia sumiram.
— Você tem certeza? — voltou com o celular para dentro do bolso.
— Absoluta.
— Vamos sair daqui.
*
Uma a uma e bem lentamente. Renato não estava acreditando no que seus olhos estavam vendo naquelas meia-dúzia de fotos.
— Meu Jesus. — sussurrou.
Arnaldo Fagundes nada falava, apenas observava as reações de seu cliente. Para um profissional do quilate de Fagundes deveria ser algo normal assistir ele ou ela vendo através de uma filmagem ou foto o princípio da destruição de um lar, mas não. Arnaldo sempre achou e foi educado de que com família não se brinca.
— Se você quiser eu posso montar o flagrante, mas só se você quiser mesmo.
— Vai acreditar se eu disser que não estou com raiva?
Arnaldo assentiu.
— Se eu fui trocado por outra mulher, significa que eu sou um bosta como homem.
— Vai ver ela sempre foi lésbica. Isso acontece.
Nato olhou para Fagundes e depois para as fotos. Ele não estava se sentindo bem, seu estômago necessitava urgente de um antiácido.
— Não! Nada de flagrante. Às fotos já falam por si. Vamos acertar o restante do pagamento.
*
Devido às náuseas, Nato não quis jantar, preferiu abrir uma lata de cerveja e ficar sentado na varanda olhando o movimento da rua. Regina limpava a mesa do jantar ajudada por Arthur.
— Meu pai está bem?
— Sei lá. Nem jantar ele quis. Depois eu converso com ele.
Lua, estrelas, vento, que noite agradável, propícia para casais apaixonados se amarem. Nato queria chorar, mas se controlou. Arthur ocupou o banco a seu lado, permanecendo em silêncio durante alguns segundos.
— Pai, posso conversar com o senhor?
— Fala filhão. — bateu na perna do garoto.
— Lembra da Thais?
— Sim! E aí, já deu uns beijinhos nela? — tomou mais um gole.
— Até mais do que isso, pai.
Nato olhou na direção da cozinha, Regina seguia lavando as louças.
— Como assim até mais do que beijos, Arthur? Não me diga que você já comeu essa guria?
O estudante abaixou a cabeça.
— Cara, eu espero que pelo menos vocês tenham se protegido…
— Ela acha que está grávida.
Nato olhou de novo e Regina já não se encontrava na cozinha.
— Caraca, vocês só fazem merda. E agora, Arthur? Vocês ainda são adolescentes. Putz?
Silêncio.
— E o que você quer que eu faça? Quer que eu vá lá e converse com os pais dela? Você foi homem para transar, mas para assumir suas merdas chama o papai…
— Calma, pai…
— Calma o cacete. Não me peça calma.
Regina chegou segurando outra lata de Heineken e a entregou a Nato.
— O que está havendo aqui?
— Esse irresponsável engravidou a namorada.
Boquiaberta Regina olhou para o filho.
— Eu falei que ela acha que está grávida. Não tem nada confirmado ainda.
— A minha vontade é de quebrar a sua cara… — Nato vociferou.
— Fica calmo, Renato…
— Escute bem o que vou dizer. Se essa menina estiver realmente grávida, o senhor vai arrumar um trabalho e seguir estudando a noite, se vira. Assuma o B.O.
— Pode deixar, pai. Eu já havia me prontificado a ir lá e conversar com os pais dela. — se levantou. — Boa noite.
— Meu Deus, aonde foi que eu errei? — arremessou a lata contra o muro.
Nato foi abraçado pelas costas por Regina e não esboçou reação. Não deveria, mas ele estava com nojo dela.
— Com licença. — Nato se retirou.
*
Ele pegou uma caneta e destacou do pequeno caderno metade da folha e com mãos trêmulas desenhou uma cruz. Apesar da dificuldade, até que não saiu mal. Eu não deveria estar com medo, mas estou. Ele ficou ali, sentado à meia luz com seus olhos soturnos fixos no desenho. Aonde eu estava com a cabeça quando aceitei tudo isso? A noite só estava começando e a sua vida parecia um trem sem freio. Tiago está pagando caro. Serei eu o próximo?
Seu conto é muito mais interessante que muito livro policial famoso que vendem por aí. Muito interessante. Parabéns. Vim através da indicação da minha professora Thaís
ResponderExcluir