segunda-feira, 26 de agosto de 2024

O Sol Além Da Chuva | Capítulo 9

 


O Sol além da Chuva 

Capítulo 9


 Agora que sua irmã se foi e não só isso, Lara a intimou a andar na linha caso contrário Naiara estaria sem seu apoio e o que seria pior, seus pais estarão vivendo longe dela sem qualquer possibilidade de visitas. Isso seria terrível uma vez que Naiara tem verdadeira devoção pelos velhos. A conversa não foi fácil, ter que encarar a realidade e vê-la sendo jogada em seu rosto foi torturante. Por outro lado, até que foi bom. Tratamentos costumam mesmo ser dolorosos e desconfortáveis. Ela precisava ser confrontada com a verdade.

  Já recomposta de tudo o que aconteceu, Naiara estava louca para sair, curtir uma noite com Magno e quem sabe dormir envolvida em seus braços.

  — Oi? — Magno parecia agitado.

  — Há, oi, pensei da gente sair hoje.

 — Você só pode estar de brincadeira. — falou com rapidez.

  — Não, não estou de brincadeira. Que tal frutos do mar…

  — Olha só, Naiara. Eu estou super ocupado, mais tarde a gente se fala, tudo bem pra você?

  — Ah, sim. Me desculpa, eu…

  Magno já havia encerrado a ligação.

  Naiara sempre soube que Magno não era um doce de pessoa, inclusive essa era uma das principais reclamações de Hortência sobre ele. Grosseria, brutalidade e humilhações eram fatos recorrentes dentro do casamento. Agora ela pode sentir na pele o que sua amiga sentia e que ela pouco se importava. Decidida a ficar em casa jogando cartas com seu pai, coisa que ela não é nada fã, Naiara partia para a cozinha quando alguém bateu em seu portão.

  — Quem deve ser? Droga. — Andou com pressa.

  Ao abrir ela deu de frente com Hortência.


*


  Para um homem solteiro que vive sozinho em uma casa pequena herdada dos pais em dos bairros considerado um dos mais problemáticos em questão de infraestrutura, violência e etc, até que Gilson tem se virado muito bem. Sua casa pode não ser tão atraente, mas ainda assim ela é o seu lar, a sua fortificação. Se por fora ela demonstra ser um pequeno casebre precisando urgente de uma reforma, por dentro ela abriga tudo o que o motorista precisa para se viver o suficientemente bem. Depois de uma jornada intensa de ralação é lá dentro que ele recarrega sua bateria.

  Num passado distante, digamos, a mais ou menos três anos, Gilson se envolveu com uma tal de Sara, uma morena clara que não suportava ser chamada de namorada por ele. Logo de cara Gilson percebeu que ela não era a mulher com quem se casaria, teria filhos e viveriam felizes ali dentro. Sara gostava de curtir, frequentar as rodas de samba em bares aos finais de semana e praia. Durante o tempo em que estiveram juntos, Gilson nutriu um certo sentimento por ela, mas não era amor.

  Nada como um dia após o outro, neste caso, nada como alguns anos após os outros. Gilson Santos vive hoje o que tanto desejou a vida inteira. Especificamente hoje, Hortência o trouxe de volta dos escombros de relacionamentos fracassados. Estar com ela na cama era algo inimaginável — pelo menos por enquanto não — . Foi mágico, intenso, gostoso, uma pena que tinha hora para acabar. É bom se sentir assim: vivo.


*


  — Quando pretendia me contar ou não pretendia? — Hortência precisava controlar a respiração.

  — Não sei. — Naiara tamborilava com os dedos a borda da caneca.

  — O que fez não foi nada legal, você sabe disso, não sabe?

  Assentiu.

  — Tantas foram as vezes em que eu desabafei com você, aqui mesmo nesta cozinha. Quantas vezes eu chorei e você me confortou e agora…

  — Mas, Hortência, eu não procurei isso. As coisas simplesmente aconteceram.

  — Você traiu a nossa amizade, Naiara. Eu não consigo te ver mais como antes. A verdade é que você já gostava dele e só esperou o momento certo.

  Poucas foram as vezes em que Hortência presenciou sua amiga com o semblante fechado. Hoje foi um desses raros dias.

  — Eu já falei que eu não gostava do Magno. — rosnou. — Eu nem sequer olhava para ele.

  Houve um período de silêncio tão longo que ambas ficaram constrangidas. A primeira a quebrá-lo foi Hortência com um tom de voz um pouco mais amigável.

  — Se o conheço bem, Magno te usou contra mim.

  — Ele seria capaz disso? — Ergueu rápido a cabeça.

  — Casei-me com o inimigo, minha querida. Convivi diariamente com um homem cínico, aproveitador e articulador. Não foi fácil. — Se levantou. — Pode acreditar. A essa hora ele deve estar contando vantagem para outros iguais a ele e você, infelizmente foi a bucha.

  — Meu Deus! — Sussurrou.

  — Eu já vou indo. Mande um abraço ao senhor Francisco e um beijo para dona Fátima. Pense no que lhe falei.


*


 A música é um daqueles “batidões” mais nojentos e pornográficos já produzidos por um ser humano. É incrível como num país considerado um dos mais belos do mundo esse tipo de cultura é a mais aderida por seus habitantes. Enquanto observa a garota arrastando suas nádegas parcialmente coberta por uma bermuda jeans naquele porcelanato frio do escritório, Magno Leite sente seu corpo vibrar tamanha é a sua excitação. O paletó preto e a gravata vermelha foram postos de qualquer jeito no encosto de uma das cadeiras assim que a jovem iniciou seu showzinho particular.

  — Está gostando, doutor? — Sentou-se em seu colo.

  — E você ainda pergunta? — A segurou pela cintura.

  Alguém tocou duas vezes na porta tirando o advogado do transe provocado pelas carícias da mulher.

  — Mais que droga. — Subiu o zíper da calça. — O expediente já encerrou.

  Aos poucos Magno foi abrindo a porta revelando uma Naiara de semblante transtornado.

  — Preciso falar com você. Que porcaria de funk é este?

  — Não te interessa. O que você quer? — Falou ainda segurando a porta.

  — Você está com alguém aí dentro, Magno? — Forçou sua entrada.

  — Estou. Fala logo o que veio fazer aqui?

  — Eu queria conversar com você. A Hortência esteve lá em casa hoje. Eu posso entrar?

  O funk porno continuava a contaminar os ouvidos de Naiara até Magno pedir que parasse.

  — O que tem haver com a Hortência ir na sua casa, vocês não são amigas?

  — Você está com mulher aí dentro do escritório, no seu lugar de trabalho?

  — Estou, e daí? — Escancarou a porta permitindo que Naiara visse a funkeira sentada de pernas cruzadas na cadeira do presidente mexendo no celular.

  — Meu Deus! Hortência estava certa. Você é um ser asqueroso e repugnante. Você me usou para atingir minha amiga.

  — Caramba! Você descobriu a roda. — abriu os braços. — Agora que você sabe de tudo, pode me dar licença, por favor, tenho visita.

  Antes de lhe dar as costas e sair, a mãe do advogado foi lembrada de uma forma não tão carinhosa, sem contar com o grande volume de saliva que recebeu no rosto.

  — Sua porca vagabunda. — Vociferou.

Um comentário:

  1. Já estou sentido falta da minha novelinha 😭 Estou até lendo os capítulos com mais calma pra aproveitar mais

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